sábado, 12 de dezembro de 2009

Projeto de fomento às bandas civis >>> Parte I

Por Francisco José dos Santos Braga


 PROÊMIO

Em fins de agosto de 2006, em viagem a São João del-Rei, tomei conhecimento de que a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo estava recebendo os projetos a serem desenvolvidos no ano seguinte como parte da comemoração de São João del-Rei, Capital Brasileira da Cultura 2007, o que me incentivou a redigir o projeto “Fomento às Bandas Civis de São João del-Rei e Região Circunvizinha".

Idealizei e redigi o referido projeto em quatro dias, durante a referida viagem, e convidei para assinarem comigo na condição de co-proponentes: o então Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, o Sr. José Antônio de Ávila Sacramento, e o Maestro da Banda Theodoro de Faria, o Sr. Tadeu Nicolau Rodrigues, que prontamente acederam a meu convite.

O projeto visava operacionalizar um sistema integrado de gestão de Bandas civis, sediadas em São João del-Rei e entorno, e que tivessem o interesse de fazer sua adesão ao Projeto, com a finalidade de abrilhantar as festividades da Capital Brasileira da Cultura 2007.

Diante da não aceitação do projeto no âmbito da Capital Brasileira da Cultura 2007, procurei distribuir cópias do Projeto a pessoas ilustres que acreditava terem o poder de interceder a seu favor, autorizando, inclusive, que ele fosse desenvolvido ao amparo da Lei Rouanet, o que acabou também não acontecendo.

Debalde meus incessantes esforços em vê-lo aprovado por algum Órgão da Cultura, o Projeto não vingou. Diante desses fatos, agora, em fins de 2009, passados 3 anos de sua idealização, já cansado de esperar pelo patrocínio oficial, coloco o Projeto, na sua íntegra, na Internet na esperança de que pessoas interessadas em Cultura Musical possam ter acesso a esse material e conheçam mais sobre bandas de música.

Com essa publicidade, procuro tornar o Projeto mais visível e possibilitar que outras cidades brasileiras candidatas ou detentoras do título de Capital Brasileira da Cultura possam implementá-lo na íntegra. Oxalá isso ainda se concretize!

Por entender que meu Projeto possuía perfeitamente os requisitos para sua aprovação, acho importante, para embasar esse entendimento, pinçar alguns trechos contidos em dois documentos disponíveis na Internet: "Primeiros seis meses da CBC 2007 movimentam São João del-Rei" in www.capitalbrasileiradacultura.org/cbc/?Url=Noticia2007_06_22 e "Perguntas e Respostas sobre a CBC" in www.capitalbrasileiradacultura.org/cbc/?Url=FAQ#02:

"O projeto Capital Brasileira da Cultura está dirigido a todas as cidades do território nacional e visa o desenvolvimento social e econômico dos municípios brasileiros, através da valorização e promoção das culturas regionais. O programa de capital cultural deverá conter eventos que contemplem todo o potencial cultural e histórico da cidade eleita e da região onde ela se insere." (grifos meus)

"A capital cultural é de todos e para todos. Todos os cidadãos devem sentir-se protagonistas e participar ativamente identificando-se com a cidade, que será durante todo um ano o referencial da cultura nacional. A Capital Brasileira da Cultura não pode ser confundida como sendo somente um projeto da prefeitura, pois a sua organização e preparação deverão ser feitas com a máxima participação e em conjunto com toda a sociedade local." (grifo meu)

A ONG Capital Brasileira da Cultura propõe como sua missão o “fomento do desenvolvimento social e econômico dos municípios brasileiros, através da valorização e promoção de seu patrimônio e diversidade cultural, gerando emprego e renda, e contribuindo para a formação da cidadania". (grifos meus)

Conforme relatei em artigo intitulado "Elogio fúnebre em memória de JOSÉ BOMBEIRO" de minha autoria e postado neste Blog do Braga em 19/6/1910, entendo que este texto ainda constitui uma denúncia contra o péssimo estado de conservação do acervo da banda de Ibituruna-MG (www.saojoaodelreitransparente.com.br/pt/ articlesView.php?articleID=50) e uma recomendação à UFSJ-Universidade Federal de São João del-Rei para que se crie um "Museu Bandas de Música das Vertentes" para acondicionamento, arquivo e digitalização das partituras para Bandas que se encontram nas respectivas sedes em processo de decomposição.

Na ocasião, alertei a todos para o perigo que corria nosso patrimônio cultural e musical: estrangeiros estariam visitando as Bandas do interior de Minas Gerais, microfilmando as partituras, levando para seus países de origem, certamente omitindo a autoria das peças musicais, conscientes de nossa desorganização e despreparo na custódia de nossos valores culturais.

Acreditava então e ainda mantenho a crença de que "mais vale um violino na mão do que uma bola no pé". Afirmo-o, sem demérito algum para o futebol. Estou ciente de que o futebol é um esporte que merece todo o meu respeito, por atrair para suas fileiras crianças pobres e excluídas e tendo em vista que os atletas são exemplo de superação em muitas áreas. Sei também que no futebol o candidato a craque começa desde pequeno, treina horas a fio todos os dias, vive respirando e buscando o maior desenvolvimento técnico possível. Além disso, a noção do fair play — claramente vinculado à ética no meio esportivo, mas também sugerindo um comportamento considerado exemplar por qualquer ser humano dentro e fora da prática competitiva — permite ao desportista utilizá-lo para uma espécie de educação para a reciprocidade, na qual o adversário seja visto como uma pessoa tão importante para a prática esportiva quanto ele próprio. Essa identificação com o adversário permite que o respeito mútuo aflore, surgindo o entendimento de que a vitória e a derrota são condições momentâneas, passíveis de mudança com o passar do tempo.

Mas, o que uma banda de música provê mais do que um time de futebol àqueles que procuram o seu convívio?

Assisti a um filme muito elucidativo dessa questão que acabo de colocar. Chama-se "A Voz do Coração" (em francês: Les Choristes, produção franco-suíça de 2004, do gênero drama), dirigido por Christophe Barratier.

De forma resumida, apresento a sinopse do filme:
Pierre Morhange é um famoso maestro que retorna à sua cidade natal, ao saber do falecimento de sua mãe. Lá ele encontra um diário mantido por seu antigo professor de música, Clément Mathieu, através do qual passa a recordar sua própria infância. Naquela época, mais exatamente em 1949, Pierre era um menino rebelde, filho de mãe solteira, Violette. Ele frequentava um internato para reeducação de menores (melhor dizendo, um reformatório povoado de menores infratores e órfãos de guerra sem aparente futuro) dirigido pelo inflexível Rachin, que adotava um sistema repressivo caracterizado pela delação e por sevícias corporais. Mas a chegada do professor de música desempregado Mathieu traz nova vida ao lugar: este, tendo aceito o cargo de inspetor e transtornado com tudo o que vê, decide iniciar os meninos na música e organizar um coral que promove a descoberta do talento musical de Pierre, dotado de voz angelical que tem todos os requisitos para seguir carreira na música erudita. Através do novo sistema, Mathieu consegue transformar o quotidiano daqueles infelizes.

Esse filme aborda um tema de alta relevância para o propósito de escrever este Proêmio: o efeito benéfico da música sobre o caráter do indivíduo. Mathieu empregou excelente prática pedagógica: com um tom encorajador e com rara sensibilidade para com uma turma de desajustados consegue, aos poucos, com sua música, a mudança de atitudes dos alunos e da Direção.

Esse filme é extremamente adequado para se expor o que ocorre na área musical.

Três tipos de conhecimento são exigidos para o bom êxito do aprendizado do instrumento musical ou da prática da Regência:

1) o motor, que envolve a consciência dos movimentos corporais e a sua independência. Aqui importa o corpo do receptor (aprendiz), mediante domínio do movimento físico (precisão no sopro, dedilhado, arcada, etc.). A aquisição desse tipo de conhecimento se dá através do exercício técnico diário;

2) o cognitivo, que envolve, por parte do receptor, a aquisição do conteúdo e o entendimento do "processo", que podem se dar num instante;

3) o estético, que tem a ver com a sensibilidade estética (ou inspiração ) do receptor. O fato de este fazer música irá prover o desenvolvimento da sensibilidade estética do público e do grupo de que faça parte. Por outro lado, o fato de ser membro de um grupo (coral ou instrumental) possibilita que, através do coletivo, o membro aprenda muito sobre si mesmo.

Acho importante enfatizar que o conhecimento estético, o qual tem a ver com a sensibilidade, não é adquirido em campos de futebol, mas sim nas atividades que acionam áreas do cérebro relacionadas com valores mais elevados do espírito humano.

As bandas, como "conservatórios do povo", conforme feliz expressão de Vicente Salles, possibilita o mergulho nesse tipo de conhecimento com a consequente expansão da sensibilidade não só dos membros individuais, mas também do grupo coletivo.



2 comentários:

J.A.Ávila disse...

Conheço e aplaudo o teor do projeto de “Fomento às Bandas Civis de São João del-Rei e Região Circunvizinha".

Reconheço o empenho de Francisco Braga em favor das nossas tão abandonadas bandas de música, as quais sobrevivem heroicamente, a depeito do pouco apoio oficial que recebem.

Creio que ainda não honramos como deveríamos o título de São João del-Rei como "a cidade da música", pois que nos abstemos de envidar esforços para subsidiar as nossas orquestras e bandas, estas últimas, manifestações populares e tão próximas das almas dos mineiros.

Aqui em São João del-Rei temos o Coreto Maestro João Cavalcante - um belo palco na área central da urbe, recentemente restaurado, próprio para retretas e que infelizmente não está sendo utilizado para tais apresentações.

Sou natural de um dos cinco distritos são-joanenses - o de São Miguel do Cajuru-, localidade onde uma banda de música, a Lira de Santa Cecília, teima em sobreviver há quase 200 anos.

Assim, desejo que com a disponibilização do projeto pelo seu autor, alguma cidade possa bem aproveitá-lo.

Quem sabe, ainda poderá aproveitá-lo a nossa própria São João del-Rei? De minha parte, ainda que não tenha prestígio suficiente para visualizar perspectivas de êxito nesta tarefa, farei meus empenhos neste sentido!

Sonhar não custa nada...

PAPEL BEBE disse...

Braga, sou saojoanense, e tenho 72 anos.Entre 1945 e 1949,o Tne. Cavalcante, no G.E.Aureliano Pimentel, nos ensinou uma música.Vai ai alguns versos: São Joao del rei, ditosa princesa de Minas, meu berço adorado gentil.É belo em seu seio viver, ao som de tamanha armonia, seus sinos e suas igrejas... Eu sempre pensei que êste fôsse o hino da cidade, mas...Por favor, me fale que canção é esta. Carlos.