sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

105 Anos da Presença Franciscana em São João del-Rei e o centenário Ginásio Santo Antônio > > > Parte 3


Por Francisco José dos Santos Braga


Os Meninos Cantores Externos do Ginásio Santo Antônio

Pela sua participação nos ensaios (duas vezes por semana) e nas apresentações que abrilhantavam as comemorações religiosas das paróquias, os meninos cantores externos gozávamos de certos privilégios que consistiam em irmos aos pique-niques organizados pelo criador do coral e seu regente Frei Orlando Rabuske. Um dos mais pitorescos e inesquecíveis foi o passeio à Lagoa dos Cordões que ficava localizada entre São João del-Rei e Tiradentes, na localidade conhecida por Porto (Real da Passagem), então distrito de Tiradentes. Hoje esta lagoa ainda se encontra perfeitamente conservada, sendo um dos principais atrativos da Pousada Lago d' Ouro, no Município de Santa Cruz de Minas.

Além desse, havia outro privilégio: toda quarta-feira, à noite, os meninos cantores podíamos assistir aos maravilhosos filmes a que tinham também direito os alunos internos do Ginásio Santo Antônio. Essa oportunidade em especial era imperdível. Assistíamos às fitas mais marcantes da história da sétima arte sem despender um único centavo. Digno de nota era também o direito que tínhamos de ter acesso à Biblioteca e frequentar a piscina junto com os internos. Por todas essas concessões nos distinguíamos dos alunos regulares externos e internos, como era natural, razão por que nossos desafetos nos tratavam com a alcunha desairosa de "piuítas do frei Orlando".

A seguir, cito apenas aqueles cantores de quem me recordo, embora o seu número seja muito maior do que os nomeados a seguir: Carlos Marcos Henriques, Flávio Costa Gonçalves, Antônio Celso Teixeira Braga, João Bosco Teixeira Braga, Adenir Aquiles dos Santos, Aldomir, Luiz Antônio Almeida, Edson Romero Neves ("Dinho"), João Prado, Hugo Ribeiro de Araújo, Roque César dos Santos Braga, Osvaldo Torga, Carlos Alberto Torga, Sérgio Torga, Cláudio, Francisco Canavez, José Maria Ávila, Antônio Taier, Breno Lombardi, Moacir Cristóvão Guimarães, José Luiz Gattas Halack, Marcos Monteiro, Eduardo Marques Ávila, Murilo Chaffi Halack, Antônio Eduardo Halack, Marco Antônio de Araújo Rangel, Cláudio Salomé, Mateus Eustáquio Salomé de Oliveira, Euler Fernando Ribeiro e Silva, Luiz Fernando Nascimento, Carlos Alberto Nascimento, Roberto Brasil, Hélder, o autor deste artigo, dentre outros.

Frei Orlando Rabuske era um frei teuto-brasileiro, que, antes de sua passagem por São João del-Rei, desenvolveu um trabalho de regência coral em Divinópolis. Conseguiu com a Embaixada da então República Federal da Alemanha vários exemplares da coletânea de peças corais, intitulada "Chorübungen", para cada naipe do coral. As peças que ali constavam tinham sido selecionadas pelo Professor Eberhard Schwickerath e editadas pela Musikverlag Hans Sikorski de Hamburgo. Guardo ainda comigo um desses exemplares para a voz de tenor.
Capa de CHORÜBUNGEN
CHORÜBUNGEN: 1ª página para o naipe de tenor

Da referida coletânea, cantávamos algumas peças corais. Recordo-me especialmente de Matona mia cara de Orlando di Lasso (p. 70-72), cuja letra, com minha tradução, apresento a seguir.


1. Matona mia cara (Orlando di Lasso)

Matona mia cara, mi follere canzon
cantar sotto finestra, lanze bon compagnon.
Don don don diri diri don don don don

Ti prego m'ascoltare che mi cantar de bon
e mi ti foller bene come greco e capon.
Don don don diri diri don don don don

Com'andar alle cazze, cazzar con le falcon,
mi ti portar beccazze, grasse come rognon.
Don don don diri diri don don don don

Se mi non saper dire tante belle rason
Petrarca mi non saper, ne fonte d'Helicon.
Don don don diri diri don don don don

Se ti mi foller bene mi non esser poltron;
mi ficcar tutta notte, urtar come monton
Don don don diri diri don don don don.

(Minha tradução)
Senhora minha cara, esta imprudente canção
cantarei sob a janela, serei um bom companheiro.
Don don don diri diri don don don don

Te suplico me escutar, pois cantarei bem
e te exaltarei bem como um grego e um galo castrado.
Don don don diri diri don don don don

Assim a andar pela caça, caçar com o falcão,
te trarei boa caça gorda como rins.
Don don don diri diri don don don don

Se não sei dizer muitos belos pensamentos,
Petrarca não conheço, nem a fonte de Helicon.
Don don don diri diri don don don don

Se você me quiser bem, não serei um potro;
foderei a noite toda a bater como um aríete.
Don don don diri diri don don don don

Observação: Claro que esta última estrofe era propositalmente excluída por não se adequar aos padrões morais e religiosos do Ginásio.

Frei Orlando Rabuske ainda nos ensinou a cantar sem sotaque Das Wandern ist des Müllers Lust, cuja letra, com minha tradução, reproduzo abaixo:

2. Das Wandern ist des Müllers Lust, o primeiro dos "Lieder" do ciclo intitulado Die schöne Müllerin (Franz Schubert)

Das Wandern ist des Müllers Lust,
Das Wandern ist des Müllers Lust,
Das Wandern!

Das muss ein schlechter Müller sein,
Dem niemals fiel das Wandern ein,
Dem niemals fiel das Wandern ein,
Das Wandern!

Vom Wasser haben wir's gelernt,
Vom Wasser haben wir's gelernt,
Vom Wasser!

Das hat nicht Ruh' bei Tag und Nacht,
Ist stets auf Wanderschaft bedacht,
Ist stets auf Wanderschaft bedacht,
Das Wasser!

Da sehn wir auch den Rädern ab,
Da sehn wir auch den Rädern ab,
Den Rädern!

Die gar nicht gerne stille stehn
Und sich bei Tag nicht müde drehn,
Und sich bei Tag nicht müde drehn,
Die Rädern!

Die Steine selbst, so schwer sie sind,
Die Steine selbst, so schwer sie sind,
Die Steine!

Sie tanzen mit den muntern Reihn
Und wollen gar noch schneller sein,
Und wollen gar noch schneller sein,
Die Steine!

O Wandern, Wandern, meine Lust,
O Wandern, Wandern, meine Lust,
O Wandern!

Herr Meister und Frau Meisterin,
Lasst mich in Frieden weiterziehn,
Lasst mich in Frieden weiterziehn
Und wandern!

(Tradução minha)
O caminhar é a alegria do moleiro,
O caminhar é a alegria do moleiro,
O caminhar!

Deve ser um mau moleiro,
O que nunca se lembrou do caminhar,
Do caminhar.

Da água o aprendemos,
Da água o aprendemos,
Da água!

Ela não descansa de dia e noite,
Sempre refletiu sobre andança,
Sempre refletiu sobre andança,
A água.

Ali percebemos também as rodas de moinho,
Ali percebemos também as rodas de moinho,
As rodas.

Elas absolutamente não gostam de parar
E giram incansáveis durante o dia,
E giram incansáveis durante o dia,
As rodas.

Do moinho as próprias pedras que são tão duras,
Do moinho as próprias pedras que são tão duras,
As pedras!

Elas dançam na alegre fila
E querem ser até mais rápidas,
E querem ser até mais rápidas,
As pedras.

Ó caminhar, caminhar, minha alegria,
Ó caminhar, caminhar, minha alegria,
Ó caminhar!

Senhor mestre, senhora mestra,
Deixem-me em paz seguir além,
Deixem-me em paz seguir além,
E caminhar!

Havia outras canções em nosso repertório, obrigatórias em todas as apresentações:

1. Cielito lindo (de Quirino Mendoza y Cortes) e que integra o folclore mexicano

2. Edelweiss

3. Green Fields (letra de Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano)

Lá tão distante,
Por trás do sol
Lá bem distante,
Onde o por-do-sol
Põe tons vermelhos
Na noite como um véu,
Onde aos meus olhos
A terra encontra o céu.

Vivia outrora o meu bem
Em Green Fields.
Green Fields é o meu lar
Meu mundo enfim

Lá eu guardava
Alguém só para mim
Lá me esperava,
À noite, o meu bem
Lá onde o sonho
Morava enfim também
Vivia outrora o meu bem
Em Green Fields.

Eu não sabia
Que um dia ao regressar
Já não mais teria
Alguém a me esperar
E que o encanto, a paz e o calor
Se tornassem pranto, frio e amargor.

E hoje de volta para o meu lar
Já não encontro alguém a me esperar.
Tudo é tão triste! É fria solidão,
Em tudo existe, envolve a mim também.
Como é tão triste
Meu Green Fields, sem meu bem.

Além dessas duas peças, cantávamos ainda uma Missa de Johann Sebastian Bach, de cujo BWV , após tantos anos, não mais me recordo.

Cantávamos também peças sacras corais que, na época, eram conhecidas pelos fiéis em geral, o que favorecia enormemente a sua aceitação. As letras dessas canções eram copiadas em impressoras para stêncil que ainda hoje conservo no meu arquivo. Reproduzo abaixo as que ainda possuo:

Ave, Coração divino
Ave, Coração divino,
Tu és trono só de amor,
Almo templo de Deus trino,
Sol dos céus encantador!
Ave, Coração rasgado,
Por ingratos, ai! por nós!
Crucifica! — é nosso brado,
Vinde a mim! — é tua voz. (etc.)

Sit laus divino
Sit laus divino Cordi,
Per quod nobis parta salus;
Ipsi gloria et honor in saecula,
in saecula.

Christus vincit!
Christus vincit, Christus regnat,
Christus regnat et imperat.

Alleluia, alleluia, alleluia!

Do mar Estrela
Do mar Estrela, Mãe carinhosa,
Para os aflitos grato solar
O teu sorriso é meu encanto.
É nas angústias Luz salutar!
Ouve os pedidos d' alma saudosa
Ó Mãe piedosa, vem me amparar.

Do mar Estrela, Virgem das Dores,
Aos oprimidos dás proteção.
Se me confortas o pranto enxugas,
Cessam as mágoas e atroz penar!
Ouve os pedidos d' alma saudosa,
Ó Mãe piedosa, vem me amparar!

Maria, rogai por nós
Um só olhar, Mãe, lá dos céus,
A nós volvei.
E do alto mar os escarcéus
Sêde fanal, Maria.

Maria, rogai por nós!
Maria, rogai por nós!

Vós de piedade, Mãe sem par,
Qual sempre sois!
Ó vinde, vinde consolar
A todos nós, Maria.

Mãe querida
Mãe querida, Virgem pura,
Meu amor é só ventura
Ó Rainha singular,
Vós Senhora, luz divina,
Que me alenta e me fascina
Salve, salve, sem cessar,
Salve, Mãe do céu sem par,
Ó salve sem cessar, sem cessar!

Toda pura, toda arminho,
Salve, salve sem cessar,
Salve Mãe do céu, sem par!
Meiga pomba, níveo lírio,
A sorrir-nos lá do empíreo.
Virgem santa e modelar;
Desde séc' los escolhida,
Para Mãe de Deus querida,
Salve, salve, sem cessar
Salve, Mãe do céu sem par,
Ó salve sem cessar, sem cessar!
Dos fragores retumbantes,
Salve, salve sem cessar!
Salve, Mãe do céu sem par!

Pode parecer que o coral de meninos cantores do Ginásio Santo Antônio tenha sido uma iniciativa de caráter cultural isolada. Mas não é esse o caso.

Festividades em honra de determinado frei

Tenho em mãos a edição de "O Porvir" de 07/09/1934 com o "Programa das Festividades em honra do Revmo. Pe. Frei Optato van Oorschot o.f.m.", por ocasião das suas bodas de prata de vida monástica, o que ocorreu em 7 de setembro de 1934, sexta-feira. Às 6h 30min estava programada missa solene, cantada. Da schola cantorum participaram os alunos Aires de Oliveira e Silva, Hélio de Souza Gomes, Hamilton Dias Ribeiro, Hélio de Lima Castro, Ivan Moura Botelho, José Maria Tranqueira, José de Castro Souza, João Justino Rodrigues, João E. Barcelos, Geraldo Galbraith, Roberto de Melo Franco, Wilson de Melo Franco, Washington Brito e Waldir Mendonça. O acompanhamento dos cânticos estava a cargo da Orquestra São Francisco, dirigida pelo Maestro Cristiano Müller, composta dos seguintes membros:
Piano: Senhorita Maria de Lourdes Pimentel e Omar Patrício de Assis
Piston: João Veloso e Antônio Soares de Melo
Saxofone: Raimundo Moreira Guimarães
Clarineta: Décio Mendes dos Reis
Trombone: Joaquim Roberto Azevedo
Flauta: José dos Santos
Bombardino: Manoel Morais Batista Neto
Violinos: Levi Saldanha, Walter dos Santos, Wilson Rocha da Silva, Paulo Alvarenga Filho, Luiz Simbalista, Pedro Teodoro de Souza, José Geraldo Ávila
Arquivistas: José Geraldo Rocha da Cunha, Geraldo Correia Goulart e Arnaldo Bouças.

Às 19 horas do mesmo dia e do dia seguinte, no teatro, a Orquestra São Francisco tocou a Ouverture, seguida da apresentação de peças musicais interpretadas por vários alunos, discursos e representação de três peças teatrais, a saber:
a primeira na sexta-feira, "Inédita" (comédia em 1 ato, sem papel e sem ensaio) a cargo do Club Futurista formado pelos alunos Simão Salomé, Artur O. Esperança, Oscar B. Bicalho, Décio Mendes dos Reis e Geraldo F. de Souza (na sexta-feira); as outras duas peças teatrais no sábado: a comédia em 1 ato denominada "Os dois Estudantes no Prego", a cargo dos seguintes atores: Artur O. Esperança, Geraldo F. de Souza, Oscar B. Bicalho, Rafael P. de Carvalho, Raimundo Veloso, Simão Salomé e João Damásio Pinto, seguida da comédia em 3 atos "Os dois Sósias", a cargo dos atores Oscar B. Bicalho, João Damásio Pinto, Eurico de A. Pereira, Simão Salomé, Délio França Baía, Arnaldo Bouças, Artur O. Esperança, Geraldo F. de Souza, Antônio T. Penido, Raymundo Velloso, José C. de Carvalho, José Pereira Queiroz e Luiz Antônio Lisbôa.

Além do anúncio dessas comemorações, o referido jornal ainda dá boas vindas ao surgimento de um novo grupo musical no Ginásio Santo Antônio daquela época. Tratava-se do "Jazz do Barulho" que possivelmente tenha estreado por ocasião das referidas festividades, nos dias 7 e 8 de setembro, no campo, no pátio, no refeitório, etc. Os membros do grupo jazzístico eram: Nadico, Pimenta, Balão, Oxygeneiro, Calçudo, Espanhol, Minel, Carioquinha, Ri e Castanha.

Embora possa ser cansativa a relação que faço de alguns dos vários nomes envolvidos no evento, acho importante deixar claro que havia na ocasião das referidas festividades um empenho coletivo para o seu brilhantismo semelhante ou superior àquele que presenciei entre os meninos cantores do Ginásio Santo Antônio, nos anos de 1961-1963, liderados pelo Frei Orlando Rabuske.

Hinos e canções obrigatórias do repertório dos alunos do "Santo Antônio"

Independente de pertencer ao coral do Frei Orlando Rabuske, todo aluno do Ginásio era obrigado a saber cantar de cor algumas canções em outras línguas, especialmente francesas e inglesas. Abaixo reproduzo as de que me recordo.

Frère Jacques
Frère Jacques, Frère Jacques,
Dormez vous, dormez vous?
Sonnez les matines, sonnez les matines,
Din din don, Din din don.


La Marseillaise (hino nacional francês, composto por Rouget de Lisle em 1792; versão reduzida)
Allons enfants de la Patrie,
Le jour de gloire est arrivé!
Contre nous de la tyrannie,
L' étendard sanglant est levé, (bis)
Entendez-vous dans les campagnes
Mugir ces féroces soldats!
Ils viennent jusque dans nos bras
Égorger nos fils, nos compagnes.

Refrão: Aux armes citoyens!
Formez vos bataillons,
Marchons, marchons!
Qu' un sang impur
Abreuve nos sillons!

Amour sacré de la Patrie,
Conduis, soutiens nos bras vengeurs!
Liberté, Liberté chérie,
Combats avec tes défenseurs; (bis)
Sous nos drapeaux, que la victoire
Accoure à tes mâles accents;
Que tes ennemis expirants
Voient ton triomphe et notre gloire!
(ao Refrão)

(Minha tradução)
Vamos, filhos da Pátria,
O dia da glória chegou.
Contra nós da tirania
O estardarte ensanguentado se levantou; (bis)
Ouvis nos campos rugirem
Esses ferozes soldados?
Eles vêm até nós
Degolar nossos filhos, nossas esposas.

Às armas, cidadãos!
Formai vossos batalhões!
Marchemos, marchemos!
Que um sangue impuro
Embeba nossos solos!

Amor sagrado pela Pátria,
Conduze, sustenta nossos braços vingativos.
Liberdade, querida Liberdade,
Combate com teus defensores; (bis)
Sob nossas bandeiras, que a vitória
Acorra logo às tuas vozes viris;
Que teus inimigos agonizantes
Vejam teu triunfo e nossa glória!

Au Clair de la Lune
Au clair de la lune,
Mon ami Pierrot,
Prête-moi ta plume
Pour écrire un mot;
Ma chandelle est morte,
Je n’ ai plus de feu ...
Ouvre-moi ta porte,
Pour l’ amour de Dieu!

My Bonnie
My Bonnie lies over the ocean,
My Bonnie lies over the sea.
My Bonnie lies over the ocean,
Oh bring back my Bonnie to me.

Refrão: Bring back, bring back,
Oh bring back my Bonnie to me, to me.
Bring back, bring back,
Oh bring back my Bonnie to me.

Last night as I lay on my pillow,
Last night as I lay on my bed,
Last night as I lay on my pillow,
I dreamt that my Bonnie was dead.

Festa de formatura

Outro evento marcante na vida do Ginásio era a Festa dos Bacharelandos, que ocorria normalmente em fins de novembro. Do programa dessa festa normalmente constava inicialmente uma missa solene, às 8h 30min na Capela dos Externos. Às 13h, no grande refeitório era servido lauto almôço, presentes altas autoridades municipais, todo o corpo docente do Ginásio, pessoas amigas, uma embaixada de ex-alunos, estudantes em Belo Horizonte que vinham prestigiar o evento, além de todos os bacharelandos. À sobremesa, três discursos se faziam ouvir: o do anfitrião (Diretor do Ginásio), o de um ex-aluno brindando os bacharelandos e o de um diplomando.

À noite, às 20h, cumpria-se a última parte do programa: a Sessão Cívica Solene, para a qual a mais seleta platéia lotava as amplas dependências do auditório do teatro. Abriam a sessão, no palco, o Diretor do Ginásio e o Inspetor Federal de Ensino. Logo o Diretor convidava as autoridades presentes a tomarem assento à mesa, constituídas pelo Prefeito Municipal, o Juiz de Direito, o Comandante do 11º Regimento de Infantaria e o Inspetor Municipal de Ensino.

A seguir, o Diretor produzia bela peça oratória de despedida, saudando os diplomandos e entregando-lhes seus certificados. Neste momento, chamava o bacharelando que se classificou em 1º lugar para receber das mãos do Prefeito Municipal a medalha de ouro brilhantemente conquistada.

Depois, era dada a palavra ao orador da turma, que, em nome de seus colegas, se despedia do Ginásio, num emotivo discurso bem elaborado.
Por fim, ocupava a tribuna um professor, paraninfo dos bacharéis do ano em curso.
Com o Hino Nacional, cantado pelos presentes, encerrava-se a sessão cívica.

Lembro-me com detalhes dessa festa, porque tive a honra de ser agraciado com a medalha de ouro, que me foi entregue pelo Diretor Frei Feliciano van Sambeeck, por ter sido o bacharelando de 1967 a conquistar o 1º lugar, no conjunto das matérias.

Hinos de despedida

Conservo ainda comigo um impresso que traz dois hinos compostos por Frei Metelo Geeve para a formatura de 18/11/1966. O primeiro fala de uma saudade imorredoura evocada pela memória de um tempo de estudos no Ginásio envolta pelo som de sinos que repetem "São João del-Rei", a saber:

SÃO JOÃO DEL-REI
Tempo saudoso estudando em São João,
Terra de sinos, de ouro e tradição;
Viva lembrança p' ra sempre guardarei,
O som de sinos sempre diz: São João del-Rei.

Refrão: Blim, blem, blão — blim, blem, blão,
Sinos dobram em São João,
No som de sinos escutei:
São João del-Rei.

Vou pelo mundo, seguindo a vocação,
Desenvolvida nas terras de São João:
O meu colégio jamais esquecerei;
O som dos sinos sempre diz: São João del-Rei.

Quando na luta, no mundo sedutor,
Fracas as forças e forte o tentador,
De Santo Antônio logo lembrar-me-ei,
O som dos sinos sempre diz: São João del-Rei.

Quando eu for grande, um homem de valor,
Quando pequeno, curvado pela dor,
Nome bendito sempre recordarei,
O som de sinos sempre diz: São João del-Rei.

No mesmo impresso está estampada a "Despedida do Colégio", em que os formandos em côro imploram à Virgem Maria a proteção e esta, por sua vez, responde terna à sua prece, verbis:

DESPEDIDA DO COLÉGIO

Côro: Seja-nos Mãe, ó Virgem santa,
a vossa bênção imploramos:
que nós, na vida triunfantes,
num céu feliz Vos pertençamos.

Solista: "Do alto do céu eu vos protejo
e sempre meus filhos vos guiarei:
de vós, no mundo militantes,
de vós, que filhos sois, jamais me esquecerei.

Deixais o curso em "Santo Antônio";
meus caros filhos, digo-vos adeus:
serei sempre eu vossa mãe terna;
vós, conservai-vos sempre dignos filhos meus.

A vida passa, o tempo é breve,
o mundo acaba, eterno é o troféu,
do inferno as forças vos invejam,
lembrai-vos, sempre mãe, espero-vos no céu."

(Continua na Parte 4 desta série)


* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...

3 comentários:

ricardo braga disse...

caro braga sou filho do antonio celso teixeira braga,neto de antonio lisboa braga. meu pai faleceu ja fazem 3 anos,gostaria que se vc tivesse mais alguma hitoria dele que contasse ou manda-se em meu e mail,pois a saudade é muito grande jcmarrachimp@terra.com.br.
grato e abraços
ricardo braga

Unknown disse...

Olá, você tem a partitura dessas músicas? Principalmente a da Mãe Querida. Se tiver e for possível, poderia enviar para meu email? Obrigado! gabrielfrota25@gmail.com

Dr. Lúcio Flávio Baioneta (conferencista e proprietário da Análise Comercial Ltda) disse...

Meu prezado amigo FJSBRAGA, de repente eu me vi, no inicio do ano de 1953, com 11 anos de idade, saindo do Hotel Espanhol, com meus pais em busca de uma igreja para assistirmos à missa dominical. Resolvemos seguir os sinos cujo badalar mais nos agradava e chegamos à monumental igreja de São Francisco de Assis.
Depois da missa conhecemos o Ginásio. Fiz o exame de admissão e não voltei para minha Curvelo, fiquei naquele imenso prédio que durante 5 anos tornou-se a minha segunda casa.
Vi, com imensa emoção, todos os vídeos. Os alunos daquele encontro não foram meus contemporâneos. Revi o prédio, os dormitórios, os laboratórios, os salões de estudos, os refeitórios, os pátios, os campos de futebol e revi o que para mim foi o mais importante:-os mestres e os frades franciscanos que com seus ensinamentos fizeram de mim um homem. Caráter, honra, humildade.
Não vou esconder que cheguei as lágrimas; triste é se eu não tivesse chorado.
Guardo este Ginásio, estes frades e estes mestres no meu coração, até o final de meus dias. Vou guardar estes vídeos para sempre.
Muito obrigado por ter-se lembrado de mim.
Abraços do Lúcio Flávio.