domingo, 21 de abril de 2024

“VILLA DEI PAPYRI” EM HERCULANO NO SÉCULO XXI: ATUALIZAÇÃO CIENTÍFICA E SITUAÇÃO DOS TRABALHOS (2000-2016)


Por Profª Drª María López Martínez
Prof. Dr. Andrés Martín Sabater Beltrá * 
Traduzido do espanhol por Francisco José dos Santos Braga, além de autor das três notas explicativas
 
Abstract: Nosso objetivo é avaliar a contribuição para o Humanismo, do legado escondido durante 20 séculos e que apareceu em um dos mais interessantes sítios arqueológicos conhecidos hoje, a Villa dei Papyri em Herculano, soterrada pela lava do Vesúvio no ano 79 a.D. A partir de 1750, começou a ser escavada, o que nos permitiu a descoberta de uma luxuosa mansão que, além de outras peças de grande valor, continha a única biblioteca que nos sobreviveu da Antiguidade. Tal conteúdo é composto por quase dois mil rolos de papiro escritos em grego e atribuídos a um autor oriundo da Síria chamado Filodemo de Gádara. Há vinte e um séculos, reuniu os seguidores de uma escola cognominada O Jardim, cujo objetivo fundamental era a busca da felicidade. Estamos convencidos de que a mensagem de alegria de viver, serenidade e tolerância de Epicuro está mais viva do que nunca. O nosso objetivo é disponibilizar este rico e complexo legado a um grande número de pessoas, não apenas aos interessados na Literatura, na História e na Arqueologia dos períodos helenístico e imperial, mas também a qualquer pessoa culta com preocupações humanísticas.                                                                    Palavras-chave: Herculano, Villa dei Papyri, Filodemo, atualização bibliográfica, século XXI
 
Estantes contendo papiros foram encontradas em um dos quartos dentro da entrada da Villa a partir do longo peristilo.

 

1. INTRODUÇÃO 
 
 
O objetivo destas páginas é apresentar uma revisão bibliográfica de uma parte importante — a descrição pretende ser exaustiva — dos estudos publicados nos últimos anos sobre os materiais que apareceram na Villa dos Papiros na cidade de Herculano, especificamente, durante os primeiros anos deste século XXI recém iniciado. Fundamentalmente, trata-se de fornecer um ponto de partida, um convite a participar numa reflexão mais profunda sobre o interesse científico que o conhecimento deste rico ramo da investigação humanística suscita em campos profissionais e acadêmicos que habitualmente se afastam do quadro estrito dos Estudos Clássicos (Filosofia, Arqueologia ou História Antiga). Referimo-nos a disciplinas como a Psicologia, a Medicina ou a Sociologia, para citar apenas algumas daquelas que poderiam beneficiar-se do contacto com este atrativo e complexo patrimônio material e imaterial que está escondido durante mais de vinte séculos. 
 
 
2. SITUAÇÃO DOS TRABALHOS 
 
 
O núcleo central é um dos sítios arqueológicos mais interessantes conhecidos hoje, a Villa dos Papiros de Herculano. É uma casa romana soterrada pela lava do Vesúvio no ano 79 d.C. Este sítio começou a ser escavado em 1750, quando foi descoberto uma luxuosa mansão que, além de outras peças de grande valor, continha a única biblioteca que nos sobreviveu da Antiguidade. O acervo desta biblioteca é composto por quase dois mil rolos de papiros escritos em grego e atribuídos a um autor sírio chamado Filodemo de Gádara. 
 
Estado atual de um rolo de papiro (foto de perfil)

 
Foto do rolo de papiro visto de lado - Crédito pelas imagens: https://www.bbc.com/mundo/noticias/2013/12/131223_secretos_pergaminos_herculano_jgc

 
Nosso ponto de partida são os textos. Referem-se a temas diversos, incluindo tratados de filosofia, história da filosofia, teologia, ética e estética, entre outros. Dadas as condições em que se encontram os papiros, desde a sua descoberta até aos dias de hoje, muitos esforços têm sido dedicados aos complexos processos de abertura, leitura e edição dos pergaminhos carbonizados e devemos sublinhar que, embora num primeiro momento tenham sido utilizadas metodologias bastante agressivas para poder acessá-los, nas últimas décadas, a leitura e edição de manuscritos têm-se beneficiado dos avanços tecnológicos que, por outro lado, obrigam à revisão da maioria das edições anteriores ao século XXI. 
 
Durante os últimos anos, o próprio local onde foram encontrados os papiros também têm sido estudados em profundidade, nos seus aspectos arqueológicos e históricos. O mesmo aconteceu no que diz respeito à história da sua descoberta e ao impacto que teve na intelectualidade europeia da época. 
 
Acrescentaremos também que Herculano não foi o único foco de divulgação da escola epicurista. Além da Campânia na Itália, encontramos testemunhos interessantes noutros pontos geográficos da periferia, como, por exemplo, na cidade de Enoanda ¹ localizada na atual Turquia. 
 
Aos trabalhos de edição, tradução e comentário dos textos seguem os estudos e interpretações do único sítio arqueológico onde foram encontrados os papiros. Sem medo de exagerar, podemos dizer que este constitui atualmente um dos locais patrimoniais e dos destinos turísticos mais ricos e atrativos da Europa. Por outro lado, os achados da região do Vesúvio foram essenciais para o desenvolvimento da arte neoclássica graças à adoção do estilo herculano, que se tornou um fenômeno europeu cujos vestígios podem ser encontrados nas mais variadas tipologias de objetos (móveis, louças, utensílios domésticos, etc.). 
 
Herculano reuniu, há vinte e um séculos, os simpatizantes de uma escola — mulheres, homens, escravos, livres, cidadãos ou estrangeiros, todos eram admitidos — cujo objetivo fundamental era a busca da felicidade. Algumas das riquezas fundamentais deste ambiente são os textos epicúreos que apareceram na famosa Villa dei Papiri e na sua biblioteca, na sua maioria da autoria de Filodemo de Gádara, apadrinhado pelo patronus da villa, Lúcio Calpúrnio Pisão, notável membro da nobilitas romana, cônsul em 58 a.C. e sogro de César ²
 
Fruto das primeiras escavações arqueológicas na região vesuviana foram as reproduções das peças arqueológicas que Carlos (VII de Nápoles e mais tarde Carlos III, rei de Espanha) encomendou aos mais prestigiados artistas e estudiosos da época. Esta encomenda deu origem a uma coleção intitulada Le Antichità di Ercolano Esposte, composta de oito volumes publicados na Regia Stamperia de Nápoles em 1757-1796. Estes volumes, juntamente com alguns outros conservados na Real Academia de Belas Artes de San Carlos de Valência, fazem parte do catálogo de obras-primas da arte tipográfica do século XVIII e, quando utilizados na Real Academia para a formação dos seus alunos, contribuíram para a formação do estilo herculanense, como é conhecida uma das últimas manifestações da arte barroca e rococó. Podemos assim afirmar que estas esplêndidas ilustrações contribuíram significativamente para a formação do estilo neoclássico na Europa a partir do final do século XVIII e ao longo do século XIX. 
 
Da mesma forma, as revistas e publicações científicas europeias, para manter os seus leitores informados, compilaram artigos de especialistas e excertos de cartas que os responsáveis ​​​​pelos papiros enviaram ao rei ou à sua família e amigos com comentários sobre estes documentos. Outra alternativa à disposição dos leitores mais curiosos era recorrer aos livros de viagens escritos por quem teve o privilégio de visitar as escavações e o referido museu. Era proverbial o espírito viajante dos franceses, britânicos e alemães. Especificamente, foram as cartas de Winckelmann que chamaram a atenção do público europeu para os papiros. Na Espanha, cultivaram este gênero intelectuais e escritores de prestígio como Francisco Pérez Báyer, Nicolás de Azara, Esteban de Arteaga, Pedro Montengón, Leandro Fernández de Moratín, Pedro Antonio de Alarcón e Juan Andrés y Morell. 
 
Desde meados do século XVIII até ao presente, tem-se realizado um trabalho praticamente ininterrupto de abertura, catalogação, conservação e tradução e, embora no mundo acadêmico as dificuldades derivadas da condição material dos pergaminhos e do conteúdo filosófico-epicúreo dos primeiros exemplares fizeram com que o interesse por eles diminuísse por um longo período de tempo, o avanço na metodologia e na técnica experimentado nas últimas três décadas produziu uma revitalização desses documentos como objeto de estudo. 
 
Neste contexto, devemos destacar os esforços realizados por Marcello Gigante e pelo CISPE (Centro Internazionale per lo Studio dei Papiri Ercolanesi “Marcello Gigante” [http://www.cispe.org – data da consulta: 01/05/2017- ]), cujas publicações — especialmente a coleção de textos La Scuola di Epicuro e a revista Cronache Ercolanesi — têm atestado a importância arqueológica, filológica e histórica dos papiros e dos achados de Herculano. Precisamente, este ano é inaugurada a Prima Scuola Estiva di Papirologia Ercolanese [http://www.cispe.org/prima-scuola-estiva-di-papirologia-ercolanese/ - data da consulta: 01/05/2017]. 
 
Ao mesmo tempo, surgiram grupos como The Friends of Herculaneum Society [http://www.herculaneum.ox.ac.uk – data da consulta: O1/05/2017], responsável por divulgar informações sobre os restos procedentes das escavações, e o grupo de investigação TELEPHe ("Traduire Ensemble en Langues Européennes les Papyrus d'Herculanum"), que inclui várias universidades e centros de investigação — Universidade de Alicante, Universidade de Barcelona, Humboldt-Universität zu Berlin, l'Université de Bordeaux 3, Universidade de Cambridge, Universität zu Köln, Università del Salento, Lecce, Università degli Studi Federico II di Napoli, Universidade de Oxford, Université de Paris-Sorbonne (Paris IV), Università degli Studi di Siena, Année Philologique, Universität Würzburg e Université Charles de Gaulle – Lille 3. O objectivo da TELEPHe é a edição e tradução de textos em diferentes línguas europeias. Desde 2006, os seus membros têm tentado reunir-se todos os anos, de dois em dois anos ou com a maior frequência possível, num local diferente (Lille 2006, Barcelona 2007, Cambridge 2008, Paris 2009, Genebra 2010, Varsóvia 2013, Barcelona 2015) com o propósito de compartilhar o trabalho desenvolvido pelos membros da equipe. A dinâmica habitual consiste na discussão das passagens especialmente problemáticas. O grupo se beneficia dos avanços tecnológicos que estão sendo aplicados ao estudo dos papiros de Herculano, como as fotografias multiespectrais. Nessa linha, destaca-se também The Philodemus Project [http://classics.ucla.edu/faculty -projects/philodemus-project/ – data da consulta: 01/05/2017], focado na tradução para o inglês da obra estética de Filodemo, a quem devemos a autoria de grande parte dos tratados que foram preservados na referida biblioteca. 
 
A maioria dos papiros está conservada na Biblioteca Nacional de Nápoles. Os antigos microscópios foram substituídos por outros mais potentes e por tecnologia mais sofisticada que permite trabalhar a partir de um computador que não está na Officina: as fotografias são escaneadas, depois digitalizadas e tornadas multiespectrais. Por outro lado, Daniel Delattre e Dirk Obbink estudaram um sistema que possibilitou conhecer a sequência correta dos desenhos centenários dos séculos XVIII e XIX e vários estudiosos também desenvolveram métodos matemáticos para reunir os fragmentos dos papiros de Herculano, reconstruindo virtualmente a posição original interna do rolo. 
 
A utilização de microscópios avançados, de microfotografias, o desenvolvimento dos computadores e do método de Oslo, e a aplicação da fotografia multiespectral melhoraram as tarefas de abertura e leitura, aumentando a obrigação de revisão das edições anteriores ao século XXI. Precisamente em março de 2015, foram tornados públicos progressos espetaculares neste sentido. Este é um novo método de leitura desses papiros carbonizados por meio de uma tomografia cuja apresentação foi realizada por Daniel Delattre em Oxford. A prestigiada revista Nature Communications ecoou esta importante descoberta [http://www.nature.com/ncomms/2015/150120/ncomms6895/full/ncomms6895.html – data da consulta: 01/05/2017]. Na Espanha, a exposição A Villa dos Papiros, inaugurada no dia 17 de dezembro de 2013 em Madri e organizada por Casa del leitor, desfrutou de grande êxito. 
 
 
3. CONCLUSÕES 
 
 
A mensagem de Epicuro é antiga e moderna. Propõe valores eternos, que permanecem válidos até hoje: saúde, paz de espírito, amizade, tolerância e felicidade. Estamos convencidos de que não só os cientistas e acadêmicos mas também, e graças a eles, a sociedade como um todo beneficiaria de um conhecimento mais profundo de uma comunidade que vivia praticando o hedonismo com tanta intensidade como o pragmatismo. Filodemo, Diógenes de Enoanda ¹ e outros representantes desta corrente de pensamento  — marginal na época — propuseram soluções para enfrentar os problemas do indivíduo e da sociedade que eram originais e diferentes daquelas propostas por outras escolas que, naquela época, gozavam de maior sucesso, como o platonismo e/ou o estoicismo, e foram estas últimas, justamente, aquelas que acabaram se impondo como ortodoxia educativa no Ocidente. 
 
Uma perspectiva particularmente sugestiva para abordar o epicurismo antigo é a de género. Ao contrário do que era comum em outras escolas de filosofia, nas comunidades epicuristas a presença das mulheres desde a sua fundação é perfeitamente atestada, assim como o papel ativo que desempenharam na intensa vida d' O Jardim: não se limitavam a ser companheiras de filósofos, mas a sua participação em todas as atividades da escola está expressamente incluída. Essa originalidade d' O Jardim também se reflete paradoxalmente na medida em que o cristianismo também se alimentou da mensagem da escola: basta lembrar o uso que Paulo de Tarso faz do valor terapêutico da liberdade de expressão epicurista durante o período de fundação das primeiras comunidades paulinas. 
 
Dois dos desafios que os especialistas nos materiais encontrados na antiga cidade de Herculano devem enfrentar são, por um lado, difundir o conhecimento desta rica e complexa filosofia e, por outro, demonstrar a sua utilidade pedagógica, para que, num futuro próximo, esse conhecimento possa ajudar educadores, cientistas, médicos e/ou psicólogos na tarefa de se construir uma sociedade mais pacífica e tolerante, composta por indivíduos responsáveis, felizes e inteligentes na gestão das suas emoções. 
 
Numa altura em que disciplinas como a Filologia, a História e a Filosofia estão em crise e o seu papel nos planos de estudos é mesmo questionado — redução da carga letiva no ensino secundário, enquanto a imprensa considera a conveniência da introdução destas disciplinas no ensino primário e, por exemplo, a ONU pede ao governo espanhol que recupere a disciplina de Educação para a Cidadania [http://www.elmundo.es/espana/2015/07/08/559c40ec268e3ef81b8b4589.html – data da consulta: 01/05/2017] — é mais necessário do que nunca demonstrar a sua utilidade através de projetos como este que apresentamos. 
 
Nosso horizonte como humanistas também deveria projetar-se no longo prazo para colocar à disposição da sociedade os instrumentos de estudo adequados para avaliar, na medida que lhe corresponda — sem dúvida, maior do que a que lhe foi atribuído até agora —, a contribuição ao humanismo da escola de Epicuro. Assim como Freud aplicou o que aprendeu com suas leituras sobre a tragédia grega, estamos convencidos de que chegará o dia em que especialistas de outras disciplinas também compreenderão o potencial educacional e a utilidade prática da leitura dos tratados epicuristas. Na verdade, autores como Marinoff — Mais Platão e menos Prozac — ou Damásio — O erro de Descartes: a emoção, a razão e o cérebro humano — e — Em Busca de Spinoza: Neurobiologia da emoção e dos sentimentos —, entre outros, já o compreenderam. Quando chegar esse momento, gostaríamos de poder afirmar que os nossos esforços como filólogos, acadêmicos e/ou humanistas contribuíram para tornar isso possível ³
 
Devemos assumir o estimulante desafio que os investigadores das disciplinas acima referidas — Filologia Clássica, Arqueologia, História Antiga e Filosofia — colocam ao alcance de qualquer pessoa culta e com preocupações humanísticas todo este rico e complexo legado. 
 
Por tudo isso, a mensagem de alegria de viver, serenidade e tolerância de Epicuro está mais viva e, se possível, é hoje mais necessária do que nunca a colaboração, na medida das nossas possibilidades, entre os departamentos e instituições de diferentes universidades europeias, americanas e todas aquelas áreas que desenvolvem ativamente atividades relacionadas com o sítio arqueológico de Herculano com o objetivo de saldar a dívida cultural do Ocidente para com uma das correntes filosóficas mais injustamente criticadas (e até caluniadas) desde a Antiguidade.
 
* Professora Titular da Universidade de Alicante (Espanha); Doutor em Pré-História, Arqueologia, História Antiga, Filologia Grega e Filologia Latina pela Universidade de Alicante (Espanha)
 
 
4. NOTAS EXPLICATIVAS por Francisco José dos Santos Braga


¹ Em março de 2019, no meu discurso de posse na AMEF-Academia Mantiqueira de Estudos Filosóficos, sediada em Barbacena-MG, enalteci Diógenes de Enoanda, um filósofo grego do século II que divulgou a filosofia de Epicuro como representante do epicurismo moral. É conhecido por ter mandado gravar as máximas epicúreas sobre um muro, de 80 metros de largura por quase 4 metros de altura, totalizando uns 200 blocos da antiga cidade de Enoanda na Lícia, sudoeste da atual Turquia, na altura da ilha de Rhodes. O muro foi destruído por um terremoto ainda na Antiguidade, e muitos de seus blocos de pedra foram espalhados e enterrados. Era a maior inscrição do mundo grego que conhecemos. Dizem que se localizava perto da ágora da cidade, como uma mensagem sugestiva de salvação, como um evangelho filosófico, não só para os seus concidadãos, mas também para todos os que por ali passassem, constituindo um alerta para que os cidadãos que comprassem nas lojas de Enoanda não esperassem encontrar a felicidade ali, comprando. 
Para fazer um estudo detalhado dos fragmentos encontrados, recomendo consultar a edição de The Epicurean Inscription, Bibliopolis, Nápoles, 1993, por Martin Ferguson Smith. Este esplêndido volume de 660 páginas, não só constitui a edição crítica mais completa dos textos, mas também com seus comentários e sua extensa bibliografia oferece uma perspectiva muito bem documentada e atualizada dos estudos sobre Diógenes de Enoanda, fruto de muitos anos de trabalho na área mesma de escavações e de reflexões muito aguçadas sobre os textos, difíceis em muitos pontos não só pela sua terminologia epicúrea, mas acima de tudo, como é óbvio, pelo seu caráter fragmentário.
 
² Este Lúcio Calpúrnio Pisão (Cesonino) era pai de Lúcio Calpúrnio Pisão, cônsul em 15 a.C., conhecido como "Pontífice", e de Calpúrnia, terceira esposa de Júlio César, segundo Tácito, Anais, Livro VI, 10. Em 59 a.C., sua filha, Calpúrnia Pisão casou-se com Júlio César, que fez seu sogro tornar-se cônsul no ano seguinte; segundo Cícero, isto era intolerável, por ser o poder supremo prostituído por alianças matrimoniais, e porque homens estavam se ajudando no poder e com os exércitos por causa de mulheres. César menciona seu sogro em "De Bello Gallico". O avô do seu sogro, outro Pisão, homônimo, foi assassinado pelos mesmos gauleses que César depois conquistaria. Ao chegar, Pisão endereçou o Senado em sua defesa, e Cícero respondeu com áspero e exagerado discurso conhecido como "In Pisonem", criticando seu comportamento na Macedônia, ridicularizando seu adversário e fazendo uso magistral de sua conhecida retórica, criando uma colorida e caricatural descrição do aspecto físico e dos modos de Pisão; por fim, criticou asperamente a sua simpatia pelo epicurismo e a sua hospitalidade em relação ao filósofo grego Filodemo de Gádara. Pisão também publicou um panfleto como resposta e o assunto terminou, pois é provável que Cícero tenha ficado com medo de processar o sogro de Júlio César.
 
³ De minha parte, fiz o possível para tornar as doutrinas de Epicuro conhecidas pelos leitores do Blog do Braga, traduzindo a Carta de Epicuro a Meneceu, e publicando-a em duas partes:


4. BIBLIOGRAFIA


Da extensa bibliografia fornecida pelos autores, apartei apenas a que utilizaram na pesquisa referente a "Filodemo e o epicurismo", a saber: 
· ARRIGHETTI, Graziano. Filodemo biografo dei filosofi e le forme dell’erudizione. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 33, 2003, p. 13-30. 
· ASMIS, Elisabeth. Basic Education in Epicureanism. En: LEE TOO, Yun. Education in Greek and Roman antiquity, Leiden: Brill, 2001, p. 210-239. 
· ASMIS, Elisabeth. Epicurean Economics. En: FITZGERALD, John T. - OBBINK, Dirk. - HOLLAND, Glenn S. Philodemus and The New Testament world. Leiden-Boston: Brill, 2004, p. 133-176. 
· CAPASSO, Mario. Who Lived in the Villa of the Papyri at Herculaneum - A Settled Question?. En: ZARMAKOUPI, Mantha. The Villa of the Papyri at Herculaneum: archaeology, reception, and digital reconstruction. Alemania: Walter de Gruyter GmbH & Co. KG, Göttingen, 2010, p. 89-113. 
· CLAY, Diskin. Philodemus on the Plain Speaking of the Other Philosophers. In: FITZGERALD, John T. - OBBINK, Dirk. - HOLLAND, Glenn S. Philodemus and The New Testament world. Leiden-Boston: Brill, 2004, p. 55-72. 
· DELATTRE, Daniel. Un modèle magistral d’écriture dialectique: la Lettre à Hérodote d’ Épicure. In: INDELLI, Giovanni - LEONE, Giuliana - LONGO AURICCHIO, Francesca. Mathesis e Mneme: Studi in memoria di Marcello Gigante. Nápoles, v. I, 2004, p. 149-169. 
· DORANDI, Tiziano. The school and texts of Epicurus in the early centuries of the Roman empire. In: LONGO, Angela - TAORMINA, Daniela Patrizia. Plotinus and Epicurus: Matter, Perception, Pleasure. Cambridge University Press, 2016, p. 29-50.
· DORANDI, Tiziano. Diogene Laerzio, Epicuro e gli editori di Epicuro e di Diogene Laerzio. Eikasmos, Bolonia, n. 21, p. 273-301. 
· DORANDI, Tiziano. Pratiche della Philosophia nella Roma repubblicana. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 44, 2014, p. 167-177. 
· HEBLER, Jan E. Proposte sulla data di composizione e il destinatario dell’Epistola a Meneceo. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 41, 2011, p. 7-12. 
· ERLER, Michael. Νήφων Λογισμός. A proposito del contesto letterario e filosofico di una categoria fondamentale del pensiero epicureo. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 40, 2010, p 23-29. 
· ERLER, Michael. Autodidact and student: on the relationship of authority and autonomy in Epicurus and the Epicurean tradition. In: FISH, Jeffrey - SANDERS, Kirk R.. Epicurus and Epicurean Tradition. Cambridge University Press, 2011, p. 9-28. 
· GIGANDET, Alain - MOREL, Pierre-Marie. Lire Épicure et les épicuriens. París: Presses universitaires de France, 2007. 
·  GIGANTE, Marcello. Virgilio all’ombra del Vesuvio. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 31, 2001, p. 5-26. 
· KLEVE, Knut. Epicurean Theology and Herculaneum Papyri. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 33, 2003, p. 249-266. 
· LONGO AURICCHIO, Francesca. Il porto della filosofia. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 31, 2001, p. 27-30. 
· MILITELLO, Cesira. Filodemo storico della filosofia greca. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 30, 2000, p. 103-110. 
· MONET, Annick. Pratiques exégétiques au sein de l’école épicurienne: le corps et le visible. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 33, 2003, p. 169-173. 
· PORTER, James I. Epicurean Attachments: Life, Pleasure, Beauty, Friendship, and Piety. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 33, 2003, p. 205-227. 
· SANTORO, Mariacarolina. Il pensiero teologico epicureo: Demetrio Lacone e Filodemo. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 30, 2000, p. 63-70. 
· SMITH, Martin Ferguson. Herculaneum and Oinoanda, Philodemus and Diogenes: Comparison of Two Epicurean Discoveries and Two Epicurean Teachers. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 33, 2003, p. 267-278. 
· TEPEDINO GUERRA, Adele. La Scuola di Epicuro: Metrodoro, Polieno, Ermarco. Cronache Ercolanesi, Nápoles, n. 30, 2000, p. 35-44.