sábado, 1 de maio de 2010

Meu mestre inesquecível Padre Luiz Zver, SDB > > > 4ª Parte


Por Francisco José dos Santos Braga



Tenho o prazer de dedicar esta 4ª Parte da série de ensaios à memória de Pe. Luiz Zver, SDB, retransmitindo e disponibilizando no Blog do Braga a fala da Prof. Ana Maria de Oliveira Cintra, sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico-IHG de São João del-Rei, titular da cadeira de nº 37, cujo patrono é seu pai, o insigne historiador são-joanense Sebastião de Oliveira Cintra.

A sua palestra versou sobre um movimento literário, artístico e histórico que floresceu na década de 60 em São João del-Rei — o Centro Artístico e Cultural-CAC¹ — e que constituiu o germe para o surgimento tanto do Instituto Histórico e Geográfico, quanto da Academia de Letras.

Antes porém de examinar a fala da Prof. Ana Cintra, convém mencionar que na data convencionada de 7 de março de 2010, quase a totalidade dos sócios do IHG se encontrava reunida às 9h 30min, no Salão Nobre da Prefeitura Municipal de São João del-Rei, com o objetivo de comemorar 40 anos de fundação do referido IHG sob a presidência do Prof. Artur Cláudio da Costa Moreira. A palestra sobre os 40 anos de IHG ficou a cargo das sócias efetivas Betânia Maria Monteiro Guimarães e Maria Lúcia Monteiro Guimarães, além da citada Ana Maria de Oliveira Cintra.

Entre os vários convidados ilustres que tomaram assento à mesa destaco um dos sócios fundadores do Sodalício, o escritor, professor e Doutor em Filosofia Tiago Adão Lara, colega de Pe. Luiz Zver no sacerdócio e ilustre professor de Filosofia da Faculdade Dom Bosco, PUC-Minas e Universidade Federal de Uberlândia, além de professor do curso de Filosofia do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, que, ao discursar, entusiasmou o auditório com sua visão otimista do mundo contemporâneo, com base em certo trecho extraído do livro "Terra Sonâmbula" do moçambicano Mia Couto, o qual sofreu influência declarada de João Guimarães Rosa em "Grandes Sertões: Veredas". O Dr. Tiago Lara, no seu discurso, disse identificar-se com Muidinga, o miúdo, personagem de "Terra Sonâmbula", o qual, a certa altura do romance, diz que deseja abandonar o local em que vive longe do mundo, para voltar ao mundo exatamente porque quer que o mundo seja o mundo que ele vê, do jeito que ele o vê.

O Presidente justificou a ausência do outro sócio fundador do IHG, o Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, o qual, na reinauguração do Museu de Arte Sacra, na noite anterior, se mostrara bastante cansado e se retirara antes do término do evento.

Permita-me o leitor matar-lhe a curiosidade, passando direto à fala da Prof. Ana Cintra que é de grande interesse para o tema que me ocupa e de elevada relevância para registro histórico.

" (...) Vocês sabem a origem do IHG?

Vamos voltar no tempo e relembrar que no dia 12 de outubro de 1958, um grupo de “amigos” de São João del-Rei reuniram-se para a criação do Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei - CAC, cuja fundação oficial ocorreu no dia 08 de março de 1959. Participaram da aprovação do Estatuto Geral em 28 de junho de 1959, os seguintes sócios: Cornélio de Assis Pereira, Pe. José Maria Telles, José Pedro Leite de Carvalho, Adenor Simões Coelho Filho, Djalma Assis, José das Chagas Viegas, Paulo Terra, José do Carmo Barbosa, José Américo da Costa, Pe. Luiz Zver, José Bernardino Peixoto, Pe. João Bosco Nunes de Oliveira, Fábio Nelson Guimarães, Mozart Novais, Elpídio Antonio Ramalho, João de Assis Viegas, Asterak Germano de Lima e Sebastião de Oliveira Cintra. A primeira diretoria foi eleita no dia 12 de julho de 1959 e empossada no dia 26. O registro jurídico deu-se no dia 02 de outubro de 1959.

Os fins da sociedade eram: aprimorar a cultura e estimular a produção artística e científica de seus membros; promover atividades e manifestações de caráter cultural na cidade e zonas de sua influência; incentivar, sobretudo nos jovens, o estudo e o cultivo das letras, ciências e artes; preservar o patrimônio e a herança cultural e artística da cidade. O CAC foi declarado de utilidade pública pela lei nº 546, de 28 de julho de 1960.

Durante 10 anos o CAC promoveu diversos eventos, desde o Primeiro Salão São-joanense de Pintura em 12 de dezembro de 1959, premiando pintores da época, como Altivo Sette, Fernando Araujo Gomes, Celeste Campos Araujo Gomes, Geraldo Guimarães, Lígia Velasco de Almeida Magalhães, Gerardo Cid de Castro Valério, Maria Teixeira Marchete, Solange Botelho, Conceição Ferraz, Terezinha Efigênia dos Santos Lotti Vieira, Wilma Duarte, Pe. Sebastião Raimundo de Paiva, Lucila Cesari Quaglia e Armando da Silva Carvalho (este último meu tio materno). De 1959 a 1964 (apenas 5 anos) foram lançados 14 livros pelo CAC. O CAC fundou e manteve o Museu Tomé Portes del-Rei, sob a direção do seu sócio Fábio Nelson Guimarães e criou também uma Escola de Belas Artes.

A primeira diretoria do CAC tinha como presidente Pe. Luiz Zver, Fábio Guimarães era Diretor do Departamento Histórico, Geraldo Guimarães era Diretor do Departamento de Artes Plásticas e Sebastião Cintra, membro do Conselho Fiscal.

Conclamo nesta data histórica de aniversário do nosso IHG reunirmos as personalidades que pertenceram ao CAC e que ainda se encontram entre nós para escrevermos esta belíssima etapa da nossa história.

Segundo Cintra em "Efemérides de São João del-Rei", o CAC foi precursor da Academia de Letras e do IHG. Em artigo no Jornal de Minas, Cintra afirmou que, findado o CAC, “a 15 de fevereiro de 1970 uma única reunião entre pessoas interessadas e capacitadas aprovou os Estatutos e a composição da primeira diretoria (do IHG)”. O convite para fundar um IHG partiu de Fábio Guimarães e Altivo Sette.

O nosso IHG foi o 5º a ser fundado em Minas Gerais. A solenidade de instalação aconteceu no salão nobre da Prefeitura, com a presença do Prefeito Municipal, Dr. Milton de Resende Viegas, de representante do Comandante do 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, representantes da Loja Macônica local, Presidente da Associação dos Ex-Combatentes, jornalistas e outras autoridades. O Presidente, Fábio Guimarães abriu a sessão, fazendo uma invocação a Deus. A seguir leu o compromisso de honra, ao qual todos os sócios fundadores do Instituto de pé, responderam “prometo”.

Na ocasião, Sebastião de Oliveira Cintra foi encarregado de fazer a leitura mensal das efemérides que foram lidas na ocasião pelo 1º Secretário Cap. Astrogildo Assis em razão de Cintra encontrar-se com problemas na garganta, gesto que se repete em todas as reuniões do IHG durante estes quarenta anos. E que simbolicamente vou fazê-lo agora:

“No Salão Nobre da Municipalidade realiza-se a solene instalação do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, cujos sócios-fundadores são os seguintes: Fábio Nelson Guimarães, Altivo Sette, Sebastião Raimundo de Paiva, Carlos de Oliveira Ribeiro Campos, Luiz de Melo Alvarenga, Gentil Palhares, João Batista Lopes de Oliveira, Astrogildo Assis, Sílvio de Araújo Padilha, João Adalberto de Assis Viegas, Esaú de Assis Republicano, Lucila Cesari, Augusto das Chagas Viegas, Djalma Tarcísio de Assis, Adenor Simões Coelho, Onésimo Guimarães e Tiago Adão Lara” (Cintra, 1982. Efemérides de São João del-Rei, 2ª ed., Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1982).

O Presidente Fábio Guimarães falou sobre a elevação de São João del-Rei à categoria de cidade pela lei provincial nº 93, de 6 de março de 1838. E lembro a todos que a cidade completou ontem, dia 06, 172 anos.

E para concluir peço ao Presidente do IHG que solicite aos sócios presentes que se levantem e simbolicamente repitam o gesto de compromisso de honra daquela manhã do dia 01 de março de 1970:

Eu, sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, prometo solenemente, respeitar e honrar o seu Estatuto, bem como cumprir fielmente o seu regimento interno."


¹ Na página 114 do livro "Notícia de São João del-Rei", o historiador Augusto Viegas assim se refere a respeito do CAC: "Em 6 (sic) de março de 1959, por distinto grupo de intelectuais foi aqui fundado o "Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei", brilhante associação literária e artística à altura das tradições da cidade e que neste elevado setor vem prestando inestimáveis serviços. Esta instituição teve como seu primeiro presidente o digno sacerdote salesiano e conceituado homem de letras Pe. Luiz Zver, que em diversos períodos, pelo inestimável zelo e competência, a exerceu e a que de novo volta, depois de a ter, também competentemente, ocupado Antônio Elias Cecílio e, interinamente, durante algum tempo, o vice-presidente e historiador Fábio Nelson Guimarães." (Augusto das Chagas Viegas: Notícia de São João del-Rei, 3ª edição, 1969, Belo Horizonte)


* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...

Um comentário:

Érica disse...

Francisco, agradecemos seu empenho em registrar, paralelamente à sua história, a vida do Salesiano Pe.Luiz Zver. Repito aqui, o que já disse por e-mail, que todo o seu trabalho feito à respeito do Pe. Luiz Zver e Faculdade Dom Bosco já estão disponíveis em nosso acervo através do site: www.csdp.salesianos.br.
Um abraço,
Érica