segunda-feira, 20 de junho de 2016

HORÁCIO OU O JUÍZO, por Afrânio Peixoto


Afrânio Peixoto (Lençóis, 1876-Rio de Janeiro, 1947)

I.  INTRODUÇÃO, por Francisco José dos Santos Braga



Tive a satisfação de publicar neste Blog do Braga minha tradução da "1ª Sátira (Livro I) de Horácio com comentários e breve notícia sobre sua vida e obra", em 24/09/2015. Devo confessar que esse meu trabalho resultou ser tão abrangente que não hesitei em transcrever aqui alguns de seus trechos na forma de Notas Explicativas que ora comento para esclarecer a monografia magistral de Afrânio Peixoto, intitulada "Horácio ou o Juízo", apresentada ou proferida em reunião da Academia Brasileira de Letras em 1935, ano em que se comemorava o bimilenário do nascimento do poeta latino. 

Essa monografia de Afrânio Peixoto mereceu honrosa publicação no volume V da Revista da Academia Brasileira de Letras de 1936, bem como no livro de seu autor, "Pepitas", de 1942 e de várias edições posteriores. É desse livro que vou servir-me para digitar o magnífico "Horácio ou o Juízo", a primeira pepita do livro em questão. 

Dadas as condições em que o discurso foi proferido, ou seja, no salão de reuniões da Academia Brasileira de Letras, e ouvido por eminentes Acadêmicos imortais, letrados brasileiros que seguramente tinham cursado as disciplinas "Língua Latina" e "Morfologia e Sintaxe Latina" por pelo menos cinco anos (na ocasião a formação ginasial e secundária era de cinco anos), achei conveniente escrever algumas notas explicativas, porque também tive a sorte de cursar essas disciplinas durante sete anos de minha formação secundária (quatro anos de curso ginasial e três de curso clássico), bem como ampliar tais conhecimentos com formação superior em duas universidades. Naquela época (década de 60), tais disciplinas eram pré-requisitos para os vestibulares de Jornalismo, Letras e Direito, pelo menos.

Antes, tentara localizar o trabalho na Internet – situação em que não precisaria digitar todo o texto de forma inédita  e no site da Academia Brasileira de Letras, mas minha busca foi em vão. Também não existe a obra digitalizada na rede. Restou-me então arregaçar as mangas (literalmente) e digitar as 15 páginas de que se compõe a referida monografia de Afrânio Peixoto, mas fi-lo com interesse e dedicação, uma vez que, através deste blog, poderão ter acesso a esse monumental trabalho de Afrânio Peixoto estudiosos, pesquisadores, acadêmicos e alunos de graduação e pós-graduação em Letras Clássicas. Quanto ao livro em si, o leitor pode garimpá-lo ou em um sebo ou na Estante Virtual, porque  reitero – não se encontra digitalizado na rede.

Devo finalmente confessar que me sinto orgulhoso de transcrever essa célebre monografia, num momento em que cresce o interesse pelas línguas clássicas, em especial o Grego e o Latim, em nosso País. E isso não é apenas um movimento nacional, mas também existente em Portugal. No portal português de Educação "educare.pt" pude comprovar que 2015 foi o "ano em que pela primeira vez os mais novos terão todos de aprender inglês, e que poderão também ter aulas de Latim e Grego, graças a um novo projeto de Introdução à Cultura e Línguas Clássicas". Tais notícias são alvissareiras, sobretudo quando se constata não ter sido definitivamente uma boa decisão excluir essas disciplinas do currículo escolar por serem consideradas "línguas mortas", cujo estudo foi infelizmente considerado "perda de tempo" pelos formuladores de uma determinada política educacional para os nossos países lusófonos. Em vários artigos neste Blog do Braga, mostrei que cientificamente se constata o contrário (ou seja, que o aprendizado do Latim e do Grego favorecem o estudo das línguas ocidentais em geral e da portugesa em particular), conforme provei no artigo "Grego antigo é aprendido na Inglaterra para melhorar o... Inglês" (01/09/2013) e "Humanidades, Língua Latina, Bento XVI e temas correlatos" (13/03/2013). Consta desse último, sobre o aprendizado da Língua Latina, um trecho em que João Paulo II assim se manifestou para os jovens de todas as nações: 
"Dirigimo-nos especialmente aos jovens: numa época em que em algumas áreas, como sabemos, a língua latina e os valores humanos são menos apreciados, vocês devem aceitar com alegria o patrimônio dessa língua que a Igreja tem em alta estima e devem, com energia, torná-la frutífera. As bem conhecidas palavras de Cícero "Non tam præclarum est scire Latine, quam turpe nescire" (trad. Não é nada especial saber Latim: é uma vergonha não sabê-lo), em certo sentido, são dirigidas a vocês. Exortamo-los todos a erguer alto a tocha do Latim que é mesmo hoje um elo de unidade entre os povos de todas as nações". [Cf. 27 de novembro de 1978; AAS 71 (1979) 46]



II.  Texto de "Horácio ou o Juízo" *

Por Afrânio Peixoto


A um poeta, pergunta um dia, o nosso Horácio ¹: Preferirias, insensato, fossem teus versos lidos nas escolas? E, peremptório, responde: Non ego. (Sat. I, 10,76). Pois foi-lhe o castigo, quasi imediato, da irônica posteridade. Com efeito, desde Cecílio Epirota ² , que introduziu nas classes os modernos poetas, até hoje, dois mil anos de sua glória... 

O bárbaro que o vem louvar conheceu-o na escola, e o amou tanto, pesar disso, que, através da vida, não pôde fugir a pagar-lhe, hoje e aqui, um débito, de gratidão e de amor... Horácio, que nisso acharia mesmo conformação, haveria de perdoar a aventura, tocado de tão ingênua admiração.

Louvem-lhe outros qualidades mais vistosas ou apreciáveis: para mim tem êle a mais rara, e, por isso, incomparável. Num panteão, entre todos os poetas, seu galardão seria êste, que não é de poetas, isso que ninguém mais tem, hoje em dia – o juízo... Como êste juízo falta a todo o mundo – condutores de povos, sacerdotes, filósofos, crentes, moralistas, sábios, mestres, toda a gente, – bem é que se louve, na sua vida e na sua poesia, a quem foi modelo constante e perene, dessa maravilha das maravilhas – juízo!

É o elogio de Horácio. Nasce em Venusa, na Apúlia, a 8 de Dezembro de 65 antes de nossa éra, e, com os 35 deste século, somam-se os dois mil anos em que isso foi. De pai humilde nasceu, que tinha pequeno emprego, cobrador de leilões, e privando depois com Mecenas ³, um ministro, e Augusto, um imperador, não o dissimula: homem de nascimento obscuro como eu, diz êle mesmo. Mas a esse pai, pater optimus (Sat. I, 4, 105), diz ainda, deve o que é. É êle que o conduz à escola, em Roma, dando-lhe os melhores mestres e os mais decentes vestidos, gastando nessa educação todo o pequeno pecúlio que o trabalho e as privações ajuntaram. Que importa ignotos ut me libertino patre natum (Sat. I, 6, 6) – um pai ilustre e nobres avós, a quem tem um dêstes? Declarou Horácio que, se, por milagre, pudesse volver atrás e ter o dom de escolher onde nascesse, contente do seu, era a êle que iria a sua preferência... Saudemos, comovidos, a esse pai de Horácio. "Se minha vida é honesta e pura, se sou caro a meus amigos, causa fuit pater his... (Sat. I, 6, 71-93) é a meu pai que o devo...

De Roma a educação se perfez, como era a regra da boa gente, em Atenas. O pequeno patrimônio ia esgotar-se, quando, entusiasmado com outros condiscípulos, pela causa republicana, faz-se soldado Horácio, seguindo a Bruto, até Filipos. Apesar de tribuno militar, comandante de uma legião, nas aperturas da batalha, tem o poeta de abandonar o escudo, para salvar a vida. É êle quem o conta e ninguém o saberia, se não fosse a sua sinceridade (Carm. II, 5, 10). Curado da aventura guerreira, ei-lo em Roma decisis humilem pennis, de asas quebradas. (Ep. II, 2, 50).

Sobrevem a amizade de Vergílio, que iria ser animæ dimidium meæ (Carm. I, 3, 8), metade de sua alma, e que o apresenta a Mecenas. Namora-se o ministro do juízo dêle, como era namorado da ternura do outro, e ficam os três correndo em amizade, uma dessas amizades clássicas que são honra do coração humano. O mais favorecido é, sem dúvida, o ministro, que aos amigos deve a imortalidade. Na vida, entretanto, entre homens desiguais pela fortuna do poder e da riqueza, não há sombra de dependência. Vergílio era tão digno, apesar de modesto, que recusa os bens de um exilado, que lhe oferecem e era vantagem pessoal, senão sinal de adesão à nova ordem romana, aceitá-los. É Donato quem o conta. Horácio nem um só louvor fez aos versos de Mecenas, por onde entraria mais depressa no coração do poderoso. Só provocado, ou solicitado, dirigiu versos a Augusto. Translada, entretanto, Suetônio, carta de Augusto a Mecenas, convidando Horácio a seu secretário, e é o pobre poeta que o recusa, a esse posto, de proveito e evidência. Que homem de letras se excursaria a tal honra e tantas vantagens, que, mesmo aqui, no humilde Brasil, leva, pelo menos, ao tribunal de contas? Só há, na história literária, outro exemplo, o de outro poeta, o nosso saudoso Mário de Alencar, que faz parelha a Horácio. Entretanto, ambos pobres, continuaram, graças ao juízo, sem honras, nem vantagens, mas com a poesia. Poetas!

Seduzido o ministro, a tanto juízo, procura, bom amigo, o que lhe convém: dá-lhe, de presente, uma terrinha, na Sabina, o único bem que virá a possuir: Satis beatus unicis Sabinis... (Carm. II, 17, 3). Contente e feliz, não quer Horácio mais nada. "Feliz, diz êle, o que longe do mundo e como os homens de outro tempo, lavra com os próprios bois o campo que seus pais cultivaram..." Mas a uma exigência, está o poeta a dizer ao amigo: "Diga-me uma só palavra e, sem pesar, lhe restituo tudo o que recebi." (Ep. I, 1, 8). Mecenas confirma a dádiva e a amizade...

Nada mais deseja. Ara o campo. Dorme às sestas, na relva. Não tem decepções às colheitas. A fome é o molho às refeições parcas (Sat. II, 2, 38). Quacumque libido est, incedo solus, vou, onde quer que me leve a fantasia. (Sat. I, 6, 141-2). É a independência. Não inveja a ninguém, e menos a Mecenas, o amigo...

Pobre Mecenas, aos cuidados do Estado, com imenso poder, a governar, e a ser governado pelo imperador. Com uma jerarquia que vinha de antigos reis, (Carm. I, 1, 1) de soberanos etruscos, o que obriga à compostura, o que será, às vezes, o martírio... Sobretudo, pobre Mecenas, com uma mulherzinha, linda e trêfega, com quem casara já tarde, o que é cedo de mais, e melhor fôra se nunca fôsse... Um desastre, dos muitos desastres dêstes. Para isso, viviam os dois brigando, êle ciumes, o trivial, também ela o trivial dêsses pares ímpares, a infidelidade. Enganava-o com todo o mundo e Augusto, o Imperador, não havia de fazer exceção. Não queria, porém, pesar disso, deixar de ser Mme. Mecenas... O marido desforrava-se com a briga e com o divórcio. Brigas e divórcios devia dizer, porque Sêneca diz, de Mecenas, que casou mais de cem vezes embora, ou em má hora, com a mesma mulher... O desgraçado, apesar de tudo, não podia viver sem Terência, nem com Terência. O verso de Ovídio a Corina retrataria tal situação: Nec sine te, nec tecum, vivere possum. Nem contigo, nem sem ti...

Horácio via isso e se acautelava. As mulheres quasi se ausentam de sua vida e de sua poesia. Ao menos, as confessáveis... porque a tradição lhe ficou, de incontinência. Uma vez confessou que um lento amor o consumia por Glicera. Carpe diem, goza da hora que passa, aconselhava a Leuconoe: naturalmente, na sua companhia. (Carm. I, 10, 8). Apesar de querer morrer com Lídia, vive sem ela. (Carm. III, 1). Naturalmente, seriam amores castos, estes, porque aos amigos aconselha não se inflamem senão por paixões honestas, amore ingenuo... (Carm. I, 22, 46-7). Modesto ou ajuizado em tudo, Horácio repara que Neera não vinha mais, quando êle a chamava... Porque? (Carm. IV, 1, 7). Porque, diz êle, em outro passo: "Não se deve maliciar dos que já têm oito lustros..." Quarenta anos... (Carm. II, 4, 22-4). Dom Juan tem, hoje, cincoenta e tantos. Anatole France, um ímpio, como Henri Bordeaux, um piedoso, afirmam que são presumidos aqueles que, antes dessa idade, falam de amor. Nada saberão, como perícia, antes de meio século... Também mulher, só será mulher, para Balzac, quando la femme de trente ans. É o que um humourista irreverente poderia dizer: "o ponto de bala"... Horácio, aos quarenta, tinha feito suas contas com o mundo. Como havia de ter pena do amigo Mecenas, cujos cabelos brancos e raros casavam, e descasavam, com a coma negra e irrequieta de Terência!

Nessa idade abdominal, dos quarenta anos, talvez se visse mal ao espelho de decepções, que serão sempre os olhos amados, e não amantes, e essa desconfiança não os faria mais amáveis... Augusto, troçando-o, amavelmente, comparava a sua rotunda corpolência à dos tonéis, a dos barris e barricas... Suetônio depõe, de Horácio, que era brevis atque obesus, pequeno e repleto, retaco... Quando se tem o dom da análise, isto ensina juízo... Horácio deu-se aos outros encantos da vida. Mas, em todos, pôs, êsse grão de tempero, êsse nem mais nem menos, que é o bom senso. Nem na virtude quis ser demasiado, como convém, ainda à santidade, viria a dizer São Paulo. É bom, às vezes, esquecer a regra, dulce est desipere in loco,  (Carm. IV, 12, 28) para lhe dar todo o valor, quasi sempre; esquecer-se, tal ocasião, na loucura, para que o juízo tenha seu prêmio, todas as outras ocasiões. Horácio é mais do que a virtude, ou a sabedoria; Horácio é a conformidade, o juízo. Bem mais raro e mais feliz...


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Por isso, de sua obra, se extrairia uma regra de bem viver, "horaciana"... Será a outra homenagem, que lhe prestarei um dia: juntar, gema a gema, seus belos versos lapidares, e, com êles, reconstruir êsse breviário da mediocridade, um colar de justos preceitos, para a felicidade...

Que é isso, de fato, essa palavra, de que tanto por aí se presume? Será uma saúde e uma fôrça, transbordantes? Mas êsses, sadios e fortes, não serão excessivos e cruéis, por confiantes e confiados? Será uma inteligência genial... Mas, tal, soi ser soberba e dará nas pretensões. A beleza é vã e intratável. Insuportável e tediosa a virtude... A dos outros, porque virtuosos somos todos, ainda sem ela... Será a felicidade uma mulher bonita, um grande amor? Ai dêsses que o alcançam... Têm belas noites e dias terríveis. Vivem no zêlo, na inquietação, vivendo mil mortes... Não; a mais cara das felicidades. E a sorte grande? Só os pedidos, as ofertas de bons negócios dão vontade de não se tirar coisa alguma. Já sei... o poder! Ouçam os poderosos, quando caem... Porque poder é altura e traz queda. Vale a pena ter sido César, Napoleão, tzar da Rússia ou kaiser alemão? Helena ou Catarina, Cleópatra ou Josefina, mundana aplaudida que envelhece, ou festejada atriz que vê outras atrizes mais moças e mais festejadas?

Não, não é a felicidade nada disso. Não é o gôzo contínuo de mil pequeninas comodidades oportunas? É o nosso leito, nem quente, nem frio, tépido e confortável, onde um bom sono, nem leve nem pesado, nos acolheu. São todas as pequenas satisfações, que, a seu tempo, a vida pode ir dando, todos os momentos, e fazem um dia sereno e ocupado, tão breve que passou e já é noite, tão bem dormida a noite que já amanheceu outro dia feliz... Dias e noites sem história. Sem histórias. E os dias e noites, sem estremeções nem fadigas, somam meses contentes e rápidos, anos felizes e breves – já dez, vinte anos passados... "Não demos acôrdo!" E já entardece; as têmporas branquejam e, sem melancolia, se vê o crepúsculo que ocorre, sem pressa, para dar o contentamento de se ter bem vivido, e pensar, sem amargor, no descanso final... Que venha a morte – rápida para os que os deuses amam, – mas, ainda agoniada, não durará muito, entre esperanças, afeições, discórdias dos médicos e mudanças de remédios, que sempre iludem, até o fim... A vida é feliz quando nem a dôr, nem a fadiga, nem principalmente êsse inimigo mortal do homem – o tédio – nos assaltou e venceu. A felicidade é um pouco de sorte, com muito juízo...

Horácio foi feliz. Por isso mesmo, essa felicidade, como a definiu, é a mediocridade. A aurea mediocritas (Carm. II, 7, 5-8), diz êle, como não o é o próprio oiro, da riqueza, da beleza, da fôrça ou do poder. Feliz, confessou êle, o que recebeu de um deus, pouco liberal, justamente o que baste para viver honestamente, (Carm. III, 16, 42-5), porque multa petentibus, desunt multa, é carecer de mil coisas o desejá-las. A indiferença, a ataraxia, é o ser dos bem-aventurados. Na vida será, pois que o destino não é nosso, mas, se não imposto, procurado, procure-se contrariá-lo, se é mau, com o juízo ou a conformidade. Vestir-se cada qual às suas medidas e calçar ao tamanho do pé, – eis a sabedoria: metiri se quemque suo modulo ac pede verum est. (Carm. I, 7, 97).   A felicidade da nação é, como a nossa, feita de justiça, que é a conformidade social. O ideal é o lugar devido a cada qual, est locus uni cuique suus... (Sat. I, 9, 51-2). Mas, se, ainda assim, os homens todos nos envolverem na tormenta injusta e o destino mau nos ferir imerecidamente, nem por isso desesperemos e, face amável à ruim ocasião, et amara lento temperet risu (Carm. II, 13, 26-7), adoce um alegre sorriso a nossa pena... É o sense of humour, de Horácio.

Não é, tal filosofia da comodidade, essa de Horácio, capaz de lhe tirar a clarividência nem ao tempo, sem sôbre os poderosos, com quem também convivia. Outrora, diz êle, os homens não tinham o fausto de hoje, mas era o Estado, ao envês, repleto de bens   (Carm. II, 12, 13-4). A conclusão, pode-se tirar, a comunidade é pobre, porque alguns dos cidadãos são imensamente ricos... Não é a crítica do capitalismo? Cur eget indignus quisque te divite,  por que há gente pobre, que sofre injustamente, quando tu és rico? Horácio é subversivo (Sat. II, 2, 103), pois que é pela justiça social...

Ouvi ainda. Quidquid delirant reges, plectuntur Achivi (Ep. I, 2, 14), todas as loucuras dos soberanos recaem sôbre o povo... E quem paga, finalmente, somos o povo, e, o que é o mesmo, os contribuintes, o que por nós decidem, os que se dão à glória e ao arbítrio de nos governar, e nos dão a guerra, as crises, as revoluções, a ruína, a morte, por seu talante, seu orgulho, sua incapacidade. Por não terem juízo. Não é o libelo-crime acusatório, num verso, ao govêrno pessoal, o único que os homens até hoje souberam ou puderam inventar?


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Para nós sobretudo, homens de letras, é Horácio mestre de literatura. O maior lírico de Roma, sem dúvida. Se não nos parece tamanho, como Lucrécio ou como Vergílio, é porque foram êsses excessivos e, então, com as desvantagens dessa demasia. Lucrécio é o maior poeta filosófico e sábio da humanidade e a De rerum naturæ o máximo poema leigo da natureza, da vida, da tristeza, do consolo de pensar. Vergílio é o mais terno, doce e piedoso dos grandes épicos da humanidade, a quem a dôr e o heroísmo não impediu sentir o sofrimento e a compleição humana, que está dentro e atrás dos heróis e dos deuses; seu poema terá como progênie a Divina Comédia, a Jerusalém libertada, o Paraíso Perdido, Os Lusíadas... Que importa? Horácio é a vida inteira, a vida de todos, sem cimos de pensamento ou de epopéia, o quotidiano, o trivial, o constante, todos os instantes da vida. Ganha, em extensão de tempo e espaço, o que os outros alcançaram, em altura e rapidez... Horácio é contínuo e plano. Horácio não é para dias solenes de festa... Horácio é para todo o dia...

Renovou a sátira, quasi sub-gênero novo, sermones, diz êle, ou conversações; criou a epístola; trouxe à latinidade metros novos à ode, fazendo o encanto dessa poesia breve, onde, disse Goethe, se podem casar pequeninos nadas, que seriam malvados na prosa ou no poema. Na "Arte Poética", já, desde Quintiliano, assim chamada, como se deve, a essa epístola, está todo um compêndio de estética literária. Scribendi recte sapere, est et principium et fons (Ad. Pis., 309). O bom senso é toda a arte de escrever. Não se espere a inspiração: Dimidium facti, qui cœpit, habet, (Ep. I, 2, 40) tarefa começada é meio terminada. Naturalidade, sinceridade. Naturam expellas furca, tamen usque recurret (Ep. I, 10, 24): chassez le naturel, il revient au galop, traduzirá Boileau. Em literatura, como na vida – são tão diferentes assim? – Horácio é o mesmo, o mesmo juízo, o gênio do bom senso. Aqui, porém, não é comum, nem medíocre, é certo. Odi profanum vulgus et arceo (Carm. III, 1, 1). Temo a vulgaridade e fujo dela... E ao cabo da carreira tem a certeza de ter chegado, à meta da imortalidade, por isso mesmo, invulgar originalidade. Non omnis moriar, não morrerei completamente (Carm. III, 30, 1-6)

Imitam-no os líricos menores da latinidade. No Renascimento e na Idade-moderna é o mestre. O "Elogio da Loucura" de Erasmo é amplificação de certas passagens de Horácio, nas "Sátiras"e nas "Epístolas". La Fontaine e Voltaire lhe são devedores contínuos. Boileau, êsse, chega à perífrase e a tradução não confessada. Si vis me flere, dolendum est primum ipsi tibi... (Ad. Pis. 102). Pour me tirer des pleurs il fault que vous pleuriez...


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Uma das mais belas passagens de Camões nos "Lusíadas", severa e justa, é aquela em que o Poeta, nas estâncias de mármore e bronze, traça uma teoria do merecimento, louvado e criado pela arte. Cipiões, Césares, Alexandros e Augustos, se bravos e fortes, compunham, entretanto, "versos doutos e venustos": 
Enfim não houve forte Capitão 
Que não fosse também douto e ciente 
Da Lácia, Grega, ou Bárbara nação 
Senão da Portuguesa tão sòmente. 
Sem vergonha o não digo, que a razão 
D'algum não ser por versos excelente, 
É não se ver prezado o verso e rima, 
Porque, quem não sabe arte, não na estima. (E. 97)

 A fonte do Lusitano foi o Latino. Horácio, na Ode IX do Livro IV dos Carmes, dissera: "Helena não foi a única que arde de amor profano, vendo uns cabelos bem penteados, vestes bordadas a oiro, um fausto real e um brilhante cortejo; Teucro não foi o primeiro que sôbre um arco Cidon lançou suas flechas; Ílion suportou mais de um circo; Stenelus e o grande Idomeneu não foram os únicos que deram combates dignos de ser cantados pelas musas; antes do altivo Heitor e do ardente Déifobo, heróis tinham recebido cruéis feridas, pela defesa de castas espôsas e filhos; multidão de bravos guerreiros viveu antes de Agamenão: mas lhe faltou um poeta para consagrar sua memória e todos eles se sepultaram, sem pesar e sem nome, no eterno esquecimento. O herói, ignorado do povo, pouco difere, no túmulo, do anônimo covarde." É, pois, a poesia que proclama e dá glória. Sem o amor da arte, que assim cria os heróis, não há também poetas, e Camões conclue:
"Por isso, e não por falta de natura,  
Não há também Virgílios nem Homeros;  
Nem haverá, se este costume dura,  
Pios Eneias, nem Aquiles feros. (...)" (E. 98)

Camões lêra o seu Horácio, como o seu Vergílio, "que sempre se lhe sabe à cabeceira" ¹⁰,  e se lhe sentem, na musa, os acentos de uma ascendência que o honra e a que êle não desmerece.

A família de Horácio, a descendência espiritual, grandes e pequenos, somos porém todos nós, que, desde a escola, vimos dêle impregnados, dêsses versos que se acomodam tanto às situações da vida, que passam quasi a provérbios... Quid leges sine moribus? (Carm. III, 24, 35). Para que leis, sem os costumes? Utilitas justi propè mater et æqui, é a utilidade a mãe da justiça; o direito é o interêsse protegido (Sat. I, 3, 98).

A conversação dêsse poeta antigo, aliás, nos ensina muita cisa moderna. Coisas que diríamos nossas, atuais, já eram dêle, se eram romanas, mas é por êle que as conhecemos. Ouvi que um dos nossos mais brejeiros políticos censurava a amigo ter levado a mulher a Paris: "Trouxe pinho para a Suécia", comentava êle. Já os antigos diziam: "levar corujas para Atenas", onde elas sobravam. Mas Horácio diz textualmente, in silvam non ligna feras (Sat. I, 10, 34)... Não levarias lenha para o mato...

Aos Americanos é refrém, de imoralidade, um conselho, que, dizem, dão os pais aos filhos: make money... honestly if you can... but, make money. Já era simplesmente o mesmo conselho que Horácio verbera, no seu tempo, a certos compatriotas: Rem facias, rem, recte si possis, quocumque modo, rem... (Ep. I, 1, 65-6). Arranja dinheiro, se puderes honestamente, se não, de qualquer maneira, arranja dinheiro. Horácio moralista é, desta vez, contra, não o bom senso, mas o senso comum...

Este mestre da vida, da vida honesta e proba tinha, aliás, da Poesia, a noção de um sacerdócio. Poesia, para êle, era educação. "A criança que apenas balbucia dá à poesia seus primeiros acentos e habitua a bôca noviça a uma nobre linguagem pura; logo por doces preceitos seu coração se dispõe à virtude; a maldade é corrigida; nobres feitos são louvados; ao presente mostra as ações gloriosas do passado; consola finalmente o pobre e o aflito. Às virgens inocentes traz o casto amor. Pelos córos, leva as orações a Deus, e suplica a paz e a abundância. A poesia é soberana no céu e no inferno (Ep. II, 1, 126-131).

Porque viveu vida digna e amou e realizou a poesia sincera, a perdurável imortalidade em que seu juízo confiara: Exegi monumentum ære perennius... fiz, disse êle, mais durável monumento do que o bronze... 

Fê-lo, de fato. Assim foi, assim vai sendo, e já faz dois mil anos!
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* Comemoração do bimilenário, em 1935, na Academia Brasileira (Rev. da Ac. Br., Rio, 1936, vol. V, p. 178-188)

Fonte: PEIXOTO, AFRÂNIO: PEPITAS: novos ensaios de críticas e de história. 1ª pepita: "Horácio e o Juízo", p. 7-22. 



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III.  NOTAS EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga



¹  QUINTO HORÁCIO FLACO nasceu a 8 de dezembro de 65 a.C. em Venúsia (hoje Venosa), na Apúlia (hoje Puglia), sul da Itália. Era de origem humilde (não fazendo parte da gens romana), já que filho de um liberto escravo público de Venúsia. Não deixou transparecer qualquer ressentimento em sua obra em virtude de sua origem e baixa condição social. Em companhia de seu pai, foi para Roma, onde adquiriu o sentido do ridículo e da crítica moral, sob a orientação do professor, gramático e filósofo Lucius Orbilius Pupillus (que passou à posteridade como "plagosus Orbilius") e, em seguida, para Atenas, desta vez sozinho, quando tinha 20 anos de idade. Sua chegada a Atenas (45 a.C.) se deu um ano antes da morte de César. Em 44 a.C., a guerra civil estourou em Roma e M. Brutus se refugiou em Atenas, tendo levado Horácio a participar dos planos de uma guerra civil concedendo-lhe o cargo de "tribunus militum". No ano de 42 a.C., esses dois conheceram a derrota na batalha de Phillippi (Filipos) em 42 a.C.. A participação de Horácio nesses acontecimentos custou-lhe caro, pois, embora beneficiado pela anistia concedida pelo Segundo Triunvirato aos soldados de Brutus e Cassius, de volta a Roma viu-se despojado da casa e dos bens de seu pai, tendo conseguido comprar o posto de "scriba quaestorius", segundo seu biógrafo Suetônio. Depois do trabalho, usava suas horas livres para dedicar-se a seus escritos e encontrou na "pobreza a coragem de fazer versos".  Seus primeiros versos foram escritos em grego e é considerado o maior poeta latino em cultura grega. Sua produção poética apresenta uma unidade fundamental que reflete a concepção de arte e da vida do autor e pode assim ser admirada através dos seguintes estilos que Horácio dominou integralmente: epístolas (sendo a mais famosa delas a "Epistola ad Pisones", conhecida por Arte Poética), epodos, sátiras ("sermones") e odes (que Afrânio chama "carmes").

²  CECÍLIO EPIROTA, no final do século I a.C., foi um dos mestres que ministraram o ensino secundário (grammaticus em sequência ao primus magister), estabelecendo uma formação nas duas línguas (grego e latim), a saber, o grammaticus latinus ao lado do grammaticus graecus
Teve o mérito de ter levado às salas de aula o estudo de poetas latinos seus contemporâneos, como a obra de Horácio. Após a morte de Horácio, sua poesia passou a ser usada como livro-texto nas escolas, por iniciativa de Cecílio Epirota. 
Esse uso de sua poesia trouxe algumas importantes consequências. Primeiro assegurou a sua preservação até o presente, ao passo que muitos autores ficaram absolutamente desconhecidos. Segundo, impediu que copistas de época posterior fizessem qualquer séria interpolação. Por fim, levou a uma organização de suas obras em manuscritos, muito antes das posteriores edições impressas, o que trouxe evidentes resultados educacionais.

³   C. CILNIUS MÆCENAS, descendente dos antigos reis da Etrúria, foi o célebre patrono da literatura na época de Augusto, protetor das artes e dos artistas. Seu amor pelo bem-estar e prazer o conteve daqueles ambiciosos avanços aos quais sua íntima familiaridade com o imperador — era conselheiro de Otaviano Augusto — poderia tê-lo encorajado. Por isso, nunca aspirou a qualquer dignidade maior do que a de cavalheiro, uma categoria na qual tinha nascido; e seu nome é agora é bem mais conhecido como "o" patrono de Virgílio e Horácio, do que como o favorito de Augusto. Em 32 a.C., Mecenas presenteou Horácio com uma "villa" situada na Sabina, perto de Tibur (hoje Tivoli), no vale de Digentia (hoje Licenza). Essa propriedade, com sua casa de campo, longe da tumultuosa vida em Roma, foi para Horácio fonte de inspiração para a feitura de muitos de seus belos poemas. Passou a considerar-se um autêntico "rato do campo" ("mus rusticus") em contraposição ao que tinha sido até então: rato da cidade ("mus urbanus"), assunto que lhe deu inspiração a Sátira VI do livro II. 

  Élio Donato era um gramático latino do século IV da era cristã, tão eminente que recebeu o título de clarissimus. Não obstante sua fama, sabe-se pouco de sua vida. Escreveu Ars grammatica, ensinou retórica e teve entre seus alunos São Jerônimo e Rufino. Além disso, escreveu importantes comentários sobre Terêncio e Virgílio.

⁵  A referência está incorreta, devido possivelmente a erro tipográfico. O correto é (Ep. I, 7, 97), verso que encerra a Epístola 7 do Livro I de Epístolas. Outra tradução possível pode ser: "É sábio medir-se cada um por seu módulo e pelo seu pé" ou "É razoável que cada um se meça por sua própria régua e por seus valores morais".

  Certamente ocorreu algum erro tipográfico nesta altura, por ter sido omitida a citação latina de Horácio: Privatus illis census erat brevis, / commune magnum...

  Aqui Horácio promete a imortalidade a seus versos e fama duradoura a si mesmo como primeiro e o maior dos poetas líricos de Roma. Esta ode XXX constitui o epílogo do Livro III das Odes horacianas. O primeiro verso dessa ode se impôs como um dos mais importantes provérbios latinos: Exegi monumentum ære perennius (Ergui um monumento mais perene do que o bronze), referindo-se à própria obra literária.

  Se queres que eu chore, começa tu também por chorar. (Conselho de Horácio, na Arte Poética, ao ator dramático, citado por todos os autores de retórica e eloquência.) Ao final, lê-se tradução de Nicolas Boileau.

  Afrânio Peixoto utiliza apenas a estrofe nº 97 e a segunda metade  da estrofe nº 98 do Canto V de "Os Lusíadas" para expressar como Camões considerava essencial o cultivo das letras pelos heróicos comandantes de todos os tempos. [SILVA RIBEIRO, 2015], em artigo na Revista Militar (de Lisboa), assim interpreta o teor da referida estrofe:
"Nestes versos, Camões acrescenta, com desilusão e queixume, que, na Antiguidade, os grandes capitães romanos, gregos ou bárbaros, para além de guerreiros épicos, eram também instruídos ou dados às letras (doutos) e sabedores (cientes), o que apenas não sucedia com os portugueses. Também lamenta, com embaraço, não haver muitos heróis portugueses celebrados na poesia, devido ao desprezo que os autores de feitos notáveis nutrem por ela, pois que, quem não cultiva a arte de expressão do pensamento dos poetas, não pode apreciá-la." 
O autor conclui que as estrofes nº 92 a 100 do Canto V d'Os Lusíadas
"permitem perceber o pensamento de Camões sobre os feitos com dimensão mundial e os heróis com estatuto universal que fazem parte da História de Portugal (...) Contudo, podiam ter sido amplamente conhecidos e celebrados, se os seus heróicos protagonistas, para além de bons combatentes, tivessem, também, gosto pela literatura e apoiassem os poetas nacionais. "
Embora Afrânio Peixoto tenha omitido a estrofe de nº 98, acho importante mencioná-la na íntegra por contextualizar melhor o pensamento do vate português: 
"Por isso, e não por falta de natura,  
Não há também Virgílios nem Homeros;  
Nem haverá, se este costume dura,  
Pios Eneias, nem Aquiles feros.  
Mas o pior de tudo é que a ventura  
Tão ásperos os fez, e tão austeros,  
Tão rudos, e de engenho tão remisso,  
Que a muitos lhe dá pouco, ou nada disso." (E. 98)

¹⁰  Último verso da estrofe nº 96 d'Os Lusíadas.





IV.  BIOGRAFIA CONSULTADA pelo comentarista





BRAGA, F.J.S.: 1ª Sátira (Livro I) de Horácio com comentários e breve notícia sobre sua vida e obra, disponível na Internet in http://bragamusician.blogspot.com.br/2015/09/1-satira-livro-i-de-horacio-com-breve.html

           – Grego antigo é aprendido na Inglaterra para melhorar o... Inglês, disponível na Internet in http://bragamusician.blogspot.com.br/2013/09/grego-antigo-e-aprendido-na-inglaterra.html

          – Humanidades, Língua Latina, Bento XVI e temas correlatos, disponível na Internet in http://bragamusician.blogspot.com.br/2013/03/humanidades-lingua-latina-bento-xvi-e.html


PEIXOTO, Afrânio: PEPITAS: novos ensaios de crítica e de história, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1942, 334 p.


REVISTA MILITAR, nº 2566, novembro de 2015, colaboração de SILVA RIBEIRO, A.M.F.: "Numa mão a pena e noutra a lança", Lisboa: Europress-Editores e Distribuidores de Publicações Ltda, disponível na Internet in http://www.revistamilitar.pt/artigo.php?art_id=1060

Consulta em 18/06/2016.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

ACADEMIA DIVINOPOLITANA DE LETRAS COMPLETA 55 ANOS COM SOLENIDADE DE POSSE DE NOVA DIRETORIA


Por Francisco José dos Santos Braga



I.  INTRODUÇÃO



Foi inesquecível por seu elevado valor cultural e artístico, a um só tempo solene e leve, a noite festiva que reuniu no dia 7 de junho de 2016, 3ª feira, às 19h 30min, no Centro Franciscano de Formação e Cultura, na Rua Minas Gerais, nº 582, em Divinópolis, expressivo número de  confrades da ADL-Academia Divinopolitana de Letras, dois representantes da Câmara Municipal de Divinópolis (vereadores Anderson Saleme e Adilson Quadros) e convidados com indiscutível participação na sociedade de Divinópolis e demais interessados. 

A noite dessa reunião que tinha tudo para ser formal e maçante, foi transformada por seus principais atores num grande "happening" de congraçamento e performance artística. Para isso, o Presidente João Carlos Ramos, que nesta reunião estava sendo reconduzido para um novo mandato, contou com a organização e assessoramento competentes dos acadêmicos Augusto Ambrósio Fidelis e Prof. Dr. Fernando de Oliveira Teixeira, os quais deram a esse evento um brilho notável, na opinião unânime dos que tiveram a sorte de ali comparecer, o que  vem comprovar que a ADL ocupa posição de destaque junto à sociedade de Divinópolis, na defesa de suas letras, sua cultura e suas artes. Por essas razões, eu, como sócio correspondente do egrégio sodalício divinopolitano, senti-me orgulhoso de ser um dos que tem apoiado todas as suas ações nos diferentes campos de sua atuação.

Ao final daquela noite memorável, ficou-nos a impressão de que fomos agraciados, graças à perfeita organização do evento, com peças literárias de incontestável valor: discurso do Presidente fazendo um balanço do seu primeiro mandato e apresentando planos para o segundo, belos discursos de dois acadêmicos homenageados, dois recitais (um de declamação de poemas e outro de performance musical) e, finalmente, pronunciamentos de dois vereadores divinopolitanos, que homenagearam a ADL com sua marcante presença e uma moção congratulatória da Câmara Municipal à ADL.

Os organizadores do evento tiveram muito bom gosto na escolha do bem localizado e claro auditório do Centro Franciscano de Formação e Cultura, que dava para um jardim atraente e bem cuidado. Em suma, o ambiente era um estímulo ao brilho intelectual e propício a lampejos de criatividade.

Em suma, a beleza da noite, o auditório convidativo, a acolhida calorosa dispensada pelos acadêmicos a todos os presentes, a alegria das pessoas que compareceram, a ausência de formalismo tudo conspirou para que nos sentíssemos em casa, entre amigos de longa data, o que contribuiu para que o festejo do 55º aniversário da ADL tenha sido tão singelo, quando transmitiu, com rara felicidade, o lado humano da Instituição. 

Gostaria de consignar aqui meu agradecimento aos acadêmicos João Carlos Ramos e Prof. Fernando de Oliveira Teixeira pela forma elegante e acolhedora com que fui recebido e pelo envio dos pronunciamentos abaixo transcritos na íntegra, da forma como foram proferidos pelo Presidente e pelo Mestre de Cerimônia. 

Presidente João Carlos Ramos 
Crédito: Rute Pardini 


 


II.  CRÔNICA DA REUNIÃO QUE COMEMOROU O 55º ANIVERSÁRIO DA ADL-ACADEMIA DIVINOPOLITANA DE LETRAS E A POSSE DA NOVA DIRETORIA PARA O MANDATO 2016-2017



1) Abertura (a cargo do mestre de cerimônia Samuel do Vale, repórter da TV Candidés, de Divinópolis)

Boa noite, senhoras e senhores, acadêmicos e acadêmicas presentes,

A Academia Divinopolitana de Letras celebra anualmente, com a solenidade de posse de sua Diretoria para novo mandato, o aniversário de sua fundação.

Na realidade, o sodalício comemora cinquenta e cinco anos de uma caminhada de sucessos ¹, que a fidelidade de seus membros consegue manter e superar ao longo do tempo, embora enfrentando dificuldades materiais.

Ficou na história a lembrança das tertúlias de José Maria Álvares da Silva Campos e Sebastião Bemfica Milagre, na antiga Farmácia Campos, situada na Rua Goiás, onde surgiu a ideia de instituir uma academia de letras. Jadir Vilela de Souza, que regressava à sua terra natal, se junta a eles e, na data do aniversário natalício de Carlos Altivo, outro seduzido pela proposta, a Academia Divinopolitana de Letras se fez realidade. Era o dia 8 de junho de 1961.

Foram convidados os primeiros ocupantes de cadeiras, constituindo a entidade os seguintes membros, chamados fundadores: Jadir Vilela de Souza, Sebastião Bemfica Milagre, José Maria Álvares da Silva Campos, Carlos Altivo, Gentil Ursino Vale, Rosenwald Hudson de Oliveira, Odilon Ferreira Santiago, Geraldo Moreira, Joaquim Coelho Filho, Petrônio Bax, José Carlos Pereira e Rosa de Freitas Souza.

Em 21 de junho daquele ano de 1961 era eleita a primeira diretoria, sendo escolhido presidente Gentil Ursino Vale, em reunião presidida por José Maria Campos, o mais idoso dos presentes.

Começava, então, a história oficial da ADL, seguindo-se a eleição de outros membros, inaugurando eventos alvissareiros e marcando sua presença em Divinópolis através dos anos, graças ao denodo e amor  de seus membros à instituição.

Registrados os primórdios de uma história significativa, iniciamos o ritual da solenidade com a composição da Mesa Diretiva desta reunião. Temos a honra de convidar para ocupar seu lugar à Mesa o Presidente João Carlos Ramos, o 1º Secretário Joaquim Medeiros de Oliveira, Francisco José dos Santos Braga, representando o Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, e Artur Filgueiras, representando o comandante do 23º Batalhão da Polícia Militar.

Composta a Mesa, o Presidente Acadêmico João Carlos Ramos assume o comando da reunião a partir deste momento, para a posse da Diretoria - mandato 2016/2017.



2) Palavra inicial do Presidente João Carlos Ramos

Boa noite a todos.
Eu, em nome da Instituição, agradeço a presença de amigos e autoridades.

Como é tradição nesta Casa de Letras, a data de oito de junho marca dois eventos: a posse da Diretoria eleita por um ano, na forma do Estatuto, e a lembrança da fundação da ADL, ocorrida há 55 anos. 

Por circunstâncias especiais, a reunião acabou fixada para hoje, sem que perca seu brilho e particular significado.


3)  Chamada dos Acadêmicos presentes


PRESIDENTE:  Peço ao Primeiro Secretário, acadêmico Joaquim Medeiros de Oliveira, para fazer a chamada dos acadêmicos presentes.

4)  Cerimônia de Posse da Diretoria eleita para o período de junho de 2016 a junho de 2017


PRESIDENTE:  Confio ao Secretário Geral, acadêmico Fernando de Oliveira Teixeira, o encargo, a partir de agora, da cerimônia de posse dos eleitos para o período de junho de 2016 a junho de 2017, noticiando a eleição e convocando os eleitos para assinarem o Termo de Posse, a saber: Presidente - João Carlos Ramos, Vice-presidente - Augusto Ambrósio Fidelis; Secretário Geral - Fernando de Oliveira Teixeira; 1º Secretário - Joaquim Medeiros de Oliveira; 2º Secretário - Mercemiro de Oliveira Silva; 1º Tesoureiro - Márcio Zacarias Lara; 2º Tesoureiro - Manoel Ferreira do Amaral.

5) Anúncio do Discurso do Presidente reeleito, Acadêmico João Carlos Ramos

MESTRE DE CERIMÔNIA: Após a assinatura do Termo de Posse, tem a palavra o Presidente reeleito, acadêmico João Carlos Ramos.


6)  Discurso do Presidente reeleito, Acadêmico João Carlos Ramos


Confrades e confreiras.
Autoridades presentes.
Senhoras e senhores!

Diz o salmista Davi no livro santo que "Deus levanta do pó o necessitado e o faz assentar entre os príncipes". Tal sentença, indubitavelmente, se aplicou à minha pessoa ao ser elevado à categoria de Presidente da maior instituição literária e cultural da cidade de Divinópolis, a ADL.

Tal fato ocorreu em Junho de 2015, quando eu, banhado de esperança, proferi um discurso histórico, prometendo uma gestão profícua à luz da modernidade.

Escudado pelos imortais da ADL, avançamos em todas as áreas possíveis, criando laços indispensáveis com os principais segmentos da sociedade local.

Dentre os eventos que marcaram essa gestão que se finda, podemos assinalar a entrega do TROFÉU ORFEU/2016 na Câmara Municipal de Divinópolis. Tal evento foi a continuidade do áureo projeto que houvera sido criado pelo nobre acadêmico, ex-Presidente, Augusto Fidelis, em maior escala evolutiva. Na primeira noite, toda a imprensa divinopolitana representada recebeu o TROFÉU, havendo júbilo e gratidão entre os ilustres homenageados. Na noite consecutiva, destacados membros da comunidade artística e cultural também foram galardoados com o referido troféu. Fomos brindados com a lindíssima voz da cantora lírica Rute Pardini, acompanhada pelo maestro Francisco Braga. Renomados artistas locais também se apresentaram, além da banda da gloriosa polícia militar.

Durante a referida gestão, tivemos a honra de realizar o CHÁ DAS 5 em duas datas consecutivas, cessando provisoriamente por motivo de força maior.

Algo que nos fez chorar copiosamente, abrindo um caminho para a reflexão: Partiram para a outra terra além do rio... os valorosos acadêmicos efetivos OSWALDO DIOMAR, GUILHERME SANCHES E JOÃO AUGUSTO DIAS, além da esposa do veterano Mercemiro de Oliveira Silva.

Nessa noite em que somos empossados membros da Diretoria eleita da gestão 2016/2017, eu, na qualidade de Presidente, me sinto feliz e agradecido.

Cônscio do dever cumprido, iniciamos uma nova jornada, preparando terreno para a próxima gestão do eleito desbravador. Pretendemos descortinar novos horizontes, trabalhando na área de projetos, visando a concretização do ideal de servir.

Agradeço imensamente a todos os membros da ADL que nos auxiliaram e orientaram, especialmente o grupo que compõe o quadro diretor. Dentre todos quero destacar a figura do Secretário Geral Fernando de Oliveira Teixeira e do ex-Presidente Augusto Fidelis, nobres amigos na hora dos vendavais, escudos de caráter, da verdade e do cumprimento do estatutário.

Vivemos à beira do caos em uma crise política, econômica e institucional sem precedentes. Permaneceremos incólumes, rumo ao sucesso da causa acadêmica...

Termino minha fala com o poema que se segue:

Rompe a manhã
enquanto trevas densas caem atrás de nossos sonhos.
Cavaleiros não temem o avançar, armados de sabedoria, sempre prontos para o golpe imortal na inércia.
Lutaremos bravamente.
O sucesso e a alegria não têm fim.

Obrigado!
 


JOÃO CARLOS RAMOS  
PRESIDENTE DA ACADEMIA DIVINOPOLITANA DE LETRAS


7) MESTRE DE CERIMÔNIA: Empossada, como de praxe a Diretoria, passamos à segunda parte desta solenidade, quando se comemoram os 55 anos da ADL. Este ano  a celebração se fará com uma homenagem aos dois mais antigos membros da entidade: a acadêmica Maria da Conceição Elói ²  e o acadêmico José Dias Lara ³, ambos com um currículo literário notável e com bons  serviços à confraria.  Foram ambos eleitos para as respectivas cadeiras, após os doze pioneiros.


MARIA DA CONCEIÇÃO ELÓI  ocupa a cadeira número  16, na qual foi empossada em 2 de setembro de 1961, tendo escolhido por patrono o poeta Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Natural de Divinópolis, viúva do industrial Reinaldo Diniz Santos, é mãe  de oito filhos, todos casados. Reside atualmente em Belo Horizonte. Publicou os seguintes livros:  Luz Ausente (1967); Arcas, Arcazes e Baús (1978); Poemas da América (1992), além do opúsculo, em parceria com o filho Luciano Elói Santos: “Centenário de Isidoro Augusto dos Santos – Ex-Delegado Municipal de Divinópolis e Pai de dois ex-combatentes“. Participou da primeira antologia da ADL, denominada “Mar, todas as águas te procuram”, além de outras, entre as quais “Literatura em Movimento” da Academia Feminina de Letras de Minas Gerais, que presidiu, além de inúmeras outras do país. Figura com verbete dos seguintes dicionários: “Dicionário da Literatura Brasileira” – OLC-1990, Dicionário Bibliográfico de Escritores Contemporâneos - Teresina, Piauí e Dicionário de Mulheres – Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Na ADL ocupou os cargos de secretária, tesoureira e bibliotecária, tendo sido ainda presidente, secretária, tesoureira e secretária da Casa da Amizade das Senhoras de Rotarianos de Divinópolis, uma das fundadoras da Revista da instituição e autora de seu hino; sócia da Sociedade Amigas da Cultura de BH; membro da Academia Feminina de Letras de Minas Gerais, onde ocupou vários cargos, inclusive a presidência, além de pertencer  a várias academias  e entidades culturais de todo o Brasil. Recebeu também vários prêmios por sua obra poética e de ficcionista, bem como a Medalha da Inconfidência. É de se notar que lecionou em escolas de ensino fundamental de Divinópolis  e escreveu a letras dos hinos da Grupo Escolar Jovelino Rabelo, quando aqui exerceu o magistério.

Por estes títulos e por figurar no quadro dos acadêmicos pioneiros da ADL, convido a acadêmica Maria da Conceição Elói, acompanhada da acadêmica Maria Aparecida Camargos Freitas e do acadêmico Fernando de Oliveira Teixeira, para receber a medalha e o diploma como reconhecimento de sua presença na ADL. 
Acadêmica Maria da Conceição Elói e sua filha Dra. Silva Maria Elói Santos
 Crédito: Fernando Gontijo Camillo / Coluna Preto no Branco



JOSÉ DIAS LARA nasceu em Divinópolis e ocupa a cadeira nº 22 do sodalício, para a qual foi eleito, tendo ocorrido a posse  em 9 de outubro de 1963, patrono Mário Casasanta.  Formado em  Línguas Neolatinas pela Faculdade de Filosofia da UMG, hoje Faculdade de Letras da UFMG em BH, voltou à terra natal para exercer o magistério na disciplina de Língua Portuguesa no antigo Colégio São Geraldo, onde também ministrou aulas de Latim e Espanhol. Fundou e dirigiu, por 23 anos, o Colégio Leão XIII de marcante significação no ensino local; fundou ainda e dirigiu a Faculdade de Filosofia e Letras de Divinópolis, primeiro estabelecimento de ensino superior da cidade, hoje UEMG, do qual foi professor de três cadeiras com aprovação do Conselho Federal de Educação. Bacharelou-se em Direito pela FADOM,  recebendo o Prêmio Clóvis Salgado, atribuído aos alunos que destacaram no curso. Fundador e primeiro presidente do Lions Clube Candidés,  exerceu várias funções no Distrito L-11, chegando à condição de Governador, eleito que foi na Convenção de Poços de Caldas e empossado na Convenção Internacional de Dallas,  nos Estados Unidos. Distingue-se ainda pelo fato de ser sócio-fundador da Academia Mineira de Leonismo, cadeira nº 13, patroneada por João Guimarães Rosa, correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal  e de outras entidades culturais. Escreveu, dentre outras, as seguintes obras: Crase a seu alcance (opúsculo de cunho didático), Divinópolis com Amor e Humor (crônicas de caráter histórico), Dicionário de Dúvidas e Dificuldades da Língua Portuguesa (livro premiado pela União Brasileira de Escritores em solenidade na Academia Brasileira de Letras), Ubaldo Scarioli – Alegria de Viver e Dona Neném – Sua Vida, sua história (biografias), Professor Lara – Em vida o que ocorreu na minha vida (autobiografia). Detentor de várias comendas, é também vicentino, pertencente à Conferência São José em Divinópolis. Por seus serviços à ADL, da qual foi brilhante presidente, e pela honra de tê-lo como membro, convido o acadêmico José Dias Lara, acompanhado da acadêmica Elizabeth Fernandes Quadro e do acadêmico Mercemiro Oliveira Silva,  para receber a medalha e o diploma como reconhecimento de sua presença na ADL, bem como o reconhecimento de seus pares.
Acadêmico José Dias Lara e suas filhas
 Crédito: Fernando Gontijo Camillo / Coluna Preto no Branco


Quero agradecer  à Academia Divinopolitana de Letras a oportunidade de, mais uma vez, participar de um evento seu e cumprimentar a Diretoria eleita, na pessoa do acadêmico João Carlos Ramos, rogando, ao ensejo, licença para deixar o recinto em razão de outro compromisso. Passo, portanto, a direção dos trabalhos ao acadêmico presidente. 

8) PRESIDENTE: Agradeço a colaboração sempre prestimosa do jornalista Samuel do Vale, que se dispôs, apesar de compromissos, prestigiar este evento acadêmico. Muito obrigado.


Em seguida, abro espaço para pronunciamentos. Inicialmente concedo a palavra aos acadêmicos homenageados: MARIA DA CONCEIÇÃO ELÓI e JOSÉ DIAS LARA. (Ambos discursaram brilhantemente, tendo sido muito ovacionados.)

9) PRESIDENTE:  Para abrilhantar a parte artística do evento, a acadêmica honorária Cidah Viana irá apresentar uma performance poética sob o título "Uma Noite Sem Ela", o mesmo do livro de idêntico nome que escrevi.

O primeiro poema declamado foi uma inspirada homenagem do poeta João Carlos Ramos  à sua esposa Marita da Conceição Ramos: 

           MARITA
                 João Carlos Ramos
"Marita
Bela,
Escultural,
Serena...
Superior
a
de Tróia, Helena. "
Após lenta pausa, Cidah Viana fez nova intervenção: 

MÃE 
                                                 João Carlos Ramos
A mãe disse à bela filha:
– "Não case agora.
O sol ainda não raiou.
Espere! (eu tenho experiência).
Homem que chega cedo
não tem maturidade
e nem conhece o outro lado do amor."

A moça não casa,
ouvindo a sábia mãe.

No outro dia chega a carta:
"Príncipe Encantado 
para a moça que esperou.
Sou seu amado."
 
A seguir, Cidah Viana declamou o encontro do poeta com a sua contraparte:

O POETA E A FERA
                    João Carlos Ramos                                          
Ela
era uma fera,
mesmo sendo mulher.
Rica.
Mãos manchadas
em crimes de flores e frutas.
Uma tarde,
um poeta a encontrou
no beco-sem-saída
do destino...
Abriu os lábios como sempre
e pérolas rolaram na lama...
Imediatamente
a mulher tornou-se dócil e mais bela.
O amor entrara,
explodindo a porta...
Ela tremia e chorava
ao som do sino do luar:
– Eu preciso de ti
amante peregrino!
– Nunca é o prêmio 
do passado imprudente...
– Serei tua para sempre
ou fera novamente.
– Não sou teu! Adeus!
A consciência proclama:
Sou casado, mesmo sendo chama.

"O destino da bela cruel" é o título do quarto poema de João Carlos Ramos declamado por Cidah Viana:

O DESTINO DA BELA CRUEL
                  João Carlos Ramos

O nome dela
é justiça.
O sobrenome é excesso de poder:
atrás de si
deixou homens chorando...
A crueldade da beleza
teve o seu último dia.
Um desprezador
veio de longe...
e armado de sorriso tentador
e múltiplas atenções,
aprisionou a fera
em seu peito.  
                                  
10) PRESIDENTE: Dando continuidade à parte artística do evento, gostaria de pedir à cantora lírica Rute Pardini que viesse à frente para compartilhar conosco um pouco de sua carreira internacional, cantando alguma de suas peças preferidas, desde já desculpando-me por não ter antecipadamente comunicado que haveria esse convite à cantora. (Atendendo o convite do presidente João Carlos Ramos, Rute Pardini avançou até a frente da sala, dizendo que, na ausência de um piano como acompanhamento, cantaria a capella a ária "Deh vieni, non tardar", precedida pelo respectivo recitativo intitulado "Giunse alfine il momento", ambos cantados por Susanna no Ato IV da ópera "As Bodas de Fígaro", de Mozart.)
Cantora Rute Pardini (esq.) e declamadora Cidah Viana 
Crédito: Rute Pardini 

11)  PRESIDENTE:  A pedido, concedo também a palavra aos Vereadores presentes, Anderson Saleme e Adilson Quadros. (Ambos fizeram uma exposição sobre o bom intercâmbio desenvolvido pela Academia com a Câmara Municipal e manifestaram seu compromisso de retomar, junto ao próximo gestor executivo divinopolitano, as tratativas sobre a doação de um lote para a construção da nova sede para a Academia Divinopolitana de Letras e, aproveitando o ensejo, homenagearam a ADL, fazendo-lhe a entrega de uma Moção Congratulatória nº 43/2016 ricamente emoldurada, assinada pelo Presidente da Câmara Municipal, pelo que foram longamente aplaudidos).

12)  PRESIDENTE (retomando a palavra): 


Senhoras e senhores, acadêmicos e acadêmicas presentes, 

Uma posse é sempre um momento de assunção de responsabilidades e a Diretoria, escolhida pelos confrades e confreiras, tem consciência de seu papel na história da ADL, por isto, e em nome dela, não só me atenho aos compromissos regulamentares, mas peço a ajuda de todos para levar a bom termo a missão que assumo. Há que dar-se as mãos, ADL e comunidade, para que este sodalício possa ser parte relevante na construção de uma Divinópolis cada vez maior no contexto de Minas e do Brasil.

Não poderia, entretanto, fechar a cortina desta solenidade sem dirigir um agradecimento especial aos franciscanos, na pessoa de frei Laércio,  pela cessão deste espaço para esta posse acadêmica, à acadêmica Cidah Viana pela gentileza e disponibilidade na apresentação da parte artística, à cantora Rute Pardini pelo engrandecimento do evento com a sua voz inigualável, ao acadêmico Augusto Ambrósio Fidelis e a todos que, direta ou indiretamente, auxiliaram a ADL na realização desta festa.

Pela presença de amigos e acadêmicos o muito obrigado  desta Casa de Letras.

Que Deus abençoe a todos, a quem desejo uma boa noite.

Está encerrada a sessão. 



 
III.  NOTAS EXPLICATIVAS




¹  Parabéns ao jornal AGORA de Divinópolis por ter feito excelente cobertura do evento com a matéria "55 Anos" na coluna social "Preto no Branco", de Sônia Terra. Confira in https://www.facebook.com/jornalagoradiv/photos/a.219029864848533.55118.217095555041964/1026719170746261/?type=3&theater
Acesso em 09/06/2016.

²  Registro a presença de inúmeros familiares da acadêmica Maria da Conceição Elói, prestigiando a homenageada, com destaque para a sua filha pesquisadora e médica patologista clínica do Hospital das Clínicas da UFMG, Dra. Silvana Maria Elói Santos, vencedora do Prêmio Jabuti 2011. 

Já próximo ao fim de seu discurso, a acadêmica Maria da Conceição Elói informou ao auditório que conseguira localizar uma crônica dos primórdios da ADL, de autoria de frei Basílio, fazendo a sua leitura no púlpito. A velha crônica tratava da posse do então neoacadêmico José Dias Lara, a quem homenageava com palavras vivas e cores fortes. O autor da crônica parece que antevia o futuro brilhante do insigne escritor, educador e intelectual divinopolitano, que iria mais tarde contribuir para a fundação da UEMG em Divinópolis. 

A amizade e a generosidade da acadêmica homenageada, que incluiu em seu discurso esse trecho final em honra do outro acadêmico homenageado naquela noite, foram muito bem apreciadas pelo público presente, que correspondeu com uma grande salva de palmas.


³  Digna de destaque foi a presença das três filhas do Prof. José Dias Lara, prestigiando o pai homenageado no evento: Fátima, Maria Elizabeth e Margareth.


⁴  Cidah Viana, a declamadora dos poemas, confidenciou-me que não colocou toda a carga dramática que os poemas exigiam para não "comprometer" o ilustre e "boêmio" escritor.