Por Francisco José dos Santos Braga
No dia 11 de abril p.p., no Sábado da Aleluia, a convite do ilustre artista plástico Oscar Araripe, tive a grata satisfação de me apresentar na Galeria da Fundação Oscar Araripe, acompanhando ao piano a soprano Rute Pardini, minha esposa, na cidade de Tiradentes-MG. É sobejamente sabido que essa entidade tem se colocado sempre à frente de importantes realizações culturais e, a partir de agora, também no âmbito da boa música.
Honrou-me sobremodo esse convite, pois se tratava de inaugurar um programa musical que estaria sendo lançado oficialmente na mesma data, intitulado "Um Piano ao Anoitecer em Tiradentes", cabendo a mim estrear um piano Fritz Dobbert branco, de cauda, que fora adquirido mediante a troca de uma das telas do artista e patrocinador do evento musical.
Impressionou-me vivamente a forma organizada de preparar o evento que se realizou sem o menor deslize, graças ao empenho e cuidados prestimosos da Direção da Fundação. Com a Ladeira da Matriz interditada, vinho chileno para uma multidão de convidados, Cida e Oscar Araripe inauguraram o belíssimo piano de cauda branco da Fundação com o nosso recital.
A apresentação musical contou ainda com inúmeras ações de divulgação, desde convites a personalidades ilustres da política e da arte brasileiras, bem como mala direta aos ilustres curadores daquela Fundação, até o convite aberto a toda a população publicado nos principais jornais de Tiradentes e São João del-Rei.
Nas matérias de jornal, Oscar Araripe ressaltava que a iniciativa era inédita em Tiradentes, possibilitando ao público presente apreciar duas manifestações artísticas conjuntamente: música e pintura. De acordo com Oscar, "como o concerto acontece dentro de uma galeria, o público teria a oportunidade de prestigiar a música e a pintura em conjunto. São duas artes universais, sem fronteiras."
Nesse ambiente de comemoração e júbilo, o duo teve a honra de apresentar, para uma platéia vip-cultural animadíssima de Tiradentes e região circunvizinha, um programa leve e descontraído, conforme se pode constatar do repertório apresentado naquela noite memorável:
- Hino Nacional / Francisco Manuel da Silva
- Prelude to a kiss / Duke Ellington para piano solo
- Giusto Ciel, in tal periglio / Gioacchino Rossini
- Lua Branca / Chiquinha Gonzaga
- Carinhoso / Pixinguinha
- Largo da Sonata em mi menor / Benedetto Marcello (arr. para flauta e piano)
- Quem sabe / Carlos Gomes
- Em algum lugar / Cláudio Santoro
- Por toda minha vida / Tom Jobim
- Deh vieni, non tardar / Mozart
- Lírica Espacial / Francisco dos Santos Braga (sons eletrônicos)
Na abertura, Oscar saudou o duo que se apresentava naquela noite e pediu a todos que se pusessem de pé para cantarem o Hino Nacional, no que foi atendido prontamente e a plenos pulmões.
O restante da apresentação foi marcada por uma breve exposição de minha parte sobre alguma curiosidade a respeito da peça a ser executada e do compositor em questão.
Quando chegou a vez de Tom Jobim, pedi ao Oscar que discorresse sobre sua experiência pessoal de ter visto nascer a peça "Por toda minha vida". Na ocasião que morava na Rua Barão da Torre, 107, em frente à residência de Tom, no bairro de Ipanema, o seu quarto dava para o pátio mexicano do compositor. De seu quarto, ele acompanhou o nascimento desta e de muitas outras canções de Tom. "Esta é uma bela coincidência: que, 40 anos depois, a Fundação que leva o meu nome abrigue a canção que vi nascer."
Além disso, outra coisa peculiar foi a apresentação do Largo de Marcello, tendo Rute Pardini à flauta, numa interpretação com impecável segurança e fina sensibilidade, o que não passou despercebido ao ilustre público presente.
Finalmente, a última peça (Lírica Espacial) de minha autoria foi apresentada ao ar livre, nos jardins que cercam a Galeria, como se fosse som-ambiente, à luz de uma lua cheia esplendorosa em noite estrelada. Esta peça microtonal consta de 3 movimentos para piano e soprano virtuais, com duração de 4 min 43 seg. Foi composta em 2005: o programa utilizado na sua composição foi Logic Audio para MacIntosh conectado a um sintetizador JD-800 da Roland; a gravação foi editada, mixada e masterizada em ProTools pelo Estúdio Carbonos em São Paulo. A "Lírica Espacial" foi incluída na Coletânea de Música Eletroacústica Brasileira (no CD nº 3, Spatium), organizada e produzida pela SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica. A referida Coletânea foi lançada em 2008, sob o patrocínio da Petrobrás.
A aceitação do público dessa minha obra eletroacústica me surpreendeu: após a sua audição, muitas pessoas se aproximaram de mim para ter mais informações sobre a sua criação, o que me deu enorme prazer a ponto de ter ficado à disposição dos presentes por mais de 30 minutos discorrendo sobre a sua estrutura. Expliquei-lhes, por exemplo, que as relações tonais não serviram à sua construção, já que não se tratava de uma peça tonal e que foi necessário encontrar outras relações, tendo a peça sido composta com a técnica da atonalidade. Outro fato curioso foi o seguinte: o sistema compositivo adotado foi o de privilegiar a família de intervalos não-convencionais correspondentes aos números existentes na "série de Lucas" e na rede congênere formada por eles — técnica que me foi ensinada pelo Professor Christopher Bochmann, da Inglaterra, num dos Cursos Internacionais de Verão da EMB-Escola de Música de Brasília. Ele costumava privilegiar determinados intervalos e acordes previamente escolhidos em suas composições com o objetivo de dar-lhes o caráter da contemporaneidade. Como muitos dos presentes já conheciam "O Código Da Vinci" e já tinham alguma noção da "série de Fibonacci", que foi usada por Dan Brown, nos capítulos 8 a 12 do livro, como uma "brincadeira numérica" para a solução de um de seus enigmas, não foi difícil sugerir à sua imaginação uma série parecida com a de Fibonacci (no caso, a série de Lucas) com o mesmo propósito de descrever os pontos traçados de uma espiral — a forma perfeita buscada pelos arquitetos e pintores de todos os tempos. Enquanto essas explicações lhes eram dadas, percebi que cada vez mais sua curiosidade era aguçada pela técnica compositiva utilizada na "Lírica Espacial", título sugerido pelo Maestro e Compositor Jorge Antunes que imediatamente acolhi.
Quero aqui deixar minha gratidão pelo comparecimento de uma platéia tão refinada para assistir à inauguração de mais esse espaço cultural na cidade de Tiradentes, podendo citar os seguintes nomes ilustres: o acadêmico, embaixador e ex-ministro Sérgio Paulo Rouanet e sua esposa, a socióloga da UnB, escritora Bárbara Freitag, o diretor da Fundação Oscar Niemeyer, Jayme Zettel, o acadêmico sanjoanense Wainer Ávila e sua esposa Regina, os jornalistas Celso Nucci e Marília Scalzo, o ex-reitor da UFSJ, João Bosco de Castro Teixeira e sua esposa Lelena, Denise Gaede, Telma Chaves, Sandra e Fábio Mattioli, Leonor e Lúcia Gomes, Ozanan Conceição, o ator Guilherme Guedes, a historiadora Rosária Faria e seu esposo, o Procurador da Fazenda Nacional Ronaldo Thomet Simas, Acila e José Maurício de Carvalho, Breno Neves, Elizabeth Neves, Elizabeth dos Santos Braga e sua filhinha Beatriz, de Campinas, Luiz Antônio Mourão e Celina Braga Campos, de São Paulo, Hércules Costa e sua esposa Elaine acompanhados de seu filhinho Henrique, de Santa Cruz de Minas, só para citar alguns.
Por tudo o que foi dito a respeito desta adorável "soirée musicale", acho que Rute Pardini e eu é que ganhamos com o contato com esse simpático público que compareceu à Galeria da Fundação Oscar Araripe, atendendo ao convite de seu Presidente.
Identificação do grupo na foto - da esquerda para a direita: Rosária Faria, Rute Pardini, Sérgio Rouanet e Oscar Araripe. Atrás: Francisco Braga, Ronaldo Thomet Simas, Wainer Ávila e Regina.
* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...