segunda-feira, 11 de abril de 2016

CONSPIRAÇÃO CONTRA A REPÚBLICA ROMANA (65-63 a.C.)


Por Francisco José dos Santos Braga



I.  INTRODUÇÃO


Para apresentação da presente matéria, servi-me basicamente do material que [HARMSEN, 1959, 43-61] utilizou para a sua discussão do título "Primeira Catilinária", ou seja, a sua introdução ao texto de Cícero e o discurso propriamente dito em língua latina. Também recorri a algumas importantes anotações que ele ofereceu a título de esclarecimento de expressões e termos usados pelo eminente orador, de difícil compreensão. Outras notas explicativas e ponderações, inclusive a divisão do discurso em suas partes constitutivas, foram fruto de minhas pesquisas na Internet ou de outras fontes.

Portanto, esclareço que a tradução que ofereço no presente trabalho é de minha inteira responsabilidade.



II.  TEXTO EXPLICATIVO DE [HARMSEN, 1959, 43-44] ambientando o leitor no contexto histórico
Capa do livro Cícero: Antologia
Contracapa do livro Cícero: Antologia


"Lúcio Sérgio CATILINA nasceu em 108 a.C. de uma família aristocrática empobrecida. Cresceu em tempos de grande desordem e confusão, como foi o período da Guerra Social (91-88), da Guerra Civil entre Mário e Sila (88-86), das proscrições de Sila (82), da revolta de Sertório (78-72), da guerra dos escravos (73-71) e dos piratas (67). Era membro ativo do partido popular (César, Crasso). Pelas suas brilhantes qualidades de inteligência, pelo seu preparo físico, sua camaradagem e audácia, exercia grande influência sobre a mocidade romana. Mas, no fundo, era um arrivista pouco escrupuloso com uma vida privada irregular.

Durante dois anos, Catilina exerceu o cargo de propretor (governador) da África, província esta que pilhou à Verres. À sua volta para Roma, foi acusado "de repetundis" (de concussão) e este processo o impediu de apresentar sua candidatura para o consulado de 65. Profundamente ofendido, trama uma primeira conspiração com o intuito de matar os cônsules designados, L. Cota e L. Torquato; o atentado, porém, foi descoberto em tempo.

Candidatou-se de novo ao consulado nas eleições consulares de 64. Mas, apesar de seu programa de "reforma social" ¹  e não obstante o apoio de César e Crasso, foi, mais uma vez, derrotado. A coligação de Senado e cavaleiros elegeu MARCO TÚLIO CÍCERO e L. Antônio Híbrida.

Não conseguindo suas intenções por meios constitucionais, Catilina organiza, no ano 63, uma conspiração de maior envergadura. Juntamente com Mânlio, antigo oficial de Sila, recruta um exército com quartel-general em Fésulas, na Etrúria. Mas o cônsul (Cícero) estava a par de tudo pelas informações secretas de uma mulher, Fúlvia, que era confidente de Q. Cúrio, um dos conjurados.

No dia 21 de outubro, Cícero leva ao conhecimento do Senado a existência da conspiração. Tomado de pânico, o Senado decreta o "senatus consultum ultimum" (decreto final do Senado), formulado nos termos: "videant consules ne quid res publica detrimenti capiat" (que os cônsules atentem em que a república não sofra nenhum dano). No dia 28 do mesmo mês, realizaram-se as eleições consulares, para as quais Catilina se candidatara mais uma vez. Cícero compareceu no Foro, protegido de uma couraça. Todos os amigos da ordem (Senadores) deram o voto a Silano e Murena.

Esta terceira derrota de Catilina precipitou a crise. Na noite de 6 a 7 de novembro, o revolucionário reuniu os seus na casa de M. Pórcio Leca a fim de deliberar sobre as últimas medidas. Dois conjurados tomaram a si matar Cícero na manhã do dia 8; mas este, prevenido por Fúlvia, escapou. Na manhã do mesmo dia, o cônsul convoca o Senado no templo de Júpiter Estátor. O próprio Catilina teve a ousadia de comparecer à sessão. Proferiu, então, Cícero a seguinte oração, cheia de ameaças, que é conhecida sob o nome de Primeira Catilinária": ... 
(Até aqui, texto produzido por Pe. Dr. Bernardo H. Harmsen, C. M.)




III.  MINHA TRADUÇÃO DA PRIMEIRA CATILINÁRIA DE CÍCERO COM EXPLICAÇÕES



DISCURSO QUE  M. T. CÍCERO PROFERIU CONTRA L. CATILINA NO SENADO


EXÓRDIO "EX ABRUPTO"
A modéstia de uma Introdução exige que ela não prometa demais. Certamente essa é a regra geral, ou seja, que o orador não deveria apresentar toda a sua força no começo, permitindo o crescimento das emoções com o avanço do discurso. As exceções a essa regra são no caso em que o assunto é tal que a sua própria menção naturalmente desperta alguma emoção apaixonada. Desta forma, o comparecimento de Catilina, mesmo sabendo que a conjuração estava descoberta, torna muito natural e apropriado o veemente início da primeira Oração de Cícero contra aquele, levando o orador a instigar a indignação contra o descaro do interpelado.
Imagem da p. 44 mostrando o início do Exórdio da Primeira Catilinária
1. Ó Catilina, até que ponto abusarás ainda de nossa paciência? Até quando, ainda, nos iludirá este teu furor? Até que limite a audácia desenfreada se gabará? De nada valeram a guarda noturna do Palatino, nem as rondas noturnas da cidade, nem o temor do povo, nem o concurso de todos os bons, nem este local tão fortificado de reuniões; nem os rostos e a presença destes te valeram? Não sentes que teus pensamentos estão descobertos? Que fizeste a noite passada e a atrasada, onde foste, quem convocaste, que planejaste, qual de nós julgas ignorar essas coisas?


2. Ó tempos, ó costumes! ² O Senado sabe dessas coisas, o cônsul vê; todavia este vive. Vive? Também ao Senado até mesmo vem, torna-se membro do Conselho Público, indica e designa pelo olhar à matança cada um de nós. A nós, porém, varões fortes, parece-nos satisfazer à República, se evitarmos o furor e as armas dele. Ó Catilina, já há muito tempo, era necessário que tivesses sido conduzido à morte por ordem consular, que se te dirigisse a peste que tens maquinado para nós há tempos.

3. Cipião, varão muito célebre, pontífice máximo, matou como simples cidadão Tibério Graco, que abalava moderadamente a estrutura da República; porventura, nós cônsules suportaremos Catilina que deseja devastar pela morte e incêndios o orbe terrestre? Pois deixo de lado fatos por demais antigos, em que Servílio Ahala com suas próprias mãos matou Mélio quando planejava inovações. Existiu sim, existiu outrora essa virtude nesta República, de homens fortes coagirem com suplícios mais duros o cidadão do que o mais acerbo inimigo. Ó Catilina, temos o decreto do Senado para ti; à República não faltam conselho nem autoridade dessa corporação; nós, nós cônsules, digo-o abertamente, faltamos.

4. Antigamente o Senado decretou que o cônsul Opímio ³ cuidasse para que a República não padecesse tal coisa. Nenhuma noite transcorreu; por umas certas suspeitas de sedições foi morto Caio Graco, mesmo tendo sido ilustríssimo seu pai , avô, antepassados; (também) foi morto com os filhos o cônsul M. Fúlvio .
Por semelhante decreto do Senado, a República foi confiada aos cônsules C. Mário e L. Valério. Por acaso, a pena de morte da República foi adiada por um dia quando se tratou de L. Saturnino, tribuno da plebe, e de C. Servílio, pretor? Mas realmente nós, já por vinte dias, suportamos deixar a espada da autoridade senatorial embainhada. Temos decreto do Senado dessa natureza, mas guardado nos arquivos, como a espada escondida na bainha, pela qual convém que sejas morto logo, Catilina. Vives, e vives, não para depor, mas para confirmar a audácia.


 CONTENTIO

Desejo, Senadores , ser clemente; desejo não parecer relaxado em tantos perigos à República; mas já me condeno pela inércia e fraqueza.

5. Há acampamentos contra o povo romano na Itália, colocados nos desfiladeiros da Etrúria; o número dos inimigos cresce cada dia; vemos, porém, o seu general e comandante dos inimigos dentro dos muros e até no Senado, tramando certa calamidade interna à República. Se eu te mandar prender e matar, Catilina, deverei respeitar que os bons me digam que isso foi feito mais tardiamente do que alguém diga (de mim) que foi feito cruelmente demais.
Na verdade, o que importava ter feito antes, por certo motivo ainda não sou levado a fazer. Então, em suma, morrerás, quando já ninguém tão ímprobo, tão perdido, tão semelhante a ti possa ser encontrado, para quem isso pareça não ter sido feito conforme o direito.

6. Enquanto houver alguém que ouse defender-te, viverás assim como agora vives, cercado pelos meus guardas muito numerosos e fortes, para que não possas insurgir-te contra a República. Os olhos e os ouvidos de muitos olharão e vigiarão sem que o percebas, como o fizeram até agora!


CORPO DO DISCURSO
Primeira parte: Cícero quer provar a Catilina que a única coisa que lhe resta fazer é deixar a cidade. Descobriu-se a conjuração e o cônsul tomou todas as precauções.

Com efeito, o que há, Catilina, que esperas a mais, se nem a noite pode esconder com as trevas as reuniões criminosas, se nem a casa particular pode conter com as paredes as vozes de tua conjuração? Se todas as coisas estão esclarecidas, se emergem? Muda já esta opinião, acredite em mim: esquece-te das matanças e dos incêndios. Em toda a parte estás cercado; para nós, todos os teus pensamentos são mais claros do que a luz; se quiseres, examinaremos agora os fatos.

7. Lembras-te de que, antes do dia 21 de outubro , disse no Senado que C. Mânlio, satélite e auxiliar de tua audácia, empunharia armas num dia determinado (que esse dia seria 27 de outubro)? Acaso me enganou, Catilina, não só uma coisa tamanha, tão atroz e incrível, mas também  o que é muito mais de admirar,  o dia?
De fato eu disse no Senado que marcaste a matança dos "optimates" para o dia 28 de outubro, quando então muitos chefes da cidade fugiram de Roma, não tanto para se salvarem quanto para impedirem os teus planos. Por acaso és capaz de negar que naquele mesmo dia não pudeste revoltar-te contra a República, quando estavas cercado de meus guardas por minha diligência, e, com a saída de outros, dizias estar contente com a matança de nós que ficáramos?

8. Que achas? Quando dizias que haverias de ocupar Preneste em ataque noturno nas próprias Calendas de novembro, não percebeste que aquela colônia foi fortificada, a mando meu, por meus soldados, guardas e vigias? Nada fazes, nada tramas, nada pensas; considera que eu não esteja não só ouvindo, mas também vendo e percebendo claramente.
Cícero sabe perfeitamente o que resolveram os conjurados em casa de Marco Leca
Recorda comigo aquela noite passada; logo entenderás que eu vigio muito mais zelosamente para a salvação da República do que tu para a sua destruição. Digo que tu, na noite anterior, vieste à casa de M. Leca entre os fabricantes de foice; digo também que para o mesmo lugar vieram muitos sócios da mesma loucura e crime. Por acaso ousas negar? Por que calas? Se negares, darei provas. Vejo de fato alguns que estão aqui no Senado que estiveram junto de ti.

9. Ó deuses imortais! Onde estamos? Que República temos? Em que cidade vivemos? Aqui, aqui estão, em nosso meio, ó senadores, aqueles que, no lugar mais santo e importante do mundo, pensam na matança de todos nós, na ruína dessa cidade e até do orbe! Eu, cônsul, vejo esses e peço uma sentença à República, e aqueles que ora preciso trucidar, nem com a voz os firo ainda.
Portanto, Catilina, estiveste na casa de Leca naquela noite; distribuíste as partes da Itália; estabeleceste onde te agradaria que cada um fosse; escolheste os que deixarias em Roma, os que levaria contigo; descreveste as partes de Roma para os incêndios; confirmaste que tu mesmo sairias logo; disseste que ainda demorarias um pouco porque eu vivia; foram encontrados dois cavaleiros romanos, que te livrariam dessa preocupação, os quais prometeram naquela mesma noite, um pouco antes da aurora, matar-me no meu leito.

10. Todas essas coisas eu descobri , mal findou a vossa reunião; guarneci e reforcei a minha casa com mais guardas; excluí aqueles que tu mandaras salvar-me de manhã. Que eles haveriam de vir, eu predissera a muitos e supremos homens.
O orador aconselha Catilina a exilar-se voluntariamente
Assim sendo as coisas, Catilina, continua onde começaste: sai já de Roma! As portas estão abertas: parte! Há muito tempo esse teu acampamento manliano ¹⁰ te deseja como imperador. Leva contigo também todos os teus; senão, a maior parte. Purga a cidade. Vais livrar-me de grande medo, quando entre mim e ti se interpuser um muro. Não podes mais permanecer conosco; não suportarei, não padecerei, não permitirei.

11. Aos deuses imortais e também a este Júpiter, antiquíssimo guarda dessa cidade, deve-se dar uma grande graça, porque escapamos já tantas vezes desta peste tão tétrica, tão horrível e tão perniciosa para a República. A suma salvação da República não deve periclitar por causa de um homem só. Todas as vezes que me perseguiste como cônsul eleito, não me defendi com a guarda pública, mas por diligência própria. Quando nos últimos comícios consulares quiseste matar a mim cônsul e a teus adversários no Campo, reprimi tuas malditas tentativas de crime com o auxílio e tropas de amigos, sem levantar nenhum tumulto público; portanto, de fato, todas as vezes que me atacaste, por mim mesmo resisti a ti, embora visse que a minha ruína estava unida com a grande calamidade da República.

12. Agora abertamente atacas toda a República; levas à ruína e devastação os templos dos deuses imortais, as casas de Roma, a vida de todos os cidadãos, a Itália toda. Porque não ouso ainda fazer aquilo que deveria ser feito em primeiro lugar e que seria mais próprio destes (meus) poderes extraordinários e da disciplina dos antepassados, farei aquilo que é mais suave para a severidade e mais útil para a salvação comum. Com efeito, se mandar-te matar, ficará na República o bando restante de conjurados; mas, se saíres (a que de há muito te exorto), sairá de Roma a grande escória dos teus companheiros, perniciosa à República.

13. O que há, Catilina? Por acaso hesitas, se eu mandar, em fazer o que já estavas para fazer espontaneamente? O cônsul manda o inimigo sair de Roma. Me perguntas: por acaso, para o exílio? Não imponho, mas, se me consultas, aconselho-o.
Permanecer na cidade não tem mais encanto algum para Catilina, pois todos estão a par das torpezas de sua vida privada e de seus crimes contra a República.
O que há de fato, Catilina, que possa deleitar-te nesta cidade, onde não há ninguém, fora dessa conjuração de homens perdidos, que não te tema; ninguém, que não te odeie. Que marca de tua torpeza doméstica não está impressa em tua vida? Que desonra de casos particulares não está ligada à tua infâmia? Que lascívia esteve ausente dos teus olhos, que crime, alguma vez, longe das tuas mãos, que mancha, longe de todo o teu corpo? Para qual adolescente, que envolveste com as carícias da depravação, não forneceste ou a espada para a insolência ou o incentivo para a imoralidade?

14. O que dizes? Há pouco, quando, com a morte da tua esposa anterior, esvaziaste a casa para novas núpcias, por acaso não aumentaste com outro crime incrível este crime? o qual eu omito, e facilmente consinto em calar, para que não pareça que nesta cidade ou existiu ou não foi vingada a desumanidade de tão grande crime. Omito todas as ruínas dos teus bens, as quais perceberás iminentes nos próximos idos ¹¹; trato daquelas coisas que não se referem à ignomínia particular de teus vícios, nem à tua penúria doméstica e torpeza, mas à suprema salvação da República e à vida de todos nós.

15. Por acaso, podem esta luz ou o ar deste céu, ó Catilina, ser agradáveis a ti, sabendo que nenhum destes (senadores) ignora que estiveste armado no comício antes das calendas de janeiro ¹², sendo cônsules Lépido e Tullo? que preparaste um grande bando para assassinar os cônsules e os principais da cidade? que obstou (a concretização do) teu crime e teu furor, não alguma reflexão  nem temor de tua parte, mas a boa sorte da República?
Mas omito agora aquelas coisas; pois nem são ignoradas, nem são muitas as cometidas depois. Quantas vezes me tentaste matar, tanto como cônsul eleito, quanto como cônsul efetivo. A quantos golpes de tal modo desferidos, que pareciam não poderem evitar-se, eu escapei com um pequeno desvio e, como se diz, com o corpo! Nada obténs, nada consegues e, todavia, não desistes de tentar e querer.

16. Quantas vezes foi arrancado este punhal de tuas mãos? Quantas vezes escorregou por alguma casualidade e escapuliu? Desconheço na verdade a que rituais ¹³ este punhal tenha sido consagrado e dedicado por ti, que julgas ser necessário cravá-lo no corpo do cônsul.
A presença de Catilina, ninguém a pode tolerar por mais tempo. A própria pátria dirige-lhe um apelo para que se afaste.
Mas, em realidade, que vida é esta tua? Pois falarei contigo desta forma não como alguém que pareça movido pelo ódio, como devo, mas como quem está movido pela misericórdia, que não te é devida absolutamente. Um pouco antes vieste ao senado. Quem desta tão grande assembleia, de tantos  amigos e parentes teus te saudou? Se isto não aconteceu a ninguém, desde que há memória dos homens, esperas a reprimenda da palavra, quando estás oprimido pelo gravíssimo juízo do silêncio? Mas que dizer do fato de que estas cadeiras foram evacuadas com a tua chegada? que dizer de que  todos os ex-cônsules, os quais muitíssimas vezes foram marcados por ti para morrer, deixaram esta parte das cadeiras desocupada e vaga, logo que sentaste? Com que sentimentos julgas que isso deve ser encarado por ti?

17. Por Hércules! se os meus escravos me temessem da forma como te temem todos os teus concidadãos, julgaria dever abandonar a minha casa: e tu não pensas que devas abandonar a cidade? E se me visse tão gravemente suspeito de dano e tão detestado, preferiria ser privado da presença dos (meus) concidadãos, a ser observado pelos olhares hostis de todos; e tu, reconhecendo, pela consciência dos teus crimes, que o ódio de todos (é) justo e devido a ti há muito tempo, hesitas em evitar a vista e a presença cujos espíritos e sentimentos feres? Se os teus pais te temessem e odiassem, e não pudesses de forma nenhuma aplacá-los, creio que te retirarias para algum lugar longe de seus olhos. Agora a pátria, que é a mãe comum de todos nós, te odeia e teme e julga que tu há muito tempo nada cogitas senão no seu matricídio; tu não respeitarás a autoridade dela, nem seguirás o seu juízo, nem temerás a sua força?

18. Ela (a pátria) assim se dirige a ti, Catilina, e, mesmo calada, de certo modo está dizendo: "Já há alguns anos nenhum crime existiu, senão por meio de ti, nenhum escândalo sem ti; para ti só ficou impune e livre a matança de muitos cidadãos, bem como a opressão e o saque dos aliados; tu tiveste força não só para desdenhar leis e decisões dos tribunais como também para derrubá-las e anulá-las. Embora aqueles fatos precedentes não devessem ser suportados, contudo, como pude, tolerei; agora, porém, não se deve tolerar que eu esteja toda apavorada por causa de ti somente, que Catilina seja temido a qualquer alarme, nem se deve tolerar que nenhuma deliberação, que repugne o teu crime, pareça possível ter sido tomada contra mim. Por esse motivo, afasta-te e livra-me desse medo, para que, sendo justificado, eu não seja oprimida, mas sendo falso, finalmente um dia eu deixe de temer."

19. Se a pátria, como eu disse, falasse contigo estas coisas, porventura não deveria conseguir o seu intento, mesmo se não pudesse empregar a força?
Pondo-se sob a guarda de um cidadão, o próprio Catilina reconhece sua culpabilidade. Com muita insistência pede-lhe o Senado que se afaste.
Que dizer do fato que tu mesmo te puseste em guarda? (que dizer) de que para evitar suspeitas, disseste que querias morar em casa de Mânio Lépido e, não sendo por ele recebido, ousaste até vir ter comigo e pediste que te guardasse em minha casa? Como também de mim recebestes esta resposta, de que eu não podia de nenhum modo estar seguro contigo nas mesmas paredes, pois eu me achava em grande perigo por estarmos dentro dos mesmos muros, vieste à casa do pretor Quinto Metelo. E tendo por este sido repudiado, te dirigiste ao teu companheiro, o excelente varão ¹ M. Metelo, o qual julgaste que haveria de ser não só diligentíssimo para guardar-te, sagacíssimo para arquitetar suspeitas e poderosíssimo para (te) vingar. Mas quão distante parece estar do cárcere e das algemas quem se julgou digno de guarda!

20. Como essas coisas são assim, Catilina, hesitas, se não podes morrer com espírito sereno, em partir para outros países e em confiar ao exílio e à solidão esta vida, arrancada a muitos, justos e merecidos suplícios? "Consulta o Senado", dizes tu ¹; com efeito, pedes tal coisa, e se este Senado decidir que lhe agrada que tu vás para o exílio, dizes que hás de obedecer. Não proporei isto que está em contradição com meus costumes; e, contudo, farei com que compreendas o que estes (Senadores) pensam de ti. Sai da cidade, Catilina, libera a república do medo, parte para o exílio, se esperas esta palavra. Que há? porventura não esperas, acaso não percebes o silêncio destes (Senadores)? Toleram, calam-se. Por que esperas o decreto deles falando, quando percebes a vontade deles calados?

21. Mas se eu tivesse dito isso mesmo a este excelente jovem, Públio Séxtio, e ao valentíssimo varão Marco Marcelo, o Senado, neste mesmo templo, de pleno direito, já teria lançado a violência e as mãos sobre mim cônsul. Porém, Catilina, quando ficam quietos a teu respeito, aprovam; quando toleram, decidem; quando se calam, gritam. Nem são somente aqueles cuja autoridade te é cara, cuja vida é depreciadíssima, mas também esses cavaleiros romanos, varões muito honrados e excelentes, e os demais cidadãos esforçadíssimos, que cercam o Senado, cuja afluência tu pudeste pouco antes não só ver quanto perscrutar os desejos e ouvir as vozes. Induzirei facilmente esses mesmos (homens), cujas mãos e armas já há muito tempo contenho para longe de ti, a que te acompanhem até às portas, ao deixares esses lugares que há muito tempo desejas destruir.
Cícero enfrentará corajosamente o ódio e os perigos que resultam da saída de Catilina.
22. Mas, o que digo? Por acaso é possível que algo te abale? Que algum dia te corrijas? Que planejes alguma fuga? Que penses em algum exílio? Oxalá os deuses imortais te deem este pensamento! Contudo, se tu, apavorado com as minhas palavras, decidires ir para o exílio, quão grande tempestade de ódio nos advirá, se não no momento atual, sendo recente a lembrança dos teus crimes, ao menos para o futuro.  Mas a coisa é de tanta importância para mim, contanto que esta desgraça seja particular ¹e esteja apartada dos perigos da república. Entretanto não se deve pretender que te revoltes contra os teus vícios, que temas as punições das leis, que transijas com as circunstâncias críticas da república. Na verdade, nem tu, Catilina, és tal que a vergonha te faça desviar da torpeza, ou o medo (te faça afastar-se) do perigo, ou o bom senso (te faça desistir) da cólera.

23. Por esse motivo, como eu já disse muitas vezes, parte; e, se queres suscitar hostilidade contra mim, inimigo teu, como proclamas, vai direto para o exílio; mal suportarei as maledicências das pessoas, se fizeres isso; dificilmente sustentarei o peso dessa animosidade, se, por ordem do cônsul, fores para o desterro. Porém, se preferes concorrer para o meu louvor e glória, sai com um bando intratável de celerados, dirige-te a Mânlio, incita os cidadãos depravados, separa-te dos bons, traze a guerra à pátria, rejubila com o latrocínio ímpio, para que não pareça teres sido desterrado para o estrangeiro por mim, mas convidado para junto dos teus.

24.  Mas, por que convidaria eu a ti, por quem já sei que foram mandados antes os que, armados, te esperariam perto da praça Aurélia? (a ti)  por quem já sei que foi combinado e marcado um dia com Mânlio; (a ti) por quem também estou sabendo que foi mandada antes aquela águia de prata ¹, que confio haverá de ser perniciosa e funesta a ti e a todos os teus e para a qual foi erguido em tua casa uma capela de teus crimes. Como poderias passar muito tempo sem ela, que costumavas adorar ao partires para a matança e por cujos altares muitas vezes passaste essa ímpia mão direita para o assassinato de teus concidadãos?
No exílio, Catilina encontrará os companheiros que lhe convêm.
25. Irás finalmente um dia para onde esta tua cobiça desenfreada e louca te arrastava há muito tempo. Nem, com efeito, este fato te traz dor, mas um certo inacreditável prazer. Para esta demência a natureza te gerou, a vontade te adestrou, te reservou a sorte. Nunca desejaste não só o ócio, mas nem sequer a guerra, senão quando criminosa. Achaste um bando de criminosos contituído de perdidos e destituídos não só de toda sorte, mas também de (toda) esperança.

26. Aqui ¹, de que alegria desfrutarás! com que gozos exultarás! Em que grande prazer te agitarás, quando, em tão grande número dos teus, não ouvires nem vires nenhum homem de bem! Para a prática de tal vida foram  planejados aqueles teus trabalhos ¹, (que são) muito elogiados. Tens ocasião de mostrar aquela tua notável resistência à fome, ao frio, à falta de todas as coisas, pelas quais sentirás em breve seres consumido.

27. Tirei tanto proveito então quando te afastei do consulado, para que pudesses como exilado procurar seduzir a república do que como cônsul atormentá-la, e para que isto, que tinha sido empreendido criminosamente por ti, fosse chamado antes latrocínio do que guerra.


REFUTAÇÃO
Segunda parte: Cícero julga mais prudente não fazer morrer Catilina. A pátria exprobra ao cônsul o ter poupado seu mais ferrenho inimigo.
Agora, senadores, para que afaste e desvie de mim uma queixa quase justa da pátria, diligentemente queiram atentar para as coisas que vou dizer e confiai-as profundamente às vossos espíritos e mentes. Com efeito, se a pátria, que é para mim muito mais cara do que a minha própria vida, se a Itália inteira, se toda a república falar comigo deste modo: "Marco Túlio, que fazes? Tu suportarás que parta aquele, que descobriste ser inimigo, o qual vês que haverá de ser o chefe da guerra, o qual percebes estar sendo esperado como general no acampamento dos inimigos, o autor do crime, o chefe da conjuração, o instigador dos escravos ² e dos cidadãos perdidos, de modo que pareça ter sido não expulso da cidade mas atirado contra ela? Acaso não ordenarás que este (homem) seja conduzido ao cárcere, levado à morte, morto com o supremo suplício?"

28. "Enfim, o que é que te impede? Porventura o costume dos antepassados? Mas muitíssimas vezes ²¹ nesta república até particulares puniram com a morte os cidadãos perniciosos. Acaso as leis, que foram promulgadas ²² sobre as penas dos cidadãos romanos? Mas nunca, nesta cidade, conservaram os direitos de cidadãos os que se rebelaram contra a república! Porventura temes o ódio da posteridade? Na verdade concedes uma graça notável ao povo romano, que, por todos os degraus das honras, tão cedo ²³ te elevou ao supremo governo, sendo tu homem conhecido por ti mesmo ², sem recomendação alguma dos antepassados. Então, cabe a pergunta: desistes da salvação de teus concidadãos, por causa do receio do ódio (de partidos políticos) ou de algum perigo?"

29. "Mas, se algum receio de ódio existe, não se deve temer mais intensamente o ódio da severidade e do valor do que o ódio da inércia e da fraqueza? Acaso, quando a Itália for devastada pela guerra, (quando) as cidades forem saqueadas, (quando) as casas forem incendiadas, então julgas que não haverás de arder numa fogueira de ódio?
Resposta de Cícero. A morte de Catilina não determina o fim da conspiração. Há quem não acredite nos crimes do conspirador.
A essas justíssimas palavras da república e aos corações daqueles homens que sentem o mesmo responderei em poucas palavras. Senadores, se eu julgasse que o melhor a ser feito é condenar à morte Catilina, não concederia a esse gladiador o gozo de uma hora para viver. Com efeito, se homens eminentes e muito ilustres, não só não se mancharam com o sangue de Saturnino e dos Gracos, de Flaco e de vários outros anteriores (a esses), mas, ao contrário, se honraram, certamente eu não devia recear que, morto esse assassino dos cidadãos, recaísse sobre mim algum ódio na posteridade. E se esse (ódio) fosse iminente sobretudo contra mim, todavia sempre fui da opinião, que considera o ódio causado pela virtude, não como ódio, mas como glória.

30. Contudo existem alguns neste Senado, que ou não vêm essas coisas, que são iminentes, ou dissimulam as que percebem; e esses (Senadores) alimentaram a esperança de Catilina com sentenças brandas, e corroboraram a conjuração nascente, não acreditando (nela); e, se eu me revoltasse contra este, muitos, não só perversos mas também inexperientes, seguindo a autoridade daqueles, diriam que (isso) foi feito cruel e tiranicamente. Entendo agora, que se este (Catilina) chegar ao acampamento de Mânlio, para onde se dirige, ninguém haverá de ser tão louco, que não veja que a conjuração foi feita, nem tão malvado, que não o confesse. Morto este único (homem), entendo que esta peste da república pode ficar comprimida por pouco tempo, não ser reprimida para sempre. Já se sair, levar consigo os seus e ajuntar no mesmo lugar os restantes fracassados recolhidos de toda a parte, seria extinta e debelada não só esta peste tão crescida da república, como também a origem e a semente de todos os males.

31. Com efeito, Senadores, há muito tempo vivemos nestes perigos e ciladas da conjuração; mas não sei a razão de ter irrompido no tempo do nosso consulado a maturidade de todos os crimes e da antiga fúria e audácia. Ora, se este único (homem) for tirado de tão grande bando de salteadores, talvez pareceremos estar livres de preocupação e temor, por breve espaço de tempo; o perigo, porém, permanecerá e ficará encerrado profundamente nas veias e vísceras da república. Como frequentemente homens enfermos de grave moléstia, quando se agitam com febre e calor, se beberem água gelada, no começo parecem ficar aliviados, mas depois sofrem uma recaída muito mais grave e violenta; assim esta doença que reside na república, aliviada com a punição deste, se agravará mais fortemente, caso os restantes fiquem vivos.


PERORAÇÃO

Partam os conjurados de Roma! Júpiter proteja a cidade e castigue os conspiradores!
Por isso, afastem-se os ímprobos, semparem-se dos bons, reúnam-se num só lugar, enfim fiquem isolados de nós por uma muralha, o que já disse muitas vezes; deixem de amar ciladas para o cônsul em sua casa, (deixem de) cercar o tribunal do pretor urbano, (deixem de) assediar o Senado com armas, (deixem de) preparar incendiários e fachos para incendiar a cidade; enfim, seja inscrito na testa de cada um o que pensa sobre a república. Eu vos prometo isto, ó Senadores, tão grande há de ser o zelo em nós cônsules, tão grande em vós a autoridade, tanta valor nos cavaleiros romanos, tamanha harmonia em todos os bons (cidadãos), que vereis, com a partida de Catilina, tudo ficar às claras, manifesto, esclarecido, aniquilado e vingado. Depois disso tudo, Catilina, parte para a guerra ímpia e criminosa, com a salvação completa da república e com a tua calamidade e perdição, assim como com a eliminação daqueles que se aliaram contigo em toda a espécie de crimes e parricídio!
Então tu, ó Júpiter ², que foste colocado por Rômulo sob os mesmos auspícios, com os quais esta cidade (foi fundada), a quem chamamos com razão Estátor desta cidade e (deste) império, afastarás este (homem) e os companheiros dele dos teus altares e demais templos, das casas e muralhas da cidade, da vida e haveres de todos os cidadãos, e punirás com suplícios eternos, vivos e mortos, todos os inimigos da gente de bem, adversários da pátria, salteadores da Itália, unidos entre si por uma aliança de crimes e por pacto sacrílego!




IV.  NOTAS EXPLICATIVAS




¹   Candidatando-se ao consulado pela segunda vez após ter perdido a primeira candidatura, Catilina era  um advogado dos pobres, exigindo cancelamento das dívidas e redistribuição das terras. Cícero, indignado, promulgou uma lei probindo maquinações deste tipo. Ficou claro para todos que a lei foi direcionada especificamente a Catilina. Por sua vez, este conspirou para assassinar Cícero e os principais senadores no dia da eleição (2ª conspiração catilinária). Cícero descobriu o plano e adiou a eleição para dar ao Senado tempo para discutir a tentativa de golpe de estado.
Cf. in https://en.wikipedia.org/wiki/Catiline_Orations

²  Parece que aqui Cícero invoca a célebre sentença de Horácio Quid leges sine moribus vanae proficiunt?  De que valem as leis sem os costumes (que lhes correspondam)? Cf. in http://domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=4675

³  Lúcio Opímio, cônsul em 121, mandou matar Caio Graco, que retomara as reformas de seu irmão Tibério.

⁴ Tibério Semprônio Graco, cônsul por duas vezes, foi grande estrategista e hábil governador; casou-se com Cornélia, filha de Cipião, o primeiro Africano (avô).

Marco Fúlvio Flaco, amigo de Caio Graco, queria conferir a cidadania a todos os Itálicos a fim de contrabalançar o número dos partidários da aristocracia.

  Em latim, Patres conscripti. De acordo com a lenda, Rômulo instituiu um senado consistindo de cem cidadãos idosos, denominados Patres. Os descendentes desses cem cidadãos subsequentemente se tornaram a classe de patrícios. Depois que os Sabinos se juntaram ao Estado, foram adicionados outros cem. Tarquínio Prisco, o quinto rei, acrescentou uma terceira centena escolhida das famílias, chamando-os de Patres Minorum Gentium (senadores dos plebeus). Quando Tarquínio o Soberbo, o sétimo e último rei de Roma, foi banido, vários membros do senado o seguiram, e as vagas foram preenchidas por Júnio Bruto, o primeiro cônsul. Os novos membros foram matriculados no registro senatorial, pelo que passaram a ser chamados de Conscripti (matriculados, alistados, convocados). Por metonímia, todo o corpo senatorial passou a ser designado por Patres (et) conscripti.
[SOUSA, s/d, 9] atribui a Sérvio Túlio as reformas que descontentaram os patrícios: 
"Com efeito, esboçou-se a monarquia na realeza primitiva, mas o poder era controlado pela aristocracia dos patrícios, cuja força se fez sentir na deposição do último rei. As reformas de Sérvio Túlio descontentaram os patrícios, devendo nisto ver-se a causa da expulsão de Tarquínio, o Soberbo. Proclamada a República, essa força continuou a atuar, o prestígio do Senado era incontrastável e a duras penas foi a plebe arrancando os patrícios o reconhecimento dos seus direitos. Ademais, o poder dos dois cônsules, renovado anualmente, muito longe estava de assegurar a unidade e continuidade, vantagens próprias da monarquia." 
   Era o dia do famoso senatus consultum.

   Os "optimates" constituíram a facção aristocrática da República romana tardia. Desejavam limitar o poder dos plebeus (nucleares nas assembleias populares romanas) e aumentar o do Senado Romano, o qual consideravam mais estável e melhor na hora de buscar o bem-estar de Roma. Os optimates favoreceram as famílias nobres e se opuseram à ascensão tanto dos "homens novos" (plebeus, romanos geralmente nascidos nas províncias, cujas famílias não tinham ancestrais ilustres) dentro da política romana, quanto dos "populares" (patronos da plebe). Curiosamente, dois dos principais líderes da facção conservadora, Cícero e Pompeu, eram homens novos.
Além de perseguir os objetivos políticos supracitados, os optimates se opuseram à extensão da cidadania romana a territórios situados fora da Península Itálica e inclusive a nascidos ali como os Samnitas. Favoreceram altos tipos de interesse, opuseram-se à expansão da cultura helenística dentro da sociedade romana e tiveram o cuidado de prover de terras os soldados da reserva, crendo que assim era menos provável que apoiassem setores rebeldes.
Os optimates alcançaram sua hegemonia durante a ditadura de Lúcio Cornelio Sila (81-79 a.C.), o qual voltava do Oriente após derrotar o rei Mitridates VI, obrigando-o a firmar a Paz de Dárdanos em 86 a.C. Sua volta à Itália precipitou a Primeira Guerra Civil (88-81 a.C.), na qual derrotou os líderes populares Cneu Papírio Carbón e Caio Mário o Jovem.
Durante seu mandato, as assembleias populares foram despojadas de quase todo seu poder, o poder do Senado foi solidificado, passando de 300 a 600 membros, milhares de soldados colonizaram o norte da Península Itálica e membros da facção popular foram executados mediante as listas de proscritos. Mas, depois da renúncia e morte de Sila, muitas de suas políticas foram congeladas.
Cf. in https://es.wikipedia.org/wiki/Optimates e https://pt.wikipedia.org/wiki/Optimates

   Por meio de Fúlvia.

¹⁰   Referem-se a C. Mânlio, aliado de Catilina.

¹¹    Os idos eram o último dia para pagar dívidas.

¹²  No último dia do ano de 66 a.C., Catilina e seus cúmplices compareceram no comício com o intuito de matar os cônsules designados para 65 a.C., L. Cota e L. Torquato. A conspiração, porém, foi descoberta a tempo.

¹³   Alusão ao voto de oferecer o punhal como ex-voto a um deus, depois do assassínio.

¹  Ignora-se quem seja M. Metelo. O epíteto "excelente varão" é uma ironia mordaz, porque Catilina, embora sob custódia assistira à reunião na casa de Leca.

¹  Catilina sabia bem que nem os cônsules nem o Senado podiam exilá-lo; só um tribunal regular tinha competência para isso.

¹  Cícero considera a possível impopularidade que possa resultar o exílio de Catilina.

¹  Catilina possuía e venerava a águia de prata que Mário usara na guerra contra os cimbros. Na batalha de Pistóia, pereceu junto dela.

¹  Aqui, isto é, no meio desses homens criminosos.

¹ Catilina e seus amigos se gabavam dos exercícios físicos que praticavam e que o orador ironicamente chama de "trabalhos".

²  Catilina contava com o apoio dos escravos.

²¹  Trata-se de exageração retórica. O único caso conhecido é o de Cipião Nasica que matou Tibério Graco.

²²  Um cidadão romano, quando condenado à morte, tinha o direito de fazer um apelo ao povo, isto é, aos comícios centuriatos. O magistrado que não concedia esse direito era considerado como culpado de assassínio.

²³  Cícero havia alcançado o consulado "suo anno", isto é, com a idade mínima exigida pela lei (43 anos).

²  Por ti mesmo, isto é, "somente por teus próprios méritos". Cícero gosta de fazer alusão ao fato de que era "homo novus", isto é, sem antepassados que houvessem exercido a magistratura.

² Não nos esqueçamos de que, em 8 de novembro de 63 a.C., o templo de Júpiter Estátor foi o local escolhido por Cícero para a reunião do Senado Romano, diante do qual proferiu seu famoso discurso contra Catilina. O templo de Júpiter Estátor era um santuário dedicado ao deus Júpiter, localizado na área do Fórum Romano.



V.  BIBLIOGRAFIA 



HARMSEN, Pe. Dr. Bernardo H., C. M.: CÍCERO ANTOLOGIA com introdução e anotações de Harmsen, volume da Coleção Clássicos Vozes - Série Latina - II, Petrópolis: Editora Vozes Limitada, 1959, 212 p.

SOUSA, José Pedro Galvão: A Constituição Romana, disponível na Internet.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

JORNALISTA JOSÉ PASSOS DE CARVALHO É NOVO SÓCIO CORRESPONDENTE DO IHG DE SÃO JOÃO DEL-REI



Por Francisco José dos Santos Braga



Na manhã desta data de 3 de abril de 2016, na Sala Fábio Nelson Guimarães, verificou-se um fato da maior importância histórica para o Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei: o jornalista e presidente da ALL-Academia Lavrense de Letras foi submetido a escrutínio secreto dos confrades do IHG são-joanense, que aprovaram, por unanimidade, o ingresso de JOSÉ PASSOS DE CARVALHO nos quadros do sodalício, na categoria de Sócio Correspondente, após ter preenchido todos os requisitos para a sua admissão.
Toque de silêncio entoado pelo Sargento Miranda do 38º BPM
Confrades do IHG de São João del-Rei e convidados

Antes da reunião propriamente dita no recinto do IHG, todos os presentes foram convidados pelo presidente José Cláudio Henriques a assistirem à cerimônia do toque de silêncio, na pequena praça externa ao prédio do sodalício são-joanense, entoado pelo Sargento Miranda, do 38º BPM, sediado em São João del-Rei.
Presidente José Cláudio Henrique dá início à reunião

A reunião foi iniciada pelo presidente do IHG são-joanense, o jornalista e escritor José Cláudio Henriques, que convidou para tomar seu assento à Mesa dos trabalhos, ao lado dos outros membros da atual Diretoria, o jornalista, escritor e palestrante José Passos de Carvalho, o Comandante da 13ª RPM, Coronel Jesus Milagres, e o Comandante do 38º BPM, Tenente Coronel Nelson Alexandre da Rocha Queiroz.
Francisco Braga saúda José Passos de Carvalho em sua 2ª visita ao IHG

Em seguida, franqueou a palavra ao Secretário de Relações Institucionais do IHG, Francisco José dos Santos Braga, para a sua saudação ao eminente palestrante.

Francisco Braga iniciou sua saudação, informando que o presidente Henriques certamente o indicara para saudar José Passos de Carvalho por sua condição de ser Acadêmico Correspondente da Academia Lavrense de Letras em São João del-Rei. Acrescentou ainda que, diante da ordem, e como bom soldado, tinha adiado sua viagem a Brasília, para bem cumprir a missão que recebera do presidente.
Diploma de Honra ao Mérito Cultural "Professor Firmino Costa",
outorgado pela ALL ao IHG-SJDR

A seguir, Braga falou acerca da visita de cortesia que fizera Passos de Carvalho em 6 de março p.p. ao IHG são-joanense, quando fez a entrega formal do Diploma de Honra ao Mérito Cultural "Professor Firmino Costa" ao presidente José Cláudio Henriques,  representando o IHG naquela solenidade. Na mesma ocasião, Francisco Braga teve a honra de saudar o Acadêmico lavrense e de ser ouvido atentamente pelos confrades presentes.

Ainda a respeito de visita anterior de Passos de Carvalho ao IHG, Braga manifestou-se: "Queremos dizer-lhe que foi muito apreciada a sua primeira vinda a esta nossa Casa de Cultura, o que pode ser comprovado pelos e-mails que recebemos em resposta ao convite para comparecimento a esta sua palestra de hoje sobre o Tiradentes, Patrono Cívico das Polícias Civis e Militares, que passamos a citar nominalmente:

Braga: que a reunião do próximo dia 3/4/2016 possa ser elevada, como em geral têm sido os eventos desse importante IHGSJDR. Meu abraço ao J. C. Henriques e ao orador PASSOS DE CARVALHO por sua dedicação à causa maior de nossas Minas Gerais, que é a valorização de nossa História comum!
Por gentileza, comunique na reunião este nosso sinal de respeito pelo trabalho sério que é feito aí nessa Terra de TIRADENTES!
Mário Celso Rios
Presidente da ABL-Academia Barbacenense de Letras

Prezado Presidente José Cláudio Henriques,
Agradecendo pelo convite, congratulo-me com a Diretoria e associados do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei pela conferência do ilustre presidente da Academia Lavrense de Letras, Passos de Carvalho.
Trata-se de justa homenagem ao Patrono Cívico da Nação Brasileira, por ocasião das festividades da Inconfidência de Minas Gerais. 
Parabéns ao conferencista e a todos com meu abraço cordial.
Ângelo Oswaldo de Araújo Santos
Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais

Caro amigo Braga, sensibilizado, agradeço o Convite. Solicito-lhe a fineza de apresentar meus cumprimentos ao DD. Presidente da Academia Lavrense de Letras, PASSOS DE CARVALHO, em face de meu impedimento em estar presente.
Com os meus agradecimentos,
José Lourenço Parreira
Capitão do Exército

Transmita ao DD. Presidente da ALL, Passos de Carvalho, votos de felicidade e êxito na palestra a ser proferida. 
Por motivo de agenda, ficarei impossibilitado de prestigiá-lo.
Sucesso!
Obrigado,
João Carlos Ramos
Presidente da ADL-Academia Divinopolitana de Letras

Caríssimo amigo Braga,
Infelizmente tenho compromisso já agendado para o domingo, dia 3 de abril, às nove horas, ao qual não me posso furtar. Peço, se possível, justificar esta minha ausência. 
Sucesso para o evento!
Fernando Teixeira
Secretário-Geral da ADL-Academia Divinopolitana de Letras

Prezado amigo Francisco,
Boa tarde!
Acuso o recebimento do convite e expresso meu lamento pela ausência em palestra importante. Estarei fora da cidade neste final de semana.
Abrace Rute Pardini por mim.
Atenciosamente,
Artur Cláudio da Costa Moreira
Ex-Presidente do IHG-SJDR

Impossibilitado de comparecer, meu abraço ao palestrante e confrades.
Grato,
Rogério Medeiros Garcia de Lima
Desembargador do TJMG "

O Secretário Braga ainda disse, dirigindo-se a Passos de Carvalho: "Nós, confrades são-joanenses, sabemos da enorme dificuldade de sua vinda a São João del-Rei, devido a uma debilidade física, felizmente passageira, o que, em nosso entendimento, mais enaltece o seu gesto de aproximação para com esta Casa, numa evidente prova de sua elevada estima e consideração por nossos trabalhos."

Braga ainda mencionou que um dia depois de sua primeira vinda, mais exatamente no dia 7 de março p.p., a Academia Lavrense de Letras foi homenageada pelo Exército Brasileiro, através do Tiro de Guerra 04.031 com o "Diploma do Colaborador Emérito", em concorrida solenidade no auditório Lane Morton, com a presença de autoridades e de membros da Academia Lavrense de Letras.

Braga finalizou a sua saudação a Passos de Carvalho com a seguinte observação: "Os seus amigos do IHG de São João del-Rei querem manifestar a sua alegria pela valorização a que a ALL faz jus, durante a sua profícua e valorosa presidência, sendo reconhecida como entidade de inegável mérito cultural, digna de todas as honrarias e reconhecimento público." E acrescentou que, em nome do sodalício são-joanense, queria agradecer ao palestrante o púlpito e banner doados naquela data para serem utilizados doravante em suas reuniões. Passos de Carvalho, em breves e singelas palavras, explicou que aquela doação podia ser atribuída não só a ele, mas também ao Coronel Jesus Milagres e Francisco Braga, sócio correspondente da Academia Lavrense de Letras.


Passos de Carvalho profere sua palestra no IHG-SJDR

O jornalista e Acadêmico José Passos de Carvalho foi convidado a tomar seu lugar na tribuna, o qual deu então início à sua palestra intitulada ORIGENS DA MILÍCIA DE TIRADENTES, com duração previamente estabelecida de uma hora. 

Trata-se de tarefa muito difícil tentar resumir um assunto vasto e complexo que constitui um dos alentados livros do jornalista e escritor Passos de Carvalho.

Segundo o palestrante Passos de Carvalho, antes de 1775, as tropas que tínhamos eram compostas de portugueses e pagas pela Metrópole que aqui circulavam em nome do soberano português.

Chegando a Minas Gerais o governador Antônio de Noronha, Coronel de Infantaria do Exército Português, resolveu extinguir toda tropa existente, criando em 09 de junho de 1775 o RRCM-Regimento Regular de Cavalaria de Minas, com armamento adequado, oficiais e praças mais instruídos, remuneração paga pela própria Capitania e o corpo criado com estrutura semelhante ao Exército da Metrópole, com comandante, estado-maior, etc. Esse Regimento foi instalado em Cachoeira do Campo, município de Vila Rica, composto de oito companhias de cavalarias, sendo que a Sexta Companhia foi destacada em São João del-Rei, onde serviu o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, sob as ordens do Tenente Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade.

Vários nomes designaram a corporação e inúmeros comandantes exerceram o cargo de Comandante Geral, sendo que o primeiro Coronel da Corporação a comandá-la foi Álvaro Alvim de Menezes, em 1936. Em 1946 recebeu a designação de Polícia Militar de Minas Gerais, por força da Constituição Federal de 1946.

Atualmente a Corporação está nos 853 municípios mineiros, com atuação permanente e dentro de suas atribuições legais, agindo preventiva e repressivamente, se necessário.

Passos de Carvalho propôs que saudássemos Tiradentes, rememorando o seu nascimento em 1746 na Vila de São João del-Rei, com batismo em 12 de novembro do mesmo ano, conscientizando-nos de sua participação na vida militar e sua liderança inconteste na Conjuração Mineira, o qual acabou sendo executado, por seus ideais libertários, no final da manhã de 21 de abril de 1792, no Largo da Lampadosa, no Rio de Janeiro.

Tiradentes, esse invicto são-joanense, mineiro por excelência, teve sua infância na Fazenda do Pombal, onde nascera até perder a mãe aos 9 anos e o pai aos 11, passando a morar com seu padrinho, tendo iniciado o trabalho ainda jovem para sua sobrevivência. Foi um vulto ímpar e ainda continua sendo fonte e luz de inspiração para nós que acreditamos no País onde nascemos.

Concluída a palestra, Passos de Carvalho foi muito aplaudido pelos confrades presentes por sua palestra rica em pormenores históricos e genealógicos, tendo recebido um elogio público por parte do presidente do IHG e do Comandante da 13ª RPM.

Foi franqueada a palavra a quem quisesse dela fazer uso. O confrade Murilo Geraldo de Souza Cabral declamou um texto de Osho, o qual recomendava sempre fazer a opção por coisas que fizessem nosso coração vibrar. Em seguida, relatou como a confreira Ana Cintra e ele salvaram do vandalismo uma placa sobre um pedestal, ambos de ferro, que mostrou a todos os presentes e que constituíam uma homenagem da municipalidade são-joanense por ter caminhado de Taubaté a São João del-Rei em 2004, celebrando os 300 anos do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, objeto da capa da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, volume XI, Ano 2005.

A seguir, foi lido o relatório, que analisou o currículo e outros documentos entregues pelo interessado, produzido pela comissão constituída de três confrades designados: Francisco José dos Santos Braga, Nêudon Bosco Barbosa e José Cláudio Henriques,  sob a coordenação do primeiro, em conformidade com os Estatutos do sodalício.

Francisco Braga mencionou que, na solicitação de ingresso no quadro de Sócios Correspondentes do IHG, o candidato José Passos de Carvalho relacionou os seguintes motivos de pertencer à Casa de Cultura são-joanense:
a) estava convencido de que o IHG são-joanense é uma entidade de respeitabilidade nacional, administrada por pessoas íntegras na busca da pesquisa histórica e geográfica;
b) tinha interesse nas atividades desenvolvidas ali, pois há mais ou menos quarenta anos vinha desenvolvendo pesquisa histórica, possuindo livros publicados de sua autoria;
c) acreditava que sua chegada àquela Instituição poderia acrescentar mais conhecimentos aos seus trabalhos de pesquisa, permitindo-lhe descrever os acontecimentos do nosso passado com a maior fidelidade possível;
d) sabia que o ingresso no IHG são-joanense, de notória respeitabilidade, exigiria dele moldar seus desejos aos interesses estatutários daquela Instituição; e
e) acreditava que seus conhecimentos poderiam ser ampliados e adquirir melhor qualificação descritiva, haja vista o aprendizado que circulava e existia dentro daquela Casa de Cultura.

A comissão constatou ainda, com base nos documentos apresentados, que a principal ocupação do interessado era constituída pelo jornalismo, pela atividade literária e pela pesquisa. Depois de apreciar sua formação acadêmica, o relatório concluiu que, dentre os inúmeros cursos que tinha frequentado na sua juventude, três foram os cursos que iriam direcionar toda a sua vida, a partir de então: 
a) em 1979: curso de Cabos da Polícia Militar de Minas Gerais no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, em Belo Horizonte;
b) inúmeros cursos de especialização em jornalismo em Brasília (1980) e São Paulo (1982);
c) em 1984: curso de Administração de Cruz Vermelha no órgão central da Cruz Vermelha Brasileira no Rio de Janeiro. 

A comissão relatou as diversas entidades de que o interessado participava como membro ativo: ABI-Associação Brasileira de Imprensa, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG, Cruz Vermelha Brasileira, Sociedade Teosófica Internacional, bem como AMORC-Antiga e Mística Rosacruz.

Foi também relatado que o interessado tinha militado em inúmeros órgãos da imprensa escrita e falada, cabendo destacar "A Gazeta de Lavras", onde exerceu a atividade jornalística como redator-chefe no período de 1989 a 1991, e a "Rádio Universitária FM UFLA", no período de 1985 a 1990. Digno de nota era também o fato de ter sido proprietário e diretor redator-chefe do jornal A GAZETA, fundado em Lavras em 25/03/1988.

Várias condecorações e distinções foram também recebidas e citadas no seu currículo. Mencionou ainda que Passos de Carvalho participava, como membro ativo, da ALL-Academia Lavrense de Letras, onde atualmente exercia a presidência, e da AFL-Academia Formiguense de Letras.

Entre suas obras escritas, fruto de sua experiência profissional, citou os seguintes livros publicados: Epítome Histórica da Cruz Vermelha, Fundamento Histórico do 8º BPM; Técnicas e Normas de Reportagens e Fragmentos Históricos da Milícia de Tiradentes.

A comissão finalizou o relatório com seu parecer conclusivo e favorável ao ingresso de José Passos de Carvalho no quadro social do IHG de São João del-Rei, na categoria de Sócio Correspondente, considerando as finalidades específicas do IHG-SJDR, com base em seu Estatuto.

Submetido o relatório ao escrutínio dos confrades presentes, José Passos de Carvalho foi admitido como Sócio Correspondente, por unanimidade, recebendo dos confrades presentes palmas e cumprimentos pela sua admissão.

Nada mais havendo a tratar, o presidente José Cláudio Henriques deu por encerrada a reunião, pedindo uma salva de palmas para o Pavilhão Nacional.


Da esq. p/ dir.: Passos de Carvalho, José Alberto Ferreira, Paulo Roberto de Souza Lima, Francisco Braga, Tenente Coronel Nelson Alexandre da Rocha Queiroz, Coronel Jesus Milagres, Agostinho Guimarães e José Cláudio Henriques 

Então, finalmente, José Cláudio Henriques convidou alguns confrades, o recém-admitido confrade palestrante José Passos de Carvalho e convidados a uma fotografia comemorativa à porta do IHG de São João del-Rei.