sábado, 21 de setembro de 2013

SETEMBRO NA GRÉCIA


Por Francisco José dos Santos Braga




 
I.  INTRODUÇÃO


Penso que os recentes acontecimentos políticos e econômicos envolvendo a Grécia têm injustamente afastado turistas desse país que representa o berço de nossa Civilização Ocidental. Além disso, numa atitude impatriótica, as "mídias" impressa e eletrônica têm feito uma publicidade negativa sobre os protestos ocorridos em Atenas, o que tem servido apenas para afastar os já perplexos viajantes, bombardeados por notícias assustadoras, levando-os a buscar outro destino para suas férias. Essa repercussão é lamentável para um país como a Grécia que depende do turismo e que precisa restaurar a sua economia.

Este meu artigo pretende contrapor-se a essa onda negativista e mostrar uma feição ainda pouco conhecida da Grécia a meus leitores.

Não é muito fácil transmitir em palavras o encanto da chegada do Outono na Europa. Cada vez mais brasileiros estão descobrindo a beleza de poder vivenciar essa estação em que as folhas já avermelhadas caem no chão, as primeiras chuvas não se fazem mais esperar e o tempo se prepara para gestar, durante longos meses, a nova Natureza. Após a Primavera e o Verão esfuziantes em que a terra é fértil, com muita movimentação de pessoas e pouca roupa, nos surpreendem o Outono, acompanhado de chuvas torrenciais, e, em seguida, o Inverno interminável, em que a terra como que se engravida, em meio a muita neve e maior recolhimento por parte da população.

Os Gregos buscaram uma explicação para o devir da Natureza e sabiamente explicaram esse ciclo universal através do mito de Perséfone, jovem filha de Deméter, deusa das colheitas. Segundo a lenda, certo dia, Perséfone colhia flores quando foi raptada pelo deus dos mundos ínferos, Hades. Sua mãe, inconformada com a perda da filha, ficou tão triste que sua tristeza murchou as flores e secou as frutas das árvores. Naquele mesmo instante, no dia do Equinócio de Outono, Hades se unia a Perséfone no submundo. O rei dos deuses, Zeus, interveio, pedindo a Hermes que solucionasse a situação. Este último, considerado deus da comunicação, conseguiu que Hades permitisse que Perséfone ficasse metade do tempo com sua mãe e a outra metade no submundo. Assim, surgiram as estações do ano. A terra é fértil na primavera e no verão, quando Perséfone acompanha sua mãe; enquanto ela permanece em companhia de Hades, a terra nada produz, mas se engravida, numa alusão a própria Perséfone.

A partir de então, o início do Outono coincide com o Ano Novo "pagão", época de descanso da colheita e de comemoração por tudo o que foi colhido e caçado. 

Aqui veremos um pouco do folclore, da tradição e da história do povo grego relacionado com o mês de setembro. Os textos que ofereço ao leitor na próxima seção foram traduzidos da língua grega por mim, onde se poderá constatar todo o esplendor da estação que antecede e prepara o Inverno rigoroso nos países do Hemisfério Norte. 

Inicialmente proponho a leitura da minha tradução para um poema de Elias Katsúlis, com arranjo musical de Pantelís Thalassinós, intitulado "Um doce e antigo setembrinho". Além disso, em nota de rodapé sugiro a audição da música e  do poema original.

Em seguida, vêm minhas traduções do verbete Σεπτέμβριος na Wikipedia (em grego), e, finalmente, do texto intitulado "O 1º de setembro, Índictos - A Igreja reza pelo meio ambiente" do site Roseta Books (em grego).


 

II.  SETEMBRO NA GRÉCIA

Um doce e antigo setembrinho ¹

Música: Pantelís Thalassinós

Versos: Elias Katsúlis


Um setembrinho faz desatar a chorar

quem à escola levaram para aprender o beabá:

quer brincar ainda com as estrelas do céu

antes que cheguem chuvas e nuvens à mente;

escolarzinho do primário, lhe roubam a canção,

lhe roubam a canção...




Um doce setembro pinga o seu mel,

o rapazinho direito vindima a sua videira,

em Spata pisa cachos de uva, em Koropí ², noiva,

faz tremerem as meninas diante de suas pálpebras,

sopra o vento leste, a brisa da mocidade,

sopra o vento leste...



Um antigo setembro, amigo inseparável,

com o passar dos anos torna-se irreconhecível;

o vermelho faz rachaduras nas maçãs de Rodiá,

flores amarelas caem no jardim do coração;

a noite cresce, estende redes na luz,

a noite cresce...

Setembro é o nono mês do ano, segundo o calendário gregoriano, e o primeiro mês do Outono. Possui trinta dias. Era o sétimo mês do calendário romano, daí o seu nome. O povo costuma dizer: "Desde março o Verão e desde agosto o Inverno". As condições meteorológicas que costumam predominar neste mês não nos deixam acreditar nisso. Porque, apesar de supor-se que com a chegada de setembro inicia-se o Outono, cada ano parece que, até mesmo em toda a duração do mês, o verão resiste bem. Contudo, o tempo aos poucos começa a mudar e nos prepara para o Inverno vindouro. No décimo dia de setembro, aliás, tem início o Outono, embora, oficialmente, a chegada do sol no ponto equatorial da sua trajetória se dê apenas no dia 22 desse mês.

Setembro é também o mês do retorno dos alunos às escolas para um novo ano escolar. Desde o início do século IV D.C., setembro foi consagrado como o início não só do ano eclesiástico, mas também do ano civil, visto que o 1º de setembro coincidia com o início da "índiktos" (sic). Ainda hoje a Igreja Oriental continua a festejar o 1º de setembro como "início da índiktos".

Como nos informa Marina Detoráki:
"(...) A palavra índiktos significa inicialmente o estabelecimento do montante anual que os cidadãos romanos deviam desembolsar como tributo. Por associação, tomou o significado do ano civil, e, quando os impostos regulavam com base num período de mais anos, era chamado índiktos o conjunto desses anos... Acabou assim por significar um ciclo regulamentado de 15 anos, continuamente repetido (como a semana ou o mês), que foi usado para a cronologia de ações e fatos... que finalmente foi consolidado como o mais popular sistema de cronologia para os bizantinos, e o 1º de setembro como o início do seu ano." ³

Folclore

Por isso, aliás, em determinadas regiões da Grécia o dia 31 de agosto é chamado de κλειδοχρονιά, uma vez que o ano velho é fechado à chave, enquanto o 1º de setembro é chamado de αρχιχρονιά (ano que se inicia). Mas setembro tem, além disso, outras denominações na Grécia, como "Stavriátis" ou "Stavrítis" por causa da grande festa da Ereção do Santo Lenho no dia 14 de setembro. Assim nos narra Geórgios N. Aikaterinídis:
"O dia dessa festa em muitos locais constitui uma parada temporal nos trabalhos locais agrícolas e pastoris e é acolhido como o início ou o fim para as correspondentes convenções. Mas parada também constituía antigamente para os marinheiros, os quais então interrompiam as viagens longínquas com veleiros, como aconselhava o provérbio: "No dia da Cruz, cruze e amarre." Nos templos gregos é distribuído neste dia o manjericão, costume eclesiástico que provém da tradição, segundo a qual no lugar onde se achava o Santo Lenho tinha brotado essa planta aromática, que por essa razão é chamada também de flor-da-cruz... Com o manjericão da igreja e com a santidade do dia prepara-se o fermento novo para todo o ano."

Particularmente, porém, setembro é conhecido com a denominação "Mês da vindima" ou "Vindimador". Assim escreve, de modo especialmente expressivo, Ekateríni Poliméru-Kamiláki:
"A expressão proverbial "verão, vindima, guerra" traduz a universal e febril coparticipação da comunidade. A participação de todos os habitantes do povoado põe em evidência a vindima como trabalho agradável, que muitas vezes tomava o caráter de celebração... O transporte das uvas ao lagar ("pisa" das uvas até obter o mosto, tanque de fermentar o mosto, armazenamento em barris, etc.) é feito com animais, na cabeça ou através de meios mecânicos, agora até mesmo na "pisa" das uvas. A "pisa" difere de região para região quanto à forma e à capacidade (tonelagem). Num local é construído um reservatório em forma de paralelepípedo com inclinação do pavimento para o lado donde escorre o mosto, noutro local há uma grande cuba de madeira ou de malha portátil, que se localiza sob a "pisa" em cima do reservatório construído, através da qual escorre o mosto. A "pisa" das uvas" é feita pelos pisadores. O mosto é transportado e armazenado frequentemente em barris enormes, que foram lavados com plantas particularmente aromáticas (lentisco, mirto, loureiro, etc.) e foram desinfetados com enxofre e foram resinados. Ali dentro o mosto fica "cozendo", fermenta-se e vira vinho."

Assim escreve Kostas Krystállis (1868-1894) na "Canção da Vindima": "Minha videira de folhas largas/ e bem podada,/ amarre uvas vermelhas,/ para eu entrar na vindima,/ para fazer vinho imortal,/ pleno de aroma."

A vindima das videiras e a criação do vinho são, além disso, um processo antiquíssimo que remonta ao período da revolução agrária antes de 7.000 anos aproximadamente. Os antigos Gregos se ocuparam com a fabricação do vinho pelo menos a partir de 1700 A.C. A correspondente mitologia sobre o vinho e a sua ligação com o deus Dioniso são especialmente ricas. Porque o vinho era visto desde sempre não só como componente básico da nutrição, mas também da religião, uma vez que os antigos Gregos acreditavam que o sangue da uva era o sangue do deus Dioniso e que, bebendo vinho, comungavam o sangue do deus.

O culto de Dioniso deparava com bastantes dificuldades. Inicialmente, claro, uma certa desconfiança diante do vinho, como está estampado em muitos mitos correspondentes. Tomem, por exemplo, um mito ático que liga a constelação da Virgem ao vinho. De acordo com esse mito, a constelação da Virgem representa Erígone, filha de Ícaro, o qual primeiro acolheu Dioniso na Ática e de quem aprendeu a arte de produzir o vinho. No lugar onde aconteceu aquele encontro brotou a primeira videira e, desde então, a região foi chamada Dioniso.

Quando Ícaro ofereceu esta nova bebida aos simples pastores da região, esses se embriagaram com muito vinho que beberam e pensaram que Ícaro fosse envenená-los. Por isso, caíram sobre ele e o fizeram em pedaços. Somente quando saíram da embriaguez, compreenderam o seu erro e o sepultaram embaixo de um enorme pinheiro cujo tronco pingava, desde então, resina. A esse pinheiro Erígone foi levada pela fiel cadela de Ícaro que, com seu choro, fez saber que o pai dela estava sepultado ali. Então, com o seu cinto aquela se enforcou também no mesmo pinheiro. Zeus decidiu transformar os personagens do mito em constelações, colocando Ícaro na constelação de Boötes (Pastor), Erígone na constelação da Virgem e a cadela fiel na constelação do Grande Cão.

Fonte: na Wikipedia pesquisei  http://el.wikipedia.org/wiki/Σεπτέμβριος    e adicionalmente no site
http://antikleidi.com/2013/09/01/september/ 
 


III.  NOTAS DO AUTOR 



¹  Sugiro que o leitor ouça esta música, disponível no YouTube, no seguinte endereço eletrônico:
Na voz de outros cantores gregos há muitos vídeos disponíveis, a saber: por exemplo, na voz de Christos Karyótis: http://www.youtube.com/watch?v=6UIG7IK7JLI, etc.

Essa canção faz parte de uma coleção de doze canções, intitulada "O pequeno canto festivo", em que cada uma das canções se refere a um dos meses do ano. Os títulos das canções são característicos: o tempo de janeiro, fevereiro das veias, março Marte falou, um abril sensível, maio tem segredos, o sexto mês bom, julho devastador, é agosto, um doce e antigo setembrinho, outubro: bandeira nas sacadas, novembro mês de viagem, louvor a dezembro. Um dia, ainda escreverei um artigo sobre esses conceitos arraigados na mentalidade grega.

²  A distância, em linha reta, de Spata a Koropí é de apenas 8 km. As trilhas dessa região são muito conhecidas pelos ciclistas de todo o mundo.

³  A palavra índictos (fem.) é de origem latina (indictĭo), helenizada, e significa decreto ou edito que era expedido pelos imperadores romanos, com a finalidade de determinarem o montante dos tributos sobre a produção da terra, que os súditos deviam pagar a Roma para o sustento do exército. Esse decreto vigia por quinze anos e isso, porque a cada quinze anos eram exonerados os antigos soldados e eram alistados os novos. Observe-se que o montante dos impostos correspondentes era definido pelo novo poder do exército para o próximo quinzênio. Com o passar do tempo, a palavra índictos (que para simplificar chamarei de índicto) parou de significar apenas decreto, mas queria dizer também o espaço de quinze anos. Assim, começou-se a medir o tempo em quinzênios (primeiro quinzênio, segundo quinzênio, etc.).
O imperador Constantino foi o primeiro a definir a índicto como medida oficial do tempo, em 312 ou 313 D.C., que começava em 1º de setembro, época em que tinha terminado a colheita dos frutos da terra. Essa medida do tempo foi apelidada com o nome de Constantino.
A Igreja adotou esse sistema de medida do tempo e media os anos com a índicto. Assim, o ano eclesiástico começava em 1º de setembro com a Liturgia Divina Patriarcal e Santa Súplica, para que Deus abençoasse o novo ano.
O imperador Justiniano I de Bizâncio, em 537, introduziu a medida por índictos nos documentos estatais e nas decisões jurídicas. Diziam assim: 1º ano de tal índicto, 2º ano de certa índicto, etc.
Com o tempo foram definidas duas espécies de índictos: a antiga romana que começava em 1º de setembro e que Bizâncio seguia, e a papal, que começava em 25 de dezembro e, mais tarde, em 1º de janeiro.
No Ocidente, aos poucos, prevaleceu como início do ano novo o 1º de janeiro, enquanto no Oriente tinha permanecido o 1º de setembro. Essa é a razão por que o 1º de setembro permaneceu até hoje o início do ano eclesiástico, após a consagração do 1º de janeiro como início do ano civil. Observe-se que a Igreja Ortodoxa Grega estabeleceu esse dia para ser lida nos templos a passagem do Evangelho de Lucas que narra a primeira homilia de Cristo na sinagoga de Nazaré (Lc. 4, 16-18).
As índictos são medidas a partir do nascimento de Cristo. Como, porém, a cronologia a partir do nascimento de Cristo vem depois de três anos, para encontrarmos, por exemplo, a índicto de 2013, adicionamos 3 (anos) e dividimos por 15. Assim, 2013 + 3 = 2016 ÷ 15 = 134, e o resto de 6 (anos) significa que nos encontramos no 6º ano da 134ª índicto.

Fonte: http://rosetabooks.wordpress.com/2010/09/01/η-1η-σεπτεμβρίου-ο-ίνδικτος-η-εκκλησία/
 
⁴  Sobre esse assunto tenho duas observações a fazer.
A primeira é que a imperatriz Santa Helena, mãe de Constantino, o primeiro imperador cristão de Roma, ao escavar o lugar onde Jesus fora sepultado em Jerusalém, teria encontrado em 3 de maio de 326 D.C. a cruz na qual Jesus morrera. Esse fato resultou que, no calendário litúrgico da Igreja, fosse comemorada, a partir de então, a "Invenção" da Santa Cruz (em latim, "inventio" significando "descoberta"). O local da descoberta da Santa Cruz foi considerado sagrado e sobre ele foi iniciada a construção da igreja do Santo Sepulcro. Nove anos mais tarde, no dia 14 de setembro de 335 D.C. ocorreu a consagração da Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, ocasião em que a Santa Cruz foi exposta publicamente. A Igreja passou a ter duas datas comemorativas da Santa Cruz: 3 de maio e 14 de setembro. Quando da reforma litúrgica, especialmente após o Concílio Vaticano II, as duas festas foram unificadas em uma única comemoração, prevalecendo a data de 14 de setembro, com o nome de "Exaltação da Santa Cruz". O folclorista são-joanense Prof. Ulisses Passarelli, num e-mail a mim endereçado, escreveu: "Tradicionalmente a festa de maio para o Brasil sempre foi a mais forte e propensa a manifestações espontâneas da cultura popular. Ocorre que, com o Concílio Vaticano I (1870), a diretriz da romanização dos ritos religiosos começou a podar os aspectos folclóricos das festas. O 3 de maio principiou a fracassar, substituído pelo 14 de setembro, uma festa muito mais litúrgica, que, se já existia, não gozava de nenhuma popularidade. Mas a partir dos primeiros anos do século XX ganhou tal força que chegou praticamente a suprimir a festa popular da Invenção da Santa Cruz, que caiu num ocaso crescente. Onde ainda sobrevive é de forma apagada, tocada apenas pelos mais velhos, numa obstinada devoção."

Em segundo lugar, cabe ainda aqui assinalar que CYMBALISTA (2006) relata fato curioso a respeito de relíquias e índios tupinambás, verbis:
"Sobretudo essa propriedade das relíquias — de transportar o que é sagrado — deve ter tido um grande apelo entre os Tupis e outras tribos, cuja cultura baseava-se em um regime de migrações constantes. O capuchinho Claude D'Abbeville relata a dificuldade dos índios Tupinambás em compreender o significado da consagração do território e da consolidação de assentamentos permanentes, ao mesmo tempo em que ficavam fascinados com a ereção de uma cruz na aldeia maranhense de Juniparã e resistentes a abandonar as transferências no local das aldeias:

"Nessa ocasião [de levantamento da cruz], disse Jupiaçu [o chefe] que o único pesar que ele e os seus sentiam era o de terem de abandonar Juniparã e irem residir por cinco ou seis luas num lugar longe daí um quarto ou meia légua (porque costumavam mudar de lugar e de casa de cinco em cinco, ou de seis em seis anos) lamentando todos o deixar a cruz agora erguida. 'Contudo (ele dizia) prometo que, quando sairmos daqui, levaremos a cruz para onde formos no firme propósito de fixarmos residência, e não andarmos como até aqui.' Nós lhes respondemos que não tirassem a Cruz, e que era melhor aí deixá-la como eterna lembrança, e, para consolá-los, que bem podiam fazer outra, que seria benzida pelo padre que com eles viesse morar, e depois levantada, como praticaram com esta." (ABBEVILLE, 2002 [1614], p. 130)

Cf. CYMBALISTA, Renato: Relíquias sagradas e a construção do território cristão na Idade Moderna, Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material,  vol. 14 nº 2 São Paulo jul./dez. 2006
(disponível in http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142006000200002)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

JÚLIO TEIXEIRA NO ATHLETIC CLUB


Por Francisco José dos Santos Braga
 




Tributo à memória de Olga Braga Teixeira (1924-2013), esposa, depositária, guardiã e divulgadora do patrimônio espiritual e documental de Júlio Teixeira.

I.  INTRODUÇÃO


Tenho a satisfação de continuar trazendo aos leitores do Blog do Braga outros elementos sobre a presença marcante de Júlio Teixeira (1918-1994) na vida social são-joanense e traços bem característicos de sua versátil personalidade. Aqui vamos conhecer um pouco de sua atuação na direção e nos bastidores do "Esquadrão de Aço".

Antes de adentrar o assunto propriamente dito, objeto do presente trabalho, acho conveniente lembrar que, em São João del-Rei, seu primeiro clube futebolístico, o Athletic Foot-Ball Club, fundado em 1909 por Omar Telles Barbosa, constituía uma sociedade esportiva, onde se podia praticar o futebol, que já se estava tornando o esporte-moda nas principais metrópoles brasileiras. Conforme BARROS (2010: 4), a primeira crise de público do Athletic Foot-Ball Club "levou seus associados a aprovar uma nova organização do clube em 1913 — ano em que se comemorava o bicentenário da cidade. O nome passou a ser Athletic Club e não mais Athletic Foot-Ball Club ¹ . Isto significava que o atletismo e outras modalidades esportivas, como o vôlei, o basquete e o tênis, seriam apoiadas pela diretoria. Esta mudança estratégica possibilitou a sobrevivência do clube, e o sucesso do próprio futebol local nas décadas seguintes em que passou a ser crescentemente popularizado no País. A Ata da 1ª reunião extraordinária inaugural do Athletic Club, realizada em 10 de agosto de 1913, registra a aprovação unânime de 29 associados ao seguinte texto:
Ser necessária uma reorganização nos estatutos d'este Club, visto como, levando em consideração o progresso sempre crescente d'esta cidade, um centro que vizasse somente o sporte de foot-ball não prehencheria os fins e não alcançaria resultados tão satisfactórios como um outro no qual se tratasse de todos os sportes em geral."
O autor acredita que a fundação do Athletic Foot-Ball Club superdimensionou a estimativa do público são-joanense para o novo esporte (futebol), antes que houvesse as condições locais necessárias para sua sustentabilidade ou sobrevivência. Tendo sido necessária a reorganização do Clube sob a nova denominação de Athletic-Club, para incorporar a decisão estratégica de diversificar as modalidades esportivas e sociais do Clube, de fato o futebol não perdeu terreno, mas passou a conviver com outros esportes enquanto ia se consolidando como um esporte de interesse nacional.

Tendo feito essa pequena digressão para situar a missão do clube esportivo que pretendo apreciar, retorno a meu foco principal que é analisar a presença de Júlio Teixeira (ou Sr. "Julinho", como era conhecido) nesse Clube. A minha principal fonte de consulta para este trabalho é o livro "Historiando o Esquadrão de Aço", da autoria de Astrogildo Assis, bem como o acervo da família de Júlio Teixeira que preserva fatos ligados à passagem do meu biografado por diversas instituições de São João del-Rei.

A título de informação sobre a origem desse livro, antes do Prefácio assinado por Álvaro Vianna Filho, o autor, ASSIS (1985: 3), que era membro do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, bem como do Instituto Brasileiro de Estudos Sociais de São Paulo, atribuiu a ideia de registrar num livro os fastos do Alvi-negro são-joanense a uma sugestão do Dr. Euclides Garcia de Lima Filho (Dr. "Tidinho"), discursando em sessão solene do Conselho Deliberativo do Athletic-Club, realizada em 27 de junho de 1979 (quando o Athletic Club completava seu 70º aniversário), destinada a dar posse à nova Diretoria do Clube, cujo presidente eleito era Dr. Dario Ratton Monteiro, sendo o próprio Dr. Euclides membro daquela Diretoria empossanda e vice-prefeito do Município de São João del-Rei. Foi naquela memorável sessão solene, que Dr. Euclides, ao finalizar seu discurso, declarou que
"a história athleticana jamais poderia ficar restrita a pequenos folhetos. Ela deveria ser narrada em volumosa obra, a fim de fazer a história do nosso Athletic estar presente no futuro, participando de nossas bibliotecas, para o deleite de toda família alvi-negra, sanjoanenses e demais pessoas amigas. Então, solenemente solicitava do companheiro de luta Cap. Astrogildo Assis, que, na qualidade de militar, desse ordem de "reunir" para tudo que ele já escrevera sobre o Athletic-Club, e desse a estes escritos a forma respeitável de livro, e que ele com os demais ex-presidentes do Athletic-Club se encarregariam de providenciar a edição da obra e, bem assim, da parte financeira. Foi assim que nasceu o projeto do livro em questão, "Historiando o Esquadrão de Aço", o qual demandaria mais seis anos antes de vir a lume, cobrindo 75 anos da história do Clube."
No seu livro, ASSIS (1985: 77-78) relata que essa compilação de material a respeito do Athletic-Club já tinha sido iniciada pelo menos quinze anos antes. De fato, na época em que exercera o cargo de presidente do Conselho Deliberativo do Athletic-Club para o biênio 1964/65, informou que "pela secretaria do Athletic foi organizado um intensivo trabalho de levantamento através do arquivo, pelo qual foram relacionados todos os sócios: fundadores, honorários, beneméritos; todas as taças e troféus conquistados pelo Clube durante toda a sua existência de lutas e glórias." Também ali relata como apresentou as instruções para confecção da Bandeira e do Emblema do Athletic, que passaram a fazer parte dos Estatutos do Clube.
Mais tarde, em reunião do Conselho Deliberativo de 4/6/1979, em que foi eleita, por aclamação, nova diretoria do Athletic-Club para o biênio 1979/1981, o próprio ASSIS (p. 99) informa que "ainda nesta sessão fez uso da palavra o conselheiro Astrogildo Assis, que fez um relato de todas as atividades do Athletic-Club durante os seus 70 anos, numa retrospectiva de todos os eventos desde sua fundação."

Como o personagem central de meu estudo aqui é Júlio Teixeira, darei destaque apenas àqueles fatos que envolvem essa figura admirável dentro do seu querido Athletic-Club. Quando estabeleço que o foco do meu estudo serão os anos que Júlio Teixeira passou defendendo as cores alvi-negras do seu jeito, sempre meigo e afetuoso, ouvindo sempre e realizando mais ainda, espero, com essa atitude, não estar magoando ilustres fundadores, presidentes, conselheiros e diretores do Athletic-Club, todos merecedores de meu respeito e minhas homenagens.  É claro que outros também o fizeram com muito denodo, amor e dedicação às cores "preta" e "branca".

Neste trabalho são respeitadas a redação e a grafia dos autores citados na bibliografia.



II. JÚLIO TEIXEIRA COMO VICE-PRESIDENTE, TESOUREIRO, DIRETOR E  CONSELHEIRO  DO ATHLETIC-CLUB (segundo Astrogildo Assis)



ASSIS (1985: 60) menciona, pela primeira vez, nome de Júlio Teixeira, quando o Dr. Euclides Garcia de Lima, o "velho Garcia", reeleito presidente empossado do Clube em 31/12/1951, usou da palavra para agradecer sua reeleição e deu a conhecer o seu relatório de fim do mandato, onde fazia elogio a seus colaboradores principais, nos seguintes termos:
"Pela quarta vez consecutiva em cerca de três anos e meio à frente dos destinos de nosso querido e glorioso Athletic, tenho a honra de apresentar-me à vossa presença (Conselho Deliberativo) para prestar-vos contas da gestão da diretoria no exercício do ano de 1951. Sejam as minhas palavras de louvor e agradecimento a este egrégio Conselho e aos meus incansáveis companheiros de diretoria, Altamir Ottoni, Antônio Augusto Pimenta, Júlio Teixeira, Álvaro de Almeida Neto, José Hilário Viegas e Mário Senna, que emprestaram todo apoio e toda a sua colaboração na árdua tarefa de gerir os negócios athleticanos. Cumpre-me destacar de maneira especial a cooperação valiosa de Ary Ferreira Malta — meu ministro sem pasta — e de José Alcyr Torga — contador do Clube — (...). Devo realçar nesta oportunidade os nomes de Antônio Veloso, Jesus Tolentino, José Batista dos Santos e João B. Gomes (...)."

ASSIS (1985: 63-64) registra novamente o nome de Júlio Teixeira, quando o presidente Dr. Euclides Garcia de Lima deu conhecimento das atividades de sua diretoria no ano de 1954 através de um detalhado relatório de fim de mandato, em sessão do Conselho Deliberativo (em data não especificada, mas provavelmente em fins de dezembro de 1954): "(...) Cumpre-me ainda uma vez agradecer a cooperação deste Conselho, de todos os meus consócios e, principalmente, dos meus companheiros de diretoria, Dr. Sebastião Lara, Júlio Teixeira, Jader Hudson, José Cândido de Almeida, Odilon de Oliveira, Antônio Josino de Andrade Reis, Joaquim Pimentel Arantes e Ademar de Paula Rodrigues que tudo fizeram pela eficiência da minha gestão e pela grandeza do Athletic. (...)"

No dia 26/11/1955, faleceu repentinamente Dr. Euclides Garcia de Lima, o "velho Garcia", patrimônio moral do Athletic-Club, quando completava seu sexto mandato como presidente do Clube. Assumiu a presidência do Clube o secretário Dr. Pedro de Souza, tendo em vista o impedimento do vice-presidente Dr. Antônio Josino de Andrade Reis. O Conselho Deliberativo, reunido em 31/12/1955, deu posse a Dr. Pedro de Souza e na vice-presidência o Sr. Sílvio Assis, para o biênio 1956/57. ASSIS (1985: 67-68) assim descreve a crise enfrentada pelo presidente Dr. Pedro de Souza: "Estava novamente em crise a direção athleticana, Diretores faltando a reuniões, situação financeira em estado precário, não havia inscrição dos bens patrimoniais, tendo ainda o presidente Dr. Pedro de Souza informado ao Conselho Deliberativo, o péssimo estado dos autos-lotações de propriedade do Clube, opinando para a venda dos mesmos, e que já tinha uma oferta de Cr$ 360.000,00 pelo melhor veículo. Acrescentou que o Clube tinha no Banco de Crédito Real uma letra de Cr$ 30.000,00 com cuja reforma aquele estabelecimento bancário não concordou. E fazia, naquele momento, um apelo ao Conselho no sentido de ser-lhe paga essa importância, logo que efetuasse a venda do auto-lotação." Parece que o Conselho não concordou com a referida venda, tanto que o Sr. Pedro de Souza, "tendo apresentado em caráter irrevogável a sua renúncia ao cargo de presidente do Athletic, ficou, porém, à disposição do do Conselho Deliberativo e do Conselho Fiscal para prestar os esclarecimentos que julgassem necessários à sua tomada de contas."

ASSIS relata ainda que
"em consequência foi, no dia 12/7/1957, realizada a reunião na qual houve muitos debates e a indicação de várias chapas e até mesmo eleição (...). Em princípio foi apresentada a chapa Sr. Álvaro Neto para presidente e Sílvio Assis para vice-presidente, que não foi aceita pelos indicados. Foi então apresentada nova chapa, Dr. Cid Rangel como presidente e Dr. (Francisco) Diomedes Garcia de Lima como vice-presidente, que também não foi aceita pelos indicados. Em seguida veio logo outra chapa: Dario Monteiro e Sílvio Assis. Esta chapa também foi declinada por motivos respeitáveis. Finalmente, o presidente do Conselho apresentou a chapa Sr. Júlio Teixeira e Dr. (Francisco) Diomedes Garcia de Lima. A feliz indicação foi recebida pelo Conselho, com grande júbilo e entusiasmo. Tendo o presidente do Conselho anunciado que ia proceder à eleição, a qual foi realizada e indicou para presidente do Athletic-Club o Sr. Júlio Teixeira e para vice-presidente Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima. Foram comunicados os dois eleitos acerca da decisão do Conselho e de sua eleição, mas houve a recusa pelos eleitos para os cargos indicados. Em 17/7/1957, o Conselho se reuniu novamente, havendo o presidente Dario Monteiro proposto nova eleição imediata, com os nomes do Dr. Diomedes para presidente e do Sr. Júlio Teixeira para vice-presidente. Procedida a eleição foram os nomes acima eleitos nos respectivos cargos, e na mesma sessão foram ambos empossados. O presidente Dr. Diomedes ainda escolheu os seguintes associados para seus auxiliares: Sr. Alfredo Pereira de Carvalho como diretor de Esporte Especializado e Cap. Astrogildo Assis na direção do futebol, o que foi aprovado por intensa salva de palmas."
A seguir, ASSIS (1985: 69-70) continua seu relato, informando que "em 31/12/1957, foi reeleito no cargo de presidente do Athletic-Club o Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima." Então ficamos sabendo que o Sr. Júlio Teixeira assumiu a tesouraria do Clube: "Embarcou com destino à Capital Mineira a comissão do Athletic, composta do presidente Dr. Diomedes Garcia de Lima, tesoureiro Júlio Teixeira e do secretário Décio Leite Guimarães, com a missão de se avistar com o Governador do Estado, a fim de conseguir a liberação da verba de CR$ 125.000,00, que estava presa na Diretoria de Esportes, e bem assim solicitar um auxílio substancial para o Athletic, sendo que a comissão recebeu durante a permanência no Palácio do Governo de Minas, excelente acolhida, e o Governador prometeu atender todas as solicitações da comissão."

Além disso, quanto à construção da nova sede social, ASSIS (1985: 70) faz a seguinte anotação:
"Foi o presidente Diomedes o campeão da sede nova, pois foi em sua gestão fomentada a idéia da construção de uma nova sede para o Athletic, e ficou definitivamente assentada a compra do terreno para a grande realização: a sede! O terreno achava-se localizado à Avenida Tiradentes, esquina com a Rua Alfredo Ratton, de propriedade do Sr. José Carlos das Neves. Era a idéia concretizar, desse modo, mais um velho e acalentado sonho, não só da Diretoria, como também de toda a família athleticana. O pagamento do terreno em questão seria feito através da subscrição de 'quotas' de sócio proprietário da dita sede, e, com um plano bem orientado, a Diretoria do Clube foi providenciando, com grande sucesso, a venda das cotas de sócios proprietários com grande interesse e receptividade." (grifo meu)
A seguir, ASSIS dá breve notícia sobre as festividades de comemoração do Jubileu de Ouro (1909-1959) do Athletic-Club:
"Foi mesmo um trabalho insano dos dirigentes do Athletic essa questão de subscrição de cotas de sócios proprietários, e, mesmo com toda labuta, não se descuidaram dos preparativos para as festividades do cinquentenário do Clube. Vários ofícios foram expedidos, sendo um deles dirigido ao Dr. Fábio Nelson Guimarães, hoje distinto presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, convidando-o para exercer o cargo de encarregado dos serviços de propaganda das festividades. No mesmo ofício solicitava a sua presença às reuniões da Diretoria, a fim de que ficasse inteirado dos projetos e programas que estavam sendo elaborados pelas diversas comissões, para o cinquentenário de fundação do clube que deveria ser realizado em 27/6/1959." (grifo meu)
O nome de Júlio Teixeira figura ao lado do Ten. Antônio do Santos, Sr. José Alcy Torga, Sr. Murilo Romeiro, Sr. Álvaro Neto e Sr. João Evangelista Resende Filho, na Comissão de Finanças, presidida pelo Sr. Júlio Mário Mourão.

Há outra referência elogiosa a Júlio Teixeira em ASSIS (1985: 81), por ocasião da reunião do Conselho Deliberativo realizada em 6/1/1968, quando foi aclamado para presidente o Sr. Sílvio Assis. Após a palavra do presidente, o então
"presidente do Conselho Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima disse que em 1957... teve a felicidade de encontrar na vice-presidência o dinâmico athleticano Sr. Júlio Teixeira, o qual considera uma das colunas onde se assentou a viga mestra de sua gestão, e, em conseqüência, a facilidade de se desincumbir de tão complexa missão, qual a de presidir os destinos do Athletic-Club. Agora encontro-me à frente do Conselho Deliberativo deste grande Clube, e como em 1957, ao lado de Júlio Teixeira e de companheiros forjados na mesma têmpera dos grandes athleticanos do passado. Acabamos de dar posse à nova diretoria que vai conduzir o nosso Clube no biênio 1968/69; resta-nos desejar ao presidente Sr. Sílvio Assis e seus entusiásticos companheiros uma feliz gestão para a felicidade do nosso Clube, para a nossa própria felicidade." (grifo meu)
Mas Júlio Teixeira nem sempre passou pela vida em brancas nuvens, como relata ASSIS (1985: 86): "Em reunião da diretoria de 12/6/1969, com a presença do presidente Sílvio Assis, o diretor Júlio Teixeira fez um relato do andamento das obras no Estádio Joaquim Portugal, comunicando que para o término da arquibancada orçaram em CR$ 10.000,00. Discutido o assunto, a diretoria decidiu fazer uma pequena parada na referida obra, dado a vultosa quantia a ser gasta, e o Clube no momento não estar em condições."

Mas seus colegas da diretoria sabiam muito bem que Júlio Teixeira tinha grande experiência no mundo financeiro, pois chegara a Gerente do Banco de Crédito Real desta cidade pelos seus enormes méritos e por sua capacidade administrativa, qualidades reconhecidas por todos os são-joanenses e relembradas por ASSIS (1985: 88-89), conforme segue:
"O diretor Júlio Teixeira, sempre atento a tudo que diz respeito ao engrandecimento do Athletic, deu conhecimento à diretoria, de que teve notícia que estava à venda uma grande área de terreno, a qual estava destinada a construção do 'Lenheiro Country Clube', em cuja área já foram construídas as piscinas previstas, campo de voley, basquete, etc., e que aconselharia a diretoria a se interessar pela compra, uma vez que se trata de assunto de capital importância para o aumento do patrimônio do Clube, fato que trará, dentro em breve, excelentes benefícios para o mesmo."
E continuou mais embaixo:
"Imediatamente uma comissão athleticana composta dos Srs. Mauro Pinto de Moraes, Pedro de Souza, Sílvio Assis, Astrogildo Assis, Júlio Teixeira, Maurílio do Nascimento Teixeira, Rômulo Ferreira Alves, Pedro Farnese e Antonio do Sacramento Torga Filho compareceu à área do terreno em questão, e todos constataram que a compra seria um ótimo negócio para o Athletic-Club, pois na área descrita no ofício já se encontravam construídas as seguintes obras: piscina para adulto e infantil, campo de basquete, campo de voley, e uma sede; demarcação para campo de tênis e maquinário para tratamento de água. 
Foi ainda o diretor Júlio Teixeira que apresentou um plano para levantamento da importância para a compra do terreno e suas benfeitorias. Sendo então aprovado por todos os conselheiros dar ampla liberdade à diretoria, de estudar com mais detalhe o assunto e proceder de acordo com a sua vontade: 'Comprar ou não o terreno'.
Depois de vários debates foi pela diretoria decidido a compra do terreno a qual foi realizada pelo preço de CR$ 125.000,00, e aprovada pelo Conselho Deliberativo. Foi esta a transação de maior vulto até então feita por uma sociedade esportiva em São João del-Rei." (grifo meu)
ASSIS (1985: 146) ainda registra o nome de Júlio Teixeira como membro efetivo do Conselho Fiscal do Athletic-Club, ladeado por Álvaro Augusto Vianna e Roberto Silva, por ocasião da MILÉSIMA PARTIDA OFICIAL DE FUTEBOL do Athletic-Club, ocorrida em 8 de maio de 1977. Segundo ASSIS (1985: 147), "o time adversário desta MILÉSIMA PARTIDA foi o Siderúrgica F. C. da cidade e o resultado da peleja foi favorável ao Athletic pelo escore de 2 x 1."

Júlio Teixeira trabalhou em prol do Athletic-Club até seu último dia de vida. Mesmo adoentado, prestava sua colaboração participando ativamente de toda campanha em benefício do Clube. Após seu falecimento em 17/02/1994, é comum alguém que o conheceu muito de perto prestar-lhe alguma homenagem. Foi o caso do fotógrafo Afonso Nogueira, que lembrou a luta do Sr. Julinho para elevar o nome de seu querido Clube em sua "Coluna do Afonso", no Informativo Athletic Club nº 44, de março de 1997, p. 4, com as seguintes palavras:
"O saudoso athleticano Júlio Teixeira, que tanto ajudou o Athletic durante toda a sua vida, nunca foi presidente do Clube. Mas é bom frisar que não foi por falta de inúmeros convites, que sempre gentilmente recusava. Julinho gostava de trabalhar nos bastidores com modéstia e discrição. Seu trabalho e sua habilidade contribuíram muito para elevar o nome do Athletic. O nome Júlio Teixeira será sempre guardado na história do Clube, do qual recebeu justas e merecidas homenagens após seu falecimento."
Por todas essas ações aqui declinadas em que transparece o carisma inconfundível de Júlio Teixeira, considero natural que seu nome se ache inscrito entre os SÓCIOS BENEMÉRITOS do Clube, para que nós, atleticanos ou não, lhe prestemos justas homenagens.


III. Homenagens prestadas a Júlio Teixeira por outros são-joanenses



O Clube são-joanense não laborou em grave erro, como acontece com tantos outros clubes brasileiros, esquecendo seus grandes baluartes, homens que dedicaram grande parte de sua vida ao seu engrandecimento e à conquista de suas glórias. O Athletic-Club são-joanense foi exemplar, quando nomeou o seu campo de futebol "Joaquim Portugal", à sua Praça de Esportes "Antônio Ottoni Sobrinho" e à sede social "Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima". Ao preservar a memória de Júlio Teixeira fazendo nomear o 2º andar da sede social "Salão Nobre Júlio Teixeira" ² — o salão principal onde acontecem os principais eventos do Clube, — revela quão importante foi a passagem de Júlio Teixeira por seus principais quadros. Neste salão, com capacidade para 700 pessoas são realizadas as solenidades das eleições, da posse das diretorias e das assembleias. Também ali ocorrem os grandes bailes de réveillon, do Hawaii abrindo a  temporada de carnaval, de aleluia e das mães, entre outros, que proporcionam verdadeiros espetáculos de som, luz e muita emoção aos athleticanos que deles participam entusiasmados.

Finalmente, acho que não seria justo silenciar-me sobre as justas homenagens que foram prestadas a Júlio Teixeira por quantos conheceram de perto sua luta em prol do engrandecimento do Clube.
O primeiro elogio partiu do conselheiro do Athletic, Ivis Bento de Lima, que, por ocasião do 85º aniversário do Athletic-Club, assim se manifestou em honra ao homenageado Júlio Teixeira, com quem tivera longa convivência seja como funcionário e colega no Banco de Crédito Real, seja como estudante na Fundação Municipal de São João del-Rei, na época em que aquele desempenhava respectivamente as funções de gerente e de diretor executivo:

"Senhoras e Senhores,
Coube-me a honra de saudar o homenageado Sr. Júlio Teixeira.
Missão fácil, considerando que o meu conhecimento e amizade com o Sr. Júlio dura mais de 25 anos. 
Falar do homenageado no campo familiar é dispensável, pois todos nós sabemos do esposo, pai e sogro exemplar que sempre foi. No campo profissional sempre se destacou tendo o respeito e admiração com aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
No campo da sociedade, sim, podemos falar dos seus feitos.
Presente em todos os segmentos da sociedade, quer na filantropia, quer no esporte, quer na religião.
Membro ativo nos Conselhos do Hospital N. Sra. das Mercês, Santa Casa da Misericórdia, Fundação Municipal de São João del-Rei (hoje FUNREI), Confraria do Senhor dos Passos, Conselho Curador da Paróquia Nossa Senhora do Pilar e, principalmente, neste nosso Clube, onde possui obras e decisões tomadas que mudaram os fumos desta Organização. Possui decisões na Praça de Esportes, no futebol e nesta mesma Sede.
Falaria aqui horas e horas exaltando os seus feitos, porém sei que seria inútil, pois todos nós já o conhecemos e conhecemos também o seu trabalho.
Hoje o Athletic reconhece que devia ao Sr. esta homenagem. Este salão, que terá o seu nome, será sempre tão grande e importante para nós athleticanos, como importante foi o Sr.
E neste momento, gostaria de, em nome do Athletic-Club, convidar a todos a adentrarem esse salão, ficarem à vontade, pois este salão é idêntico ao coração de nosso homenageado, grande e acolhedor.
Que nos sintamos em nossa casa, pois este seu grande coração sempre foi um palco de amor, sinceridade, franqueza, trabalho e honestidade!
Que seja este salão o nosso ponto de encontro com o nosso amigo, que está hoje ao lado de Deus, mas estará aqui sempre presente ao lado dos athleticanos!
Obrigado, Sr. Júlio Teixeira!"
Ass.:  Ivis Bento de Lima

No dia 29 de junho de 1994, após a cerimônia de descerramento da placa que dava o nome de Salão Nobre Júlio Teixeira ao segundo andar da sede social do Athletic-Club, Edson de Assis Coelho, genro do homenageado, tomou a palavra para fazer um agradecimento em nome da família de Júlio Teixeira, ali tão bem representada:

"Exmos. Senhores Presidente do Conselho Deliberativo, Dr. Flávio Costa Gonçalves, e do Athletic Club, Sr. Renato Luiz Baccarini Filho,
Exmos. Senhores Membros do nosso Conselho e Diretores desta Casa,
Exmas autoridades civis, militares e religiosas aqui presentes ou representadas,
Senhoras e senhores, irmãos athleticanos:
Cumpre-me neste momento a realização de tarefa das mais difíceis, porém das mais prazerosas de minha vida. Difícil, pois me falta o dom da oratória, prazerosa pois sem dúvida trata-se de prestar agradecimentos, em nome de quem aprendi a admirar, e a quem ele amou e amamos: o nosso glorioso Athletic Club. Em meu nome particular e no de toda a família de Júlio Teixeira, aproveito esta oportunidade ímpar para rememorarmos passagens entre Athletic e Júlio Teixeira, que por si só se confundem numa mesma coisa. Para tanto, solicito a permissão do grande historiador Cap. Astrogildo Assis, para buscar em seu "Historiando o Esquadrão de Aço", relatar fatos que profundamente marcaram este relacionamento.
Já em 1951, reeleito para o cargo de presidente do Athletic Club, Dr. Euclides Garcia de Lima, em sessão solene de posse realizada, depois de agradecer sua reeleição, abordou a situação financeira do Clube, em face dos grandes encargos que sobre ele pesavam no momento. Todavia disse o provecto presidente: "Esta situação é transitória; brevemente ela será alijada e os athleticanos terão o ensejo de ver as obras, em via de conclusão: empreendidas com grande soma de trabalho, não constituirão, somente, uma glória para o nosso Clube, mas também um orgulho para São João del-Rei." Naturalmente que se referia às obras no Estádio Joaquim Portugal e na Praça de Esportes Antônio Ottoni Sobrinho. E, em seu relatório de fim de mandato, o presidente Garcia de Lima informa: "Pela quarta vez consecutiva em cerca de três anos e meio à frente dos destinos de nosso querido e glorioso Athletic, tenho a honra de apresentar-me à vossa presença (Conselho Deliberativo) para prestar-vos contas da gestão da diretoria no exercício do ano de 1951. Sejam as minhas palavras de louvor e agradecimento a este egrégio Conselho e aos meus incansáveis companheiros de diretoria, Altamir Ottoni, Antônio Augusto Pimenta, Júlio Teixeira, Álvaro de Almeida Neto, José Hilário Viegas e Mário Senna, que emprestaram todo o apoio e toda a sua colaboração na árdua tarefa de gerir os negócios athleticanos. (...)"
Convivi por muitos anos com o amigo e sogro Júlio Teixeira. Conhecia bem seu jeito de ser. Era homem de grande potencial de trabalho, porém jamais pretendeu sobressair-se no que fazia.
Permitam-me enumerar alguns fatos de sua vida pessoal. Casado com D. Olga Braga Teixeira, com quem teve cinco filhas, galgou todos os cargos possíveis na Agência do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, aposentando-se como gerente da agência local. Ao aposentar-se, não permitiu que sua grande capacidade de trabalho não fosse colocada a serviço da cidade que tanto amou. Assim é que, junto com outros companheiros, forjados na mesma têmpera, abraçou com grande carinho os primeiros passos na criação e funcionamento da então Fundação Municipal de São João del-Rei. Ali, junto com o saudoso Marechal Ciro do Espírito Santo Cardoso, prestou seu trabalho, incansável e generoso, sem nenhuma remuneração por nove anos e meio. Afastando-se por sua vontade própria, após apresentar minucioso relatório da vida financeira daquela entidade, quis voltar seu trabalho para os menos favorecidos. E aí estão as Obras Sociais da Catedral do Pilar e o Albergue Santo Antônio.
Mas tudo isto feito de maneira desprendida, sem nenhuma vaidade, só com o pensamento em servir. E tudo isto quis aqui relatar para também justificar seu trabalho aqui nesta Casa. Pois em 1957, após muitos debates e indicações de várias chapas e até mesmo eleição, não chegou o Conselho ao ponto desejado. Finalmente, o presidente do Conselho apresentou a chapa Júlio Teixeira e Dr. Diomedes Garcia de Lima. A feliz indicação foi recebida com grande júbilo e entusiasmo, tendo o presidente anunciado que iria proceder logo à eleição, a qual foi realizada e homologada por unanimidade. Mas, como era de sua índole, Júlio Teixeira colocou-se à disposição do Clube, porém declinou da honrosa escolha. E, na reunião do Conselho, realizada em 17 de maio de 1959, finalmente foram empossados os Srs. Diomedes para presidente e Júlio Teixeira como vice-presidente.
Muitos fatos importantes sucederam a esta posse. Não cabe aqui a todos enumerar, porém um não podemos deixar de relatar.
Com o testemunho de D. Olga, num domingo de carnaval, Júlio Teixeira foi procurado em sua casa pelo Dr. Diomedes e travou-se calorosa conversa entre eles, constatando que não seria mais possível conviver com o fato de ter o co-irmão Minas Futebol Clube estar realizando grandes bailes carnavalescos em sua majestosa sede denominada efusivamente como "Salão dos Espelhos" e o nosso Athletic Club manter-se em suas acanhadas instalações. Nascia aí esta magnífica sede. A semente estava plantada. Mangas foram arregaçadas e em reunião do dia 6 de outubro de 1959 foi organizada a Comissão de Construção da nova sede. E, com o trabalho às vezes anônimo de muitos, este sonho foi concluído. E, em reunião do Conselho Deliberativo, realizada em 6/1/1968, usando a palavra o então presidente do Conselho Dr. Diomedes "disse que, em 1957, ficou surpreso com a notícia de que tinha sido eleito presidente do Athletic, (...) pois naquela ocasião estava alheio às coisas de esporte e mesmo de administração de uma sociedade. (...) Mas motivos imperiosos obrigaram-no a aceitar o cargo. Acontece que teve", segundo suas próprias palavras, "a felicidade de encontrar na vice-presidência o dinâmico athleticano Sr. Júlio Teixeira, o qual considera uma das colunas onde se assentou a viga mestra de sua gestão e, em consequência, a facilidade de se desimcumbir de tão complexa missão (...)."
Vários outros episódios poderiam aqui ser narrados. Mas o momento é mais de agradecimentos.
Em primeiro lugar, agradecer a todo o Departamento de Futebol, do presidente ao roupeiro, pois Júlio Teixeira, já com sua enfermidade agravada, recebeu, por meu intermédio, a alviáreira notícia da conquista do título do ano de 1993, com grande júbilo e alegria. 
Posso afirmar, com toda a convicção, que foi esta a imagem vitoriosa que ele guardou do seu querido Athletic Club.
Na fatalidade de seu passamento, num momento de dor para toda a sua família, jamais esqueceremos a homenagem prestada pelo Athletic Club, quando sua diretoria tudo fez a fim de que seu corpo fosse velado pelos amigos e por grande parte da família athleticana e partisse para o túmulo saindo do coração do Clube que ele tanto amou.
Caros Athleticanos,
Nada é conhecido que mais possa enobrecer um homem, que mais lhe possa sobredurar o nome e fazê-lo digno das gerações futuras, do que reconhecer os feitos e escrevê-los com letras profundas na história de uma sociedade.
E é por isto que aqui nos encontramos. Somente para agradecer.
Agradecer a Deus por nos tê-lo dado.
Agradecer a Júlio Teixeira, pelo seu desempenho como marido, pai, sogro, irmão, avô, como ser humano que soube ser.
E agradecer principalmente a este querido Clube que tão generosamente soube reconhecer seu valor, homenageando-o nesta data.
Seremos eternamente gratos e podemos ter a plena certeza de que, lá de cima, junto de Deus, Júlio Teixeira continuará, para sempre, a zelar pelas coisas alvi-negras.
Muito obrigado e que Deus proteja a todos nós!"
Ass.: Edson de Assis Coelho

Em artigo intitulado "Brilhantes comemorações Athleticanas nos seus 85 anos", publicado na Tribuna Sanjoanense, edição nº 767, de 26 de julho de 1994, p. 4, José Tadeu de Resende assim se expressou: "O Athletic Club comemorou, no dia 29 de junho 85 anos de fundação e para festejar este aniversário, programou uma série de atividades. Primeiramente, foi rezada uma Missa Festiva, às 19:30 horas, na Capela da Santa Casa, e logo após, na majestosa Sede Social, localizada na Avenida Tiradentes, as justas homenagens aos dois athleticanos, falecidos, que honraram as cores alvinegras, Diomedes Garcia de Lima e Júlio Teixeira, batalhadores incansáveis não apenas para a família athleticana mas para toda a sociedade sanjoanense e região, e, na ocasião, oficializou-se denominar doravante "Sede Social Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima" e "Salão Nobre Júlio Teixeira", e os dois oradores foram os Drs. Ivan Assunção e Euclides Garcia de Lima. (...)."

Finalmente, no dia 24 de junho de 2009, isto é, na semana em que o Athletic-Club completava o seu primeiro centenário de profícua existência em favor de São João del-Rei, assim se manifestou o Presidente do Conselho Deliberativo do Clube, Carlos Antônio Neves Teixeira:

"Ilmo. Sr. Presidente,
Finalmente o Centenário...
Como athleticanos, recebemos, com satisfação, exemplar da "Revista do Athletic 100", edição nº 2, ano I, datada de abril de 2009.
Causou-nos, porém, surpresa a matéria publicada às páginas 18/19, intitulada "Uma vida alvinegra — amor e dedicação ao Athletic-Club", notadamente quanto à fotografia colacionada na parte superior da página 19.
Pretendia tal fotografia demonstrar reconhecimento a diretores do Clube centenário, nomes-baluartes desta Associação. Mas a publicação nos causou sentimento bastante contrário.
Relutamos em nos manifestar, relembrando-nos de uma das principais características de Júlio Teixeira: fazer — sempre; dar publicidade aos feitos — jamais!
Entretanto, um misto de indignação e ofensa nos impeliu a essas palavras. E é nesse sentido que elas serão expressas.
A fotografia colacionada à página 19 estampou uma reunião da diretoria do Clube, realizada em 1959, declinando o nome dos diretores: Vicente de Paula Torga Carvalho, Antônio dos Santos, Jozélio Teixeira, Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima, José Hilário, Elias Nicolau e Murilo Romeiro.
O "renomeado" Jozélio Teixeira é, na realidade, o Sr. Júlio Teixeira, que tanto amou e trabalhou pelo Athletic-Club.
O mesmo Júlio Teixeira que recebeu deste Clube grandes homenagens: quando de seu falecimento teve a Sede Social como último pouso nesta terra (velório realizado em 17/02/1994) e hoje dá nome ao Salão Nobre do Clube.
O mesmo Júlio Teixeira, que, em um domingo chuvoso de carnaval, nos idos de 1958, viu bater à sua porta o amigo e athleticano Dr. Diomedes, ressentido com o sucesso do baile realizado pelo arquirrival no recém-inaugurado e ainda imponente "Salão dos Espelhos". E compelido por Dr. Diomedes, saíram ambos, com um livro de ouro debaixo dos braços, batendo de porta em porta, conclamando os athleticanos e os amigos a contribuírem para a construção do embrião do que hoje é a Sede Social.
Naquele domingo chuvoso de carnaval, deu-se início à construção deste patrimônio, tão ímpar e tão invejado! Numa época em que não se trabalhava por voluntariado, se trabalhava por amor, essa inexplicável paixão athleticana.
Como divulgou Afonso Nogueira, na Coluna do Afonso, no Informativo do Athletic-Club, nº 44, março de 1997: "o saudoso athleticano Júlio Teixeira, que tanto ajudou o Athletic durante toda a sua vida, nunca foi presidente do Clube. Mas é bom frisar que não foi por falta de inúmeros convites, que sempre gentilmente recusava. Julinho gostava de trabalhar nos bastidores com modéstia e discrição. Seu trabalho e sua habilidade contribuíram muito para elevar o nome do Athletic. (...)"
E assim era Júlio Teixeira. E foi assim, com desprendimento e sem qualquer pretensão, que amou e trabalhou por seu Clube de coração. É assim que se fazem os grandes beneméritos, embora, não raro, vaidades terceiras tentem fazer esquecê-los.
Em que pese fosse da índole de Júlio Teixeira silenciar-se sobre seus feitos, não podíamos nos calar diante do erro cometido na já citada matéria.
Inquestionável que a "Revista do Athletic 100" tenha primado pela beleza e modernidade estéticas. Sentimo-nos, entretanto, pesarosos de que a modernidade e as inovações façam esquecer o passado e sua própria história, que a plasticidade da reportagem tenha sobressaído à veracidade de seus personagens.
Que este centenário e suas comemorações não sejam apenas fatos para ficar na memória sanjoanense, mas sejam fatos para perpetuar essa história centenária, ressaltando e enobrecendo os inúmeros apaixonados athleticanos que a fizeram.
E que aqueles que se aventuram a narrar essa história — o que se faz improvável porque paixão não se narra — se acautelem quanto a fatos e seus personagens, evitando equívocos quanto àqueles, pelo menos a nós, são caros.
Crendo que o equívoco tenha passado despercebido por essa Diretoria, subscrevemo-nos, expressando nossos sinceros cumprimentos pela passagem deste primeiro centenário, desejando que a história e o Clube se perpetuem."
Ass.: Carlos Antônio Neves Teixeira



IV. NOTAS DO AUTOR


¹  O pesquisador Prof. Aluízio Antônio de Barros, que leu atentamente todas as atas do Clube até 1916, a partir da "Acta da 1ª sessão extraordinaria inaugural do 'Athletic Club' realisada no dia 10 de agosto de 1913", informou-me que o nome original do Clube era Athletic Foot-Ball Club, e não Athlético, como erroneamente se apregoa. Portanto, segundo ele, o Clube foi fundado em 1909 com o nome de Athletic Foot-Ball Club e, em 1913, houve uma reorganização dos estatutos alterando a denominação para Athletic Club.

²  O Informativo Athletic nº 25, de junho/1994, p. 4, estampou o seguinte informe: No dia 29 de junho homenagearemos dois grandes baluartes do Clube. Com isso nossa Sede Social receberá o nome "Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima" e o nosso Salão Nobre o do "Sr. Júlio Teixeira". 

Uma semana antes de a homenagem ser prestada à memória de Júlio Teixeira, sua viúva Olga Braga Teixeira recebeu a seguinte correspondência do Athletic-Club:
"São João del-Rei, 22 de junho de 1994
Ilma. Sra.
Olga Braga Teixeira
NESTA

Prezada Senhora,
A Diretoria do Athletic-Club tem a grata satisfação de convidar V. S. e Exma. Família para a solenidade de descerramento da placa que denominará o Salão Nobre de nossa Sede Social de "Salão Nobre Júlio Teixeira", nas comemorações do 85º ano de fundação do Clube no dia 29 de junho de 1994, às vinte horas e trinta minutos.
Certos da presença de V. S. e Exma. Família, agradecemos antecipadamente o obséquio da atenção e firmamo-nos
Atenciosamente
Ass.: Renato Luiz Baccarini Filho
Presidente"

O Informativo nº 26, de agosto/1994, p. 2, noticiou a homenagem que foi prestada aos dois beneméritos, com o seguinte título: "Diretoria e Conselho: Grande Festa nos 85 anos do Athletic", acompanhado do seguinte texto: "No dia 29 de junho comemoramos os 85 anos de fundação do nosso querido Clube. São muitos anos de existência, mas ele continua dinâmico e jovem.
Nesta ocasião aproveitamos a nobre oportunidade e homenageamos dois grandes baluartes do nosso Athletic e, assim, demos à nossa Sede Social o nome do Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima e ao Salão Nobre o nome do Sr. Júlio Teixeira.
Foi uma singela homenagem que a Diretoria e o Conselho Deliberativo prestaram a eles que sempre se dedicaram e contribuíram para que o Athletic-Club pudesse chegar, hoje, aos 85 anos, coberto de glórias e de muitas vitórias."



V.  REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS



ASSIS, A.: Historiando o Esquadrão de Aço, São João del-Rei: Departamento de Artes Gráficas da Golden Cross, 1985, 207 p.

BARROS, A.A.: Futebol e Modernidade no Interior do Brasil: o Athletic Club de São João del-Rei, 1909-2009, UNA, Belo Horizonte, 2010, 11 p., disponível na Internet em arquivo PDF: http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276723877_ARQUIVO_AthleticClubartigoANPUHRJ.pdf

COUTO, E. F. & BARROS, A. A.: Futebol e Modernidade em São João del-Rei/MG: o caso do Athletic Club (1909-1916), 2011, 13 p.,  disponível na Internet no seguinte endereço eletrônico em arquivo PDF:
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300659997_ARQUIVO_ANPUH2011_Athletic_Club.pdf



VI.  AGRADECIMENTOS



Gostaria de deixar aqui consignada minha gratidão a todos os que colaboraram, seja incentivando-me seja fornecendo informações ou material de seu arquivo particular para a realização desta pesquisa, a saber: historiador Luiz Antônio Ferreira, que me emprestou o livro de seu acervo "Historiando o Esquadrão de Aço", da autoria de Astrogildo Assis;  Olga Braga Teixeira, Juliana Braga Teixeira e Edson de Assis Coelho, que possuem rico material relativo a Júlio Teixeira em seu arquivo particular.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

JUBILEU DE OURO (1909-1959) DO ATHLETIC CLUB DE SÃO JOÃO DEL-REI


Por Francisco José dos Santos Braga



I. INTRODUÇÃO


Pesquisando periódicos antigos na Biblioteca Baptista Caetano de Almeida de São João del-Rei à procura da contribuição do C.A.C.-Centro Artístico e Cultural para a cultura e a identidade dessa cidade, deparei-me com outro achado, igualmente significativo, que considerei pouco conhecido ou praticamente ignorado por pelo menos duas gerações, recomendando a sua reprodução neste Blog do Braga por seu enorme significado social: as homenagens que foram prestadas ao Athletic-Club por ocasião do seu 50º aniversário no dia 27 de junho de 1959, resultando na publicação de interessantes artigos de diversos autores e da própria redação do jornal Diário do Comércio, que seguem abaixo e que foram objeto de uma edição especial do jornal naquele dia, o que ocupou parte de dezesseis páginas de matérias relativas ao  passado de glórias do "Esquadrão de Aço".
Aqui todas essas matérias serão reproduzidas na íntegra, respeitando a grafia e a redação que lhes foram dadas, com exceção do Hino Oficial do clube athleticano que se amoldará ao que se encontra publicado no site do Clube, que, em minha opinião, é mais compreensível devido aos sinais de pontuação e acentuação que lhe foram acrescentados.
Dentro do possível e onde for necessário, enriquecerei o texto com algumas notas de minha autoria.


II. Matérias extraídas da edição do Diário do Comércio de 27 de junho de 1959



SALVE 
1909
Jubileu de Ouro
do Athletic Club

Toda a cidade vibra, hoje, de entusiasmo e de orgulho, sem discriminações clubísticas, participando totalmente das festividades comemorativas do cinquentenário athleticano, data das mais caras e significativas para o povo sanjoanense.
Nas paginas esportivas, cada qual incentivando os integrantes das agremiações preferidas, estão presentes as naturais rivalidades, fatores de engrandecimento e de estímulo. Atualmente, apagam-se máguas antigas e olvidam-se paixões oriundas de pretéritas batalhas esportivas. As entidades se unem, então, para prestarem ao co-irmão mais velho e mais experimentado, que tão belas páginas já escreveu nos fastos esportivos de São João del-Rei, as mais sensibilizadoras homenagens. Desde os simpatizantes do quadros que integram a primeira divisão até os mais modestos clubes, mesmo os ainda não filiados à Liga Municipal de Desportos, não há, mercê de Deus, a mais ligeira nota dissonante — todos compartilham das jubilosas comemorações.

                                     

No seu passado de glórias, que se confunde com largo período da própria história de São João del-Rei, o ATHLETIC CLUB experimentou titânicas lutas para a sua sobrevivência. Nem sempre foram amenas e tranquilas as caminhadas do Athletic nos seus 50 anos de existência. Se algumas vezes, no passado, enfrentou momentos delicados, apontando, inexoràvelmente, vicissitudes denunciadoras de colapso total, erguia-se a decisão máscula de um pugilo de fervorosos athleticanos para afugentar o pessimismo e transpor as dificuldades. Formavam na vanguarda dos movimentos para soerguimento do Clube, nas quadras difíceis, os seus dedicados dirigentes, os que se honravam de vestir a camisa alvi-negra, os torcedores humildes, heróis anônimos da grandeza athleticana, enfim, todo o povo que forma a grande e unida família do "Esquadrão de Aço". Souberam, em todos os tempos, durante meio século, manter bem viva a chama do entusiasmo e não se deixaram entibiar diante das asperesas da jornada. Nossas homenagens aos bravos que conseguiram levar o Athletic aos píncaros da consagração.

                                     

Hoje os sanjoanenses nos orgulhamos de um Athletic remoçado e varonil, olhando o futuro com otimismo. Surgem, agora, em pleno transcurso das festas jubilares, a campanha para edificação da nova séde social, empreendimento nada utópico porque os athleticanos, apoiados pela inata vocação progressista do povo sanjoanense e imbuídos da mística contagiante dos triunfadores, saberão, sem esmorecimentos, equacionar e resolver todos os problemas, removendo os naturais óbices em cometimentos de tamanha envergadura e responsabilidade. E a nova séde social, monumento de apurado e moderno estilo arquitetônico, constituirá novo marco definidor do progresso de São João del-Rei.

                                     

As empolgantes comemorações do JUBILEU ÁUREO DO ATHLETIC não se limitam de São João del-Rei — outros rincões de Minas Gerais e do Brasil enviaram luzidias delegações de variados setores esportivos, distintos visitantes que possibilitaram maior brilhantismo às festividades programadas. Que sejam benvindos na hospitaleira terra sanjoanense são os nossos votos.
Ass.:  C.


Órgãos atuais da direção do Athletic-Club

CONSELHO DELIBERATIVO
Constituído dos seguintes membros:
Dr. Alvaro Vianna Filho - Presidente
Sr. Dario de Castro Monteiro - Vice-Presidente
Sr. Antônio Amaral Guimarães - Secretário
General Luiz de Faria - Sr. Onésimo Guimarães - Sr. Sebastião Martins Ferreira - Sr. Luiz Gonzaga da Silva - Sr. Sílvio de Assis - Sr. Alfredo Pereira de Carvalho - Sr. José Alcy Torga - Dr. Cid de Souza Rangel - Sr. Alvaro de Almeida Neto - Sr. Antônio Evangelista da Silva - Sr. Besamat de Souza - Sr. Júlio Mario Mourão - Sr. Moacir Guimarães - Sr. Pedro Farnese - Dr. Waldemar Ribeiro - Sr. Joaquim Gonçalves Filho - Sr. José Pereira de Carvalho
SUPLENTE: Sr. Enós Torga Teixeira
COMISSÃO FISCAL
Consituída dos seguintes membros:
Sr. Jamil Calil Zarur - Sr. Geraldo Gomes Viana - Sr. Luiz Balbino de Souza
SUPLENTE: Sr. Ney Mendes Belo
DIRETORIA
Constituída dos seguintes membros:
Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima - Presidente
Sr. Júlio Teixeira - Vice-Presidente
Sr. José Hilário Viegas - 1º Secretário
Sr. Elias Nicolau - 2º Secretário
Ten. Antônio dos Santos - Tesoureiro
Sr. Murilo B. Romeiro - 2º Tesoureiro
Dr. Mário de Castro Monteiro - Diretor Social
Sr. Vicente de Paulo Torga Carvalho - Diretor de Futebol
Sr. Wilson Ourique de Oliveira - Diretor de Esporte Especializado
REPRESENTANTES JUNTO À L.M.D. e J.D.D.
Dr. Pedro de Souza - Cap. Astrogildo Assis - Sr. Décio Leite Guimarães - Sr. João Evangelista Resende Filho - Sr. Mário Moreira - Para encaminhar papéis
TÉCNICOS
Sr. Cristóvão Colombo Drummond Filho - De futebol
Sr. Wilson Ourique de Oliveira - De Basquete
Dr. Altamiro Braga - De Volei
Sr. Manoel Trindade - De Futebol Infantil
Sr. Aristides Gomes Louvera - De Futebol Juvenil
AUXILIARES
Sr. Antônio Veloso - Zelador de Séde
Sr. José Miguel - Zelador da Praça de Esporte
Sr. João B. Gomes - Zelador do Campo
Sr. Jésus Florentino da Silva - Cobrador



Programa das Festividades

SÁBADO - DIA 27
18,00 horas - Sessão Cívica na séde social
NA PRAÇA DE ESPORTES "ANTÔNIO OTTONI SOBRINHO" 
19,00 horas - Apresentação das alunas da Escola de Educação Física em Ginástica Rítmica
A seguir: Vôlei feminino
Athletic X Esporte de Juiz de Fora
A seguir: Basquete masculino
Athletic X Bom Pastor de J. Fora
22,30 horas - Grande Baile nos salões da Prefeitura Municipal, abrilhantado pela Orquestra "Cassino de Sevilla"

DOMINGO - DIA 28
9,00 horas - Lançamento da Pedra Fundamental da nova séde social ¹, à Avenida Tiradentes, esquina da rua Alfredo Luiz Ratton.
NA PRAÇA DE ESPORTES "ANTÔNIO OTTONI SOBRINHO" 
9,30 horas - Preliminar de vôlei feminino infantil
A seguir: Basquete masculino
Athletic X Círculo Militar
NO ESTÁDIO "JOAQUIM PORTUGAL"
13,00 horas - Partida de futebol
15,00 horas - Partida de futebol
NA PRAÇA DE ESPORTES "ANTÔNIO OTTONI SOBRINHO"
19,00 horas - Vôlei masculino
Athletic X Tremedal de B. Horizonte
A seguir: Vôlei feminino
Athletic X Atlanta de B. Horizonte
23,00 horas - Baile nos salões da Prefeitura Municipal, abrilhantado pela Orquestra "Cassino de Sevilla"

SEGUNDA-FEIRA - 29
8,00 horas - Concentração para o desfile dos atletas, em frente à séde social
9,00 horas - Desfile abrilhantado pela Banda do Regimento Tiradentes
NA PRAÇA DE ESPORTES "ANTÔNIO OTTONI SOBRINHO"
9,30 horas - Juramento dos atletas e hasteamento das Bandeiras
10,00 horas - Preliminar de basquete infantil
A seguir: Vôlei masculino
Athletic X Círculo Militar
NO ESTÁDIO "JOAQUIM PORTUGAL"
13,00 horas - Partida de futebol
15,00 horas - Partida de futebol
NA PRAÇA DE ESPORTES "ANTÔNIO OTTONI SOBRINHO"
19,00 HORAS - Vôlei feminino
Minas X Olímpico de B. Horizonte
A seguir: Basquete masculino
Athletic X Barbacena
20,00 horas - Coquetel oferecido aos atletas do Athletic-Club  
 
 
VÔLEI  FEMININO - Da esquerda para a direita: Edir, Marta, Alda, Lizete, Wilma, Vanda e Maria.
  

Um pouco da história do Athletic

Ao ensêjo de tão grata efeméride — qual seja a passagem do cinquentenário de sua fundação, é justo que os sanjoanenses conheçam, ainda que resumidamente, um pouco da magnífica história do Athletic-Club, — hoje um autêntico padrão de glórias do esporte da terra de Tiradentes.
Muitos dos que ainda estão vivos, hão de lembrar-se de que, no longínquo 27 de junho de 1909, Omar Teles, então residente à Rua Moreira Cezar, 99 — hoje Rua Artur Bernardes — convocou os "foot-ballers" da sociedade sanjoanense com o objetivo de se fundar uma associação desportiva, ou, mais pròpriamente, um clube de futebol. Instalada a reunião, aquêles que seriam os primeiros atleticanos, elegeram para dirigi-la, o snr. Omar Teles que, por sua vez, convidou para secretariar os trabalhos, o snr. Amadeu de Barros. Na "ordem do dia", o presidente da reunião pediu ao seu Secretário que procedesse à leitura de uma exposição de motivos, ou relatório, de autoria do próprio Omar Teles. Discutido o aludido relatório, a assembléia deliberou pela fundação de um clube de futebol que se denominaria Atlético Futebol Clube, cuja primeira diretoria ficou assim constituída:
Presidente - Omar Teles
Vice-Presidente - Mário Mourão
1º Secretário - José Lúcio
2º Secretário - Amadeu de Barros
Tesoureiro - Abydo Yunes
1º Capitão (Técnico) - José Rios
2º Capitão (Técnico) - José de Oliveira Lima
Procurador - Guilherme Resende
Nascia, assim, o Atlético Futebol Clube, titular do famoso "Esquadrão de Aço", que tantas vitórias conquistou para o esporte sanjoanense.
Na semana imediata à sua fundação, realizou-se, com grande entusiasmo, o primeiro treino do famoso "onze", no Campo da Várzea do Marçal. Compareceu um grande número de atletas, destacando-se, entre êles, os seguintes: Herbert de Vasconcelos: um bom zagueiro, muito calmo em seu posto e, apezar de um pouco fora de forma, se revelou como elemento promissor e de grande futuro; José Rios, médio direito, ex-atleta do Palmeiras F. C. da 2ª Divisão do Rio de Janeiro; José de Oliveira Lima, um perfeito zagueiro, que muito contribuiu para o refôrço da defesa do time.
Projetaram-se, ainda, naquêle histórico treino, os seguintes atletas: Omar, Amadeu, Paulo, Abydo, Ivan e Euclides. E, assim, tambem nasceu, naquêle primeiro treino, o 1º Quadro do Athletic-Club, que ficou com a seguinte constituição:
Ivan
Herbert - Rios
Clause - Omar - Horta
Guilherme - Resende - Oliveira - Lima e Elpídio
Alguns anos mais tarde, em 1913, o esporte sanjoanense atravessava uma fase difícil: discórdias, incompreensões, hostilidades gratuitas, enfim, dificuldades de tôda ordem. Era presidente do Atlético Futebol Clube, Paulo de Castro Moreira, que, convocando a família atleticana, agradeceu a todos quantos haviam pugnado para que o Clube conseguisse sobreviver em meio àquela tormenta e promoveu a sua reorganização. Foram seus auxiliares nêsse trabalho hercúleo, de devotado atleticano, os senhores Antenor Alves da Silva, Renato Cunha e Isnard Barreto. Nêsse ano, a 10 de agosto, passou o Atlético Futebol Clube a denominar-se "Athletic-Club".
Nessa mesma época, em decorrência de uma desinteligência surgida dentro do Clube, por ocasião de um jôgo entre filhos de italianos e brasileiros, o saudoso Mário Mourão, fundador do Athletic-Club se desligou da família atleticana e fundou o "Internacional", cujo campo de futebol foi por êle mesmo construido no imóvel de sua propriedade, denominado "Olaria", onde mantinha Mário Mourão próspera indústria de artigos de cerâmica em geral.
Contando, sempre, com o apôio dos esportistas sanjoanenses e com a incondicional dedicação de grandes atleticanos, poude o Athletic-Club se projetar na vida desportiva nacional, ampliando, dia a dia, seu patrimônio e seu galardão de glórias, inclusive, por ter sido o pioneiro da introdução do futebol em S. João del-Rei. Adquiriu sua diretoria o seu atual "Estádio Joaquim Portugal", cujo terreno comprou a D. Maria da Glória Marques, conforme registrou o jornal "Ação Católica"— então dirigido pelo saudoso Monsenhor Gustavo. Mais tarde, ampliou e melhorou as instalações do estádio, construiu arquibancadas, assentou refletores em suas praças de esportes, construiu sua séde, à Av. Tiradentes, e por último, inaugurou atual "Praça de Esportes Antônio Ottoni Sobrinho", na antiga "Chácara do Segrêdo", onde os atleticanos praticam todos os esportes especializados.
Focalizar personalidades que ampararam e apoiaram o Athletic-Club, colaborando para que êle viesse a ser, hoje, cinquenta anos depois, êsse colosso social e desportivo que se nos apresenta, seria tarefa dificil e delicada, pois que poder-se-ia pecar-se por omissão. Manda, entretanto, a verdade, que, por dever de gratidão, o Athletic-Club se confesse eternamente reconhecido a todos quantos colaboraram para sua grandesa e respeitabilidade no cenário desportivo nacional — diretores, atletas, auxiliares de administração e quadro social. Seu grandioso quadro de "Sócios Beneméritos" é o melhor testemunho da gratidão do Alvi-Negro, para com todos quantos colaboraram em seu prol até hoje.
Zeloso, que sempre foi, pelo bom nome do esporte sanjoanense, o Athletic-Club não titubeou, inclusive, em recorrer à Justiça, para que se lhe reconhecesse o direito de incluir, no seu quadro de amadores, o atleta Naduir Gomes, cuja condição de jôgo fôra cassada pela Liga Municipal de Desportos de São João del-Rei, às vésperas de um jôgo de grande responsabilidade perante o Social Futebol Clube, A disputa judicial foi aguerrida e percorreu todas as instâncias do Poder Judiciário onde o Athletic-Club, no mais Alto Tribunal de Justiça do Brasil, obteve, afinal, o reconhecimento de seus direitos e pretensões.
O processo dessa disputa original — talvez a única na história desportiva do Brasil, — estará exposto, em original, durante as solenidades do cinquentenário do Esquadrão de Aço, na sua séde social. Trata-se do Mandado de Segurança nº 3.246, da comarca de São João del-Rei, impetrado contra a Liga Municipal de Desportos. O Athletic-Club obteve a Segurança aqui, perdeu-a no Tribunal de Justiça de Minas Gerais e recuperou-a, por votação unânime no Supremo Tribunal Federal. Funcionaram como defensores do Athletic-Club, os advogados Álvaro Vianna Filho e João Milton Henrique, êste último de Belo Horizonte e, da Liga Municipal de Desportos, José Luiz Baccarini e Osvaldo Guimarães Tolentino.

                                       

Num preito de justa homenagem a seus abnegados e grandes presidentes, o Athletic-Club passa a relacionar, cronològicamente, as datas de suas administrações — todas marcadas por traços indeléveis de inexcedível devotamento aos mais belos ideais da familia athleticana. Eis os nomes daquêles que, até agora, contribuiram decididamente para os cinquenta anos de lutas e glórias do esporte sanjoanense, sob o pálio vitorioso da bandeira Alvi-Negra: ²
1º  — Sr. Omar Telles .................................1909/1914
2º  — Sr. Paulo Castro Teixeira.......................1914/1915
3º  — Sr. Alcestes de Freitas Coutinho............1915/1917
4º  — Dr. Joaquim Martins Ferreira.................1917
5º  — Sr. Vicente Guerra..................................1917
6º  — Sr. Luís Augusto de Lima e Cisne..........1917/1919
7º  — Dr. Antônio Vieira de Castro..................1919/1920
8º  — Sr. Vicente Guerra..................................1920/1922
9º  — Sr. José Antônio de Carvalho.................1922/1923
10º— Sr. José de Assis Sobrinho.....................1923/1924
11º— Sr. Joaquim Portugal..............................1924/1926
12º— Dr. Eloy dos Reis e Silva.......................1926/1927
13º— Sr. Alberto C. de A. Magalhães.............1927/1930
14º— Sr. José Antônio de Carvalho.................1930/1931
15º— Sr. Antônio Ottoni de C. Sob..................1931/1934
16º— Sr. Dario de Castro Monteiro..................1934/1935
17º— Dr. Euclides Garcia de Lima...................1935/1937
18º— Dr. Benevides de Carvalho......................1937/1938
19º— Sr. Antônio Ottoni de C. Sob...................1938/1941
20º— Dr. Euclides Garcia de Lima....................1941/1944
21º— Sr. Antônio Ottoni de C. Sob...................1944/1948
22º— Dr. Euclides Garcia de Lima.............................1948
23º— Dr. Alvaro Vianna Filho...........................1948/1949
24º— Dr. Euclides Garcia de Lima....................1949/1955
25º— Dr. Pedro de Souza................................1955/1957
26º— Dr. Francisco Diomedes G. de Lima..........1957/

                                         

Continuando sua luta gloriosa, para frente e para o alto, visando a elevar cada vez mais o bom nome de suas respeitáveis tradições, de que tanto se orgulham os sanjoanenses, o cinquentenário do Athletic-Club vem encontrar sua operosa diretoria atual inteiramente dedicada à construção de sua nova e suntuosa séde social, para o que já adquiriu magnífico terreno, à Av. Tiradentes, esquina com a Rua Alfredo Luís Ratton, onde, brevemente, edificará suas novas e confortáveis instalações, com aquêle deslumbrante gôsto que tanto caracteriza todas as grandes iniciativas da família atleticana.
(Transcrito do album comemorativo do Athletic)

                                       

Hino - O Nosso Clube

Por ocasião da primeira viagem do Athletic-Club à vizinha cidade de Lavras, onde foi bater-se com o Lavras Sport Club, considerado como o "Leão do Oeste", num cantinho do carro de 1ª classe, estava um dos mais animados athleticanos que pelejava para compor uns versinhos (pés quebrados) para serem cantados, quando da nossa chegada.
Ao apearmos na cidade de Lavras tôda a embaixada já sabia não só a letra como também a música dos versinhos, que foram intitulados o 1º Hino Athleticano e que para aqui transportamos:
I
O nosso Clube, em todo o Oeste
É temido campeão,
Athletic é o seu nome
E o seu berço é São João.

O rapaz de escól, a gente chic
Fazem parte do Athletic.
II
"Team" forte e valoroso, 
Na conquista da vitória
Somos nós do alvi-negro
Pavilhão cheio de glória.

E além de vitória e aclamações
Conquistamos corações.
III 
Preta e Branca são as côres
Da Bandeira valorosa
Sôlta ao vento — Athletic,
Sua flâmula vitoriosa.
E o vento baixinho vai dizendo:

O Athletic é batuta vai vencendo.

(Foi um sucesso alcançado pelo autor e por todos os componentes da embaixada que brilhou com as vozes maviosas executando o Hino athleticano composto na viagem. É o seu autor o nosso Zé do Padre.)
Ass: Athleticano ³


Honra ao mérito

Para solenizar o cinquentenário athleticano, a Diretoria do aristocrático Clube da Avenida Tiradentes editou primoroso álbum comemorativo, referto de úteis informações sôbre a vida do ATHLETIC nos seus gloriosos 50 anos de gigantescas lutas, nas quais, galhardamente, sempre exaltou o renome esportivo de S. João del Rei, terra que se ufana de possuir uma entidade de tão nobre estirpe. Trata-se de um trabalho que muito recomenda a atual Diretoria do Athletic Club. Nas suas páginas, valorizadas por selecionados clichês, o leitor encontrará valioso calendário esportivo, no qual foram relacionadas centenas de partidas disputadas pelo "Esquadrão de Aço". A compilação das referidas datas exigiu o corajoso esforço do Capitão Astrogildo de Assis, fervoroso Athleticano, o nosso confrade de imprensa. Lançando mão de variadas fontes de informação, tôdas fidedignas, reuniu farto documentário das jornadas athleticanas futebolísticas. O Cap. Astrogildo realizou, durante mais de um ano, meritórias pesquisas em velhas coleções de jornais sanjoanenses, desempoeirou antigos livros de átas e rebuscou, perseverantemente, súmulas e documentos oficiais de várias entidades mentoras do esporte de S. João del Rei. Nossos parabens ao Capitão Astrogildo de Assis, abalizado conhecedor da história Athleticana.


Reminiscências...

Manuseando o interessante opúsculo que o Athletic vem de dar à publicidade, em comemoração ao seu cinquentenário de fundação, deparamos com uma relação enorme de jogos realizados pelo veterano "Esquadrão de Aço", com os respectivos resultados, cidade e campo onde se deram os referidos jogos. 
Dentre êles, julgamos oportuno destacar, aqui, a grande pugna interestadual que foi Athletic X São Cristovão, embate que se verificou no dia 21 de julho de 1940.
Foi, realmente, uma das grandes vitórias que o Athletic já obteve, nos seus 50 anos de gloriosa existência, quando derrotou o forte plantel do São Cristovão, constituído de profissionais do Rio de Janeiro, pela contagem de 2 tentos a 1.
Essa partida, que jamais foi e será esquecida pelos athleticanos, demonstra claramente que, àquela época, o Athletic era possuidor de uma das mais poderosas equipes do Estado de Minas, contando em seu conjunto com elementos de categoria como Nonoca, Lustroso, Geraldino, Pedrinho, Dunga, etc.
Êsse feito, de que o Athletic pode e deve se orgulhar, mais se valorizou quando podemos verificar que o quadro de Figueira de Melo era compôsto de verdadeiros azes do futebol brasileiro, inclusive, como é o caso de Afonsinho e Roberto, serem integrantes da Seleção Nacional.
Para que se possa rememorar com mais precisão essa vitória que não foi só do Athletic, mas também do esporte sanjoanense, damos abaixo a constituição dos quadros.
Athletic: Zozóca, Bide e Nonoca; Meirinho, Lustroso e Aníbal; Guito, Carazza, Geraldino (Paulo), Pedrinho e Dunga.
São Cristóvão: Madalena, Hernández (Augusto) e Mundinho; Oscarino, Dôdô (Arquimedes) e Afonsinho; Roberto, Nestor, Joãozinho, Nena (Joaquim) e Matias. 
Geraldino e Dunga fizeram os pontos do Athletic, e Roberto, o do São Cristovão.
Ass.: J. F. O.



ANTIGO QUADRO DO ATHLETIC

Em pé, da esquerda para a direita: Francisquinho, Totonho, Quito, Geraldino, Walter, Pedrinho e Vital. Agachados: Bide, Mário Eugênio, Nonoca, Waldemar, Cuca e Bartolo. Dêsses, cinco participaram do "match" Athletic X São Cristóvão.


EQUIPE TITULAR DE FUTEBOL

Da esquerda para a direita. Em pé: Zé Campos, Alírio, Januzzi, Batista, Rubens e Zito. De cócoras: Magela, Batistinha, Dinho, Wilson e Valério.



Athletic, primus inter pares

Fábio Guimarães

Realeza na sociedade das massas
E na peleja das massas no esporte,
Tu tens nas letras do nome que realças
Alma e Corpo, lábaro do teu porte.

Por Júpiter, erguido para o alto,
Proscênio da glória, foste gerado;
Estás lá nas alturas como arauto,
Entoando um hino nunca exaltado.

Dia com dia, persistência e coragem,
Do nada, tua meta hodierna avulta,
Para a cidade, nobre homenagem.

Se teu trajeto de corpo maduro
Ao povo apraz e à cidade exulta,
Avante! Teu futuro está em futuro!

Os Zeladores de séde do Athletic Club

O 1º zelador foi o sr. Teodorico, quando então a séde era no sobrado da rua do Comércio e também no Banco Almeida Magalhães.
O 2º foi o sr. Antonio Mazzoni que substituiu o 1º e que já era seu auxiliar.
Por fim, destaca-se a figura do popular Tatu, Antonio Monteiro de Barros, que serviu no periodo de 26 anos.
A eles, o nosso reconhecimento.

A História do Hino Alvi-Negro

Fábio Guimarães

Se no acervo poético do chamamento clubístico do Atletic há fato que nos atrai a atenção e nos comove é, sem dúvida, a música do hino composta por José de Assis Filho. É um raro orgulho, de nossa parte, possuir uma bela e expressiva partitura musical: nos seus acórdes, não pouco em sua letra:
"Em nosso peito altivo pulsa forte
um Coração todo alvi-negro todo".

E a história dele é meiga e devéras interessante. Os atleticanos, em suas manifestações expansivas, lançavam mão de um hino — adaptação de um samba carnavalesco "Seu Amaro", de autoria do Cel. Luiz Cirne, dado a conhecer no ano de 1919. Mas, acontece que, aí por volta de 1926, mensalmente, instituida que foi, realizava-se a "Hora Literária", nos salões da então Séde Atleticana: na parte superior do Banco Almeida Magalhães. Ela surgiu como consequência da circulação de um jornalzinho denominado "O Grizú", editado aos domingos, e que era vendido a 200 reis o exemplar, porém, não podia ser vendido para qualquer pessoa. Essa "Hora Literária" nada mais era do que uma edição extra do "Grizú", falado, um pretexto para um baile a se realizar logo após o fim do mesmo. Era dedicado às moças e rapazes da cidade, observando-se um certo fundo humorístico, mesclado com crítica alegre e fina, com números especiais ao piano a quatro mãos e, às vezes, de improviso, notícias sociais, sem confirmação (é claro), recitativos, declamações, onde tomavam parte os senhores José de Assis Filho, João Vasques de Miranda Júnior, Prof. José Lourenço de Oliveira e o Prof. Mário Mourão Filho, verificando-se também a adesão, entre outros, dos senhores Dr. Newton Lamounier, Dr. Antônio Ribeiro Filho e do Dr. Pedro Ribeiro Filho. Na época, êsses acontecimentos eram marcantes, um dos maiores, socialmente falando. Numa das realizações da citada "Hora Literária", quando então se cantava o hino já existente, surgiu a idéia, por sinal uma grandiosa idéia. A feitura de um hino, porém com música original. Assim, J. de Assis Filho propôs ao "Tozinho", e João Vasques elaborou a letra . Ficou combinado. Seria lançado no dia 17 de junho de 1927, à noite, durante a realização de outra "Hora", antecedendo ao baile. Mas, acontece que, naquela tarde, o Atletic disputando uma partida contra o Lavras, foi derrotado por 7x0. Assis Filho, bastante abatido, terminou após a pugna o seu magistral hino. Repleto o salão de festas, distribuiu-se para os presentes a letra dêsse "vinho musical". Ao piano, executou êle, por duas vezes, quando então os atleticanos na terceira, entoaram-no vibrantemente, acompanhados pela orquestra que era regida pelo Sr. Juca Hilário. Ulteriormente, o sr. Telemaco recompôs êsse hino sendo então feito a orquestração pelo sr. Juca Hilário.

HINO DO ATHLETIC-CLUB


I
Nos fastos esportivos de São João
Glorioso Clube, teu nome rebrilha!
Do futebol nos campos, tua ação
Da honra e da lealdade segue a trilha!
II
Em nosso peito altivo pulsa forte
Um coração todo alvi-negro todo!
Inspiram-nos tuas côres o denodo
Para as refregas túrbidas do esporte!
Refrão
Atleticanos somos valorosos!
O nosso Clube com ardor defenderemos!
Havemos de dizer sempre garbosos:
Atleticanos somos e seremos. (Bis)
III
No teu gramado, em Matosinhos, quando
Enfrentas o inimigo, na peleja,
Noss'alma vibra e espera, palpitando,
A hora triunfal que te deseja.
IV
Sabes vencer, também sabes perder:
Reconhecer do contendor os méritos
E não é fácil tais virtudes ter,
Tais dotes de equilíbrio, — dons eméritos!

(Refrão 2 vezes)
V
As cores do teu lábaro sagrado
São respeitadas, valorosas são
E cada filho teu tem desenhado 
De "branco" e "preto" o próprio coração.
VI
Inúmeros troféus tens consquitado
no rude campo aberto dos torneios.
De glórias tens o nome aureolado,
De belos feitos os teus fastos cheios!

(Refrão 2 vezes)
VII
Alvi-negro pendão, salve tremula!
Nas tuas dobras vívida se agita,
Quando a brisa as desfrada e, branda, oscula
A alma de campeão que em ti palpita.

As cores do teu lábaro sagrado
São respeitadas, valorosas são
E cada filho teu tem desenhado 
De "branco" e "preto" o próprio coração.

(Refrão 2 vezes)


ATHLETIC-JAZZ, FUNDADO EM 1944 — Da esquerda para a direita: Antônio Eloy dos Santos, Geraldo Lima, Emilio Viegas, João Rosa, Paulo Falconeri dos Santos, Francisco Neves, Cecilio Sena e José dos Santos Filho.

As "Barreiras" Atleticanas

João B. Lopes

Nunca fui aficionado "doente" do futebol. As vitórias apenas me faziam eufórico e as derrotas, macambúzio.
Mas êste estado de humor não dava para extravazar-se. Eu o sentia ìntimamente sem necessidade de transmiti-lo aos outros.
Todavia era mineiro". E não podia deixar de ser assim. Eu era, afinal, do Tijuco. Bem sei que tijucanos houve e há que não são "mineiros". São poucos. Exceções. E eu não figurava nas exceções...
Como "mineiro" guardo recordações do Atletic. Paradoxo? Não. É que o alvi-negro sempre me fez macambúzio. Mais do que eufórico.
Lembro-me, por exemplo, de duas "barreiras" contra os quais o Minas se defrontou por muitos anos. A primeira era a zaga Marchetti — Paulo Pinto. Isso já vai longe.  Tão distante que a recordação me chega penumbrada. Mas ainda ouço o vozerio da assistência os aplaudindo. Asistência mais de belo-sexo, hoje quase inexistente nos espetáculos futebolísticos...
A outra "barreira" é mais recente. Compunha-se de Bide e Nonóca. Este a morte o imobilizou, e aquêle "aposentou-se" dos gramados. 
Como jogava essa dupla! Nonóca mais técnico. Bide mais duro. Bide tinha a mania de escapar como doido pela cancha a fóra e atirar pelotaços que pareciam balas. Às vêzes essa fúria dava certo e êle encaixava a bola nas rêdes adversárias, sob explosões de aplausos dos atleticanos.
Eram "barreira", não resta dúvida, êsses rapazes. Mas muitas vezes eu vi Edipo e Jasminor passarem por êles, como gatos, fugindo-lhes a marcação com filigranas técnicas e chutarem bonito em "goal".
Eu exultava calado mas com vontade louca de gritar:
— Tomou, papudo!
Mas apesar disso, eu saía do campo, — derrotado ou vitorioso, — para esquecer do sucedido poucas horas depois, curado da emoção que me dominara durante o jôgo.
                                      

Dunga e Waldemar, a famosa ala esquerda, que já proporcionou às cores atleticanas memoráveis vitórias.

O ATHLETIC E A CIDADE

Adenauer

Em matéria de esporte, a preferência especial por um clube determinado tem sido motivo de sérias reflexões. Estas, não se aprofundando até o âmago da questão, por causa de sua natureza aparentemente superficial, deixam sempre o campo aberto aos curiosos. E o mistério permanece. Por que teria o nosso inesquecível amigo, Dr. Euclides Garcia de Lima, preferido as cores athleticanas? E por que terá o Mozart entendido que o Minas é o tal? E como se explica a inclinação do Tancredo Neves, o homem público de projeção nacional, pelo Minas, enquanto o seu irmão, Paulo Neves, é athleticano até a raiz dos cabelos? Mistério.
Para mim, estudioso superficial dêsse problema pitoresco, o caso é de simples à primeira vista. Os caminhos mentais que o sujeito percorre, inconscientemente, para chegar à conclusão de que o Esquadrão de Aço é o maior, deve ser o maior, será sempre o maior, êsses caminhos constituem labirinto sujeito aos mais variados fatores. Atingindo o final dessa série de associações de idéias, o cidadão diz que é atleticano, e pronto. Até morrer. Firme como o Pão de Açúcar.
Tenho que nesse mistério reside um dos fatores de progresso de São João del-Rei. Todos os sanjoanenses, de nascimento ou de coração, que pertencem ao Athletic-Club, — sem distinção de raça, côr, religião ou partido político — contribuem com sua parcela pessoal para o desenvolvimento da terra, seja colaborando diretamente nas atividades esportivas, jogando ou torcendo, seja fazendo a sua fôrça em todos os setores ao seu alcance, mexendo onde podem, para dar ao grande clube o que êle necessita. Desde a obtenção de uma linha de ônibus para determinado lugar até o sacrifício financeiro vultoso, a colaboração dos athleticanos para o seu clube tem sido um exemplo de firmeza, perseverança e fé no futuro da entidade que hoje se projeta em todos os rincões do Estado. Tomemos ao acaso, por exemplo, a obra de Antonio Ottoni de Carvalho Sobrinho em favor do Athletic. Demonstração perene de espirito de sacrificio, de solidariedade e de amor ao Esquadrão de Aço.
A longa vida do Athletic, como fator de progresso e desenvolvimento de São João del-Rei só pode ser negada pelos que não observam com maior atenção êste aspecto positivo das atividades esportivas. A construção do estádio, a praça de esportes do Segrêdo, a piscina, a séde social, todos êsse conjunto que constitui o patrimônio material do Athletic se revela como uma série de elementos esparsos que causam outros tantos movimentos sociais, financeiros, comerciais, políticos, administrativos, além das consequências específicas da prática dos esportes em geral.
Tenho para mim que a existência do Athletic Clube, pela sua projeção e importância, deve ser considerada com carinho sob o ângulo da evolução, do progresso, da sociabilidade, da motivação para inumeráveis construções nos mais variados campos de atividade.
O fato concreto de aglutinar o Athletic Clube a simpatia de milhares de cidadãos de tôdas as classes, de tôdas as profissões, e principalmente de ter tido sempre, na sua direção, elementos da maior representação, pertencentes às genuinas elites desta cidade, é a resposta que explica as mais diversas iniciativas de interêsse coletivo. Que nos baste chamar a atenção do leitor para esta verdade inegável: a direção do Athletic tem sido sempre entregue aos mais dignos athleticanos, envolvendo tôdas as cores da política partidária, o que nos dá a medida de sua influência em todos os meios, qualquer que seja a situação dominante nas diversas esferas administrativas. Grande exemplo de unidade inquebrantável, de estabilidade inabalável, de simpatia recíproca e nuclear entre todos os athleticanos, quando se trata de defender o nome e a tradição do velho clube.
Tôda uma série de melhoramentos manifesta o progresso do Athletic e são outros tantos motivos de interêsse da cidade. Tôdas as vezes em que o Municipio pôde auxiliar e auxiliou o clube, com as concessões ao alcance da Administração, auxiliou indiretamente foi o próprio progresso de São João del-Rei.
Só os insensatos poderiam ignorar o estímulo que o Athletic tem dado, pela sua simples existência de clube prestigiado, a muitos ramos do comércio, da cultura e da evolução de São João del-Rei.
Por todos êsses motivos é que nós hoje homenageamos o veterano Esquadrão de Aço, representante legítimo do esforço sanjoanense pelo aperfeiçoamento dos nossos costumes esportivos. E como consequência de tôdas as nossas atividades, pois o esporte é uma das escolas em que o homem deve receber parte decisiva da sua educação.
Tendo resistido durante cinquenta anos a tôdas as investidas da intempérie, na árdua luta pela sobrevivência, e tendo construido um patrimônio material que é bem reflexo dos valores morais que o norteiam, o Athletic merece hoje a nossa homenagem, com os nossos votos de constante progresso, para que possa procurar sempre as melhores e mais dignas soluções para o aprimoramento do nosso esporte. Assim terá contribuido definitivamente para o bem estar da coletividade, com o apôio dos seus dirigentes, autênticos homens de boa vontade.

Dezesseis campeonatos conquistados

Em sua trajetória, desde a sua fundação até a data atual, o Athletic-Club conseguiu conquistar 16 campeonatos da cidade, conforme consta do ligeiro resumo abaixo, transcrito do álbum athleticano:
1909 a 1914 — Não houve campeonato
1916 — Campeão Athletic-Club
1918 a 1919 — Bi-Campeão Athletic-Club
1920 e 1921 — Não houve campeonato
1922 — Campeão Internacional F. C.
1923 a 1929 — Não houve campeonato
1930, 1931 e 1932 — Tri-Campeão Athletic-Club (Campeão Invicto da A.S.E.A.)
1933 — Campeão General Osório E. C. (11º R. I.) O Athletic-Club não participou
1934 a 1936 — Não houve campeonato
1937, 1938 e 1939 — Tri-Campeão Athletic-Club (L.E.O.M.)
1940 — Campeão General Osório E. C. (11º R. I.) O Athletic-Club não participou
1941 — Vice-Campeão do Torneio Regional de Futebol Athletic-Club. Não houve campeonato da cidade
1942 — Campeão Athletic-Club
1943 —  Não terminou o torneio da cidade, faltou a realização da última partida
1944 e 1945 — Não houve campeonato
1946 e 1947 — Bi-Campeão Athletic-Club
1948 — Campeão Social Futebol Clube. Vice-Campeão Athletic-Club
1949 e 1950 — Bi-Campeão Athletic-Club (Invicto)
1951 — Campeão Social Futebol Clube. Vice-Campeão Athletic-Club
1952 — Campeão Athletic-Club
1953 — Campeão Minas Futebol Clube. Vice-Campeão Athletic-Club
1954 — Campeão Athletic-Club (Invicto)
1955 — Campeão Social Futebol Clube
1956, 1957 e 1958 — Tri-Campeão Minas Futebol Clube
1959 — Campeão (?)

Primeira Partida Intermunicipal

"O Reporter", órgão noticioso que se publicava em São João del-Rei, registrou no seu nº 365, de 10 de novembro de 1912, a realização da primeira partida intermunicipal realizada pelo "Atlético Foot-Ball Club" na cidade de Barbacena contra o "Soares Ferreira Foot-Ball Club".
O "Atlético Foot-Ball Club" apresentou com o seguinte quadro:
Raul, Murilo e Juca Lopes; Leôncio, Rollo e Isnard; Renato, Samuel Lopes, Bonsolhos, Antenor e Luiz.
Reservas: Elpidio, Baddi, Samuel Santiago e Roberto Monteiro.
Resultado: venceu o "Soares Ferreira Foot-Ball Club" por 1x0.
(Transcrito do álbum athleticano)

Ponto alto na atividade esportiva

O cinquentenário do Athletic é inegàvelmente uma efeméride sanjoanense.
Por todos os motivos é de justiça que todos se congratulem com o velho clube, deixando de lado, nesta hora de festas e de alegria, quaisquer ressentimentos compreensíveis e resultantes dos embates esportivos.
Dando uma demonstração de alto descortínio esportivo, baseado na compreensão exata das finalidades do esporte e na sua importância como elemento de aproximação dos homens de boa vontade, o MINAS FUTEBOL CLUBE, tri-campeão da cidade, clube que tem a mesma projeção histórica, esportiva, cultural e social que o ATHLETIC, fez realizar no dia 25 uma magnífica festa na sua majestosa sede, com a qual homenageou o Esquadrão de Aço, seu valoroso e tradicional adversário de quase meio século. Notemos que a rivalidade entre os dois leões só não tem cinquenta anos porque o MINAS não completou ainda essa respeitável idade, pois é mais moço uns quatro anos. Se não fosse por isso, poderíamos registrar essa emulação como companheira inseparável dos dois clubes, durante cinquenta anos, e festejaríamos três aniversários ao mesmo tempo: o do Athletic, o do Minas e o da rivalidade.
A homenagem do Minas, autêntica festa de confraternização, é um dos pontos altos das comemorações do cinquentenário do Athletic, demonstração legítima de civismo e de amor à cidade e de reconhecimento de que as lutas memoráveis, históricas, que os dois gigantes ofereceram à cidade durante tantos anos, se limitam e devem se restringir aos cenários dos duelos esportivos e quando muito ocupar o tempo de festejar a vitória ou amargar a derrota, e nada mais.
A festa do Minas revela o espírito esportivo que se já formou entre nós, sendo motivo da maior simpatia de todos os sanjoanenses, pois promete no futuro grandes dias para o esporte local, com tôdas as consequências benéficas que a esportividade, em alto nível, poderá oferecer à culta cidade de São João del-Rei.
PARABÉNS AO ATHLETIC, pelo cinquentenário, e ao MINAS, tri-campeão, pela grande festa de confraternização que acaba de oferecer ao Esquadrão de Aço.
Ass.: K. 

FUTEBOL DE SALÃO

Da esquerda para a direita: Em pé: Fernando, Romário, Ângelo e Colombo (técnico). De cócoras: Sérgio, Aloísio, Helinho e Adilson.


Recordando 1912 

Com destino a Palmira, embarcávamos pelo noturno da Oeste de Minas os componentes da embaixada do Athletic Club que, naquela cidade, disputaria um match com o Athletico Palmirense Foot-Ball Clube. Em Sitio, hoje Antônio Carlos, fomos surpreendidos com uma onda de frio medonha, mas logo baldeamos para a Central que estava em atrazo. Bôa viagem, muita animação e confiança na futura jogada, pois treinamos bem e o team estava afiado.
Lá pelas duas horas da madrugada, chegamos a Palmira — um frio de rachar — ninguem na Estação para nos receber.
Demandamos ao Centro da Cidade à procura de hospedagem. Uns foram à casa distribuidora de fôrça elétrica; batemos e apareceu um senhor com um cobertor às costas e nos despachou informando: "Hotel é perto da Estação da Central". Batuta, Para-Raio e Zé do Padre, treis primos que, quando juntos, eram um terror e não carregavam arenga para casa, eram de amargar.
Encontramos o Hotel, mas não havia mais cômodo — super-lotado. Uns moços que já se achavam localizados, nos deram agazalho e ficamos oito num quarto da frente. Dormir não se podeia, pois a noite inteirinha máquina fazendo manobras.
Pela manhã levantamos e fomos assistir missa na Matriz, situada em uma Praça, no centro da Cidade.
Almoço, repouso e demandamos rumo ao campo — um ótimo campo — com as dimensões máximas. Foguetes, banda de música, muita gente e lá fomos para a luta. O team do Athletic estava assim formado:
Ferreira, Banho, Belo, Rolo, Leôncio, Samuel, Galiano, Bonsolhos, Antenor, Raul, Pimentel.
O team do Athletico Palmirense estava reforçado com diversos elementos do Grambery de Juiz de Fora, tais como Tavares, Ganso, Orlando, Jacy e Figueiredo. No centro atuava o inesquecível Doquinha, ex-integrante do escrete Mineiro.
A tarde estava quente... de repente o tempo mudou e transformou-se em ameaçador, escurecendo. Começou a luta, corríamos bem, o team estava firme e tudo que era dirigido ao nosso goal, o grande Ferreira pegava.
Não havia possibilidade de perdermos.
Começou a borrasca, uma tremenda tempestade caiu sôbre a cidade; alagou tudo, havia água por todos os lados, diversas casas ficaram sem os telhados, inclusive o Hotel; a cozinha nada tinha para o jantar. Na cidade nada havia que não fosse tristeza e mágoa pelos prejuizos sofridos.
Arrumamos as nossas valises e pelo trem das 8 horas da noite rumamos para Juiz de Fora. Lá chegando, fomos procurar o Restaurante Caron, que ficava situado à Rua 15 de Novembro, hoje Batista de Oliveira. Qual surpresa nossa: de ordem do Dr. Delegado, se não me falha a memória, um tal de Guaraciaba, truculento, morenão alto, os soldados falaram: "nesta rua não podem passar, o Dr. Delegado não quer".
Retrucamos e fizemos fôrça para, depois das explicações de que tínhamos vindo de Palmira, onde fomos jogar foot-ball, e queríamos jantar, aí sim, o soldado nos deixou passar. Era tudo por causa de uma Iracema... moça bonita, prendada e divertida.
Às duas horas da madrugada, pelo noturno da Central voltamos até Sitio e pelo trenzinho da Oeste de Minas, regressamos à nossa São João, com mais uma excursão realizada e mais uma derrota de 3x0 de saudosa memória.
Ass.: Veterano de verdade 



Imagem com a seguinte legenda: ATUAL DIRETORIA Em pé: da esquerda para a direita — Wilson Ourique de Oliveira, Murilo B. Romeiro, Elias Nicolau e Vicente Paulo Torga Carvalho — Sentados: José Hilário Viegas, Júlio Teixeira, Dr. Francisco Diomedes Garcia de Lima, Dr. Mário de Castro Monteiro e Ten. Antônio dos Santos 
(Meu agradecimento a João Ramalho, que disponibilizou esta foto no vídeo institucional Athletic Club - O Clube do Século XX, produzido por JR Vídeo, em 2002, podendo ser vista no seguinte endereço eletrônico: http://vimeo.com/25182384#)





III.  Comentários de Francisco José dos Santos Braga



¹  Uma conclusão que se tira de um texto de época como este é que os torcedores de um time, naquela ocasião, "vestiam a camisa" do Clube a que pertenciam, por exemplo na hora de participarem de uma campanha de construção de nova sede social. Foi o que se passou com o Athletic.
Todos os athleticanos se uniram, quando perceberam que o Minas Futebol Clube, seu arquirrival, passou a possuir, pioneiramente, o Salão dos Espelhos no Edifício que ficou sendo conhecido como "do Minas". Isso mexeu com os brios dos athleticanos que deram pronta resposta à proposta da Diretoria de então de construir uma nova sede social para o Clube, de 3 andares, na Av. Tiradentes, esquina com rua Alfredo Luiz Ratton (iniciada em 28/06/1959). Constata-se que essa decisão se mostrou um investimento muito mais produtivo, rentável e eficaz do que o investimento do Minas em um único piso de um prédio, sem possibilidade de expansão.
  
²  Astrogildo Assis, em seu livro "Historiando o Esquadrão de Aço", p. 139, oferece uma relação um pouco diferente dos nomes dos presidentes, seguidos de sua profissão e da respectiva data de posse:
1) Omar Telles Barbosa (Capt.): 27/06/1909
2) Antenor Alves da Silva (F. Rede): 17/09/1912
3) Paulo de Castro Moreira (F. púb.): 10/08/1913
4) Alcestes de Freitas Coutinho (Médico): 28/11/1915
5) Joaquim Martins Ferreira (Médico): 07/05/1917
6) Luiz Augusto Lima e Cirne (Chefe D/R): 25/03/1918
7) Francisco Mourão Filho (Médico): 07/08/1919
8) Antônio Vieira de Castro (Advog.): 05/08/1920
9) Vicente Guerra (Capt.): 20/10/1920
10) José Antônio de Carvalho (Farm.): 23/08/1922
11) José de Assis Sobrinho (Comerc.): 08/08/1924
12) Joaquim Gonçalves Portugal (G. Liv.): 25/12/1924
13) Eloy Reis Silva (Médico): 09/08/1926
14) Alberto Custódio de Almeida Magalhães (Banq.): 14/08/1926
15) Benevides Carvalho (Odont.): 17/02/1930
16) José Antônio de Carvalho (Farm.): 10/08/1930
17) Antônio Ottoni de Carvalho Sobrinho (Industr.): 18/02/1932
18) Dario de Castro Monteiro (C. Fed.): 24/12/1932
19) Euclides Garcia de Lima (Médico): 15/12/1935
20) Benevides Carvalho (Odont.): 20/12/1937
21) Antônio Ottoni de Carvalho Sobrinho (Industr.): 09/03/1938
22) Euclides Garcia de Lima (Médico): 01/01/1942
23) Antônio Ottoni de Carvalho Sobrinho (Industr.): 26/12/1943
24) Mário Luiz Guedes (Comerc.): 06/02/1947
25) Álvaro Vianna Filho (Advog.): 26/12/1947
26) Euclides Garcia de Lima (Médico): 17/08/1948
27) Pedro de Souza (Odont.): 26/11/1955
28) Francisco Diomedes Garcia de Lima (Médico): 17/07/1957
29) Pedro de Souza (Odont.): 20/12/1959
30) Renato Luiz Baccarini (Const.): 18/12/1963
31) Walter Luiz Baccarini (Médico): 19/12/1965
32) Sílvio Assis (Banc.): 20/12/1967
33) Mauro Pinto de Moraes (Médico): 21/12/1969
34) Carlos Guilherme de Abreu (Médico): 08/02/1972
35) Euclides Garcia de Lima Filho (Médico): 04/06/1973
36) Walter Luiz Baccarini (Médico): 20/06/1975
37) Roberto Silva (Comerc.): 22/06/1977
38) Dario Ratton Monteiro (Advog.): 04/06/1979
39) Marco Antônio de Araújo Rangel (Médico): 26/06/1981
40) Luiz Antônio Neves de Resende (Médico): 27/06/1983
Completando essa relação de presidentes, posso mencionar os seguintes presidentes empossados a partir do ponto a que Astrogildo Assis chegou em seu livro:
41) Ivan Augusto Assunção (Odont.)
42) Marcos Campello Pereira (Médico)
43) Renato Luiz Baccarini Filho (Comerc.)
44) Almir Mendonça de Almeida (Médico)
45) Fernando Magno Mendonça (Empresário)
46) Leandro da Silva Bini (Adm.)
47) Cláudio Luiz Silva Gonçalves (Eng. Elétr.)

 ³  Astrogildo Assis costumava usar os pseudônimos "Athleticano" e "Astro" em algumas crônicas.

⁴  O site do Clube anuncia o Hino Oficial do Athletic Club como tendo versos de José Lourenço de Oliveira e música de José de Assis Filho.