quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Documentos autênticos de um personagem ilustre do Império: Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres


Por Francisco José dos Santos Braga


O Blog do Braga tem a satisfação de disponibilizar a seus leitores lusófonos o texto em latim de um Diploma concedido a José Joaquim Fernandes da Silva Torres pela Universidade de Coimbra em 1827 e sua tradução feita pelo autor deste Blog. Esse documento comprovadamente autêntico faz parte do acervo de um particular que, a pedido daquele e por entender que possa ser de interesse para outros pesquisadores e historiadores, ou entidades como Institutos Históricos, Bibliotecas ou Arquivos Públicos, consentiu com a sua divulgação no espaço deste Blog. Tendo em vista ainda as importantes funções desempenhadas pelo portador do referido Diploma, o autor deste Blog sente-se honrado em divulgar especialmente esse documento, dentre outros do referido acervo, e entende que está prestando um serviço de utilidade pública com a presente matéria que enobrece a nacionalidade brasileira.

IN DEI NOMINE, AMEN.

DOCTOR ANTONIUS PINAERIUS AZEVEDIUS SILVIUS, S. Jacobi Ordinis Conventualis Frater, Algarbiensis Cathedralis Ecclesiae Canonicus Doctoralis, in Sacrorum Canonum Facultate Primarius Professor Publicus Ordinarius Decanusque, Universitatis Conimbricensis Pro-Rector, etc.: silmulque Alma Universitas ipsa palam testamur, certioresque reddimus omnes et singulos, quorum interest pr
eaesentes Literas inspicere, quod dilectus Nobis JOSEPHUS JOACHIMUS FERDINANDIUS SILVIUS TORRES, filius Joachimi Josephi Ferdinandii, Marianae natus, in Fodinarum Generalium Provincia, Baccalaureatus Gradum in Juris Civilis Facultate laudabiliter et honorifice in Academia Nostra adeptus est, cursibus suis de more peractis, praemissoque Examine publico, in quo a Gravissimis, Sapientissimisque Professoribus adprobatus fuit, NEMINE DISCREPANTE, ceteris rite ac solenniter observatis secundum praedictae Universitatis Statuta. Decoratus autem fuit ipso Baccalaureatus Gradu per Sapientissimum, Eximiumque Praeceptorem JOSEPHUM PINTUM DE FONTIBUS, juramento prius praestito, se publice et privatim defensurum IMMACULATAM CONCEPTIONEM DEI GENITRICIS VIRGINIS MARIAE, die XI Julii A. D. MDCCCXXVII, quemadmodum in Libro Examinum, Actuum et Graduum ejusdem anni fol. CXXXIII adnotatum est. Cujus rei testimonium publice perhibentes, has Literas praedicto Baccalaureo Benemerito dedimus, Subscriptionemque Nostram adjecimus, Sigillo etiam Universitatis adpenso. Datae Conimbricae die 31ª Julii anno Domini millesimo octingentesimo vigesimo septimo.
À mão: Ego Vincentius Josephus Vasconcellius Silvius, Secretarius, subscripsi.

Ass.: Antonius Pinaerius Azevedius Silvius – Pro-rector
Hippolytus Caetanus de Moraes

Fora do espaço destinado ao diploma, lê-se: Pro Sigillo – 100 Rs.

Abaixo ofereço a minha tradução textual do referido Diploma:

Em nome de Deus, amém.

DOUTOR ANTONIO PINHEIRO DE AZEVEDO E SILVA, Irmão da Ordem Conventual de S. Tiago, Doutor em Direito Canônico da Igreja Catedral do Algarve, Professor Principal e Decano Regular Público na Faculdade dos Cânones Sagrados, Pró-Reitor da Universidade de Coimbra, etc.: enquanto Universidade Venerável por si mesma publicamente declaramos, bem como damos ciência a todos e a cada um, cujo presente Diploma importa examinar, que Nosso dileto JOSÉ JOAQUIM FERNANDES DA SILVA TORRES, filho de Joaquim José Fernandes, nascido em Mariana, na Província das Minas Gerais, obteve o Grau de Bacharelado na Faculdade de Direito Civil com honra e distinção em Nossa Academia, nos cursos concluídos de regra, e no Exame público que foi anunciado, no qual foi aprovado por Seriíssimos, Sapientíssimos Professores, POR UNANIMIDADE, respeitados os outros, de acordo com os Estatutos da predita Universidade. Por outro lado, foi honrado pelo mesmo Grau de Bacharelado diante do Sapientíssimo e muito Exímio Preceptor JOSE PINTO FONTES, tendo antes prestado juramento de ser um defensor, tanto pública quanto privadamente, da IMACULADA CONCEPÇÃO DA MÃE DE DEUS VIRGEM MARIA, no dia 11 de julho de 1827, conforme foi anotado no Livro de Exames, Execuções e Graus do mesmo ano a fls. 133. Dando publicamente testemunho do referido, concedemos ao predito Bacharel Benemérito esse Diploma, ao qual apusemos Nossa Assinatura, tendo sido também pago o Sinete da Universidade. Coimbra, dia 31 de julho, no milésimo octingentésimo vigésimo sétimo ano do Senhor.
Eu Vicente José de Vasconcelos Silva, Secretário, registrei.

Ass.: Antonio Pinheiro de Azevedo e Silva – Pró-Reitor

Hippolyto Caetano de Moraes

Na moldura do Diploma, vêem-se as seguintes figuras:
1. em cima, um cálice com hóstia consagrada, simbolizando a Eucaristia
2. em baixo, uma águia
3. à esquerda, um cetro papal sobre um par de chaves em cruz, simbolizando a infalibilidade do papa
4. à direita, uma balança simbolizando a Justiça. ¹

À margem do diploma, embaixo: Pelo Sinete – 100 réis

Sobre o personagem portador do referido diploma, JOSÉ JOAQUIM FERNANDES (DA SILVA) TORRES (Mariana, 17/04/1797 – 24/12/1869) cabe alguma informação. Ele exibe notória biografia, tendo desempenhado importantes funções e ocupado cargos de relevante destaque durante o Império. Seus principais biógrafos citam especialmente os seguintes louros que acumulou durante sua passagem por essa Terra:
- Professor da Faculdade de Direito de São Paulo, da qual se exonerou para ser magistrado e político em sua província de Minas Gerais
- Deputado Provincial (1835-1839; 1839-1842)
- Presidente da Câmara dos Deputados, enquanto Deputado Geral (1845-1846)
- Ministro de Estado dos Negócios da Justiça (05/05/1846-17/05/1847)
- Senador do Império (1847-49; 1850-52; 1853-56; 1857-60; 1861-63; 1864-66; 1867-68; 1869)
- Presidente da Província de São Paulo (27/09/1857-17/04/1860)
- Vice Presidente da Província de Minas Gerais (1862-1863)
- Ministro de Estado dos Negócios do Império (03/08/1866-16/07/1868) durante o Gabinete de Zacarias de Góes e Vasconcellos.

Ancestralmente, nosso biografado descende do major Joaquim José Fernandes da Conceição c.c. Monica Pulqueria Inocencia da Silva Torres. Casou-se 1º c. Águeda Rodrigues Horta; 2º c. Bárbara Soares de Gouvêa Horta, sobrinha de Águeda, e com quem teve os filhos Luisa Adelaide e José Joaquim Fernandes Torres (Desembargador); e, finalmente, 3º c. Antonia Joaquina Fernandes Torres, sua sobrinha, com quem teve os filhos Antonio Fernandes Torres e José Fernandes Torres (Bacharel), este último citado no item II desta matéria.

Desse mesmo acervo ainda fazem parte outros documentos autênticos, valiosos para a historiografia nacional, que tive em mãos, tais como:

I. Documentos referentes a José Joaquim Fernandes Torres

1. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Jose Clemente Pereira, nomeando o Doutor José Joaquim Fernandes da Silva Torres “Lente da Segunda Cadeira do Terceiro anno do Curso de Sciencias Juridicas e Sociais da Cidade de São Paulo”, em 21 de fevereiro de 1829
2. Carta Régia, em nome do Imperador Dom Pedro II, assinada pela Regência Permanente (Francisco de Lima e Silva, João Braulio Moniz e Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho), nomeando Joze Joaquim Fernandes Torres para Juiz de Direito da Comarca do Ouro Preto da Província de Minas Geraes, em 29 de agosto de 1833
3. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Honorio Hermeto Carneiro Leão, removendo o Bacharel Jozé Joaquim Fernandes Torres, do lugar de Juiz de Direito Criminal da Comarca do Ouro Preto, para o de Juiz de Direito da Comarca de Piracicava, ambas na Província de Minas Gerais, em 20 de fevereiro de 1843
4. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Manoel Antonio Galvão, removendo o Bacharel Joze Joaquim Fernandes Torres do lugar de Juiz de Direito da primeira Vara Criminal da Capital do Pará para o de Juiz de Direito da Comarca de Piracicava da Província de Minas Geraes, em 27 de junho de 1844
5. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Antonio Francisco de Paula de Hollanda Cavalcanti d' Albuquerque, nomeando “ao Deputado Jozé Joaquim Fernandes Torres” Ministro e Secretario d’ Estado dos Negócios da Justiça, em 5 de maio de 1846
6. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Joaquim Marcellino de Brito, "decidindo fazer mercê do Titulo do Meu Conselho” ao Doutor Jozé Joaquim Fernandes Torres, Ministro e Secretario d’ Estado dos Negócios da Justiça, em 16 de maio de 1846
7. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, nomeando ao Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres Desembargador da Relação de Pernambuco, em 17 de agosto de 1847
8. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, nomeando Senador do Império o Bacharel Jozé Joaquim Fernandes Torres, em 13 de novembro de 1847, “attendendo ao distincto merecimento, letras, e mais requisitos necessários, que concorrem na vossa pessoa”
9. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Marquês de Olinda, nomeando o Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres Presidente da Província de São Paulo, em 9 de setembro de 1857
10. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II, na qualidade de Grão Mestre da Ordem da Rosa e "Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil", e por Angelo Moniz da Silva Ferraz, nomeando o Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres Commendador da Ordem da Rosa, em 26 de agosto de 1859
11. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Marquês d' Abrantes, nomeando o Conselheiro, “Amigo” José Joaquim Fernandes Torres Vice Presidente da Província de Minas Geraes, em 15 de outubro de 1862
12. Certidão datada de 3 de novembro de 1862, assinada por Antonio Tassára de Pádua, Secretario da Camara Municipal da Imperial Cidade do Ouro Preto e seu Termo, certificando que o Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres nesta data prestou juramento e tomou posse do cargo de Vice Presidente da Província de Minas Geraes, em 15 de outubro de 1862
13. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Zacarias de Góes e Vasconcellos, nomeando o Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Imperio, em 3 de agosto de 1866
14. Diploma de Membro Honorario que a Sociedade Propagadora das Bellas-Artes confere ao Conselheiro José Joaquim Fernandes Torres, assinado pelo Presidente Zacarias de Góes e Vasconcellos, pelo 1º Secretário Francisco Joaquim Bithencourt da Silva e pelo Thezoureiro José Manoel Garcia, em 30 de maio de 1868.

II. Documentos referentes a José Fernandes Torres

Antes de apresentar a relação de documentos relativos a esse personagem, importa apresentar seus principais dados biográficos. Filho do terceiro casamento do supracitado José Joaquim Fernandes Torres com a sua sobrinha Antonia Joaquina Fernandes Torres, nasceu em 26 de maio de 1847. Formou-se em Direito pela Faculdade do Recife em 1876. Juiz Municipal e de Órfãos de Ponte Nova (1880); Juiz de Direito de Ponte Nova, Ubá e Muriaé. Quando ia ser empossado no mesmo cargo em Cataguases, veio a falecer, vítima de febre violenta, em Mariana em 9 de outubro de 1896. Está sepultado na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis. Foi casado com Sebastiana Machado de Magalhães, com quem teve três filhos: Antônia Fernandes Torres, José Fernandes Torres Filho, este falecido ainda novo, e Maria da Conceição Fernandes Torres.

1. Diploma da Faculdade de Direito da Cidade do Recife, datado de 6 de novembro de 1876, concedendo a José Fernandes Torres, "nascido em Minas Geraes a 26 de maio de 1847", o Gráo de Bacharel em Sciencias Sociaes e Juridicas, assinado pelo Diretor Conselheiro Doutor João Alfredo Corrêa de Oliveira, pelo Presidente do Acto Dr. Vicente Pereira do Rego e pelo Secretario da Faculdade José Honorio Bezerra de Menezes
2. Autorização do Presidente do Tribunal da Relação do Ouro Preto, Luis Gonzaga de Brito Guerra, para o Bacharel Jose Fernandes Torres advogar "perante os Tribunais e a Auditoria da Imperial Cidade de Ouro Preto e em todos os mais do Districto desta Relação", em 10 de setembro de 1877
3. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, nomeando o Bacharel José Fernandes Torres para o lugar de Juiz Municipal e de Órfãos do Termo de Ponte Nova, na Província de Minas Geraes por tempo de quatro anos, em 6 de novembro de 1880
4. Diploma de habilitação assinado pelo Secretário d’ Estado dos Negócios da Justiça, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, ao cargo de Juiz de Direito, concedido ao Bacharel José Fernandes Torres, por ter exercido durante quatro anos o cargo de Juiz Municipal de Órfãos, em 14 de janeiro de 1885
5. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Barão de Cotegipe, nomeando o Bacharel Jose Fernandes Torres para o cargo de Juiz de Direito de primeira “entrancia” da Comarca de Ponte Nova na Província de Minas Geraes, em 5 de fevereiro de 1887
6. Decreto do Vice Presidente do Estado de Minas Geraes, Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira, nomeando o Bacharel José Fernandes Torres para o cargo de Juiz de Direito da Comarca da Ponte Nova, em 22 de fevereiro de 1892
7. Decreto assinado pelo Presidente do Estado de Minas Gerais, Affonso Augusto Moreira Penna, bem como pelo Dr. Francisco Silviano de Almeida Brandão, removendo o Bacharel Jozé Fernandes Torres, Juiz de Direito da Comarca da Ponte Nova para a de Ubá, em 15 de março de 1894
8. Decreto assinado pelo Presidente do Estado de Minas Gerais, Chrispim Jacques Bias Fortes, bem como por Dr. Henrique Dinis, designando a Comarca de S. Paulo do Muriahé para nela ter exercício o Juiz de Direito da Comarca de Ubá, o Bacharel José Fernandes Torres, em 2 de maio de 1895
9. Idem, removendo o Bacharel José Fernandes Torres, Juiz de Direito da Comarca de S. Paulo do Muriahé para a de Cataguazes, em 3 de julho de 1896.

III. Documentos referentes a Caetano Luiz Machado de Magalhães

Deste personagem sabe-se que foi deputado estadual por Minas Gerais no período de 1878-1879. Ao apresentarmos os dados biográficos de José Fernandes Torres citado no item II acima, dissemos que foi casado com Sebastiana Machado de Magalhães, provavelmente irmã ou alguma parenta próxima de Caetano Luiz Machado de Magalhães.

1. Diploma da Faculdade de Direito da Cidade de São Paulo, datado de 8 de novembro de 1875, concedendo a Caetano Luiz Machado de Magalhães, "nascido na Província de Minas Geraes", o Gráo de Bacharel em Sciencias Sociaes e Juridicas, assinado pelo Diretor Conselheiro Doutor Vicente Pires da Motta, pelo Presidente do Acto Dr. Joaquim Ignacio Ramalho e pelo Official servindo de Secretario da Faculdade Diniz Augusto d' Araujo Azambuja
2. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Carlos Leoncio de Carvalho, nomeando o Bacharel Caetano Luiz Machado de Magalhães Secretario da Província de Minas Geraes, em 4 de maio de 1878
3. Carta Régia, assinada por Dom Pedro II e Carlos Leoncio de Carvalho, exonerando o Bacharel Caetano Luiz Machado de Magalhães do cargo de Secretario da Província de Minas Geraes, em 25 de janeiro de 1879
4. Encaminhamento (pelo Secretario do Governo da Província de Minas Geraes, Camillo Augusto Maria de Brito) de Decreto de Exoneração, a pedido, do cargo de Secretario da Província de Minas Geraes a seu ex-ocupante Caetano Luiz Machado de Magalhães, em 5 de fevereiro de 1879.

IV. Notas do Autor

¹ António M. Nunes, investigador e professor de História, licenciado pela Universidade de Coimbra e especialista em cultura acadêmica/universitária (costumes, tradições, símbolos, ritos, cerimonial), identifica os seguintes símbolos das Faculdades e dos saberes nas figuras da moldura do Diploma, correspondentemente à sequência apresentada:
"1. cálice com hóstia e cruz: símbolos da Faculdade de Teologia, e por inerência, da Sacra Teologia, a mais importante de todas as faculdades nos países cristãos (cor branca);
2. coruja: símbolo clássico de Minerva, elemento integrante da figura da Sapiência que integra o selo da Universidade de Coimbra;
3. tiara e chaves: símbolos da Faculdade de Cânones, e por extensão, do Direito Canônico (cor verde);
4. balança e espada: símbolos da Faculdade de Leis, e por extensão, do Direito Civil, estando ainda associados à Justiça (cor vermelha). " (trecho da correspondência datada de 5 de junho de 2012, constante dos Comentários a este texto)

Imagem: Diploma de Bacharel concedido pela Faculdade de Direito Civil da Universidade de Coimbra em 1827 a José Joaquim Fernandes Torres



* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

2010 - ANO CHOPIN > > > Parte 15 > > > Oriano de Almeida: uma vida dedicada a Chopin (2ª Parte)


Por Francisco José dos Santos Braga






XIV. SÃO PAULO: Oriano estabelece recorde em “O Céu é o Limite”


1958 iniciou-se com férias de Oriano em Natal. Ali germinou e amadureceu uma ideia: o Curso Oriano de Almeida até agora tinha consistido de aulas públicas de interpretação pianística, ou seja, preleções de Oriano perante uma plateia.
Se fosse adotado o formato de recital, as audições de alunos não teriam a presença do mestre junto deles no palco. Assim foi feito.

O “I Recital de alunos do Curso Oriano de Almeida” se verificou em 15 de janeiro e contou com a participação de 6 alunas. Em seguida, na cidade de Mossoró, numa promoção da União Universitária Mossoroense, foi apresentado no Cine Caiçara o II Recital com a participação de 5 alunas.

Em 28 de abril, em Belém, Oriano abre a temporada de concertos da Sociedade Artística Internacional no Teatro da Paz.

Em 27 de maio, no Teatro Alberto Maranhão de Natal, apresentou-se em recital beneficente. No mesmo teatro, em 20 de junho, foram mostrados ao público os progressos de suas 8 alunas no “III Recital de alunos do Curso Oriano de Almeida”.

Em 18 de junho, Oriano retornou a Aracaju e, a convite da Sociedade de Cultura Artística que ajudara a fundar em 1951, deu um recital no auditório do Colégio Estadual de Sergipe.

A atividade de 1958 que mais lhe trouxe dividendos foi a participação no programa “O Céu é o Limite”, da TV Tupi de São Paulo. Sobre a motivação que induziu o pianista a tornar-se estrela da televisão, Galvão escreve: “Oriano imaginou que poderia ser bem sucedido ao responder sobre um assunto de seu domínio e que possuía grande apelo popular: a vida e obra de Frédéric Chopin. Pensou, também, em quanto isto poderia beneficiar a sua carreira artística, pelo que poderia usufruir de propaganda eficiente e, sobretudo, gratuita.” (p. 172) Esse programa conferia elevados prêmios em dinheiro a participantes que se submetessem a responder a perguntas de “sabe-tudo” sobre determinado assunto que se tornavam progressivamente mais difíceis com o decorrer dos programas. As questões valiam quotas em dinheiro que iam sendo acumuladas na medida em que o candidato acertasse e, caso errasse, era retirado do jogo. O candidato podia abandonar o programa quando quisesse, levando o que tinha acumulado.

Patrocinado pela PNEUAC S.A. e coordenado por Túlio de Lemos, “O Céu é o Limite” era comandado às sextas-feiras por Aurélio Campos em transmissão simultânea ao vivo pela TV e Rádio Tupi de São Paulo. Oriano participou desse programa desde 25 de julho a 28 de novembro, tendo sido depois prorrogado até janeiro do ano seguinte. O pianista ia respondendo a todas as perguntas com muita calma e, ao final de cada resposta, executava ao piano parte da música alvo da pergunta. Na sexta-feira, dia 7 de novembro, Oriano se emocionou e chorou diante das câmeras, porque naquele dia nascera sua filha Lílian no Rio de Janeiro. Não se conteve: pediu licença ao público e tocou o primeiro acalanto para Lílian, o Prelúdio Op. 28 nº 7, de Chopin. Na semana seguinte, sentiu-se inspirado: “… uma melodia nova foi surgindo, delicada e bonita como um acalanto. Intitulou-a 'Canção de Lílian'. E tocou-a em São Paulo, no programa da sexta-feira seguinte. Imagine-se a reação do público…” (p. 177)

Pela extensão e profundidade dos conhecimentos, foram-lhe concedidos o prêmio “Os Melhores da Semana” e uma condecoração da “Ordem dos Cavaleiros da Concórdia”.

Em 21 de novembro, Oriano, ao responder a todas as perguntas do apresentador, estabeleceu um novo recorde, ao garantir um prêmio de um milhão, cento e sessenta mil cruzeiros. Às 18h do dia 28 de novembro, antes de comparecer aos estúdios da TV Tupi, foi convidado ao palco do auditório do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo para receber uma placa de prata, com legenda relativa ao evento. Conforme Galvão, ali Oriano revelou seu projeto inicial, que o levou a comparecer à frente das câmeras para responder sobre Chopin: “Quando me inscrevi no programa, o fiz objetivando mais divulgar Chopin, e constato hoje com satisfação que aumentou em São Paulo o interesse pela música do mestre. Recebi, por outro lado, inúmeras manifestações de carinho do povo paulista, que muito me sensibilizaram. Ganhei mais de um milhão e creio que chega. Vou desistir na noite de hoje.” (p. 178)

Assim, ao comparecer em seguida ao programa “O Céu é o Limite”, quando indagado se continuaria ou desistiria, simplesmente dirigiu-se ao piano e tocou a Valsa do Adeus, de Chopin, numa referência clara à sua despedida do programa. No dia 4 de dezembro, recebeu o prêmio, mas foi comunicado que, diante do enorme interesse do público que enviava um grande número de cartas à redação do programa, ficava decidida a prorrogação do programa sobre Chopin, agora com 50 mil cruzeiros por pergunta dos ouvintes respondida por Oriano. O ouvinte, autor da pergunta não respondida por Oriano, receberia 20 mil cruzeiros. Era a oportunidade de o próprio público fazer as perguntas, desde que comparecesse pessoalmente ao auditório. Tal atividade se prolongou até janeiro de 1959, tornando-se Oriano o primeiro pianista brasileiro a adquirir status de estrela da televisão, ao responder sobre Chopin no programa “O Céu é o Limite”.

Está claro que a emissora de TV estava muito disposta a montar alguma encenação ou armar algum artifício para impressionar ainda mais o público e para que a participação do candidato nesse programa televisivo ao vivo tivesse recorde de audiência. Num desses programas tendo Oriano como candidato, alguém da plateia recortou aleatoriamente com uma tesoura o pedaço de página de alguma partitura retirado de alguns volumes colocados sobre uma mesa. Ao receber o papel, o compasso recortado da partitura o fez reconhecer imediatamente o Estudo Op. 10 nº 5, o famoso “estudo das teclas pretas”. Oriano dirigiu-se ao piano e tocou a peça de cor. A técnica de produção fez ouvir a gravação, coincidindo com o que Oriano tocara. O público delirou.

Outro artifício utilizado pela emissora era criar artificialmente alguma discordância entre o candidato e a técnica do programa, exigindo o arbítrio de alguma autoridade no assunto em questão.

Para dirimir certa dúvida suscitada quanto a um movimento do Concerto nº 2, de Chopin, o programa resolveu convocar Antonieta Rudge, considerada a maior pianista de São Paulo. A pianista compareceu ao programa e confirmou a explicação que o candidato havia dado.

Além disso, na fase da prorrogação do programa para que o público pudesse participar formulando perguntas, houve uma discordância entre a resposta dada por Oriano e um telespectador que lhe formulara uma pergunta acerca da data da composição do Noturno em dó menor, sem opus. Diante do impasse, a direção do programa resolveu formar uma comissão de especialistas, para resolver o problema. Foram convidados para opinar o maestro Souza Lima, o professor Artur Kauffmann e as pianistas Ana Stella Shick e Lavínia Viotti. Após a manifestação dos juízes, a direção do programa encerrou o assunto, tendo considerado Oriano vitorioso por dois votos a um.

Se, desde 1949, os ‘Recitais Chopin’ passaram a ser a máxima atração das apresentações de Oriano de Almeida, a partir da publicidade gerada por ‘O Céu é o Limite’, tais atividades tomariam maior vulto ainda”, conforme Galvão (p. 181). Nos programas dos concertos e nos anúncios dos jornais, passou a ser uma constante a menção ao “Recital Chopin” em “O Céu é o Limite” da TV Tupi, com o qual o pianista empolgara São Paulo.

Tais foram os casos do primeiro concerto em Santos, ocorrido no Teatro Independência em 9 de dezembro, e, em seguida, no Teatro Municipal de São Paulo, no dia 15 de dezembro. Deste último, Galvão descreve o esplendor, com as seguintes palavras: “Esperava-se grande afluência de público, mas tamanha foi a procura de ingressos que os promotores do evento, esgotada muito cedo a lotação do teatro, decidiram colocar cadeiras no próprio palco, bem junto ao músico. E ainda ficou muita gente sem entrar. Ao terminar o número final — a “Polonaise opus 53” —, algo inusitado aconteceu: uma chuva de pétalas começou a cair do alto dos camarotes, enquanto os aplausos pareciam não chegar ao fim. Oriano apanhou algumas delas e depositou sobre o piano, numa homenagem oportuna e emocional ao principal elemento material responsável por aquele momento. O aplauso entusiasmado não cessava e só parou quando, após o quinto bis, o solista resolveu mesmo encerrar o recital.” (p. 182)

Devido à popularidade crescente que vivia, Oriano recebeu um convite para uma turnê no Japão e a realização de um filme, com o título “A Canção de Lílian”, que infelizmente não se concretizaram.

De concreto, a RGE convidou Oriano para gravar um LP de 12 polegadas com peças de Chopin e um compacto em 78 rpm contendo duas de suas composições, uma em cada face: a “Valsa de Paris” e a “Canção de Lílian”. As gravações foram feitas em dezembro e lançadas no ano seguinte.

Além disso, a Câmara Municipal de São Paulo fez constar, na ata da sessão do dia 17 de dezembro, um voto de congratulações ao pianista, de autoria do vereador Américo Trabulsi.

E, para terminar o agitado ano de 1958, dois jornais paulistas destacaram Oriano como personalidade do ano: A Gazeta e O Dia. Neste último jornal, Oriano aparece como o primeiro destaque.

Galvão (p. 202) publica um recorte de jornal polonês não identificado, sob a designação de "notícia em jornal polonês", numa matéria assinada por seu correspondente, da sucursal de São Paulo, louvando a façanha de Oriano, que transcrevo a seguir:


“O CÉU É O LIMITE”

(GRANICĄ JEST NIEBO)

Warszawa, 18 stycznia 1959 r.

Pod tą nazwą odbywają się w Sao Paulo co piątek wieczorem telewizyjne audycje Radio TV Tupi. Jest to oczywiście połączone z bardzo kosztowną propagandą handlową, gdyż wyznaczone są wysokie premie w pieniądzach dla tych, którzy bez błędu odpowiadają na pytania z przeróżnych dziedzin nauki, wiedzy, biografii, etc.

Nagrody są wyznaczane w ten sposób, że za trafne odpowiedzi doliczane są punkty, natomiast za mylne lub za brak odpowiedzi są one odliczane. Stający do takiego konkursu, o ile otrzyma należyta ilość punktów dodatnich, ma prawo otrzymania premii natychmiast lub może kontynuować ten sam temat w następny piątek. W ten sposób suma wygranej może się stale zwiększać, ale może też przepaść lub się zmniejszyć. Jeśli zaś ilość punktów dodatnich spadnie poniżej wyznaczonego minimum, wówczas temat się kończy i kandydat zostaje wykluczony z konkursu.

Kilka tygodni temu temat dotyczył twórczości Chopina i jego biografii. W pierwszym konkursie utrzymał się tylko p. Oriano de Almeida, reszta przepadła w punktach. Almeida odpowiedział zadowalająco na wszystkie pytania i przyznano mu wysoką premię, którey jednak odebrać nie chciał i pozostał nadal przy tym samym temacie.

Z biegiem tygodni wygrane powiększały się coraz to bardziej, tak że w ostatni piątek suma premii przekroczyła już milion cruzeirów (dokładnie 1.160.000 cruzeiros, co się równa 8.300 dolarom). W tym dniu widownia telewizji wypełniona była po brzegi, bo głośne już nazwisko p. Oriano budziło ogólne zaciekawienie.

Na zapytanie co ma zamiar zrobić z tak dużą ilością pieniędzy p. Oriano odpowiedział: “Pragnę zrealizować moje stałe marzenie — pojechać do Warszawy i do Żelazowej Woli i tam na ziemi wielkiego muzyka uzupełnić moje studia nad jego biografią, jaką mam zamiar wydać”.

Pan Oriano jest w wieku około trzydziestu lat, wysoki blondyn, zdolny pianista i początkujący kompozytor. Jest on ożeniony z pianistką p. Iris Bianchi. Mają córeczkę Lilian, której p. Oriano zadedykował jedną z najlepszych swoich kompozycji “Pieśń Liliany”.

W czasie jednej z piątkowych audycji p. Oriano de Almeida został obdarzony członkostwem honorowym Klubu Polskiego. Wypada zaznaczyć, że Brazylianie są rozkochani w muzyce Chopina. Istnieją tutaj towarzystwa Chopinowskie, a dwa place publiczne, jeden w Rio a drugi w San Paulo, zdobią pomniki naszego wielkiego rodaka.

Stanisław Hessel
Sao Paulo
Brazylia

P.S. p. Oriano nie jest pochodzenia polskiego, to cudowny Brazylijczyk.

Abaixo transcrevo minha tradução para essa matéria, plena de admiração pelo "fenômeno" que representava Oriano de Almeida para o público televisivo e radiofônico de então:

“O Céu é o Limite”

Varsóvia, 18 de janeiro de 1959

Sob essa denominação se realizam, em São Paulo toda sexta-feira à noite, programas televisivos na Rádio TV Tupi. Claro que isso está ligado a muita propaganda comercial cara, porque são estipulados elevados prêmios em dinheiro para aqueles que sem erro respondam a perguntas em diferentes campos da ciência, do conhecimento, da biografia, etc.

Foram estabelecidos prêmios, de modo que são acumulados pontos pelas respostas certas, mas são descontados pelas respostas erradas ou por falta de resposta. Quem se dispõe a tal certame (se obtiver a quantidade de pontos positivos que precisa) tem o direito de receber o prêmio imediatamente ou pode continuar o mesmo assunto na próxima sexta-feira. Desta forma, o total do prêmio pode aumentar permanentemente, mas pode também desaparecer ou decrescer. Se, porém, a quantidade de pontos juntados cair abaixo de um mínimo estabelecido, então o assunto se finda e o candidato vai ficar excluído do certame.

Há algumas semanas atrás, o assunto dizia respeito à obra de Chopin e sua biografia. No primeiro certame apenas se manteve o Sr. Oriano de Almeida, tendo os outros candidatos perdido por pontos. Almeida respondeu satisfatoriamente a todas as perguntas, pelo que lhe concederam um elevado prêmio, o qual, porém, não quis receber e permaneceu ainda respondendo sobre esse mesmo assunto.

Com o decorrer das semanas, os prêmios cresceram cada vez mais, a ponto de, na última sexta-feira, o valor do prêmio já ter ultrapassado 1 milhão de cruzeiros (exatamente Cr$ 1.160.000, que equivalem a 8.300 dólares). Nesse dia, a plateia de telespectadores estava lotada, porque o sobrenome do Sr. Oriano, já bem conhecido, despertava uma curiosidade geral.

Ao ser indagado sobre o que faria com uma quantidade tão grande de dinheiro, o Sr. Oriano respondeu: “Desejo realizar meu velho sonho — ir a Varsóvia e a Żelazowa Wola e lá na terra do grande músico completar meus estudos sobre a sua biografia, que pretendo publicar.”

O Sr. Oriano tem perto de trinta anos de idade, é um louro alto, pianista talentoso e compositor principiante. Ele é casado com a pianista Íris Bianchi. Têm uma filhinha, Lílian, a quem Sr. Oriano dedicou uma de suas melhores composições: “Canção de Lílian”.

Durante um dos programas de sexta-feira, o Sr. Oriano de Almeida foi empossado membro honorário do Clube Polonês. Convém assinalar que os brasileiros são apaixonados pela música de Chopin. Existem aqui Sociedades Chopin, e monumentos de nosso grande compatriota decoram duas praças públicas, uma no Rio e outra em São Paulo.

Estanislau Hessel
São Paulo
Brasil

P.S. O Sr. Oriano não é de origem polonesa; é brasileiro-prodígio.


Oriano inicia o ano de 1959 com a agenda cheia de compromissos principalmente em razão dos sucessos do ano anterior.

No dia 15 de janeiro, estava em Piracicaba, tocando no Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro.
Com o título de “Três Saraus de Chopin”, no Teatro Municipal de São Paulo, Oriano se apresentou nas datas previstas: 1º e 9 de abril. Foi prorrogado o 3º sarau que estava programado para 15 de abril.
Entre os dois primeiros saraus, Oriano se apresentou em São José dos Campos, no teatro do CTA-Centro Tecnológico da Aeronáutica. O terceiro sarau, no Teatro Municipal de São Paulo, só foi realizado em 25 de junho, quando tocou os dois concertos para piano e orquestra de Chopin, sob a regência do maestro João de Souza Lima. No intervalo entre os dois concertos, subiu ao palco o professor Bueno de Azevedo Filho para anunciar que o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo decidira conceder a Oriano o diploma e “Medalha da Imperatriz Leopoldina”. Na ocasião, esta última comenda foi aposta no peito do agraciado.

A seguir, ocorreu nova turnê de recitais pelo interior de São Paulo. Em 10 de junho, em Marília; em 17, em São Carlos; em 27 de setembro, em Bebedouro; em 23 de outubro, retorno a Marília; depois foi a vez de Mogi-Mirim; no dia 27 de outubro, em Itu; no dia seguinte, em Piracicaba; um dia depois já estava em Americana; em 17 de novembro, apresentou-se em Santo André e seus compromissos durante o ano de 1959 se encerraram em Botucatu, no dia 5 de dezembro.

No fim do ano, só notícias auspiciosas: o seu disco “Oriano interpreta Chopin” obteve a marca de mais de mil cópias vendidas na semana do lançamento, um recorde em se tratando de um disco de música erudita. Ainda em 1959 foram editadas suas composições “Valsa de Paris” (Ricordi, São Paulo) e “Canção de Lílian” (Seresta Edições Musicais, São Paulo).

XV. RIO DE JANEIRO: "Ciclo Chopin" na Rádio MEC e "O Céu é o Limite" na TV Tupi-Rio

No início de 1960, Oriano de Almeida fechou com a Rádio MEC um contrato para produzir o “Ciclo Chopin”, uma série de 44 programas a serem transmitidos pela emissora sobre a vida e obra do grande compositor polonês, tendo como redator e apresentador do programa o próprio intérprete. O “Ciclo Chopin”, em homenagem ao sesquicentenário do nascimento do compositor polonês, iria ao ar toda segunda-feira, às 20h30min, durante todo o ano de 1960 até fevereiro de 1961 e obedeceria a critério cronológico, começando com as primeiras composições de 1817 (aí incluídas as quatro polonaises que não aparecem nos catálogos), até às últimas, escritas em 1849. Todas as gravações seriam realizadas nos estúdios da Rádio MEC. O resultado dessas gravações foi um total de 22 rolos de fita de 120 polegadas, perfazendo 42 programas de trinta minutos cada e cobrindo o ciclo integral das obras para piano do gênio polonês, devidamente comentadas pelo intérprete. A primeira audição foi no dia 22 de fevereiro, exatamente na data que se comemorava o sesquicentenário do nascimento de Frédéric Chopin.

O sucesso foi tão grande que a Rádio MEC utilizou as gravações para a edição de outros programas, tais como “Oriano de Almeida interpreta Chopin”, “Um Polonês chamado Chopin” e “Um Pianista fala de Música”.

Esse grande evento (“Ciclo Chopin”) polarizou as atividades do ano de 1960.

A União dos Músicos do Brasil, sob a presidência do maestro José Siqueira, planejou a realização do I Concurso Nacional de Piano e nomeou Oriano para o cargo de delegado especial do comitê de organização, estando prevista a sua viagem ao Norte do País, no intuito de estabelecer contatos para a divulgação do certame, conforme noticiou a edição de O Globo de 22 de fevereiro de 1960. Numa primeira fase, deveriam ser realizadas as seleções dos candidatos nos Estados para, em seguida, os selecionados se apresentarem no Rio de Janeiro. Os vencedores da 1ª etapa do I Concurso Nacional de Piano teriam a oportunidade de se apresentar duas vezes acompanhados por uma orquestra, antes de partirem para o Concurso Internacional.

No dia 5 de março, O Diário de Notícias iniciava a publicação de uma série de artigos semanais correspondentes aos 44 programas transmitidos pela Rádio MEC, o que levou o jornal a fazer a cobertura do “Ciclo Chopin” até abril de 1961.

Outras atividades de Oriano em 1960 que tiveram enorme projeção no meio jornalístico foram, dentre outras, as seguintes: o convite que recebeu da Academia de Música Lorenzo Fernandez para ministrar, em 10 de março, a aula inaugural do seu ano letivo, versando sobre o “rubato” na música de Chopin. Ou o “Recital Chopin” do dia 29 de março que abriu a temporada anual de concertos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ou ainda, a repetição desse programa em recital, em Limeira, em 31 de março.

No mês de agosto, Oriano integrou a comissão julgadora do Concurso Chopin promovido pelo Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Finalmente em outubro tocou no Jóquei Clube do Rio de Janeiro.

Conforme visto, Oriano continuou homenageando o sesquicentenário do nascimento de Chopin até fevereiro de 1961. Nesse ano, as atividades dele se iniciam com um recital no Teatro Carlos Gomes, de Vitória, em 17 de março e com importante entrevista, concedida por Oriano a O Diário de Notícias do Rio de Janeiro, em 22 de março, quando apresentou pertinentes comentários sobre a vida musical brasileira, a educação do povo para a música e o ensino musical.

Em abril, Oriano iniciou uma nova série de programas intitulada “Um Pianista fala de Música”, na qual entrevistava nomes famosos do mundo da música. No programa de estreia apresentou uma gravação do Concerto nº 5, de Saint-Saëns, interpretado por Magdalena Tagliaferro e a Orquestra Lamoureux de Paris. No programa de 12 de junho, Tagliaferro tocou diversos números. No dia 19 transmitiu um ensaio do maestro Eleazar de Carvalho com a Orquestra Sinfônica Brasileira, executando trechos da Nona Sinfonia, de Beethoven, e do Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos. Entre seus convidados, alguns artistas natalenses: o violoncelista Aldo Parisot, a pianista Marluze Romano e Oswaldo de Souza acompanhando algumas de suas composições na voz da cantora Lavínia Machado.

Nos dias 12, 13 e 14 de maio, no auditório da Rádio MEC se realizou a 2ª etapa do I Concurso Nacional de Piano que tinha sido anunciado em princípios de 1960. Sob a presidência do maestro José Siqueira, a comissão julgadora era composta, entre outros nomes, por Oriano e Waldemar de Almeida.

Em 15 de maio Oriano tocou em Campos mais um recital Chopin.

Em 25 de junho, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, comemorou-se o jubileu da Rádio MEC (1936-61) com o seguinte programa: o Trio da Rádio MEC (pianista Alceu Bocchino, violinista Anselmo Zlatopolsky e violoncelista Iberê Gomes Grosso) na primeira parte; na segunda, intitulada “A Canção Brasileira”, a cantora Diva Pieranti apresentou canções, acompanhada de Cláudia Morena. Na terceira parte, Oriano tocou um Recital Chopin.

Entretanto, a melhor notícia do ano foi a formação do “Duo Pianístico da Rádio Ministério da Educação”, uma nova versão do Duo Íris Bianchi-Oriano de Almeida que voltava à ativa. O duo passava a fazer parte permanente dos conjuntos mantidos pela instituição e a audição inaugural foi no Teatro Municipal, em 8 de outubro, com transmissão pela mesma Rádio MEC. Abaixo vai transcrito o programa executado na ocasião:
I
Bach: Coral “Jesus alegria dos homens”
Brahms: 5 valsas Op. 39
Brahms: Variações sobre um tema de Haydn
II
Schumann: Andante e Variações
Rachmaninoff: Suíte Op. 17 (Introdução, Valsa, Romance, Tarantela)

Outra notícia auspiciosa: convidado pela Academia de Música Lorenzo Fernandez para integrar o corpo docente daquela escola, Oriano aceitou; entretanto, a admissão acabou não se concretizando.

Em compensação, depois de muito trabalhar para a Rádio MEC sem vínculo empregatício e recebendo cachê, finalmente Oriano passou para o quadro efetivo de funcionários do Ministério da Educação, no cargo de Técnico em Assuntos Culturais.

1962 iniciou-se com estimulantes notícias para a música do Rio Grande do Norte. Em 19 de janeiro, a Escola de Música de Natal, que havia diplomado Oriano, foi anexada à UFRN-Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em 9 de março, era instalada a Escola de Música da UFRN, tendo como diretor o maestro Waldemar de Almeida. Seu primeiro corpo docente de piano era composto por alunas de Waldemar e Oriano.

Em abril, Oriano abriu a temporada artística do Botafogo Futebol Clube do Rio de Janeiro com um Recital Chopin.

O Globo de 5 de junho noticiou que a Academia Musical Lorenzo Fernandez promovia um curso de interpretação intitulado “Ciclo Chopin-Debussy” que Oriano ministrava, com início previsto para o dia seguinte com duração até 15 de agosto. As aulas eram semanais e num total de 10. Na mesma matéria Oriano fez uma curiosa comparação-afinidade entre Chopin e Debussy: “Eu classificaria Chopin como romântico-impressionista e Debussy como impressionista-romântico. Chopin tem que ser lido nas entrelinhas, enquanto que Debussy é minucioso na indicação referente à interpretação, mas ambos se encontram no mistério das sonoridades do piano, no tom esmaecido de suas confidências.” (p. 93) Na primeira aula, Guiomar Novaes encontrava-se na plateia.

Em outubro, Oriano soube aproveitar a oportunidade de voltar à TV, mais uma vez de forma triunfal no programa “O Céu é o Limite”, desta feita na TV Tupi-Rio. Comandava então o programa o maior mestre de cerimônias da televisão brasileira: o simpático J. Silvestre. No palco da TV Tupi-Rio, toda quinta-feira às 20h25min, o candidato Oriano tinha encontro marcado com os frequentadores do auditório e espectadores da emissora para uma maratona em que devia responder a todas as perguntas sobre Chopin, nos mesmos moldes do programa comandado por Aurélio Campos na TV Tupi-São Paulo. Nós, os espectadores nos acostumamos com o bordão “Certo, absolutamente certo!” utilizado por J. Silvestre, entusiasmando o candidato Oriano a manter-se firme na maratona.

No dia 8 de dezembro respondeu com exatidão à última pergunta, pelo que fez jus ao prêmio máximo estipulado pelo programa: um milhão de cruzeiros. Sob os aplausos do auditório, vimos Oriano emocionado ser abraçado por J. Silvestre.

Para encerrar com chave de ouro o ano de 1962, no dia 18 de dezembro, às 17h de uma terça-feira, Oriano apresentou, no Teatro Municipal, o II Recital Chopin, cobrando ingresso dos ouvintes: camarotes Cr$ 5.000, poltronas e balcões nobres Cr$ 700, balcões simples Cr$ 500 e galerias Cr$ 300. Surpresa: casa cheia. O jornal Última Hora de 21 de janeiro, referindo-se a esse concerto, informou que “Oriano de Almeida foi obrigado a executar oito números extras, para atender à plateia que entusiasticamente o aplaudia.”

A má notícia em 1962 é que se verificou a separação do casal Íris-Oriano. Nenhum dos dois contraiu novo matrimônio.

XVI. NATAL: coordenação do I Festival de Música

O ano de 1963 começou com muito trabalho para Oriano. Apresentou um “Festival Chopin” no Teatro João Caetano de Niterói, em 21 de janeiro. Em Teresópolis, logo a seguir, tocou um Recital Chopin no Salão Nobre da Prefeitura e ministrou um “Curso de interpretação chopiniana” com duração de uma semana. Na sequência, em Petrópolis, deu um recital no auditório do Teatro Santa Isabel, onde foi saudado como “o maior sucesso da TV brasileira”.

Depois de 7 anos ausente, Oriano retornou a Natal para lançamento do LP “Oriano interpreta as suas melodias” no dia 30 de abril. Seguiu-se um concerto com obras de Chopin no Teatro Alberto Maranhão, em 12 de maio. Galvão registra o que se passou a seguir: “Aproveitando sua permanência na cidade, manteve contato a 2 de junho com o Secretário de Educação do Estado, Dr. Manoel Villaça, quando discutiram a criação do ‘Instituto de Expansão Musical’, pelo Governo do Estado, do qual deveria ser ele próprio o diretor. Aventou-se, ainda, a criação de uma orquestra de câmara. Os detalhes ficariam para a sua próxima vinda à cidade, mas já se anunciava a realização, pelo novo Instituto, do I Festival Internacional de Música, a se realizar em agosto e que deveria trazer a Natal artistas internacionais. Os primeiros passos seriam dados por Oriano quando de sua volta ao Rio de Janeiro, tratando com a direção da Rádio MEC sobre a vinda a Natal de artistas que participavam das festividades do 4º Centenário da Cidade Maravilhosa.” (p. 218) (grifos meus)

No que se refere ao “Instituto de Expansão Musical”, Oriano estava, então, no meio de uma negociação delicada. Era conhecida a desavença pessoal entre o governador Aluízio Alves e o reitor Onofre Lopes. A criação do Instituto seria uma tentativa de competir com a nova Escola de Música da UFRN, cujo diretor era seu primo, padrinho e primeiro professor Waldemar de Almeida? Oriano haveria de descobrir uma forma de cumprir pelo menos uma das metas sem, entretanto, envolver-se com as firulas políticas locais.

De volta ao Rio, no dia 4 de junho, Oriano deu início a uma nova série de doze programas com o título “Um polonês chamado Chopin”, transmitidos pela Rádio MEC.

Na noite de 20 de julho, na Galeria Gead, na Rua Siqueira Campos, em Copacabana, ocorreu o lançamento do seu LP gravado pela etiqueta “Sol”, intitulado “Oriano de Almeida interpreta suas melodias”, e no dia 24, compareceu ao programa televisivo “Nossa Cidade”, onde falou sobre o seu novo disco.

Seja como for, no início de agosto Oriano retornou a Natal para coordenar o I Festival de Música que a Superintendência de Turismo do Governo do Estado realizaria no Teatro Alberto Maranhão, um dos compromissos assumidos com o Secretário de Educação do Estado.
Na programação constava um recital de Magdalena Tagliaferro no dia 12 de agosto, que retornava a Natal depois de longo afastamento. Suas últimas aparições em Natal tinham sido em 29 de agosto de 1950 e 22 de novembro de 1951. Encantou, como sempre.
No dia seguinte, estava prevista a apresentação de Guiomar Novaes, que não compareceu.
O festival teve continuidade no dia 16, com o recital da cantora Blanca Bouças, acompanhada ao piano pelo maestro paraense Waldemar Henrique, que, entre outras peças, interpretou as seguintes composições de Oriano para canto: Cajueiro, No Salgadinho e Canção de Natal.
No dia seguinte apresentou-se o violoncelista francês Jacques Ripoche.
Na noite de encerramento do dia 18, realizou-se memorável concerto, com Oriano ao piano, tocando o Concerto nº 2 de Chopin, acompanhado pela Orquestra Sinfônica de Pernambuco, regida pelo maestro Vicente Fittipaldi.

Depois do enorme sucesso do Festival, Oriano tocou no Teatro Santa Isabel, em Recife, mais um Recital Chopin, além do Concerto nº 2 do mestre polonês, em 20 de agosto. Em 1º de setembro foi a vez de Fortaleza, quando Oriano apresentou um Recital Chopin no Teatro José de Alencar. Em Belém, aconteceu o lançamento de seu LP na noite do dia 20 de setembro; no dia 25, apresentou recital na TV Marajoara. Seguiu para Manaus, onde, em 1º de outubro, lançou seu disco e deu recital no Teatro Amazonas. Os dias 5 e 6 foram dedicados por Oriano a ministrar, no Conservatório Carlos Gomes de Belém, o curso intitulado “Estudo de Confronto de Técnicas Pianísticas”, no qual foi abordada a obra de Chopin, Bach e Debussy. No dia 7, apresentou recital promovido pela Sociedade Artística Internacional e no dia 11 encerrou seus compromissos no Nordeste, com um recital, ambos no auditório do Instituto Carlos Gomes.

De volta ao Rio no início de novembro, a Escola Nacional de Música promoveu o “Ciclo de Interpretação” e Oriano realizou recitais comentados nos dias 9, 11, 12 e 13, em que abordou a interpretação de diversos autores para o piano. Tais recitais fizeram parte das comemorações do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro.

Finalmente, em 5 de dezembro, participou do programa “Concertos PRA-2 para a Juventude” que a Rádio MEC apresentava aos domingos, no auditório da TV Globo. No dia 23 de dezembro, teve início o programa “Oriano de Almeida interpreta Chopin”.

O ano de 1966 começou com uma viagem de Oriano a Belém, a convite do Governador do Pará e em missão cultural da Rádio MEC, quando se hospedou na residência do médico sanitarista Eleyson Cardoso, cuja esposa era a cantora Maria Helena Coelho Cardoso. Durante sua permanência em Natal, surgiu a ideia de apresentar-se numa audição da cantora.

Em 27 de janeiro, deu um recital incluindo diversos autores para festejar a inauguração das obras de restauração do Teatro da Paz. Sua próxima aparição foi no dia 11 de fevereiro, num Recital Chopin, no auditório da Sociedade Artística Internacional.

No dia 8 de março foi finalmente levado a público o Duo Maria Helena Coelho Cardoso-Oriano de Almeida, em concerto patrocinado pela 1ª Dama do Estado e com apoio da Prefeitura e do Rotary Clube. Na ocasião, foram tocadas dezessete composições, todas de Oriano; pela primeira vez, o programa era inteiramente de sua autoria:
I
(Maria Helena acompanhada por Oriano)
Convite no olhar (letra de Veríssimo de Melo)
No Salgadinho (letra de Waldemar Henrique)
Cajueiro (letra de Veríssimo de Melo)
Para esquecer lembrar (letra de Homero Homem)
Belém do Pará (letra de Waldemar Henrique)
II
(Oriano toca piano solo)
Arabesque
Um blue para Brahms
Idílio no caramanchão
Três valsas: “De Paris”, “De Moscou” e “De Londres”
III
(Maria Helena acompanhada por Oriano)
Embalo de saudade (letra de Oriano de Almeida)
Meu baraio 2 ôro (harmonização de dois temas nordestinos por Waldemar Henrique)
A vida é sonho (letra de Veríssimo de Melo)
Vocalise: Por que tanto amor?
Vocalise: Bronze na estepe
Tema de paixão e ternura (letra de José Alberto Gueiros)

Em seguida, a convite do governador do Amapá, o duo apresentou o mesmo programa nas cidades de Serra do Navio, Porto de Santana e Macapá.

De volta a Belém, ministrou um curso intensivo a convite do Conservatório Carlos Gomes, constando de três aulas: a primeira, em 24 de março, que foi também a aula inaugural do ano letivo, versou sobre a interpretação de Bach. Na oportunidade, Oriano foi agraciado pela Prefeitura com a medalha e diploma comemorativos dos 350 anos da cidade. Na segunda aula, Oriano tratou da diversidade dos estilos na interpretação musical e, para concluir, na última aula abordou o Romantismo através das personalidades de Liszt, Grieg e Chopin.

No dia 20 de junho, no Teatro da Paz, Oriano deu um recital em homenagem à delegação dos companheiros da “Aliança Pará-Missouri”.

No dia 22 de junho chegou a Fortaleza para ministrar um “Curso de Alta Interpretação Pianística” para professores e alunos do Conservatório Alberto Nepomuceno. Seu recital no Teatro Universitário se realizou no dia 27.

Em seguida, viajou para o Rio, onde iniciou os contatos visando à gravação do programa apresentado em Belém e cidades do Estado do Amapá pelo duo Maria Helena Coelho Cardoso-Oriano de Almeida. Tendo organizado tudo, a cantora se deslocou para o Rio, onde se verificou uma fase de ensaios para aperfeiçoamento. Um LP de 10 polegadas, editado pela etiqueta “Sol” e intitulado “Maria Helena Coelho Cardoso interpreta Oriano de Almeida”, foi o resultado desse trabalho conjunto. O lançamento do disco ocorreu em 26 de outubro, no foyer do Teatro da Paz em Belém, com o patrocínio do governador do Estado do Pará, Alacid Nunes.

A Rádio MEC, alunos, estudos e ensaios consumiram o restante do ano de 1966 e todo o ano de 1967, de acordo com Claudio Galvão.

Em 1968, suas atividades de recitalista só foram retomadas a partir de outubro, desta vez em palcos da região sul.

O primeiro recital dessa nova fase se verificou em 3 de outubro, no Club de Regatas Saldanha da Gama da cidade de Campos. No dia 9, apresentou um recital em Vitória, no auditório do Colégio do Carmo.

Os jornais do Rio comemoraram a volta de Oriano aos palcos cariocas, depois de mais de dois anos de ausência. Atendendo a essa expectativa, em 14 de outubro Oriano se apresentou no Teatro Municipal do Rio com mais um Recital Chopin. No camarim, o embaixador da Polônia comentou: "Só os eslavos podem tocar assim as mazurkas."

A. H., em sua crônica de 15 de outubro de 1968 em O Globo, tenta oferecer uma explicação para o distanciamento voluntário do artista, de seu público: "Primeiro foi a saturação: o estudo exaustivo da criança, com Waldemar de Almeida, e do jovem, na Escola Tagliaferro; os prêmios do Rio e de Varsóvia; os 200 concertos em diversos países; o sucesso febril da televisão; os aplausos ensurdecedores. Saturado de Chopin, de fama e de cruzeiros (que a inflação engoliu), Oriano resolveu dar seis anos (sic) de férias ao grande pianista que ele sempre foi, o tempo necessário para o processo de decantação dos dezesseis programas (opera omnia) sublimados — a julgar pela amostra de ontem — no mais puro intimismo camerístico."

XVII. RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO: "Paulistas e Cariocas" na TV Tupi Canal 6

Em 1969, sua primeira atividade artística foi um recital apresentado em 17 de março, no Teatro Municipal de Niterói, patrocinado pela Sociedade de Estudos e Pesquisas Espíritas.

Um “Curso Chopin”, ministrado por Oriano, teve início em 9 de maio no Conservatório Brasileiro de Música. Suas aulas tiveram a cobertura de O Diário de Notícias, que apresentou os resumos teóricos das aulas. A aula de encerramento do dia 17 contou com a entrega dos certificados concedidos a dez alunas, na presença do secretário da Embaixada da Polônia.

No dia 13 de junho ocorreu seu recital na Sala Cecília Meireles.

Ainda em junho, respondendo sobre Chopin, Oriano participou do programa “Paulistas e Cariocasna TV Tupi Canal 6, apresentado por Walter Foster (São Paulo) e Murilo Neri (Rio de Janeiro), em transmissão simultânea das duas cidades.

Também aqui nova polêmica gerada por pergunta do representante de São Paulo. Tendo feito tocar uma gravação de uma composição de Chopin, pediu a sua identificação e data. Oriano respondeu que se tratava da Polonaise em sol sustenido menor, datada de 1823, quando o compositor tinha 13 anos de idade. O representante de São Paulo não concordou com a resposta de Oriano. O problema residia, primordialmente, na controvérsia sobre a data do nascimento de Chopin que Oriano havia investigado minuciosamente e esclarecido em artigo intitulado “Quando nasceu Chopin”, publicado na edição de O Globo de 22 de fevereiro de 1960. A polêmica se estendeu ao meio jurídico: através de parecer jurídico, o advogado Nehemias Gueiros tomou a defesa da informação de Oriano. Como era de se esperar, o fato tomou muito espaço no noticiário jornalístico, provocando manchetes sensacionalistas, como “A Polonaise como ré” e “Chopin na Justiça”.

Outro debate foi deflagrado quando Oriano, ao ser indagado sobre se determinado compasso de uma mazurka de Chopin (Op. 7 nº 2) se encontrava repetido em outra mazurka (Op. 17 nº 4). A resposta de Oriano foi: não. A direção do programa considerou a resposta de Oriano errada. Este insistiu, alegando que o trecho era parecido mas não exatamente igual. No programa seguinte, esteve presente ao programa o maestro Francisco Mignone, que levou quadro-negro e giz para explicar tudo detalhadamente. Galvão explicou a posição de Mignone, nos seguintes termos: “Na Revista do Rádio e TV, o maestro expôs em termos técnicos: Os temas das duas mazurkas em foco na televisão são parecidos, mas em absoluto idênticos. Aliás, os próprios intervalos que aparecem nos temas são completamente diferentes pelas segundas e terças. E tem mais: um dos temas é tético (tem cabeça de tema) e o outro acéfalo (sem cabeça), pois a primeira nota é ligada anteriormente, formando, assim, uma síncopa. E pode ser observado ainda mais: um tema é dado sobre a dominante e outro colocado numa tônica.” (p. 228) E Galvão prossegue: “A polêmica provocou o que, certamente, a TV queria: aumento de audiência. No final, consideraram que Oriano de Almeida tinha razão.

Nem bem essa atividade artística fora concluída, já outras impunham a participação de Oriano. Foi o caso de um curso de extensão destinado ao aperfeiçoamento de pianistas com o título “Interpretação Romântica”, oferecido pela Academia Nacional de Música que comemorava o seu segundo aniversário, todas as terças e sextas-feiras, em sala da Escola Nacional de Música. O curso foi iniciado em 20 de junho e se estendeu até o dia 7 de julho. Antecedendo à primeira aula e seguindo a moda das promoções, Oriano apresentou um “Recital Romântico”, no dia 13 de junho, na sala Cecília Meireles. Galvão noticia sobre esse evento o seguinte: “Depois de Schumann, Liszt e Chopin, o público exigiu e o intérprete teve que voltar ao palco dez vezes para dez extras, quando tocou o ‘Intermezzo’ do Carnaval de Viena (Schumann), ‘Sonho de Amor’ (Liszt), ‘Prelúdio nº 17’ (Chopin), ‘Arabesques’ 1 e 2 (Debussy), ‘Minueto’ (Bocherini), ‘Gavota’ (Gluck) e ‘Scherzo-Valsa’ (Moskowsky). E sempre se usa a expressão ‘vida de artista’ quando se quer insinuar uma vida sem esforços…” (p. 229)

Em seguida, Oriano deu um Recital Chopin em 10 de julho no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Uma semana mais tarde, no luxuoso apartamento de cobertura do casal Edgar Rodrigues, Oriano lançou novo LP, “Realejo”, onde prestava uma grande homenagem a seu mestre Waldemar de Almeida, interpretando suas principais obras para piano.

No dia 7 de agosto Oriano se apresentou num recital na Sala Cecília Meireles “que, pela sua originalidade, deu muito o que falar nas rodas artísticas da cidade. ‘UM PIANISTA TRAI CHOPIN’, alardeou o cronista Ayres de Andrade, do O Jornal. Na realidade, pela primeira vez em sua carreira, Oriano preparara um programa onde não se encontrava o nome do seu compositor mais tocado. (…) Mas, na hora dos extras — que foram oito, por sinal —, rendia-se à velha paixão, tocando a Fantasia Improviso e a Polonaise Op. 53.
Depois do recital, recepção para o pianista e a alta sociedade carioca, oferecida pela cantora Blanca Bouças. Oriano de Almeida continuava no centro das atenções. Ali mesmo se programou e agendou um novo encontro com ele para a noite do dia 28 de agosto quando, com um Recital Chopin, a cantora receberia seus amigos no seu luxuoso apartamento da Avenida Rui Barbosa. Muita divulgação por parte dos cronistas sociais, como se poderia esperar.” (p. 230)

Em outubro ministrou para o Conservatório de Música de Campos o curso “Três Séculos de Música”. No encerramento em 16 de outubro, seu recital incluiu Ravel, Beethoven, Chopin, Debussy e Liszt.

No dia 11 de novembro, na Sala Cecília Meireles, novo recital com autores variados, em benefício de “Amigos da Biblioteca de Botafogo”.

A seguir, Oriano foi indicado pelo Ministério das Relações Exteriores para participar da comissão julgadora do 2º Concurso Internacional de Piano “Ciudad de Montevideo”, evento organizado pela “Associação Eliane Richepin para o desenvolvimento da música”. No dia 22 de novembro, logo após a realização da segunda prova pelos candidatos, Oriano deu um recital no Estudio Auditório S.O.D.R.E., tocando Bach-Busoni (“Chaconne”), Beethoven (“Sonata Appassionata”), Ravel (“Sonatina”), Albeniz (“Trinana” e “Navarra”) e Villa-Lobos (“Impressões Seresteiras”). Os jornais de Montevidéu anunciaram o pianista brasileiro da seguinte forma: “considerado en Brasil como el mayor conocedor de la obra de Chopin”.

No dia 2 de dezembro, ainda em Montevidéu, Oriano participou do Festival Bach, tocando o “Concerto para 3 pianos e orquestra em dó maior”, do argentino Manuel Rego. Além de Oriano, participaram como pianistas o próprio compositor e a pianista uruguaia Victoria Schenini, acompanhados pela Orquestra Sinfônica Municipal de Montevidéu, regida por Jacques Houtmann.

Na sequência, Oriano foi a Buenos Aires a convite da Embaixada do Brasil. Ali se entendeu com a assessora cultural Maria Helena Lorenzo Fernandez para a realização de um concerto no Teatro Odeon. Na mesma ocasião, o cônsul do Brasil em Buenos Aires, Vasco Mariz, convidou-o para outro concerto, na cidade de Rosário. O certo é que as duas apresentações foram adiadas por Oriano para a próxima vez que voltasse a Buenos Aires, de modo que sua atuação artística na Argentina se resumiu a um recital na Rádio Belgrano, tendo obtido a melhor repercussão. Por exemplo, do famoso crítico musical Gastón Talamón recebeu expressiva carta na qual afirmava que Oriano “é um instrumentista irrepreensível, vai muito além da clareza de um mecanismo sem falhas, e de riqueza de timbres.”

Para encerrar o ano, Oriano foi nomeado Diretor Artístico da Rádio MEC, cargo que assumiu em 29 de novembro. Na entrevista coletiva à imprensa que concedeu a seguir, “enfatizou alguns de seus projetos, entre os quais se destacava a intenção de elevar os níveis de audiência da emissora, atingindo a faixa popular de ouvintes, deslocando-a do campo apenas erudito e hermético em que sempre se posicionara”, conforme Galvão (p. 231).

Um recital no auditório da Escola Nacional de Música, que estava programado para dezembro, só foi apresentado em 12 de janeiro de ano seguinte. Na primeira parte do programa, a pianista Yolanda Ferreira tocou peças de Liszt e, na segunda, Oriano tocou Chopin. “O programa foi encerrado com o Concerto a dois pianos, de Liszt, executado por Oriano e Yolanda, numa rara oportunidade em que dividiu o palco com outro artista.” (p. 239)

1970 iniciou-se com a melhor expectativa de Oriano em realizar seus muitos planos e uma grande vontade de poder realizar pela cultura do País, na qualidade de novo Diretor Artístico da Rádio MEC. Por isso, seria um ano de muito trabalho e — como não poderia deixar de ser — muito exaustivo para Oriano.

Nesse ano de 1970, cabia-lhe liderar as comemorações que no Brasil se realizariam em homenagem ao bicentenário do nascimento de Ludwig van Beethoven (1770-1826). O ponto alto dos festejos deveriam ser os concertos a cargo das grandes damas do piano brasileiro: Magdalena Tagliaferro e Guiomar Novaes.

As comemorações iniciaram-se em 4 de março, transmitidas pelo programa “Concertos para a Juventude” da TV Globo e Rádio MEC, simultaneamente. E para esse grande momento, o grande nome de Guiomar Novaes. Na fase preparatória, o zelo com a montagem da programação foi tão grande que foram colocados à disposição da pianista 3 pianos de causa inteira, para que escolhesse o melhor. Galvão não esconde o descontentamento com os caprichos de Guiomar: “A pianista, entretanto, extrapolou no seu direito de brilhar: havendo se comprometido de tocar o Concerto nº 4, para piano e orquestra, substituiu a obra, à última hora, pela Sonata Ao Luar, onde tocava sozinha. E, como se não bastasse, ao saber que, tocando uma peça menos longa que o Concerto, ainda lhe restavam minutos na televisão, completou-os tocando uma sonata e uma valsa, de Chopin, e a Fantasia sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Gottschalk, autores absolutamente estranhos às comemorações de Beethoven fugindo inteiramente dos objetivos do evento.” (p. 240) Dentro das comemorações beethovenianas, diversos eventos musicais foram apresentados, com a participação de outros musicistas, principalmente na área da música de câmara. Para encerrar as comemorações, em 5 de abril Magdalena Tagliaferro se apresentou com grande brilhantismo no auditório da TV Globo.

Ainda em abril Oriano foi a Brasília para a primeira apresentação do programa “Concertos para a Juventude” na capital do País, no dia 25, como parte das festividades comemorativas do seu 10º aniversário. O programa foi transmitido ao vivo pela TV Nacional e Rádio Educadora e retransmitido pela TV Globo e Rádio MEC. Na ocasião, a Orquestra Sinfônica Nacional, sob a regência de Alceo Bocchino apresentou peças de vários autores e, para encerrar, Oriano tocou o Concerto em lá menor, de Schumann.

Galvão fala das importantes realizações de Oriano como diretor da Rádio MEC: “A conceituada revista O Cruzeiro destacava, em edição de 19 de maio, o excelente trabalho de Oriano na Rádio MEC. Salientava as apresentações de grandes intérpretes na série Recitais PRA-2, todas as sextas-feiras, às 19h, no Palácio da Cultura. Anunciava o início de nova série, com solistas e orquestra, para a Sala Cecília Meireles. No mesmo comentário, evidenciava-se a sua atividade musical não interrompida pela tarefa burocrática: recebera convite do Governo de Alagoas para apresentar-se em Maceió; em Recife, tocaria a “Rhapsody in Blue", de Gershwin, com a Orquestra Sinfônica da capital pernambucana.
Um aspecto a comentar é que o horário das 19h para apresentações de recitais, introduzido por Oriano, inspirava-se em idêntica iniciativa adotada, desde há muito tempo, em Viena. O próprio Chopin iniciou àquela hora um recital ali realizado. No Rio de Janeiro, a intenção era que as pessoas aproveitassem para ouvir música no horário de maior movimento nas ruas, podendo retornar às suas casas depois do trabalho, com menos trânsito a vencer.” (p. 241)

Em novembro se realizou no Rio de Janeiro o “Festival Villa-Lobos 1970”, com promoção do Museu Villa-Lobos, em comemoração dos 10 anos do falecimento do compositor e maestro. A sua viúva, Arminda Villa-Lobos, perguntou a Oriano se não era tempo de atender pedido do próprio Villa-Lobos que, anos antes, lhe sugerira tocar a sua Suíte Op. 30, obra composta em 1913 e executada pela última vez em 1921, em substituição a seu Concerto nº 1 para piano e orquestra. Na ocasião, Oriano saíra do encontro com Villa-Lobos, levando um pesado calhamaço de 140 páginas. A proximidade da realização do Festival Villa-Lobos estimulou Oriano a enfrentar o desafio que há muito adiara, nele incluindo a referida obra.

No dia 20 de novembro, realizou-se o concerto na Sala Cecília Meireles. Apresentou-se a Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC regida pelo maestro João de Souza Lima, executando obras de Villa-Lobos (“Ouverture de l’ Homme Tell” da Suíte Sugestiva e o poema sinfônico e bailado “Uirapuru”). Encerrando o evento, Oriano executou a Suíte para piano e orquestra Op. 30, constando de 3 partes: 1. À Espanha, 2. Ao Brasil e 3. À Itália (Tarantela). O crítico musical Ayres de Andrade assim se manifestou em O Jornal de 24 de novembro de 1970, in “Música. Villa-Lobos em três dimensões": “Não obstante as circunstâncias adversas criadas pela própria partitura para o instrumento solista, (Oriano) conseguiu vencer, até certo ponto, a situação, dando a perceber o quanto é bem dotado de atributos de musicalidade e formação técnica. No seu estilo, as consequências de uma facilidade digital inata em nenhum momento lhe vêm sacrificar a pureza da expressão. À sua participação no ato não terá sido estranha a repetição, reclamada e obtida pelo público, da tarantela, correspondente à parte italiana do tríptico imaginado por Villa-Lobos na sua Suíte para piano e orquestra.” (p. 242) E Galvão completou: “Foi uma das raras vezes em que Oriano tocou sem ter a peça memorizada, prendendo-se à partitura na estante. Naquela ocasião, entretanto, não havia quem lhe virasse as 140 páginas…”

Galvão não registra as atividades artísticas de Oriano em 1971.

XVIII. LAUSANNE, MARSEILLE, BARCELONA, MADRI e PARIS

1972 iniciou-se com algumas atividades artísticas importantes. Inicialmente, Oriano tocou em 9 de março um Recital Chopin, na Sala Martins Pena do Teatro Nacional, em Brasília.

Em seguida, dos dias 9 a 15 de março, apresentou uma série de seis conferências ilustradas ao piano, abordando vida e obra do compositor polonês, no Museu de Arte de São Paulo, com o patrocínio do Conselho Estadual de Música. Embora as apresentações estivessem marcadas para as 16 horas (horário desfavorável para lotar um auditório), compareceram as mais representativas figuras da vida musical paulista: o violinista Raul Laranjeiras, os pianistas Souza Lima, Stelinha Epstein, Georgette Pereira, Caldeira Filho, Antonieta Rudge, Antônio Bezan e a grande estrela Guiomar Novaes.

Ainda nesse primeiro semestre de 1972, amigos sugeriram a Oriano transformar em livro a série de 44 programas transmitidos pela Rádio MEC em 1960 sob o título “Ciclo Chopin”. O assunto chegou ao conhecimento de um editor, o qual lhe sugeriu ampliar um pouco mais o texto e retornasse, para os procedimentos iniciais de publicação. Decidiu então atender a sugestão do editor. Após as conferências ilustradas em São Paulo, Oriano debruçou-se sobre o livro. Um dia, ao escrever a página 58, ocorreu-lhe a ideia de visitar Varsóvia para colher mais informações com o objetivo de dar ao trabalho uma dimensão ainda maior. Ou seja, a relação artística Oriano-Chopin, que já havia exigido tanto dele e igualmente proporcionado a ele, ainda teria muito a oferecer.

O ponto de partida para concretizar o seu projeto, que começava a se inclinar no momento para a literatura, era procurar o adido cultural da Embaixada da Polônia, de quem era amigo. Esse amigo, pressentindo o quanto poderia resultar de divulgação cultural para o seu país, prometeu-lhe estudar a proposta. Algum tempo depois, voltou com a seguinte solução: Oriano receberia um convite da Embaixada da Polônia no Brasil para participar do Festival de Verão que se realizava em Varsóvia todo ano, com a presença de pianistas de notória especialização em Chopin, geralmente laureados em concursos internacionais, recebendo passagem, hospedando-se às custas do governo polonês e tocando algumas vezes.

Além disso, algum tempo antes, Oriano conhecera uma pianista suíça, Nicole Wickihalder, que residia em Lausanne, mas estava realizando temporada no Rio. Uma forte relação de amizade se formou entre eles e Nicole ofereceu-se para intermediar uma possível turnê do pianista brasileiro em seu país. Naquele começo de 1972, recebeu carta de Nicole, encaminhando uma proposta da Fundação Nikati de Luze, da cidade de Lausanne, para uma série de conferências ilustradas, quando Oriano falaria sobre a vida e executaria a obra integral de Chopin.

Por fim, foram mantidos contatos com a Embaixada da Espanha, de que resultou um convite para dois recitais, em Madri e em Barcelona.

Por isso, Oriano embarcou para a Europa em 25 de março.
Durante um mês, às terças e sextas-feiras, na sala de espetáculos “Au Centre”, da cidade de Lausanne, interpretou e comentou em francês a obra integral de Chopin para uma culta e exigente plateia. As conferências tiveram os seguintes títulos e datas, de acordo com minha tradução para a intensa programação (p. 245-6):
– 1817-1827 (em Varsóvia) - Chopin, o adolescente (11 de abril)
– 1828-1830 (em Varsóvia) - Chopin, o virtuose em busca de ‘sua maneira’ (14 de abril)
– 1830-1831 (em Viena e Stuttgart) - Chopin, o poeta nacionalista revolucionário (18 de abril)
– 1832-1837 (em Paris e Dresden) - Chopin, o amante mundano lírico (21 de abril)
– 1837-1840 (em Paris, Majorca e Nohant) - Chopin, o doentio impressionista trágico (25 de abril)
– 1841 (em Paris e Nohant) - Chopin, o visionário heróico dramático (28 de abril)
– 1842-1843 (em Paris e Nohant) - Chopin, o sonhador em busca do passado e do futuro (2 de maio)
– 1844-1849 (em Paris e Nohant) - Chopin, o Mestre (5 de maio).

Galvão traduziu notas de diversos jornais de Lausanne pertencentes ao acervo de Oriano, dando conta de que tanto o público quanto a crítica reconheceram os seus méritos de grande conhecedor e completo intérprete da obra de Chopin. Detalhe importante: o ingresso às conferências era pago; para as 8 sessões, 48 francos; para estudantes e alunos de escolas de música, 24 francos; para um recital apenas, o ingresso custava 8 francos e 4 para estudantes.

Após essas conferências em Lausanne, Oriano e Nicole completaram o “tour chopiniano” em Marseille, na França. Oriano queria visitar dois endereços ligados à vida de Chopin: quando este voltou de Majorca com George Sand, hospedou-se no Hotel de Beauveau e foi atendido por um médico local. Oriano pôde conhecer o hotel onde se hospedara o hóspede ilustre, bem como o prédio onde residia o médico que o tratou. Depois de matar sua curiosidade, voltou para Lausanne.

O próximo compromisso era a Espanha. A Sociedade Amigos de Granados organizou um concerto e Oriano apresentou-se em 15 de maio, às 19h30min, na sala de concertos “Camarote Granados”, no Hotel Manila de Barcelona, sob o patrocínio do Consulado Geral do Brasil. Ali tocou Chopin, Waldemar de Almeida, Souza Lima e Fructuoso Viana.

No dia seguinte, participou da “Semana Cultural Brasileira”, promovida pelo Consulado Geral do Brasil. Oriano apresentou-se em recital, composto apenas de autores brasileiros, na Galeria Gaudí. Como de costume, o pianista fez anteceder à apresentação das peças explicações sobre os autores Alexandre Levy, Alberto Nepomuceno, Barroso Neto, Henrique Oswald, Fructuoso Viana, Francisco Mignone, Souza Lima, Carmargo Guarnieri, Waldemar de Almeida e Heitor Villa-Lobos.
Ainda houve outro recital, que se realizou na “Casa do Brasil”, em Madri.

Durante essa sua estada na Espanha, Oriano ainda firmou contrato com uma entidade promotora de concertos intitulada “Circulo Medina”, para uma nova turnê na Espanha em novembro do mesmo ano.

Havia ainda o compromisso com a Polônia em julho. Dispunha, portanto, do mês de junho para visitar a França. “Era o mês de junho e um radioso verão iluminava ainda mais a Cidade Luz. Um mês de férias em Paris… rever lugares, amigos, sentir a vibração do ambiente: era o que o artista estava precisando para recarregar-se de energias para o seu próximo e importante compromisso.” (p. 247)

XIX. VARSÓVIA: Festival de Verão de 1972

Na “Polônia de Chopin” se encontrava o seu real interesse na turnê iniciada na Suíça, passando pela Espanha e França.

Oriano ficou hospedado em uma residência próxima ao imponente Zamek (Palácio) Ostrogskich, onde estava sediado o Narodowy Instytut Fryderyka Chopina, ou seja, Instituto (Nacional de Frederico) Chopin. Assim o descreve Galvão: “Ali havia um piano à disposição para seus estudos, além da documentação que necessitava para pesquisar. Estavam expostos, também, objetos relacionados com a vida do compositor, como a sua mão moldada em gesso e uma mecha de cabelos de George Sand. O músico brasileiro manuseou carinhosamente uma agenda de anotações do compositor, a mesma que possuía impressa em forma fac-similar. Em lugar de destaque, o último piano, um Pleyel, que ele usava em Paris, alvo da curiosidade de milhares de visitantes. Ao pianista, cuja admiração por Chopin despertara na já distante infância, foi concedida uma permissão muito especial: abriram o piano do seu ídolo e o deixaram tocar alguns acordes. Foram momentos de muita emoção.
E Galvão prossegue: “Buscando seguir os passos de Chopin por lugares já seus conhecidos, Oriano procurava refazer os seus percursos (…) As ruas estreitas da parte velha foram avidamente sentidas (…) O liceu onde o compositor estudara em nada mudou; percorrendo a Rua Miodowa encontrava, depois, o Teatro Narodowy. Mais adiante, a Igreja das Visitadoras, onde Chopin adolescente tocava nas missas dos domingos às 11h. Na Igreja da Santa Cruz, o coração do compositor está conservado num relicário fechado. Foram emoções as mais profundas que, a cada momento, mais apertavam os laços de admiração e simpatia do pianista brasileiro para com o grande mestre do piano.
Melhor ambiente não poderia ter escolhido a sorte para fazê-lo passar seu aniversário. Aos quarenta e nove anos no dia 15 de julho, vivendo a sua fase maior (…).” (p. 248)

O seu primeiro compromisso como participante do Festival de Verão de 1972 aconteceu no Dom Urodzenia Fryderyka Chopina (Casa de Chopin), local de nascimento do compositor, situada em Żelazowa Wola, a 64 km de Varsóvia.

O programa anunciava Oriano de Almeida (Brasil), como parte dos Niedzielne Koncerty Chopinowskie (Concertos Dominicais dedicados a Chopin), para as 11h do dia 16 de julho, domingo, na Casa de Chopin, e para o dia 19, quarta-feira, como parte dos Koncerty w Sezonie Artystycznym 1971/1972 (Concertos na Temporada Artística 1971/1972), no Palácio Ostrogskich. Pode-se imaginar a consideração e estima que os organizadores poloneses tiveram pelo pianista brasileiro, se considerarmos que apenas dois pianistas estrangeiros se apresentaram nos Concertos Dominicais dedicados a Chopin: Oriano de Almeida (Brasil) e Ikuko Endo (Japão). Do jardim e do parque vizinho à Casa de Chopin, na manhã do dia 16 de julho, os visitantes puderam ouvir o pianista brasileiro tocar as seguintes peças do compositor polonês: Polonaises Op. 40, nº 1 e Op. 26, nº 1; Valsa Op. 34 nº 1; Mazurka Op. 33 nº 4; Noturno Op. 15 nº 2; Balada Op. 47 e Scherzo Op. 31.

No dia 19, o segundo compromisso de Oriano em Varsóvia: na Sala Koncertowa (Salão de Concertos) do Palácio Ostrogskich, os visitantes puderam ouvir um recital diferente, tendo Oriano incluído apenas peças de compositores brasileiros, a saber:
1ª Parte
Alexandre Levy: Tango Brasileiro
Alberto Nepomuceno: Noturno
Barrozo Neto: Minha Terra
Henrique Oswald: Il neige
Souza Lima: Improvisão nº 1
Waldemar de Almeida: Desfile de Quintal, Realejo, Divertimento nº 4
Fructuoso Viana: Dança de Negros
2ª Parte
Camargo Guarnieri: Canção Sertaneja, Ponteio nº 49
Francisco Mignone: Valsa Elegante, Congada
Heitor Villa-Lobos: Prelúdio, Polichinelo, Impressões Seresteiras, Festa no Sertão

No dia 23 de julho, ao meio-dia, ocorreu seu último compromisso em Varsóvia, durante o Festival de Verão de 1972, em um “belo e acolhedor recanto tipicamente europeu situado dentro da cidade”, o Parque Łazienki. Excelente a forma como Galvão descreve esse parque: “Um pouco abaixo da enorme estátua de Chopin e sobre um pedestal ficava o piano, colocado em um nível acima das pessoas de modo a ser perfeitamente visualizado. Sendo um recital ao ar livre, era grande a afluência de espectadores que se acomodavam em bancos dispostos na área em frente. Bem acima de todos, o compositor, eternizado em bronze, tem o rosto voltado para o seu lado esquerdo, dando a impressão de estar olhando para o pianista que toca.” (p. 250)

Do Festival de Verão de 1972 participaram, como pianistas estrangeiros convidados, Oriano de Almeida (Brasil), Walid Raja Howrani (Líbano), Czesław Kaczyński (Canadá), Ikuko Endo (Japão), Patricia Purcell (Grã-Bretanha) e Eugeniusz Mogilewski (URSS).

Encerrados os compromissos na Europa, Oriano decidiu presentear-se com nova permanência em Paris durante mais de um mês.

De volta ao Brasil, em setembro visitou Campos pela terceira vez. Agora estava ali para ministrar um curso sobre Chopin e recitais, no Conservatório de Música. Concluído o curso em 28 de setembro, realizou um Recital Chopin. Foi quando dele se aproximou uma comissão de alunas do Instituto de Educação Aldo Muylaert, convidando-o para visitar sua escola e tocar um pouco para elas. O ilustre pianista brasileiro que retornava ao Brasil laureado na terra de Chopin não se fez de rogado: não apenas aceitou o convite como falou sobre Chopin, tocou, foi entusiasticamente aplaudido, tendo atendido o pedido de oito extras, com a mesma disposição como se estivesse num grande teatro.

No início de novembro esteve novamente na Espanha para realizar uma turnê agendada com o “Circulo Medina”, uma entidade promotora de concertos espanhola. Tocou em Barcelona no dia 10, incluindo no programa o catalão Federico Monpou, com sua peça “Escenas de Niños”, além de Schumann, Chopin, Ravel e Villa-Lobos. Em seguida apresentou-se em Valencia, Burriana, Castellón de la Plana e Alicante. O encerramento da excursão se deu em Madri, no dia 21 de novembro, com um recital na Casa do Brasil.

Na viagem de volta ao Brasil, fez uma escala no Recife para um Recital Chopin no dia 27 de novembro. Decidiu inovar: depois de breve palestra sobre o compositor, pôs-se a tocar as músicas que o público pedisse.

De volta ao Rio, apresentou-se no Colégio Anchieta, de Nova Friburgo, numa audição em benefício das obras assistenciais da Casa dos Pobres de São Vicente de Paulo, Orfanato da Madre Roselli e Capela de São Sebastião.

XX. NORDESTE: novos e grandes compromissos

1973 iniciou-se com Oriano em Natal. Depois de 8 anos de ausência deu um concerto em 2 de janeiro, no Teatro Alberto Maranhão, promovido pela Sociedade de Cultura Musical do Rio Grande do Norte, cuja presidente era sua ex-aluna Magnólia Monteiro Pereira. No dia 12 de fevereiro, no mesmo Teatro Alberto Maranhão, deu audição beneficente.

No dia 15 de fevereiro compareceu a um coquetel no hall de entrada do Teatro da Paz, em Belém, oferecido pelo maestro Waldemar Henrique, em homenagem ao governador do Estado, à imprensa paraense e a Oriano, por ocasião do 95º aniversário do referido teatro. Às 21h do mesmo dia, o pianista apresentou um recital, lotando as dependências do mesmo teatro. Aproveitando a presença do ilustre pianista em sua terra natal, o Governo do Estado e a Fundação Cultural programaram, ainda dentro das festividades do teatro, um recital de Oriano, realizado a 20 de fevereiro, dedicado à mocidade paraense, dentro da maior informalidade, dando explicações sobre o que tocava. Ainda a convite o Governador paraense, apresentou um recital na cidade de Santarém em 2 de março. Aí tocou vários autores internacionais, incluindo algumas de suas composições: “Valsa de Paris”, “Valsa de Londres” e “Tema de Paixão e Ternura”.

De volta ao Rio para retomar suas atividades rotineiras na Rádio MEC, apresentou-se em 28 de maio na Sala Cecília Meireles, sendo aclamado pelos jornais cariocas como “o Chopin brasileiro”…

Suas ausências da Rádio MEC eram sempre antecedidas de muita atividade como produtor e também responsável por vários programas, que o obrigavam a deixar tudo gravado, pronto para ser transmitido.

Somente em outubro viajou para Salvador para participar do I Concurso Nacional de Piano, promovido pelo Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador e iniciado no dia 22.

Ainda em outubro, nos dias 29, 30 e 31, ministrou três conferências ilustradas sobre Chopin no auditório da Companhia Vale do Rio Doce, promovidas pela Sociedade de Cultura Artística de Vitória e Escola de Música do Espírito Santo.

Voltando ao Rio, aceitou o convite da cidade de Teresópolis para inaugurar o novo piano do Clube Caxangá. No início de novembro, foi a vez da cidade de Campos: o Conservatório de Música da cidade convidou-o para ministrar três aulas no curso ilustrado, concluído no dia 6, abrangendo a música pianística do século XVIII ao XX.

Em seguida, esteve em Pirassununga, no dia 17 de novembro, em comemoração ao sesquicentenário de sua fundação, onde apresentou mais um recital dialogado, que atraiu inúmeros habitantes de cidades vizinhas.

Seu último compromisso do ano ocorreu no dia 31 de dezembro, atendendo convite do Governo do Estado do Rio Grande do Norte: reinaugurar o célebre Salão Róseo, local de saraus e concertos, famoso desde os tempos da segunda administração do governador Alberto Maranhão. No último dia do ano foi convidada a sociedade local para comparecer ao evento que começou em clima de muita animação, regado a champanhe. A Oriano coube apenas tocar a Polonaise Militar, de Chopin, por ser muito conhecida.

Oriano passou o início de 1974 em Natal. Aproveitou o tempo livre para continuar trabalhando no projeto do livro sobre a juventude de Chopin. Pretendia chamá-lo “Do Inverno ao Outono”.

Em 21 de abril, teve presença destacada no concerto momemorativo do aniversário de Brasília. O evento musical se realizou na Igreja Dom Bosco, sendo encerrado com Oriano tocando o Concerto em lá menor Op. 54, de Schumann. Foi acompanhado pela Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC, sob a regência do maestro Alceo Bocchino.

O próximo compromisso foi no Rio com um Recital Chopin, que foi apresentado no dia 29 de julho na Sala Cecília Meireles, promovido pela ABRARTE. Os jornais cariocas brindaram o “reaparecimento” de Oriano.

Nos dias 17, 18, 20, 24 e 25 de setembro, Oriano apresentou um Ciclo Chopin em 5 recitais, no Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da UFRJ, com o apoio do Programa de Ação Cultural do MEC, através do Departamento de Assuntos Culturais. Era uma série dos seus já consagrados concertos-aula, onde abordou todas as fases da vida do compositor, desde as suas primeiras composições até as suas obras primas finais. Os comentários dos críticos especializados quanto à sua atuação, na sequência de cada concerto, foram sempre entusiásticos.

1975 foi um dos anos mais tranquilos da vida de Oriano. O começo do ano no Rio foi ocupado com os afazeres do trabalho na Rádio MEC. Muito tempo era consumido em leituras e pesquisas para a elaboração de gravações dos programas. O maior tempo, porém, era dedicado à preparação do texto para o livro sobre a juventude de Chopin.

Essas atividades não impediram sua costumeira viagem a Belém, para dois concertos em março, no Teatro da Paz. Na ocasião, Oriano gravou no mesmo teatro, com a cantora Maria Helena Coelho Cardoso, um recital que somente seria disponibilizado em CD no ano 2000.

Em 29 de maio, abalou-o a notícia do falecimento de Waldemar de Almeida. A influência do “maestro” na vida de Oriano foi aqui abordada em diversas ocasiões, por ser um modelo de integridade moral e artística que influenciou Oriano até seus últimos dias.

Outro compromisso que assumiu para outubro e que consumiu muito tempo foi a preparação do Concerto nº 4 para piano e orquesta, de Saint-Saëns. No dia 18 de outubro, a Orquestra Sinfônica Brasileira regida pelo maestro Georges Sebastian apresentou-se na Sala Cecília Meireles. No programa, a Abertura da ópera Tannhäuser, de Wagner, e a Sinfonia nº 1, de Brahms. Oriano encerrou o evento executando o referido concerto de Saint-Saëns.

Em 1976 Oriano iniciou o ano, gozando merecidas férias e tocando em Natal e Belém. Em 28 de abril estava no Rio Grande do Sul, apresentando um Recital Chopin, na Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, numa promoção da Pró-Arte, Plano de Ação Cultural do Ministério da Educação e Secretaria de Educação e Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Aproveitando a oportunidade, fez uma excursão por cidades do interior gaúcho, tocando em Caxias do Sul, em 29 de abril, e depois em Canoas.

A convite do diretor do Teatro da Paz, maestro Waldemar Henrique, Oriano viajou em maio a Belém para uma estada de dez dias. Depois do concerto na capital em 5 de maio, apresentou Recitais Chopin em São Luís no dia 13 e em Teresina, no Teatro 4 de Setembro, no dia 15. Seguindo para Natal, a convite da UFRN e Secretaria de Educação, deu em 27 de maio um recital no auditório da Escola de Música da UFRN e outro beneficente, sob o patrocínio da Sociedade Movimento dos Focolares, em 2 de julho, no Teatro Alberto Maranhão. Sobre esse evento, Galvão comenta: “Nesse recital Oriano incluiu, pela primeira vez, uma obra de Ernesto Nazareth, o ‘tango brasileiro’ Odeon.” (p. 270)
Ainda realizou concerto em João Pessoa, em 16 de julho, no Teatro Santa Roza, patrocinado pela Fundação Cultural do Estado da Paraíba. No dia 31, esteve em Aracaju tocando no Teatro Tiradentes, numa promoção da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe. Essa mesma sociedade Oriano ajudara a fundar com um recital em 1951 e nessa ocasião completava 25 anos de existência.

As atividades artísticas de Oriano em 1976 se encerraram com um Recital Chopin na Sala Cecília Meireles, do Rio, em 23 de setembro.

Não passa despercebida a Galvão a franca diminuição das atividades artísticas de Oriano a partir de 1977: “No ano seguinte observa-se uma redução das atividades fora do Rio de Janeiro. Um único concerto em 1977.” (p. 270)

Em setembro, participou da Comissão Julgadora do V Concurso Nacional de Piano, realizado em Juiz de Fora, de 17 a 19, no Salão Nobre da Universidade Federal de Juiz de Fora. Participou igualmente do Concurso Nacional de Piano “Lorenzo Fernandez”, no auditório Lorenzo Fernandez, no Rio, promovido pelo Conservatório Brasileiro de Música, em 29 e 30 de novembro.

Apresentou seu único Recital Chopin no ano de 1977 na cidade de Juiz de Fora, em 12 de dezembro, promovido pela Pró-Música e realizado no Centro Cultural Pró-Música.

No começo de 1978, Oriano apresentou um Recital Chopin no Teatro Alberto Maranhão, no dia 23 de fevereiro, a convite do Departamento de Artes da UFRN.

Em Alagoas, participou do VIII Festival de Verão da cidade de Marechal Deodoro, ali apresentando dois recitais nos dias 25 e 26 de fevereiro na nave da antiga Igreja do Convento de São Francisco.

Em setembro, já de volta ao Rio, apresenta, no dia 27, um recital no 8º programa do Ciclo Chopin, realizado na Sala Cecília Meireles.

No período de 16 a 18 de outubro, participou da comissão julgadora do Concurso Nacional de Piano “Raymundo Moniz de Aragão”, realizado pela Academia de Música Lorenzo Fernandez no seu auditório Villa-Lobos.

Quanto aos dois anos seguintes assim se expressa Galvão: “Nos anos de 1979 e 1980 teve reduzidos sensivelmente seus compromissos de músico, não realizando nenhuma atividade como recitalista. O trabalho da Rádio MEC absorvia todo o seu tempo. Dedicava-se com muito afinco à redação da série de programas ‘Paris nos tempos de Debussy’, que o levava a longas leituras e demoradas pesquisas. Igualmente, a preparação do texto de ‘Do Inverno ao Outono’ — a biografia de Chopin jovem — exigia muita dedicação.” (p. 271)

XXI. NATAL: atividades acadêmicas

Em 28 de abril de 1981, a convite da Caixa Econômica Federal, apresentou recital em Brasília, inaugurando o auditório da sua nova sede.

Em 27 de maio, apresentou-se no Conservatório Pernambucano de Música, no Recife, com peças de Debussy e Chopin. No dia 3 de junho, apresentou um recital na Escola de Música da UFRN, em Natal.

Um fato importante aconteceu nessa ocasião para a vida futura de Oriano, de acordo com Galvão, a saber: “Durante sua última passagem por Natal, recebeu um convite tentador. Vislumbrava-se a possibilidade de ser posto à disposição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que, na ocasião, tinha como diretora da sua Escola de Música a pianista e sua ex-aluna Deijair Henrique Borges, e como reitor Diógenes da C. Lima. Dados os passos necessários, a 6 de agosto um ofício do diretor do Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação autorizava-o ficar à disposição da UFRN por um ano, sendo contratado como Professor Visitante nível Mestre III.” (p. 271)

No dia 26 de junho, desembarcou em Brasília para um recital na Sala Martins Pena do Teatro Nacional, promovido pela Fundação Cultural do Distrito Federal e Correio Braziliense.

De volta ao Rio, preparou-se para um ano de ausência, redigindo e gravando a série do programa “Paris nos tempos de Debussy”, que deveria ser transmitida quando estivesse ausente.

Porém, um novo compromisso o esperava: o Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador convidou Oriano para a comissão julgadora do seu V Concurso Nacional de Piano, no período de 26 a 31 de outubro. Teve ali intensa participação.

No dia 11 de novembro, Oriano chegou a Natal, com grandes projetos na cabeça e muito entusiasmo no coração pelo que poderia fazer pela cidade que o adotara como filho. Provavelmente ele próprio não imaginasse quão duradoura seria aquela fase, ou ainda como utilizaria aquelas novas condições de vida para retomar sua atividade como compositor.

Segundo Galvão, “no plano estritamente profissional, um dos seus primeiros encargos foi a gravação de três LPs de suas composições para uma série de discos intitulada “Projeto Memória”, realizada pela UFRN. As gravações, iniciadas em novembro e concluídas só no ano seguinte, eram feitas no Rio de Janeiro, o que o levava algumas vezes de volta à cidade onde mantinha vínculo com pessoas e entidades musicais.” (p. 272)

Em fevereiro de 1982 já estava pronto o primeiro disco da série “Oriano interpreta Oriano”; o volume II trouxe o conjunto completo dos “Prelúdios Potiguares” de Oriano e, finalmente, o volume III completou a série. No mesmo ano foi lançado, pelo mesmo “Projeto Memória”, o LP intitulado “O Velho Solar e Guaporé”, em parceria com o Projeto Memória Fonográfica, da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife.

Em 24 de março, a convite da Sociedade de Cultura Musical, Oriano abriu a temporada do ano, no auditório da Escola de Música da UFRN. Na primeira parte do programa, composições suas; na segunda, obras de Chopin. Na ocasião, realizou-se sessão de autógrafos referente ao primeiro disco da série supracitada.

Em 5 de maio recebeu o título de Cidadão Natalense.

Em 2 de junho, compareceu ao programa “Quartas Musicais”, promovido pelo Conservatório Pernambucano de Música. Na primeira e terceira partes foram transmitidas composições suas, ao passo que a segunda parte foi dedicada a Chopin.

Em 1983, Oriano dedicou a maior parte de seu tempo a atividades na Escola de Música da UFRN, onde ficou à disposição dos alunos dos níveis mais adiantados de piano.

A convite da TV Universitária da UFRN, participou do programa “Memória Viva”, transmitido e gravado em 14 de março, tendo sido entrevistado pelo jornalista Carlos Lyra.

Em 26 de agosto, esteve em Ceará-Mirim. No auditório do Colégio Santa Águeda, deu um recital, tocando diversas de suas composições, entre elas os “Prelúdios Potiguares”, bem como peças de Chopin.

Voltando ao Rio, em 14 de outubro deu um recital na Sala Blanca Bouças, tocando Chopin e composições de sua autoria.

Em fins de 1983, a UFRN tentou prorrogar a condição de Oriano ficar à sua disposição; diante da negativa da Rádio MEC, Oriano não teve alternativa senão aposentar-se para continuar em Natal.

Galvão comenta com referência à sua atuação na Rádio MEC: “Foram vinte e três anos de muito trabalho na Rádio MEC e, também, muito crescimento cultural por conta das pesquisas e leituras que, por necessidade na redação dos programas, estava sempre fazendo. Já foram aqui mencionados o “Ciclo Chopin”, “Um polonês chamado Chopin”, “Um pianista fala de música”, “Oriano de Almeida interpreta Chopin”. Cada programa era transmitido por cerca de dois anos. Foram redigidos e apresentados, em seguida, “Improvisos”, onde o pianista comentava a obra e tocava peças de sessenta autores. “Variações novas para velhos temas” abordava particularidades pouco conhecidas da vida e da obra de compositores. Preparado na mesma linha dos anteriores, foi transmitido o “Tudo bem”.
Antes de viajar para Natal em 1981, Oriano deixou preparados e gravados vários programas da série “Paris nos tempos de Debussy”. Tencionava apresentar em seguida “O Rio de Janeiro nos tempos de José de Alencar”, baseando-se nas crônicas que o escritor escrevia no Jornal do Commercio e ilustrando com músicas da época. Seguir-se-iam, “Florença nos tempos de Michelangelo” e “Londres nos tempos de Byron”.
Infelizmente, a maior parte dos programas que redigiu e apresentou teve as gravações apagadas pela Rádio MEC.” (p. 275) (grifo meu)

Aposentado em 1º de fevereiro de 1984, desligou-se dos compromissos com a Rádio MEC e passou a dedicar-se aos trabalhos que o motivavam naquela nova fase da vida.

Em 29 de março tomou posse como sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a pedido de vários amigos e admiradores, dentre eles o historiador Luís da Câmara Cascudo.

O mês de abril trouxe outro consagrador reconhecimento sob a forma de um ofício da União Brasileira de Escritores, comunicando-lhe havê-lo considerado, por unanimidade, “personalidade cultural”. O diploma que lhe foi entregue em maio no salão nobre da Academia Brasileira de Letras estampava “Oriano de Almeida, glória da música do Brasil”, e vinha assinado pelo Presidente Fagundes de Menezes e secretária Stella Leonardos.

No dia 17 de maio, sob o patrocínio da Fundação Cultural do Estado da Bahia, apresentou um Recital Chopin no Teatro Castro Alves, em Salvador.

Em 29 de agosto, a Sociedade de Cultura Musical e Escola de Música da UFRN promoveram, no salão nobre da Academia Norte-rio-grandense de Letras, o recital “Oriano interpreta Oriano”, incluindo todos os Prelúdios Potiguares.

Em outubro, no auditório da Escola Doméstica de Natal, Oriano apresentou recital, inaugurando o seu novo piano.

Além dessas atividades, em 1984 Oriano apresentou um curso de extensão universitária intitulado “Aspectos da Arte Musical através dos Tempos”, no âmbito da UFRN. A atividade foi promovida pelo Departamento de Artes/Escola de Música da UFRN, dividida em 4 etapas, a saber:
1. Música de Chopin (março e abril)
2. Música romântica: de Beethoven ao início do século XX (entre 21 de maio a 1º de junho)
3. Música espanhola, francesa e brasileira (15 a 21 de setembro)
4. Música dos séculos XVIII ao XX (5 a 16 de novembro).

As atividades de 1985 foram todas realizadas no âmbito da UFRN. Preparou e desenvolveu um curso de extensão universitária promovido pelo Departamento de Artes da UFRN, intitulado “Música através dos tempos”, abordando os diversos estilos, a saber:
1. Romantismo (5 a 16 de agosto)
2. Impressionismo (16 a 27 de outubro)
3. Modernismo (25 de novembro a 6 de dezembro).

Em 1986, Oriano continuou com a rotina das atividades acadêmicas. No período de junho a novembro, o Departamento de Artes e a Escola de Música da UFRN promoveram um “Curso Livre de Piano”, a cargo de Oriano, destinado a alunos de níveis médio e final, como também a pessoas da comunidade que quisessem reciclar seus conhecimentos pianísticos.

Destinado ao público em geral, Oriano ainda ministrou, de agosto a novembro, a cada semana um compositor, no auditório da Academia Norte-rio-grandense de Letras, o “Ciclo dos Grandes Compositores”, abordando os seguintes temas:
1. Agosto: Bach, Mozart, Beethoven, Mendelssohn
2. Setembro: Chopin, Schumann, Liszt, César Franck
3. Outubro: Debussy, Ravel, Albeniz, Rachmaninoff, Gershwin
4. Novembro: Villa-Lobos, Mignone e, nas duas últimas aulas, autores diversos.

No dia 9 de setembro, foi-lhe comunicado o falecimento de Magdalena Tagliaferro. Como, no dia seguinte, Oriano teria o compromisso de ministrar aula sobre Schumann, no curso “Ciclo dos Grandes Compositores”, havia uma expectativa sobre como se portaria o ex-aluno da grande pianista. Assim se refere Galvão ao acontecido: “Oriano comunicou o acontecimento e fez um breve comentário sobre a mestra e amiga. E, em uma ocasião em que, geralmente, se pede um minuto de silêncio, pediu para a grande artista um minuto de aplauso. O auditório irrompeu em palmas entusiasmadas.
Em certa ocasião, Magdalena Tagliaferro declarara a um jornal sobre o fato de não haver tido filhos: Não os tive, viajando de um lado para outro do mundo, eu não poderia cuidar deles como penso que toda mãe deve fazer. Mas, tenho uma família enorme, a família Tagliaferro, dispersa pelo mundo: meus filhos são os meus discípulos.
Poucos dos seus discípulos tiveram tanta aproximação e receberam tão carinhosas manifestações como Oriano; na intimidade e em muitas de suas cartas, tratava-o por ‘filhote’.
Em todas as outras oportunidades em que aplaudira Magdalena Tagliaferro, fizera-o no clima festivo de ver alguém terminar brilhantemente a execução de uma obra musical. Naquela ocasião, aplaudia a professora que terminava a grande aula que foi toda a sua vida.” (p. 278)

XXII. NATAL: Oriano escritor

Em 1987, a maior parte do tempo de Oriano foi consumida no preparo de livros. A atividade de pianista ia cedendo espaço à de escritor.

De 13 de outubro a 10 de novembro, ministrou um curso de extensão universitária intitulado “Três Séculos de Música”, promovido pelo Departamento de Artes e Escola de Música da UFRN.
Concomitantemente a este, a convite da Universidade Católica de Salvador participou do júri do VIII Concurso Nacional de Piano, realizado no período de 19 a 24 de outubro.

Em 31 de janeiro de 1988, a filha Lílian casou-se com o professor canadense Thomas Provençal e passou a residir em Vancouver, no Canadá.

Nas festividades comemorativas dos 30 anos da UFRN, ministrou uma conferência no dia 25 de abril, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, sob o título “A Arte e o Artista”.

O período de restabelecimento que sucedeu a uma cirurgia cardíaca realizada a 21 de setembro foi o momento decisivo que levou Oriano a optar de modo definitivo por uma nova atividade intelectual: a de dedicar-se exclusivamente a escrever. A partir daquele momento, Oriano afastou-se do piano e das atividades acadêmicas.

Em 10 de outubro de 1989, Oriano recebeu a Medalha do Mérito “Alberto Maranhão”, concedida pelo Conselho Estadual de Cultura, na ocasião presidido pelo escritor Veríssimo de Melo.

Em dezembro, Lílian e Thomas lhe deram o primeiro neto: Nicolas.

Em 1991, a Editora da UFRN publicou a sua obra “Música através dos Tempos”, dividida em três partes: a primeira consiste numa viagem pelas fases evolutivas da música desde o classicismo ao jazzismo, enquanto a segunda cobre dois séculos de música no Brasil; por fim, a terceira é formada pela transcrição de uma conferência pronunciada no 30º aniversário da UFRN, seguida por dois capítulos referentes à obra de Chopin. O lançamento desse livro foi no dia 17 de maio de 1991.

Em 1993, comemorar-se-ia o centenário do nascimento de Magdalena Tagliaferro. Como Oriano manteve estreita e profícua convivência com a mestra durante os anos de 1941 a 1981, especialmente no período de 1941 a 1949, em que foi seu aluno, decidiu disponibilizar esse acervo de informações sob a forma de um belo e útil livro. Nasceu, então, a ideia de relatar o que vira e ouvira da mestra e amiga.

O primeiro lançamento do livro “Magdalena, dona Magdalena” aconteceu em 17 de setembro, na Escola de Música da UFRJ. Na ocasião, Oriano foi saudado por Sylvio Pedroza, ex-Governador do RN, aquele mesmo que, em 1946, quando Prefeito de Natal, promovera as apresentações de Oriano sobre um caminhão-palco. O segundo lançamento ocorreu em 25 de outubro no Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador. Em seguida, dois dias depois, no Conservatório Pernambucano de Música. Finalmente, foi a vez do lançamento em Natal, patrocinado pelo Instituto Histórico e Geográfico.

Galvão relata ainda uma ocorrência que viria a afastar Oriano definitivamente do piano: o atropelamento de que foi vítima, na noite de 25 de março de 1994.

Digno de nota foi ainda, em 15 de julho de 2001, a inauguração do Memorial Oriano de Almeida, quando o grande pianista completava 80 anos de idade.

Em 2003 foi diagnosticado, em urgente internação hospitalar de Oriano, acometido por fortes dores abdominais, um câncer de próstata que, segundo os médicos, já crescia havia alguns anos e já espalhara metástase pelos principais ossos.

Oriano ainda sobreviveu 1 ano e 6 dias, vindo a falecer na noite do dia 11 de maio de 2004.

XXIII. NATAL: homenagens póstumas

No dia 15 de julho de 2005 — dia do aniversário natalício de Oriano — seus amigos se reuniram no auditório da Escola de Música da UFRN. Na ocasião foi lançado o CD “Oriano de Almeida – Tributo in Memoriam”, reunindo gravações escolhidas por seu amigo José Valdécio da Silva, dentre os cerca de trezentas fitas cassetes deixadas pelo pianista.

No dia 20 de maio de 2010 o Egrégio Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte concedeu a Oriano de Almeida o título de Doutor Honoris Causa in Memoriam.

Finalmente transcrevo abaixo, de forma resumida, o conjunto da obra monumental deixada por Oriano de Almeida, conforme descrita por Galvão (p. 331-342):


Discografia:

- Luar do Leblon e Monotonia, com arranjo de Leo Perachi e acompanhamento de “Iraperi (pseudônimo de Oriano) e seu conjunto” (etiqueta “Repertório”, Rio de Janeiro, 1955)
- A vida é sonho (música de Oriano e letra de Veríssimo de Melo) e Cartaz (música de Oriano e letra de Waldemar Henrique), com arranjo de Leo Perachi e acompanhamento de “Iraperi e seu conjunto” (“Repertório”, Rio de Janeiro, 1955)
- Canção de Lílian e Valsa de Paris (“RGE”, São Paulo, 1958, 78 rpm)
- Oriano de Almeida interpreta Chopin (“RGE”, São Paulo, 1958, 33 rpm/12 polegadas - LP vinil)
- Chopin-Oriano de Almeida (SOM, Ind. e Com. S/A, sem data, disponível em K7)
- Oriano de Almeida interpreta as suas melodias (SOL, Rio de Janeiro, 1964)
- Maria Helena Coelho Cardoso interpreta Oriano de Almeida (SOL, Rio de Janeiro, 1966)
- Realejo (composições de Waldemar de Almeida) (“CLASSIC”, Rio de Janeiro, 1969)
- Oriano interpreta Oriano (volumes I, II e III) (Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 1982)
- O velho solar e Guaporé (LP patrocinado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Fundação Joaquim Nabuco, 1982) contempla, no lado A, as memórias do poeta, ensaísta, historiador, biógrafo Nilo Pereira e, no lado B, o poema “Guaporé” de Diógenes da Cunha Lima. Em ambos os lados há a participação musical de Oriano de Almeida.
Há ainda nesse registro fonográfico comentário de Oriano de Almeida relacionando música e poesia.
- Canções e solos de piano (CD patrocinado pelo Centro Cultural Brasil Estados Unidos, Belém, 1997), onde se pode ouvir a cantora Maria Helena Coelho Cardoso acompanhada por Oriano e o próprio Oriano em piano solo. Pode-se destacar as canções Casinha Pequenina (em arranjo de Oriano composto no Rio de Janeiro) e Cajueiro (com letra de Veríssimo de Melo e música de Oriano composta em Natal), entre outras canções nacionais e internacionais. Como solista, Oriano interpreta Na Irlanda uma canção (peça composta no Rio de Janeiro) e Valsa de Paris (composta em Paris) da autoria de Oriano, além de muitas outras peças de outros autores internacionais.
- Maria Helena Coelho Cardoso interpreta Oriano de Almeida (CD editado pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará, 2000), onde se pode ouvir canções acompanhadas por Oriano, destacando-se Embalo de Saudade (composta no Rio de Janeiro, 1965), com letra de Oriano, e Sertanejo cantador, harmonizada por Oriano (Rio de Janeiro). No mesmo CD, consta ainda composições para piano solo de Oriano, tais como Prelúdio Ciclame (composto no Rio de Janeiro), Uma simples saudade (Belém), Por que tanto amor? (Rio de Janeiro, 1965), Uma rosa de junho (Natal), Para esquecer lembrar (Belém), Quando a primavera voltar (Natal), Romanza para uma princesa (Natal, 1982), Montparnasse Adieu (Paris), Um blue para Brahms (Rio de Janeiro), La rue Lauriston (Paris, 1950), Blue Medieval (Rio de Janeiro, 1961), Aquele realejo de Pigalle (Paris).
Participação em outras gravações:
- em três LP de Lucinha Lira, datados de 1982 (“Floração”, “Natal, Natal” e “Mangaba”), tocando Cajueiro (letra de Veríssimo de Melo), Canção de ninar Jesus, Tempos idos e Canção de Lílian (letra de Diógenes da Cunha Lima)
- em fita magnética da Rádio MEC-Rio de Janeiro: obra integral de Chopin para piano solo
- em dois CD da pianista Luiza Maria Dantas (“Compositores Potiguares” I, Natal, 2002 e II, Natal, 2006) e outro de autores diversos (“Oriano de Almeida-Tributo in Memoriam” em homenagem ao primeiro aniversário de falecimento de Oriano, Natal, 2005, e do qual constam gravações escolhidas por José Valdécio da Silva, dentre os cerca de trezentos K7 deixados por Oriano).

Músicas publicadas:
Canção de Lílian, Seresta Edições Musicais, São Paulo, 1959
Valsa de Paris, Editora Ricordi, São Paulo, 1959
Prelúdios Potiguares, Fundação José Augusto, Natal, 2002

Livros publicados:
Música através dos Tempos, Editora da UFRN, Natal, 1991
Magdalena, Dona Magdalena, Nordeste Gráfica, Natal, 1993
Um Pianista Fala de Música, Editora CEJUP, Belém, 1996
Paris… nos Tempos de Debussy, Departamento Estadual de Imprensa, Natal, 1997

Livros inéditos:
Do Inverno ao Outono (biografia de Chopin jovem)
Cenas Infantis (memórias da infância)
Contos apenas Contos
Primeiros, Únicos e Últimos Poemas
Pingos e Respingos
Ciclo Chopin


Imagem:
1. Oriano no auge de sua carreira



* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...